Douglas Lobo's Blog
November 11, 2025
Meu blog mudou de endereço
Olá, este blog migrou para o substack. Me siga lá: https://douglaslobo.substack.com/
April 21, 2025
Quando a bondade leva à ruína
A escritora Joan SamsonA visão bucólica da vida no interior é posta em xeque pela escritora Joan Samson (1937 – 1976) em seu romance The Auctioneer (O Leiloeiro). Publicada em 1976, a obra foi relançada em 2018 (Richmond: Valancourt Books), dentro do projeto Paperbacks from Hell. Essa iniciativa promove um resgate da ficção de terror publicada nos Estados Unidos nas décadas de 1970 e 80, a última era de ouro do gênero.
Temos aí já a primeira questão: trata-se The Auctioneer de um livro de terror? A meu ver, não: falta-lhe a atmosfera de medo do desconhecidoe o elemento sobrenatural (real ou sugerido). Eu classifico a obra como um thriller.
The Auctioneer conta a história de uma família de proprietários rurais, os Moore, cuja rotina é alterada quando um leiloeiro chamado Perly Dunsmore chega à cidade deles, Harlowe (New Hampshire). O forasteiro vai em cada casa da área urbana e rural e, com endosso do chefe de polícia local, pede doações de itens a serem leiloados. O dinheiro irá financiar a nomeação de policiais adjuntos (embora o índice de criminalidade no município seja baixíssimo).
O primeiro leilão é um sucesso, e logo ocorrem outros — até que se tornam atração local, sempre uma vez por semana. Pouco a pouco, no entanto, a situação muda: dotado de incomum capacidade de manipulação, Perly passar a pedir em suas visitas objetos cada vez mais valiosos, pessoais e importantes (penteadeiras, cômodas, sofás…) – e logo passa a exigi-los, resguardado pelo corpo de policiais que montou e que atua na prática como milícia. Aqueles que se recusam a doar sofrem misteriosos “acidentes”.
Acompanhamos toda a história pelo ponto de vista da família Moore, constituída pelo patriarca, John, sua esposa, Mim, sua mãe idosa, Ma, e a filha única do casal, a pequena Hildie. A dinâmica familiar, com alternância de afeto e conflito, é verossímil. À medida que a trama avança, e com ela a ambição de Perly, cresce a tensão entre os Moore, divididos entre resistir ao leiloeiro ou abandonar sua propriedade e fugir.
A voz narrativa é objetiva: os pensamentos dos personagens são transmitidos a nós não na linguagem pessoal deles, mas na do narrador. A penetração psicológica é mínima (algo comum em thrillers), sem longos mergulhos na cabeça dos personagens. Esse distanciamento atrapalha um pouco a clareza, especialmente nas primeiras investidas do leiloeiro (temos de tirar conclusões sem sabermos como os envolvidos enxergam a situação).
Por outro lado, essa pouco penetração psicológica cria uma tensão: há duas camadas narrativas sobrepostas, a dos personagens e a do narrador, esta última sendo a única de que temos muita informação. A técnica também deixa ambiguidades que, propositais ou não, enriquecem a leitura. Por exemplo, a recusa de John Moore em tomar uma atitude — ela se deve à necessidade de proteger esposa, filha e mãe, as quais dependem que ele não corra riscos? — ou se trata de mera covardia, as mulheres só um pretexto? Somos obrigados a tirar nossas próprias conclusões.
À medida que a história progride, e Perly se firma como um ditador local, fica claro o tema de livro: o conflito entre velhos e novos valores — aqueles representados pelos Moore, estes pelo leiloeiro. A evolução da trama demonstra como o ambiente conservador de uma comunidade rural isolada pode dar lugar ao totalitarismo pela ação de um único indivíduo (no que parece uma crítica ao populismo político.) Bem-comportados, acolhedores e generosos (autênticos “sais da terra”, para usar uma expressão americana), os moradores de Harlowe são vítimas inertes do golpista. Amarrados por regras de bom convívio, demoram para tomar as medidas drásticas que poderiam salvá-los. Como resume o motorista que a serviço de um policial de Perly invade a propriedade de John Moore com um trator e é ameaçado por este:
“Vou me preocupar quando eu vir uma arma. O policial diz que você é um daqueles tipos pacíficos que não têm armas.”
É significativo, aliás, que Perly destrua a comunidade ao mesmo tempo em que defende os mesmos valores que solapa:
“Nós temos aqui no campo uma qualidade de vida, algo que o dinheiro não pode comprar, algo mais importante que um novo automóvel ou uma nova TV ou alguma coisa que você está tentando obter para sua casa. Algo que chamamos de liberdade.”
Fascinados com as palavras, os moradores aceitam esse discurso — até serem incapazes (quando já é tarde demais) de negar a realidade. The Auctioneer nos ensina que a bondade pode levar à ruína, quando se transforma em apatia e ingenuidade. Em um mundo de regras, o fora-da-lei leva vantagem porque as descumpre — enquanto os outros permanecem amarrados a elas. O único remédio é a punição do infrator, a leniência sendo ao contrário o salvo-conduto do crime e, portanto, um ato de crueldade ao coletivo disfarçado de compaixão ao indivíduo.
A autora consegue construir bons personagens. O mais marcante deles é a avó, Ma. Ela é a velhinha assertiva presente em toda família. No livro, ela funciona como repositório dos velhos valores, transmitidos de geração em geração — ela personifica o que o leiloeiro só simula.
Outro personagem forte é o próprio Perly. Ele é como um coach picareta, décadas antes dessa figura se disseminar. Hábil com as palavras, diz o que o interlocutor quer ouvir e usa palavras-gatilhos que lhe desarmam o senso crítico. Quando começa a pedir doações de itens, usa uma estratégia que poderíamos aproximar à de múltiplas entradas que tantos marqueteiros adotam hoje em dia: principia com objetos supérfluos e de pequeno valor (linha de entrada, para atrair o usuário a seu ecossistema); depois escala aos poucos (linhas 2, 3…), rumo a artefatos cada vez mais valiosos e importantes (linhas premium e vip.)
Exposta a premissa e as linhas gerais de interesse, temos no entanto que chamar atenção para alguns pontos em que The Auctioneer derrapa.
O livro tem uma falha de trama séria: por que Moore e os demais só decidem procurar as autoridades estaduais após Perly ter se protegido por todos os lados, anulando qualquer apelo a um poder maior? Durante todo o meio do livro, os moradores da cidade nada fazem, enquanto são espoliados pelo leiloeiro, antes mesmo de a face maléfica deste aparecer em plenitude. A inércia dessas personagens é inverossímil: tente entrar na casa dos outros e lhes tirar os bens, na frente delas, e veja o que ocorrerá (não esqueça de redigir um testamento…) Parece-me que autora tinha o início e o fim de sua história, mas não o meio, preenchido assim por um Jonh Moore que só zanza e reclama, sem rumo ou ação.
Outro fato difícil de acreditar é que a população inteira, junta, não poderia enfrentar a milícia de Perly. Afinal não se trata de militares, mas de moradores de Harlowe a quem o leiloeiro deu título e armas. Por que os demais da cidade não adquirem armamentos (alguns já os têm, presume-se pela narrativa) e os intimidam durante as visitas semanais de arrecadação? Mesmo que não quisessem sujar as mãos, os moradores não conseguiriam, em conjunto, contratar seguranças privados para lhes proteger?
Como protagonista, John Moore deixa a desejar. Passivo, demora a tomar uma atitude contra Perly — e por isso boa parte do livro é desprovida de ação real. São páginas e páginas com um John hesitante, que se recusa a ouvir sua esposa e abandonar a propriedade, mas tampouco parte para a luta. Escolhe a pior das opções: nada fazer, enquanto a cada semana seus bens lhes são tirados.
Competente em descrições, a autora às vezes exagera e o excesso de detalhes compromete o ritmo do livro em várias passagens (em especial quando John Moore decide enfim retaliar.) A narrativa também se torna lenta no clímax, quando Samson introduz novos personagens, que precisam ser apresentados.
O fim é frustrante. O desenlace em uma narrativa como The Auctioneer deveria envolver o confronto entre o Bem (John Moore) e o Mal (Perly). Não se trata de impor regras ou clichês de gênero, mas exigir um conflito que é a culminância lógica preparada por toda a obra.
The Auctioneer é um romance interessante e agradável de ler, mas com falhas que comprometem o nível a que poderia ter chegado. Por mais meritória que seja a iniciativa de resgaste de antigas obras de terror promovida pelo escritor Grady Hendrix(idealizador do projeto Paperbacks from Hell), este livro — o único de sua autora, precocemente falecida — é daqueles que merece ficar no esquecimento.
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April 12, 2025
Entrevista histórica com o escritor Fernando Sabino (1923 – 2004)
O canal Memória Audiovisual Brasileira acaba de publicar entrevista realizada em 1976 com o escritor Fernando Sabino (1923 – 2004). Confira abaixo!
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January 8, 2025
Crítica ao romance “Salvar o Fogo”, de Itamar Vieira
Escrevi uma crítica ao romance “Salvar o Fogo”, de Itamar Vieira. Leia-a aqui, no blog da Editora Danúbio.
January 6, 2025
Natal em Família: Uma Viagem pelo Tempo
Natal em família é, a um só tempo, um retorno ao passado, um testemunho do presente e um relance no futuro.
Um percurso ao passado porque é quando revemos aquele parente ou agregado em que não esbarrávamos há tempos. Ou ouvimos histórias de gerações anteriores à nossa. Ou escutamos dos mais velhos episódios de nossa própria infância há muito esquecidos por nós. (Alguns dos quais ficaríamos melhor sem relembrá—los: o dia em que quebramos o vaso de cerâmica da casa; choramos na cadeira do dentista frente ao aterrorizante bisturi; estragamos o jardim ao plantarmos uma planta rasteira que engolfou os caules das demais…) É quando os velhos contam suas histórias, com menções a fatos, pessoas e locais que do contrário se perderiam no tempo.
O passado é o mais seguro dos refúgios: imutável e, por isso, sob controle. Fácil assim nos perdermos na memória afetiva, os demais membros da família como imagens estáticas, remanescentes de nossa própria nostalgia.
O Natal nos impede disso: o mesmo retrovisor que nos força a olhar para trás nos faz ver os outros como são, no presente. Jovens aparecem de cabelos brancos (“do dia para noite”, iludimo-nos, para não reconhecermos o próprio envelhecimento…) Casais antes amorosos reduzem-se a um só: o parente de sangue, que comparece abatido sob o peso da separação. Os ambiciosos, que anunciavam aos brados o ímpeto de conquistar todos os espaços, apresentam-se desesperançosos, humildes, conformados com migalhas.
O presente é a realidade. Ter os pés-no-chão, aliás, é prudente. Mas que seria da vida sem este motor que há milênios impele o homem: a esperança de que tudo há de melhorar?
Sim, no Natal a família também vislumbra o futuro. Os bebês, recém-ingressos, são a garantia de que haverá continuidade. As crianças, com mais idade, e por isso menos frágeis, tornam mais certa a posteridade. Os adolescentes estão prestes a se tornarem adultos, terem os próprios filhos e prosseguirem a linhagem.
Passado, presente e futuro se apresentam, assim, à medida que se aproxima a hora da virada para o Natal e a ceia que o celebra, cai a cortina que separa. O rapaz de décadas atrás se tornou avô. A moçoila de antes virou mãe, os filhos já crescidos. A criança se tornou adulto, a ingenuidade tendo dado lugar à cautela de quem é responsável por si mesmo. Os mais velhos contam histórias — histórias que para os jovens são distantes — tão distantes quanto serão as que estes contarão às novas gerações quando fora eles próprios os velhos.
Natal em família é uma viagem no tempo, por todos os tempos.
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December 13, 2024
Resenha de meu romance “Terra Amaldiçoada” no canal Refúgio Literário
September 30, 2024
22 dicas de escrita de Stephen King
O escritor Stephen King (Portland, 21 de setembro de 1947) dá várias dicas de escrita em seu livro On Writing (2000). Mas há nuances no método criativo dele, as quais ele já detalhou em várias entrevistas ao longo de sua carreira. Alguns ensaios sobre sua obra também elucidam as técnicas por trás do texto.
Interessado em conhecer a fundo o modo de escrita de King, li duas coletâneas de entrevistas dele e dois livros com análises de sua obra. Extraí deles algumas dicas, que compartilho:
O escritor deve ter uma rotina e alterá-la o mínimo possível.No caso de King, a rotina é trabalhar de manhã em material inédito e à noite na revisão de rascunhos. À tarde ele lê livros (a maioria de ficção.)
O escritor deve dominar os fundamentos da arte literária: Estilística, Gramática e as técnicas de ficção.Esses fundamentos, diz King, constituem a “caixa de ferramentas” do autor.
Escrever sem esboço de trama; usar os instintos; deixar que os personagens criem a história, a partir da situação.Ponto famoso de King, conhecido por rejeitar o planejamento prévio da história; para ele, se o escritor não sabe para aonde a história vai, o leitor menos ainda e portanto o suspense fica mais eficaz.
Escrever o mais rápido possível, deixar à parte, escrever outro projeto, pô-lo de lado, voltar para o primeiro, reservá-lo, começar outro etc. Transitar entre várias histórias, em várias fases de desenvolvimento.Método pouco conhecido do trabalho de King (e não mencionado em On Writing.) A famosa rapidez de publicação do autor não ocorre por meio de uma linha de produção, mas de uma intercalação de projetos, dos quais só os mais maduros são publicados (em alguns casos após anos de escrita.)
Tratei especificamente desse “sistema”, digamos assim, neste vídeo.
King não anota ideias. Segundo ele, as melhores histórias são aquelas que “assombram” o escritor e só devem ser escritas após longa maturação.
Fazer uma pesquisa mínima antes de começar a escrever; deixar a completa para depois do primeiro rascunho.Deixar a pesquisa detalhada para depois do primeiro rascunho livra o autor de gastar muito tempo coletando informações que talvez ao fim não sejam úteis.
No caso de contos, visualizá-los por completo na cabeça, antes de começar a escrever.Esse é o único ponto em que King propõe a um esboço completo da história, antes de escrevê-la (importante registrar que ele menciona isso quando ideias de contos lhe surgem na cabeça e ele não tem tempo de escrevê-las, porque dedicado a um romance.)
Mais importante que a aparência física dos personagens, são a motivação e os sentimentos deles.King sempre descreve sucintamente a aparência de seus personagens; para ele isso não é relevante. Além disso, acrescenta, o leitor tende a colocar por conta própria um rosto nos personagens.
Não é preciso criar os personagens antes; se a situação e a história forem adequadas, eles surgirão.Não é preciso saber detalhes dos personagens (história pregressa, hobbies etc.) antes de escrever a história; se esta for boa, aqueles emergirão, de modo apropriado.
Utilizar as estruturas das lendas, mitos e contos de fada.Aspecto pouco conhecido da obra de King: muitas de suas histórias usam as estruturas das narrativas primordiais (orais a princípio e depois registradas em livro.)
Usar nas histórias elementos tirados da cultura de massa.Todo leitor de King sabe que ele dialoga com a cultura de massa — seja por menções a filmes, livros, canções etc., seja por personagens que remetem a tipos e arquétipos explorados na indústria cultural.
Após a ideia inicial para a história, visualizar dois momentos moralmente contrastantes da história — criar assim um dilema moral e pôr nele o protagonista (e o leitor.)Um dos aspectos mais conhecidos da obra de King. Trata-se de dar um “nó” na cabeça do leitor, mostrar a ele que o mundo é em tom de cinzas, não preto no branco.
Resolver os problemas (de tema, trama etc.) à medida que escreve e confiar nos instintos para julgar os resultados.Todo escritor esbarra com problemas ao longo da história. Em vez de interromper o processo para encontrar a solução, King defende que o autor descubra a solução no momento mesmo da escrita.
Escrever romances longos (mas não prolixos.)A partir de seu segundo romance, a maior parte dos livros de King passaram a ter mais de 500 páginas. Segundo ele, ao pegar um livro volumoso, o leitor sente que o autor dedicou tempo a lhe oferecer algo.
As histórias estão fora do escritor; ele só precisa encontrá-las, pela escrita.Essa ideia é exposta no On Writing: histórias são fósseis e o escritor só tem de encontrá-las.
Desenvolver e explorar a realidade social em que se passam as histórias.Influenciado pelos escritores naturalistas, King entende que nenhuma história ocorre no vácuo. Há o passado dos personagens, a profissão, a vizinhança… Não se trata de fazer “romance social”, mas ambientar as histórias em uma realidade específica.
Em uma história de terror, o conflito central deve refletir um medo real, ou seja, não deve ser o medo do sobrenatural (este deve ser um reflexo daquele.)Para muitos, esse é o segredo do impacto das histórias de Stephen King. O medo do sobrenatural é fugidio, porque depende de “suspensão da descrença”; já os medos reais tendem a ressoar com o leitor, mesmo após o fim do livro.
Evitar linguagem poética: usar verbos de ação e palavras que criem as sensações desejadas.King adota um estilo ativo, com verbos de ação (embora às vezes use palavras expressivas para criar efeitos no leitor e construir atmosfera.)
A história deve comandar todas as decisões do escritor, inclusive a dos recursos técnicos a usar.Como autor, Stephen King escolhe as ferramentas que melhor se adequem à história.
Embora o escritor deva se preocupar predominantemente com a história, ele jamais deve se descuidar do estilo; este deve ser capaz de por si só conduzir o leitor.King se considera um contador de histórias, mais do que um escritor: ele sacrifica o preciosismo e a beleza do estilo, se a história exigir; isso não significa no entanto descuido do estilo, que deve ser vivo, interessante e eficaz.
Ao escrever, sempre pensar no efeito a causar no leitor e ajustar o estilo para isso.King assume em entrevistas: ele busca provocar efeitos no leitor.
Respeitar a lógica imposta pela história.King deixa a história fluir rumo a seu desenlace natural, sem manipulá-la
Livros consultados:
Underwood, Tim; Miller, Chuck. Bare Bones: Conversations with Stephen King. New York: Warner Books, 1989.
Underwood, Tim; Miller, Chuck. Feast of Fear: Conversations with Stephen King. New York: Warner Books, 1993.
Underwood, Tim; Miller, Chuck. Fear Itself: The Horror Fiction of Stephen King. New York: Plume, 1984.
Winter, Douglas E. Stephen King: The Art of Darkness. New York: Signet, 1986.
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May 19, 2024
Minha conversa com o canal SelmoCast
Conversei com Anselmo Souza, do canal SelmoCast, sobre meus livros.
Confira aqui:
April 13, 2024
O segredo da produtividade de Stephen King
Stephen King (foto acima) é um dos mais prolíficos escritores da atualidade. Mas qual o segredo dessa impressionante produtividade? Eu descobri e vou te revelar, no vídeo abaixo:
February 13, 2024
Por que nós, escritores, devemos usar as redes sociais
A princípio, nada parece mais distante de um mundo literário do que as redes sociais. A estimulação excessiva dos sentidos, o fluxo diário ininterrupto de novos conteúdos, o ritmo rápido, a predominância da imagem sobre a escrita – tudo nelas, enfim, remete a uma sociedade cada vez mais afastada do espaço interior exigido para fruição das obras literárias.
Os traços específicos de uma época ficam mais evidentes se a compararmos com outra. Para atestarmos o efeito do ambiente digital na literatura, não precisamos voltar muito longe: a década de 1980 já evoca um mundo perdido; um tempo em que podíamos, depois das responsabilidades do dia-a-dia, nos recolher em nossos lares e nos dedicar com sossego à vida doméstica. Os riscos de interrupção externa eram mínimos: uma ligação telefônica, alguém a bater à porta, uma correspondência a aguardar leitura. Não havia telas de celulares. As opções na TV eram poucas — mesmo nos canais por assinatura, então no nascedouro. O rádio só tocava as canções escolhidas pelo locutor e, por isso, a atenção dada ao equipamento flutuava ao interesse de cada música.
É certo que, em se tratando de consumo cultural, ainda na década de 1980 já existia o arremedo da sociedade de streaming de hoje. O vídeo cassete e o record player, ao permitirem consumo e gravação de filmes e músicas, respectivamente, foram o início da “cultura sob demanda”, o tipo de serviço que plataformas como Netflix proporcionam nos dias de hoje. Mas essa tecnologia só se tornaria disruptiva a partir da década de 2000. Até a consolidação do ambiente digital, a gravação de músicas e filmes tinha limites (o custo e a memória das “fitas”, bem como o espaço doméstico de armazenamento) e o consumo era pago, nas locadoras e lojas de discos. Vivia-se em um mundo não muito diferente, do ponto de vista de fruição cultural, do que na década de 1950.
Hoje isso mudou. E é inegável que as redes sociais atrapalham nossa vida de escritores. No plano pessoal, são um fator de dispersão, seja por nosso desejo de consumir conteúdo — e isso rouba nosso tempo —, seja porque propicia que amigos e familiares tenham acesso a nós a qualquer instante — e isso rouba nossa concentração.
No plano geral, as redes sociais dificultam a atividade literária devido ao papel cada vez maior que exercem em pautar o debate público, especialmente devido à crise do jornalismo tradicional. Como escritores, é natural que nos interessemos pela sociedade e, portanto, pela discussão pública; corremos assim o risco de retardarmos nossos projetos para darmos atenção aos assuntos em debate nas redes sociais, os quais mudam toda semana. Não se vira um escritor quando se pula de galho em galho, na tentativa de se “atualizar”; a obra literária exige atenção de longo prazo.
Não que a tentação dispersiva do debate público não existisse antes. Mas era diferente. Quando a comunicação de massa se restringia à TV, aos jornais impressos e ao rádio, a própria lógica deles impunha limites a seu consumo: no caso do jornal, lia-se pela manhã ou a longo do dia, de modo que ele não entrava pela noite; no caso da TV e do rádio, a programação jornalística era mínima, com a maior parte da grade horária dedicada ao entretenimento.
Já hoje em dia, a comunicação de conteúdos pelas redes sociais é constante, vinte e quatro horas por dia e com inúmeras opções de plataformas. É natural que isso leve aqueles interessados no debate público a consumir conteúdo em vez de se dedicar a projetos artísticos de envergadura.
De modo geral, as redes sociais trazem o mundo externo a nossas casas. Elas atrapalham assim todas as tarefas que exigem recolhimento e interioridade – como a de escritor.
No entanto – e agora entro no ponto principal –, e se essa impressão não for de todo correta? E se, longe de prejudicarem a atividade literária, as redes sociais forem uma forma de fortalecê-la?
As redes sociais não precisam atrapalhar nossa vida de escritores. Ao contrário: podemos usá-las a nosso favor. Arrisco até a dizer que esteja nelas a semente do resgate do debate literário brasileiro.
Digo “resgate” porque o debate literário brasileiro desapareceu, a partir da década de 1980. Ou melhor: ele se se refugiou na universidade; tornou-se assim assunto de especialistas — e a literatura, objeto de estudo acadêmico.
Até a década de 1970, o debate literário brasileiro acontecia nos jornais. Era a época da “’crítica de rodapé”, que levava esse nome porque ficava no rodapé das publicações. Toda semana, grandes críticos literários comentavam os lançamentos editoriais, em uma efervescência cultural que tratava as obras literárias como algo vivo, e não artefatos a serem dissecados por experts. Esse ambiente intelectual, somado à alta qualidade dos livros publicados então, transformaram as décadas de 1930, 40 e50 em uma era de ouro da literatura brasileira.
Essa época acabou quando a crítica de rodapé, por motivos que tentei explicar em outro espaço, desapareceu. O debate literário se refugiou na universidade, onde as obras literárias se tornaram objeto de estudo e, nisso, restritas a estudantes e professores. A discussão literária entre intelectuais públicos deu lugar à divulgação de notícias sobre o mercado editorial, à resenha jornalística e a perfis de autores famosos, em especial estrangeiros.
Felizardos assim os escritores das décadas anteriores à de 1980: desfrutaram do privilégio de terem seus livros comentados pelos maiores intelectuais que o Brasil já teve.
Já os escritores surgidos a partir da década de 1980, não tiveram suas obras apreciadas por grandes críticos. Os livros deles não geraram discussão. Toda uma geração de escritores caiu na obscuridade, até…
… a emergência do ambiente digital, a partir da década de 2000.
Reflitamos: não seria a explosão da internet, dos blogs e, mais tarde, das redes sociais o retorno ao antigo ambiente das redações de jornal?
Sob o risco de soar otimista demais, digo que as condições de divulgação do escritor brasileiro contemporâneo são melhores que a dos escritores da geração anterior, condenados que foram ao limbo.
Longe de mim, claro, defender que o ambiente blogs e redes sociais esteja à altura das redações de jornal em que resplandeciam os grandes críticos do passado. Mas talvez estejamos, como escritores, numa situação melhor do que aqueles que publicaram nas décadas de 1980 e ´90. Com todas as restrições que se lhe apliquem, temos um espaço onde se pode ter um debate literário, às vistas do público, longe dos muros da universidade.
Talvez seja melhor para nós, escritores, aceitarmos as redes sociais. Sei que muitos de nós não gostamos de “produzir conteúdo” (eu inclusive). Mas o fato é que temos uma vantagem em relação à geração anterior. É chegada a hora de pararmos de romantizar o passado e usar as ferramentas do presente para – quem sabe? – construir uma nova era de ouro da literatura brasileira.
Artigo publicado originalmente no blog da Editora Danúbio.
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