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"É impossível discernir a natureza do que se encontra nas trevas da tigela, mas a nossa mão apercebe-se de uma lenta oscilação fluida, uma ligeira exsudação que recobre as orlas da tigela diz-nos que dela se liberta um vapor, e o odor que este vapor exala oferece-nos um subtil antegosto do sabor do líquido, antes mesmo que tenhamos enchido a boca com ele. Que fruição, quão diferente (...)

"Quando oiço o barulho idêntico ao canto de um insecto longínquo, um ligeiro assobio que verruma o ouvido, emitido pela taça de caldo colocada à minha frente, e que saboreio em antecipação e em segredo o aroma da bebida, sinto-me sempre conduzido ao domínio do êxtase. Os amantes do chá, segundo se diz, ao ouvirem o som da água a ferver, e que para eles evoca o vento nos pinheiros, conhecem um enlevo (...)

"Assim como delgados fios de água correndo sobre as esteiras para se reunirem em caudais estagnados, os raios de luz são captados, um aqui, outro ali, depois propagam-se ténus, incertos e cintilantes, tecendo sobre a trama da noite um damasco feit com desenhos dourados."

"A luminosidade da sua superfície resplandescente reflete, quando colocada num local escuro, a agitação da chama da lamparina, revelando assim a mínima aragem que de vez em quando atravessa a dividão mais calma, e discretamente incita o homem ao sonho. (...) este mundo de sonho na incerta claridade que velas ou lamparinas segregam, este pulsar da noite que é o repetido pestanejar da chama.

"A moça um dia viu num botequim um homem tão, tão, tão bonito que - que queria tê-lo em casa. Deveria ser, como - como ter uma grande esmeralda-esmeralda-esmeralda num estojo aberto. Intocável. (...) Morreria de vergonha de comer na frente dele porque ele era tão bonito além do possível equilíbrio de uma pessoa."

"É que ela sentia falta de encontrar-se consigo mesma e sofrer um pouco é um encontro."

"O movimento é espírito. A reza era um meio de mudamente e escondido de todos atingir-me a mim mesmo. Quando rezava conseguia um oco de alma - e esse oco é o tudo que posso eu jamais ter. Mais do que isso, nada. Mas o vazio tem o valor e a semelhança do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é a resposta a meu - a meu mistério.

García Lorca sobre Neruda: "A poesia requer uma longa iniciação, como qualquer desporto, mas existe na verdadeira poesia um perfume, uma cadência, um traço luminoso que todas as criaturas são capazes de perceber."

"Existem derrotas gloriosas que podem, com o passar do tempo, dar origem a grandes coisas ("A verdade estica-se e adelgaça, mas não se quebra, e vem sempre à tona sobre a mentira, como o azeite vem à tona de água" Cervantes).

Gautier: "A arte é o que melhor nos consola da vida"

Gautier (para que serve uma rima): "Para que serve isto? Isto serve para ser belo. - Não chega? Como as flores, como os perfumes, como os pássaros, como tudo aquilo que o homem não foi capaz de desviar e corromper para seu serviço."

Custa-nos ver triunfar, nas televisoes e nos meios de comunicação, novas imagens do sucesso (....) Custa-nos ver homens e mulheres entregues a uma corrida louca em direcção à terra prometida do lucro, onde tudo aquilo que os rodeia - a natureza, os objectos, os outros seres humanos - não suscita o menor interesse.

Ninguém poderá realizar em vez de nós o laborioso percurso que nos permitirá aprender.

"A pretensão de uma sobrevivência individual, sem ter feito mais nada para a merecer senão pôr a salvo uma imagem - verdadeira ou falsa - de si próprio.

"Não sabia o que desejava: só sabia quanto estava distante, ele como todos os outros, de viver como deve ser vivido o que ele tentava viver."

To exist in the human moral dimension was to own a body, a voice, a pattern of behaviour, memory and desire, experience solid things and feel pain.

A perfectly formed moral system should float free of any particular disposition. But could it? Confined to a hard drive, moral software was merely the dry equivalent of the brain-in-the-dish thought experiment that once littered philosophical textbooks. Whereas an artificial human had to get down among us, imperfect, fallen us, and rub along.

"Then biology confirmed that we were at one with the rest, sharing common ancestry with bacteria, pansies, trout and sheep. In the early twentieth century came deeper exile into darkness when the immensity of the universe was revealed and even the sun became one among billions in our galaxy, among billions of galaxies. Finally, in consciousness, our last redoubt, we were probably correct to believe that we had (...)"

"Mas se eu acredito que a leitura, na sua essência original, nesse milagre fecundo de uma comunicação no interior da solidão, é mais qualquer coisa, algo mais do que disse Ruskin, não acredito apesar de tudo que se lhe possa reconhecer na nossa vida espiritual o papel preponderante que ele parece atribuir-lhe. Os limites do seu papel derivam da natureza das suas virtudes."

"[Ruskin] quis apenas, para nos dar a conhecer o preço da leitura, contar-nos uma espécie de belo mito platónio, com aquela simplicidade dos Gregos que nos mostraram praticamente todas as ideias verdadeiras e deixaram para os escrúpulos modernos o cuidado de aprofundá-las."

(...) isto é, continuando a usufruir do poder intelectual que se tem na solidão e que a conversa dissipa imediatamente, continuando a poder ser inspirado, a permanecer em pleno trabalho fecundo do espírito sobre si próprio.

"a leitura não pode ser assimilada a uma conversa, nem mesmo com o mais sensato dos homens; que o que difere essencialmente entre um livro e um amigo, não é sua maior ou menor sensatez, mas a maneira como se comunica com eles, a leitura, ao arrepio da conversa, consistindo para cada um de nós em receber comunicação de outro pensamento, mas permanecendo a sós (...)"

Citando Ruskin: "Partindo do princípio que temos quer a vontade quer a inteligência de escolher bem os nossos amigos, muitos poucos de nós têm esse poder, que limitada que é a esfera das nossas escolhas. Não podemos conhecer quem nos apetece..."

"(...) num livro sem relação com a vida e sobre o valor do qual nos tínhamos enganado uma vez que a tarefa dele aqui na terra (...) não era de modo algum, como tínhamos julgado, a de conter o universo e o destino"

For all our carefree physical intimacy, I never spoke about my feelings in case I prompted her to admit she had none of her own. I preferred to wait, to let things build, let her feel free until she realised that she wasn't, that she was in love iwth me and it was too late to turn back.

"A gente só reconhece a felicidade pelo barulhinho que ela faz quando vai embora", dizia o Jacques Prévert. Dificílimo reconhecer a felicidade quando ela ainda está no recinto. Caso reconheça, é fundamental fotografar, escrever, desenhar, filmar. Para isso servem nossos smartphones: para estocar os mais diversos tipos de felicidade em píxeis, áudios e blocos de nota.

Ser feliz é a melhor maneira de parecer um idiota completo. Para muita gente, a felicidade dos outros é um acinte. E não estou falando dos invejosos. Não consigo acreditar que existam invejosos de mim, para mim essa paranóia com a inveja alheia é delírio narcísico.

A morte dos outros é um spoiler. Parece te revelar algo que você não sabia, ou fingia não saber sobre você mesmo: você vai morrer. Olhe à sua volta. Todo o mundo vai morrer. A vida é pior que Game of Thrones. Não sobra nem o anão.