Nuno Silva
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“Quando me acometia à noite, em vez de dormir, eu deitava-me horas seguidas no vão da janela, olhava o lago negro, as silhuetas dos montes recortadas contra o céu pálido e, por cima, as belas estrelas. Depois, não raro, era tomado por um forte sentimento temeroso e doce, como se toda esta beleza nocturna me observasse com um justo olhar reprovador. Como se as estrelas, as montanhas e os lagos ansiassem por alguém que compreendesse e expressasse a sua beleza e a dor da sua existência silenciosa, como se fosse eu esse alguém, como se a minha verdadeira missão fosse a de, pela escrita, dar expressão à natureza silenciosa. De que forma isto seria possível, era coisa sobre que nunca pensava, senão que sentia apenas a bela noite, grave, esperar por mim numa exigência silenciosa.”
―
―
“Então, se estás demasiado cansado para falar, senta-te ao meu lado porque eu, também, sou fluente em silêncio.”
―
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“E caem!- Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair.”
― Memórias póstumas de Brás Cubas
― Memórias póstumas de Brás Cubas
“Mulheres são os melhores juízes de mulheres.
Disseram filósofos e moralistas, uns grandes santos como S. Paulo, e outros
grandes ateus como Voltaire, que a mulher é um ser exuberante de sensibilidade, e
apoucado de raciocínio.
Daí vem o denegarem-lhe acesso às ciências abstractas, às políticas, aos
parlamentos, ao magistério, às regiões intelectivas do maquinismo social, e mandaremnas cuidar dos filhos, e fiar na roca.
Se o absurdo vinga, se, por alvitre grosseiro do mais forte, a mulher é um ente
inepto para exercitar a razão, com que direito as julgamos e sentenciamos, segundo a
razão, sendo as suas culpas demasias de sentimento.
A injustiça é flagrante e odiosa.
Privam-nas de razão para as excluírem das funções que a requerem; sentenciamnas pela razão, se o sentimento, seu dom essencial, as desvia do piso demarcado por ela.
Isto é uma tirania, uma inquisição, uma crueza turca.
A mulher não pode ser julgada por nós. Somos os senhores feudais da razão. A
nossa alçada respira a prepotência do braço e cutelo. Estamos em insurreição
permanente contra o santíssimo apostolado de Jesus, que baixou seu divino braço por
igual sobre o homem e mulher.
Não podemos superintender no foro do coração, porque a nossa jurisprudência é
toda de cabeça, e o nosso código em pleitos de alma é estúpido ou hipócrita.
Quem é o juiz da mulher? O homem que a despenha do abismo, onde a lançou o
amor, ao abismo do opróbrio.
É o homem, que lhe entalha o ferrete da ignomínia na face onde imprimira o beijo
da perdição.
O altar onde se adora uma mulher é ao mesmo tempo a asa onde ela se dá em
holocausto. Pecadora por muito sentir e chorar, amar e crer, quando nos abre céus e céus
de alegria e glória, abrimos-lhes nós o inferno dos desenganos, e o suplício extremo do
descrédito. O mundo não as exija, mas afronta-as; o coração não as incrimina, mas
agoniza na horrível soledade para onde a razão o desterra.
E somos nós os juízes, porque entramos numa herança usurpada pela força
primeiro, e legalizada depois pelo sofisma escrito.
A mulher foi escrava do braço, antes de o ser da superioridade moral.
Quando o homem chamou a ciência a dar um testemunho falso da sua primazia, a
mulher, quebrantada pela escravidão do braço, não pôde remir-se com as forças do
espírito.
Ainda assim, o tirano, receoso da emancipação, fez em redor da escrava as trevas
da ignorância, para que a razão da mulher não pudesse conceber da luz o germe que a
reabilitasse.
Pegou da formosa flor, cercou-a de estevas, cobriu-a de sombras por onde o sol
não podia coar uma réstia reanimadora.
Esta maquinação arteira sobreviveu a todas as borrascas sociais. Os fautores, e
ainda os mártires da igualdade perante Deus e perante a lei, nunca proferiram uma
palavra, nem verteram gota de sangue para o resgate moral da mulher.
O Filho de Maria disse que a mulher era igual ao homem, e levou para o céu o
segredo da sua emancipação.
Ficámos nós cá, os açambarcadores do entendimento escrevendo livros, que
sacrilegamente denominamos de moral derivada do Evangelho, e neles demarcamos a
47
profunda raia que estrema RAZÃO de SENTIMENTO. A razão para nós, o sentimento
para elas. Se, todavia, o sentimento claudica nos preceitos da razão pautada e insofrida,
condenamos a mulher pela culpa de se deixar perder na obscuridade, à míngua duma
lâmpada que lhe negáramos.”
― O Que Fazem Mulheres
Disseram filósofos e moralistas, uns grandes santos como S. Paulo, e outros
grandes ateus como Voltaire, que a mulher é um ser exuberante de sensibilidade, e
apoucado de raciocínio.
Daí vem o denegarem-lhe acesso às ciências abstractas, às políticas, aos
parlamentos, ao magistério, às regiões intelectivas do maquinismo social, e mandaremnas cuidar dos filhos, e fiar na roca.
Se o absurdo vinga, se, por alvitre grosseiro do mais forte, a mulher é um ente
inepto para exercitar a razão, com que direito as julgamos e sentenciamos, segundo a
razão, sendo as suas culpas demasias de sentimento.
A injustiça é flagrante e odiosa.
Privam-nas de razão para as excluírem das funções que a requerem; sentenciamnas pela razão, se o sentimento, seu dom essencial, as desvia do piso demarcado por ela.
Isto é uma tirania, uma inquisição, uma crueza turca.
A mulher não pode ser julgada por nós. Somos os senhores feudais da razão. A
nossa alçada respira a prepotência do braço e cutelo. Estamos em insurreição
permanente contra o santíssimo apostolado de Jesus, que baixou seu divino braço por
igual sobre o homem e mulher.
Não podemos superintender no foro do coração, porque a nossa jurisprudência é
toda de cabeça, e o nosso código em pleitos de alma é estúpido ou hipócrita.
Quem é o juiz da mulher? O homem que a despenha do abismo, onde a lançou o
amor, ao abismo do opróbrio.
É o homem, que lhe entalha o ferrete da ignomínia na face onde imprimira o beijo
da perdição.
O altar onde se adora uma mulher é ao mesmo tempo a asa onde ela se dá em
holocausto. Pecadora por muito sentir e chorar, amar e crer, quando nos abre céus e céus
de alegria e glória, abrimos-lhes nós o inferno dos desenganos, e o suplício extremo do
descrédito. O mundo não as exija, mas afronta-as; o coração não as incrimina, mas
agoniza na horrível soledade para onde a razão o desterra.
E somos nós os juízes, porque entramos numa herança usurpada pela força
primeiro, e legalizada depois pelo sofisma escrito.
A mulher foi escrava do braço, antes de o ser da superioridade moral.
Quando o homem chamou a ciência a dar um testemunho falso da sua primazia, a
mulher, quebrantada pela escravidão do braço, não pôde remir-se com as forças do
espírito.
Ainda assim, o tirano, receoso da emancipação, fez em redor da escrava as trevas
da ignorância, para que a razão da mulher não pudesse conceber da luz o germe que a
reabilitasse.
Pegou da formosa flor, cercou-a de estevas, cobriu-a de sombras por onde o sol
não podia coar uma réstia reanimadora.
Esta maquinação arteira sobreviveu a todas as borrascas sociais. Os fautores, e
ainda os mártires da igualdade perante Deus e perante a lei, nunca proferiram uma
palavra, nem verteram gota de sangue para o resgate moral da mulher.
O Filho de Maria disse que a mulher era igual ao homem, e levou para o céu o
segredo da sua emancipação.
Ficámos nós cá, os açambarcadores do entendimento escrevendo livros, que
sacrilegamente denominamos de moral derivada do Evangelho, e neles demarcamos a
47
profunda raia que estrema RAZÃO de SENTIMENTO. A razão para nós, o sentimento
para elas. Se, todavia, o sentimento claudica nos preceitos da razão pautada e insofrida,
condenamos a mulher pela culpa de se deixar perder na obscuridade, à míngua duma
lâmpada que lhe negáramos.”
― O Que Fazem Mulheres
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