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Textos > Uma espécie de Prelúdio a uma história steampunk

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message 1: by Adeselna (last edited Apr 05, 2012 08:45AM) (new)

Adeselna (adeselnaferreira) | 19 comments ALERTA: Pode conter calão!

Sexta-Feira, 10 de Novembro, 1760

Todos os anos oiço os pregadores de Lisboa anunciarem milagres. Curam cegueiras, arranjam maridos a tias quase freiras. Eu não sou milagreira, mas todos os habitantes de Lisboa sabem que a Adosinda Gonçalves serve para ajudar nos problemas por uma quantia eficiente de dinheiro. Quer matar a amante do seu marido? Ou simplesmente estrangula-lo? Não conhece as maravilhas do cianeto? Não? Também não é importante. Algo rápido e que não deixe rasto. Dê-me uma carta. Preciso de copiar a sua letra. Se a GR me apanha, estou feita. O que estou a fazer? Que lhe parece? Estou a escrever um bilhete... não quer esperar lá fora? Então cale-se e sente-se no divã. Bem o seu marido irá encontrar uma carta sua, um bilhete. No papel irei deitar veneno, que em contacto com a pele irá por termo à sua vida. Agrada-lhe? Não, ninguém irá descobrir. Nunca ninguém descobriu. Estamos em 1760, pensa o quê, que a ciência avançou assim tanto e logo em Portugal... O seu marido deve ser um cabrão... pois, pois eu entendo. Bem deixe um envelope com setenta mil reis, ao porteiro de minha casa. Amanhã tudo estará resolvido.

Duas horas mais tarde...

Adosinda acende outro cigarro. Espera que o marido da sujeita que lhe apareceu de tarde se cruze com ela. Apresenta-se como uma condessa e refere que tem um bilhete por parte da sua mulher. O homem passa. Um jovem, um homem bastante atraente, o que não se traduziria imediatamente num homem bom. Os óculos redondos e escuros de Adosinda foram removidos para mostrar os seus olhos verdes claros. As luvas de renda ajudavam a tapar a palidez do braço. O vestido sem alças de veludo vermelho combinava com o chapéu preto, por instinto levantou-se e estendeu-lhe a mão. Os lábios carmesim afastaram-se para mostrar um sorriso aberto.

“É sempre um prazer receber a descendente do Pedro Gonçalves.” Beijou-lhe a mão. Adosinda inclinou-se para agradecer. O homem levou-a até ao terceiro piso, quando as portas do elevador se fecharam, deitou o braço no ombro. “Dizes que tenho uma mensagem da minha mulher?”
“Não exactamente. Tenho uma mensagem sobre a tua mulher. Ela anda a trair-te.” Um sorriso leve foi tudo o que obteve como resposta. “Não me pareces muito preocupado.”
“Para quê incomodar-me Elisabete... casei-me com um estupor de mulher.” Cercou-lhe o ombro com o sue braço e puxou o cachimbo. Durante a construção do novo edifício tiveram o cuidado de instalar um sistema de refrigeração nos escritórios. Portugal inteiro ardia com a visão dantesca das fábricas e exalar o fumo.
“Teve azar a rapariga...” O elevador parou. Adosinda saiu do elevador seguida do homem e sentou-se no divã. Outro cigarro foi parar entre os lábios. “O meu apartamento está pronto?”
“Quanto é que ela te pagou?”
“Sessenta... Pensa assim, ao menos era generosa...” O homem pegou numa chave e ofereceu-lhe.
“Como é que ela morreu?”
“Queres mesmo saber?” os seus olhos suplicavam. “Contei-lhe como te ia matar... cada detalhe. Os olhos da puta brilhavam com cada detalhe.” Adosinda recolheu a chave. Aproximou os seus lábios frios e segredou-lhe “Primeiro dei-lhe um bilhete. Quando chegou a casa abriu a carta e tombou. O amante vai ser preso e tu...” afastou-se e gesticulou com os braços no ar “Estás livre da louca.” O homem aproximou-se dela, colhe-a em seus braços e beija-a. As boas maneiras ditam que Adosinda feche os olhos, mas o amigo esquece que ela não consegue sentir nada. Os corpos contorcem-se. O médico enlaça a perna da mercenária na sua e enterra os lábios no seu pescoço.
“Amanhã sigo para Viseu. Sempre que tiveres problemas, tenho um consultório lá. Quero-te ver uma vez por ano, o teu estado pode melhorar ou piorar.”
“Escusas de me mentir... resignei-me há muito. Não há cura para o mal que se desconhece. Devo-te a minha vida... pelo menos esta. Recolheste-me das ruas, reconheceste-me como condessa quando todos os outros julgaram-me um fantasma... Ninguém acredita que eu sou a Elisabete Gonçalves, por isso para quê continuar com esse nome?”
“Ouviste as novas do Eduardo?” Pegou numa garrafa de vinho do porto e deitou num copo. “Vai casar-se com uma miúda bastante parecida contigo.”
“Eu quero que ele se foda longe de mim, que morra numa valeta com uma bala nos cornos.”
“A Elisabete nunca teria coragem de matar uma pessoa, quanto à Adosinda... ouvir dizer que ela é bastante perigosa e tem um feitiozinho... bem eu é que não queria encontrá-la à noite. Ainda para mais dizem que bebe e atira como um homem.” Esboçou um sorriso. “Se alguém te descobrir, já sabes onde estou.” Adosinda saiu. O elevador descia. Um homem estaria neste momento num cubículo a dar à manivela. Um homem solitário, com o fumo a saírem das máquinas a dirigir-se em direcção à sua face. Na manchete de amanhã sairia a notícia de que uma mulher fora morta pelo amante e mais uma vez as senhoras nobres iriam retomar os bons costumes de avisar as jovens a não cair na tentação.

Lisboa prepara-se para a noite. De chave no bolso, Adosinda dirige-se para o Rossio. Amanhã debater-se-á num duelo para defender uma mulher que era espancada pelo marido. Adosinda não morrerá e a mulher ficará livre do homem para sempre. Tocou levemente nos lábios. À porta do Nicola , uma mulher de cabelos ondulados loiros debate-se com a chávena de chá. Uma sombra faz-se notar ao lado da sua cadeira.
“Deixei um bocado para ti...”
“Se ainda fosse um bocado de vinho quente. Anda mas é para casa, Aurélia, que vem aí tempestade.”
Adosinda atira a chave para o colo da mulher. Em casa... finalmente...


message 2: by Ambar (new)

Ambar (ambarcf) Oooh, olha a tua novela do NaNo!

Algumas notas:

"Todos os anos oiço os pregadores de Lisboa anunciarem milagres." - Não tenho a certeza de se não deveria ser "anunciar".

"Curam cegueiras, arranjam maridos a tias quase freiras."- Gostei da rima.

"estrangula-lo"- Estrangulá-lo.

"Dê-me uma carta. Preciso de copiar a sua letra."- Não seria menos trabalhoso pedir à mulherzinha que escrevesse o bilhete sozinha?

"Um jovem, um homem bastante atraente, o que não se traduziria imediatamente num homem bom." - Eu entendo o que queres dizer, mas a frase é meio rebuscada.

"O vestido sem alças de veludo vermelho combinava com o chapéu preto, por instinto levantou-se e estendeu-lhe a mão." - Idem.

", quando as portas do elevador se fecharam, deitou o braço no ombro." - Isso funcionaria melhor como frase independente. Também, o primeiro elevador foi introduzido em Portugal no ano de 1882, muito depois da data que nos dás. (Não sei se estás a dar-nos uma História alternativa, mas se não for esse o caso, achei que valia a pena mencionar.)

“Para quê incomodar-me Elisabete."- Vírgula antes de Elisabete.

Sistemas de refrigeração só se começaram a popularizar em 1902.

"O homem aproximou-se dela, colhe-a em seus braços e beija-a." - Ai esses tempos verbais...

"quando todos os outros julgaram-me um fantasma." - Me julgaram.

Não sei muito bem o que devo pensar das mudanças de pessoa da narrativa. Talvez deixar apenas uma quebra de linha entre os espaços em que usas a primeira e terceira seja preferível ao "Duas horas mais tarde".

Deste informação suficiente sobre a tua protagonista para se ficar com uma vaga ideia de quem ela é, mas não posso ainda dizer se ela me interessa ou não. Precisaria de ler mais para decidir.

Wheee, passado misterioso.

Os palavrões não me incomodam desde que os mantenhas dentro do diálogo das personagens. (Nada pior que um livro com um narrador mal-educado.)

E é isso.


message 3: by Adeselna (new)

Adeselna (adeselnaferreira) | 19 comments Pois, eu queria colocar stream of consciousness no narrador com as 4 personagens principais. O problema está mesmo em controlar isso, de maneira a que o leitor não se perca. Ainda estou a tentar ver se consigo mergir o narrador com alguns dos tiques das personagens para criar um limbo narrativo. Eu tenho aqui o primeiro capítulo, não sei se começava com isto ou com este capítulo: http://madwomaninattic.wordpress.com/...


message 4: by Ambar (new)

Ambar (ambarcf) Pois, perder o leitor não é uma boa coisa, e estou com alguma dificuldade em seguir os acontecimentos. Daquilo que entendo, o que se passa-se neste prelúdio passa-se antes do capítulo do link, por isso a não ser que queiras começar a história in media res, sugiro que a mantenhas como está.


message 5: by Patricia (new)

Patricia (patriciagrade) | 15 comments Adeselna wrote: "ALERTA: Pode conter calão!

Sexta-Feira, 10 de Novembro, 1760

Todos os anos oiço os pregadores de Lisboa anunciarem milagres. Curam cegueiras, arranjam maridos a tias quase freiras. Eu não sou mil..."


Ora bem, eis-me aqui de novo a revisar um texto... :p

Adeselna, eu nem sequer posso dizer que o vou rever, porque me parece que está uma prosa de excelente qualidade. A acção flui como um rio sem muitas pedras, encontramos o número perfeito de obstáculos só para nos deixar a pensar se percebemos ou não a intriga. Gosto sempre do twist que um bom autor dá à história, porque está a convidar o leitor ao raciocinio, dar-lhe a possibilidade de se espantar com algo que não estava à espera.
É esse o meu tipo de escrita também, nem sempre com o mesmo sucesso.

Para além disso, gostei que se situasse numa época em que Lisboa era mais misteriosa e coberta de um ambiente de corte.

Só te faria um aparte. Eu não colocaria a menção à evolução ou falta dela, da ciência, porque nessa época nem sequer se acreditava que a ciência fizesse descobertas importantes, era tudo deixado para a bruxaria ou para a igreja. Só alguns anos mais tarde a tecnologia viria a oferecer ao mundo a máquina a vapor e a partir daí toda a revolução industrial que colocaria a ciência no altar.

Eu adorei a história, sou sincera.


message 6: by Adeselna (new)

Adeselna (adeselnaferreira) | 19 comments Obrigado Moggo e Patricia! Eu ainda só escrevi 30 páginas, ou seja ainda só tenho 4 personagens bem definidas. Tenho tido muito pouco tempo, aliás esta era a novela do Nanowrimo e tudo que escrevi no Nanowrimo já foi reescrito e alterado, com tempo ando a cobrir os buracos da plot :) Obrigado pelo feedback :D


message 7: by Ambar (new)

Ambar (ambarcf) De nada, fico feliz por o que disse ter servido de alguma coisa. Como pessoa que também está a tentar desbravar texto no seu manuscrito do NaNo, posso comiserar com as tuas dificuldades :P


message 8: by Maria (new)

Maria (Maryaha) | 201 comments Mod
Admito ter-me perdido várias vezes ao longo do texto, mas gostei do toque misterioso do texto e do facto de teres pegado numa "Lisboa antiga" :b


message 9: by Adoa (new)

Adoa Coelho (adoacoelho) | 53 comments Está bem escrito mas, tal como a Maria, por vezes também me perdi na narrativa.
:)


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