Vera Iaconelli
Born
in São Paulo , Brazil
March 16, 1965
Genre
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“As entrevistas iniciais — sempre mais de uma, pois também se trata de avaliar os efeitos que cada entrevista tem sobre a seguinte — servem para tornar claro que o paciente só poderá ser tomado em análise na medida em que se colocar em questão. “Por que eu?” “Por que eu perdi um filho, um olho, um casamento, um emprego, anos da minha vida?” Não se trata de uma pergunta retórica.
As respostas que damos para as insondáveis causas dos acontecimentos em nossa vida são de nossa responsabilidade e nos orientam. É por isso que, é terrível, por mais que a sua vida tenha sido um show de horrores, o analista quer saber qual a sua parte nesse latifúndio.”
― Análise
As respostas que damos para as insondáveis causas dos acontecimentos em nossa vida são de nossa responsabilidade e nos orientam. É por isso que, é terrível, por mais que a sua vida tenha sido um show de horrores, o analista quer saber qual a sua parte nesse latifúndio.”
― Análise
“Quando o mundo ampliou seu escopo, a comparação com a vida familiar se mostrou inevitável e não tive mais como ignorar alguns abismos. Os laços afetivos eram truncados pela impossibilidade de comunicação. Quando a comunicação funcionava, ela revelava que as expectativas entre nós eram inconciliáveis. O que pais, filhos e irmãos esperavam uns dos outros era uma lealdade baseada em abrir mão do próprio desejo em nome da família. Está aí uma coisa que a psicanálise vem para esculhambar.”
― Análise
― Análise
“Não podendo salvar a mim e à minha família de sua própria tragicidade — porque nunca me pediram e porque, se o tivessem, eu não teria os meios para isso —, acabei por aspirar a “salvar” pacientes. Gesto pretensioso de quem precisa ser ajudada mais do que imagina, haja vista a fantasia onipotente — e antianalítica — de que haveria um salvador, de que haveria salvação para a vida. Foi meu segundo analista, winnicottiano, que muito habilmente apontou a falácia de sentir dó do outro. Quando lembro a merda na qual eu estava afundada enquanto me arvorava no lugar de quem salva, sinto um misto de constrangimento pela empáfia e gratidão por ele ter me ajudado a desmontar essa boneca de Olinda da minha autoimagem: inflacionada, frágil e oca.
Não que não houvesse força e capacidade em mim, mas eu apostava minhas fichas justamente naquilo que mais nos empalidece diante da vida: negação do desamparo que é comum a todos, que é estrutural e que, portanto, ninguém elimina de si, tampouco do outro. Meu analista não estava lá para me dar palavras de incentivo ou inflar meu ego, ao contrário, ele me convidava, com seu silêncio, a perder o medo de encarar o que eu mais temia: meu desamparo, outro nome da castração. Quanto antes eu pudesse encará-lo, melhor enfrentaria os perrengues da vida. Mas demorou.”
― Análise
Não que não houvesse força e capacidade em mim, mas eu apostava minhas fichas justamente naquilo que mais nos empalidece diante da vida: negação do desamparo que é comum a todos, que é estrutural e que, portanto, ninguém elimina de si, tampouco do outro. Meu analista não estava lá para me dar palavras de incentivo ou inflar meu ego, ao contrário, ele me convidava, com seu silêncio, a perder o medo de encarar o que eu mais temia: meu desamparo, outro nome da castração. Quanto antes eu pudesse encará-lo, melhor enfrentaria os perrengues da vida. Mas demorou.”
― Análise
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