Ana Martins's Blog
September 1, 2025
Pés na terra & cabeça sonhadora
      Hoje de manhã um amigo enviou-me esta mensagem: "Ia para o trabalho, ouvi esta música na m80 e lembrei-me de ti" 
Fiquei obviamente curiosa e cliquei no link para ver qual a música.
Imediatamente o sorriso nasceu em mim antes de a escutar, ao ler o título e o grupo!, alegre, já desci para a minha caminhada matinal a dançaricar pelos degraus, a cantarolá-la na minha mente, sem conseguir descolar do meu rosto um alargado e malandro sorriso. É que amanhecia o meu mês de Setembro de modo tão, tão meu! Explico.Sei que o meu amigo tem razão ao pensar em mim com esta canção: reconheço como tão bem me compreende ao longo destas décadas todas. De igual modo as palavras da cantautora escocesa Sadenia Reader, lêem-me na perfeição! Sim, "Perfect" (e clarooo que não é a música de Ed Sheeran! Atentem os mais jovens que amam descobrir os anos '80), foi o primeiro single dos Fairground Attraction (grupo já extinto), que quando saiu e se tornou #NumberOne numa época em que tínhamos e valorizávamos um top musical; isto aconteceu transversalmente a 1988/1989, aquando do tempo conturbado&mágico da minha gravidez de alto risco com o tempo de ser mãe, pelo que, estando por imperativa advertência médica, de cama durante oito bonitos meses da gestação, a escutava amiúde! 
Ia ter mais cuidado do que todos os médicos me recomendavam (foi uma gravidez muito rara e, por isso, vigiada), e, sim!, ia ser perfeito!!
(contém muita informação em forma de música, a cada link)
Já depois da caminhada, tive de interromper o normal curso do meu dia, avassalada com os pensamentos que me ocorreram à mente e após uma rápida meditação, decidi sentar-me a escrever. Escrever salva-me sempre! Já a memória que guarda os bons e os menos bons momentos da nossa vida, é cheia de bondade e faz-nos empurrar para um canto mais escuro o que nem é para lembrar. Não esquecemos, apenas o apagamos da nossa vivência quotidiana. Como o som de uma vassoura em segundo plano numa música de Neil Young. Perfeito! Era como eu queria que fosse o meu casamento, tal como foi o dos meus pais e dos meus avós! Vivi rodeada de dois casais tão coesos, porém exposta (em frente, literalmente!) a outros dois tão tóxicos, que nem sei bem porque retive só o perfeito: bom... até sei! Sou da última geração em que as meninas foram educadas para casar. O efeito Cinderela rodeava-me e era bem palpável para mim, demasiado observadora, reparava em cada gesto, palavra, toque ou sorriso cúmplice: tive uma infância mesmo muito feliz, rodeada de amor! Perfeita! E nem a Disney tinha ainda entrado na equação das princesas: estávamos no tempo do rato Mickey e do pato Donald, as belas tardes no cinema Alvalade. Perfeito não foi o meu casamento, é facto. Divorciei-me quando o marido disse: "Eu não posso ter um filho deficiente!" Ao que muito bem respondi: "E eu não posso ter um marido parvo!" Perfeito! Não foi o que aconteceu nos anos seguintes. Na verdade, nem teria de ser, eu é que ainda não tinha aprendido essa lição na vida, e, como sou teimosa, foram necessárias mesmo muitas mais, para que capitulasse. Tal como se sugere na música do meu amigo (obrigada!), intimamente sempre continuei a acreditar na instituição casamento, num compromisso a sério, na tríade AMOR-CONFIANÇA-RESPEITO. Acredito, ainda hoje, que só assim vale a pena viver a dois: quando vale a pena! Viver só, é uma escolha, e feita há mais tempo do que quero lembrar. Se namorisquei?, é certo, não fiz voto de freira!, mas algo sério...? Bastava-me observar o modo como os pretendentes a pretendentes me olhavam ao início e logo de esguelha para o meu filho, que, coitados!, já estavam de patins em linha no Estoril!, e ainda estavam a pensar que teriam quaisquer hipóteses de entrarem na minha vida...!Quis muito, de começo, voltar a casar, construir uma família, dar irmãos ao meu filho. Um dia um médico disse-me de deveria TER mais filhos para um dia cuidarem do Pedro. Quedei-me horrorizada! Isso era tudo o que não aconteceria na minha ideia de perfeito!! Casar com qualquer um e encher-me de filhos...? Na minha mente, coloquei esse conceito de porca parideira num desses recantos escuros. Todo este modo de ser, tal como está na música matinal... sou eu! Ainda hoje! Sou oito ou oitenta. Branco ou preto. Tudo ou nada! Sempre assim fui, desde menina, com o carácter e personalidade bem vincados, tal como o meu pai, orgulhosamente, tanto me gabava a quem quisesse escutá-lo. Tive-tenho a coragem e a determinação acirrada de enfrentar a solo um salto sem rede, para o qual a minha infância feliz não me preparou - digo melhor -, tantos anos tão feliz, de um perfeito que ansiava repetir, sim, preparou-me para o desconcertante embate que é o de ter um filho que baralha a noção pré-construída que qualquer grávida tem de perfeito, e, ainda assim, ter a tenacidade de logo arregaçar as mangas - fazer de conta que era muito corajosa, apesar de aterrorizada, porque ninguém iria notar a diferença - e seguir em frente, defendendo-o de todas as frentes frias, das leves brisas às mais ferozes tormentas! Ainda o faço, sempre o farei. Venha quem vier! Continuo em algum recanto ensolarado de mim a ser a brava e feliz menina da foto, com nove anos, a dos quatro meses de férias na praia, a atrevida, pispineta e desafiadora, a saltar sem precisar de rede! (É sim, uma das fotografia captada pelo meu papá, uma das muitas minhas preferidas. Esta cristalizo-a com a legenda das palavras, que acima referi, de meu pai).
Recordei, uma outra música: The Whole of the Moon, a que me agarrei com a urgência inata de uma grande lapa: se antes do Pedro nascer estava aterrada com o que os médicos foram dizendo ao longo da gravidez de alto risco e pelos 10 meses seguintes, comecei um gritante e calado diálogo interno na minha cabeça, entre a Ana organizada e de pés bem assentes na terra e a Ana a eterna sonhadora e artista dos pés à cabeça:
I saw the rain dirty valley You saw Brigadoon I saw the crescent You saw the whole of the moon
E ainda que eu soubesse, em algum recanto luminoso em mim, de que Brigadoon existe mesmo!, Ahhh!, o perfeito nunca chegou. E sim, eu sei que existe e consigo ver o todo da Lua, como tenho a Dona Dor comigo (é claro que tem nome e ocupa o seu espaço!) nas outras fases lunares. Perfeito, não é, aprendi a acomodar e a pintar com outras cores o vale sujo e lamacento. Muitas as vezes que apenas o empurro para debaixo do tapete, muitas mais as que sei que consegui um intento que tinha desde os trinta anos, quando via outras Mães com mais idade do que eu, que atravessaram a Porta da Dor, como há décadas lhe chamei: as Mães que eu via com os filhos na rua ou nas salas de espera, e, lhes lia nos olhos amargura, para além de uma tristeza profunda que nunca se descola.E apesar de durante anos esta música me acompanhar - me salvar, literalmente! -, no frémito da voz fininha da Max Edie, que, na minha cabeça, era eu de novo com nove anos, agora na beira de um vórtice, sem rede, a cada nana nana na na naaaaah que eu repetia incessantemente a cada gesto do meu dia, num grunhido tão profundamente calado, na minha constante tortura de escolher viver a vida e logo saltar para os carris do lado, os que correm ali encostados, paralelos à vida, onde decorre o filme cómico, tal como no genial filme dos Monthy Phyton "Life of Brian": eu posso dizer que consegui! Eu consegui!! Com o imenso, o interminável, incondicionalmente profundo AMOR que o meu filho e eu temos um pelo outro... nos meus olhos só lêem amor! Pelo Pedro, pelo milagre da VIDA de que não desisto!, por este mundo que quero tanto seja feito de Paz! Sei que posso saltar para o outro par de carris a desejar assim, e se assim fosse, não seria maravilhoso? Prometo escrever um livro.
Aprendi mais adiante na vida de que mais do que as Mães e Pais do Autismo, tantas outras pessoas num doloroso momento, em profundo pânico, também atravessaram a Porta da Dor. Compreendemo-nos, num nível de intensidade que sei ficar a léguas - e ainda bem que simmm! - de quem nunca a atravessou.
E há a Esperança, porque nunca se vai embora!, e eu continuo aqui a acreditar, e a sorrir! A sorrir!! Nunca a amargura que via nas outras mães, conseguiu derrubar a minha alegria de viver, por muito que force este muro mais concreto que o de Berlim. Eu sorrio, com os dentes todos, com o olhar profundo desde a minha alma!
Há anos escrevi num dos meus livros:
Por muitos anos só escutava em loop Prefap Sprout. A minha banda favorita, se é que consigo seleccionar uma só música favorita teria de ser esta, com que vos deixo. E, como costumo autografar no livro Azul e branco às riscas - porque eu acredito!
We’re building our home upon love and respect And when we’ve built it we’ll call it Andromeda Heights
Folks in the valley will look up and say'You've finally built it, can we come and stay?' And cynics will marvel and say, 'we confess, there were times when we thought it was just an address.' But now that we've seen it, we know it's Andromeda Heights
  
  
 
  
    
    
    Fiquei obviamente curiosa e cliquei no link para ver qual a música.
Imediatamente o sorriso nasceu em mim antes de a escutar, ao ler o título e o grupo!, alegre, já desci para a minha caminhada matinal a dançaricar pelos degraus, a cantarolá-la na minha mente, sem conseguir descolar do meu rosto um alargado e malandro sorriso. É que amanhecia o meu mês de Setembro de modo tão, tão meu! Explico.Sei que o meu amigo tem razão ao pensar em mim com esta canção: reconheço como tão bem me compreende ao longo destas décadas todas. De igual modo as palavras da cantautora escocesa Sadenia Reader, lêem-me na perfeição! Sim, "Perfect" (e clarooo que não é a música de Ed Sheeran! Atentem os mais jovens que amam descobrir os anos '80), foi o primeiro single dos Fairground Attraction (grupo já extinto), que quando saiu e se tornou #NumberOne numa época em que tínhamos e valorizávamos um top musical; isto aconteceu transversalmente a 1988/1989, aquando do tempo conturbado&mágico da minha gravidez de alto risco com o tempo de ser mãe, pelo que, estando por imperativa advertência médica, de cama durante oito bonitos meses da gestação, a escutava amiúde! Ia ter mais cuidado do que todos os médicos me recomendavam (foi uma gravidez muito rara e, por isso, vigiada), e, sim!, ia ser perfeito!!
(contém muita informação em forma de música, a cada link)
Já depois da caminhada, tive de interromper o normal curso do meu dia, avassalada com os pensamentos que me ocorreram à mente e após uma rápida meditação, decidi sentar-me a escrever. Escrever salva-me sempre! Já a memória que guarda os bons e os menos bons momentos da nossa vida, é cheia de bondade e faz-nos empurrar para um canto mais escuro o que nem é para lembrar. Não esquecemos, apenas o apagamos da nossa vivência quotidiana. Como o som de uma vassoura em segundo plano numa música de Neil Young. Perfeito! Era como eu queria que fosse o meu casamento, tal como foi o dos meus pais e dos meus avós! Vivi rodeada de dois casais tão coesos, porém exposta (em frente, literalmente!) a outros dois tão tóxicos, que nem sei bem porque retive só o perfeito: bom... até sei! Sou da última geração em que as meninas foram educadas para casar. O efeito Cinderela rodeava-me e era bem palpável para mim, demasiado observadora, reparava em cada gesto, palavra, toque ou sorriso cúmplice: tive uma infância mesmo muito feliz, rodeada de amor! Perfeita! E nem a Disney tinha ainda entrado na equação das princesas: estávamos no tempo do rato Mickey e do pato Donald, as belas tardes no cinema Alvalade. Perfeito não foi o meu casamento, é facto. Divorciei-me quando o marido disse: "Eu não posso ter um filho deficiente!" Ao que muito bem respondi: "E eu não posso ter um marido parvo!" Perfeito! Não foi o que aconteceu nos anos seguintes. Na verdade, nem teria de ser, eu é que ainda não tinha aprendido essa lição na vida, e, como sou teimosa, foram necessárias mesmo muitas mais, para que capitulasse. Tal como se sugere na música do meu amigo (obrigada!), intimamente sempre continuei a acreditar na instituição casamento, num compromisso a sério, na tríade AMOR-CONFIANÇA-RESPEITO. Acredito, ainda hoje, que só assim vale a pena viver a dois: quando vale a pena! Viver só, é uma escolha, e feita há mais tempo do que quero lembrar. Se namorisquei?, é certo, não fiz voto de freira!, mas algo sério...? Bastava-me observar o modo como os pretendentes a pretendentes me olhavam ao início e logo de esguelha para o meu filho, que, coitados!, já estavam de patins em linha no Estoril!, e ainda estavam a pensar que teriam quaisquer hipóteses de entrarem na minha vida...!Quis muito, de começo, voltar a casar, construir uma família, dar irmãos ao meu filho. Um dia um médico disse-me de deveria TER mais filhos para um dia cuidarem do Pedro. Quedei-me horrorizada! Isso era tudo o que não aconteceria na minha ideia de perfeito!! Casar com qualquer um e encher-me de filhos...? Na minha mente, coloquei esse conceito de porca parideira num desses recantos escuros. Todo este modo de ser, tal como está na música matinal... sou eu! Ainda hoje! Sou oito ou oitenta. Branco ou preto. Tudo ou nada! Sempre assim fui, desde menina, com o carácter e personalidade bem vincados, tal como o meu pai, orgulhosamente, tanto me gabava a quem quisesse escutá-lo. Tive-tenho a coragem e a determinação acirrada de enfrentar a solo um salto sem rede, para o qual a minha infância feliz não me preparou - digo melhor -, tantos anos tão feliz, de um perfeito que ansiava repetir, sim, preparou-me para o desconcertante embate que é o de ter um filho que baralha a noção pré-construída que qualquer grávida tem de perfeito, e, ainda assim, ter a tenacidade de logo arregaçar as mangas - fazer de conta que era muito corajosa, apesar de aterrorizada, porque ninguém iria notar a diferença - e seguir em frente, defendendo-o de todas as frentes frias, das leves brisas às mais ferozes tormentas! Ainda o faço, sempre o farei. Venha quem vier! Continuo em algum recanto ensolarado de mim a ser a brava e feliz menina da foto, com nove anos, a dos quatro meses de férias na praia, a atrevida, pispineta e desafiadora, a saltar sem precisar de rede! (É sim, uma das fotografia captada pelo meu papá, uma das muitas minhas preferidas. Esta cristalizo-a com a legenda das palavras, que acima referi, de meu pai).
Recordei, uma outra música: The Whole of the Moon, a que me agarrei com a urgência inata de uma grande lapa: se antes do Pedro nascer estava aterrada com o que os médicos foram dizendo ao longo da gravidez de alto risco e pelos 10 meses seguintes, comecei um gritante e calado diálogo interno na minha cabeça, entre a Ana organizada e de pés bem assentes na terra e a Ana a eterna sonhadora e artista dos pés à cabeça:
I saw the rain dirty valley You saw Brigadoon I saw the crescent You saw the whole of the moon
E ainda que eu soubesse, em algum recanto luminoso em mim, de que Brigadoon existe mesmo!, Ahhh!, o perfeito nunca chegou. E sim, eu sei que existe e consigo ver o todo da Lua, como tenho a Dona Dor comigo (é claro que tem nome e ocupa o seu espaço!) nas outras fases lunares. Perfeito, não é, aprendi a acomodar e a pintar com outras cores o vale sujo e lamacento. Muitas as vezes que apenas o empurro para debaixo do tapete, muitas mais as que sei que consegui um intento que tinha desde os trinta anos, quando via outras Mães com mais idade do que eu, que atravessaram a Porta da Dor, como há décadas lhe chamei: as Mães que eu via com os filhos na rua ou nas salas de espera, e, lhes lia nos olhos amargura, para além de uma tristeza profunda que nunca se descola.E apesar de durante anos esta música me acompanhar - me salvar, literalmente! -, no frémito da voz fininha da Max Edie, que, na minha cabeça, era eu de novo com nove anos, agora na beira de um vórtice, sem rede, a cada nana nana na na naaaaah que eu repetia incessantemente a cada gesto do meu dia, num grunhido tão profundamente calado, na minha constante tortura de escolher viver a vida e logo saltar para os carris do lado, os que correm ali encostados, paralelos à vida, onde decorre o filme cómico, tal como no genial filme dos Monthy Phyton "Life of Brian": eu posso dizer que consegui! Eu consegui!! Com o imenso, o interminável, incondicionalmente profundo AMOR que o meu filho e eu temos um pelo outro... nos meus olhos só lêem amor! Pelo Pedro, pelo milagre da VIDA de que não desisto!, por este mundo que quero tanto seja feito de Paz! Sei que posso saltar para o outro par de carris a desejar assim, e se assim fosse, não seria maravilhoso? Prometo escrever um livro.
Aprendi mais adiante na vida de que mais do que as Mães e Pais do Autismo, tantas outras pessoas num doloroso momento, em profundo pânico, também atravessaram a Porta da Dor. Compreendemo-nos, num nível de intensidade que sei ficar a léguas - e ainda bem que simmm! - de quem nunca a atravessou.
E há a Esperança, porque nunca se vai embora!, e eu continuo aqui a acreditar, e a sorrir! A sorrir!! Nunca a amargura que via nas outras mães, conseguiu derrubar a minha alegria de viver, por muito que force este muro mais concreto que o de Berlim. Eu sorrio, com os dentes todos, com o olhar profundo desde a minha alma!
Há anos escrevi num dos meus livros:
"Há é uma forma diferente de ver e viver a vida, o que nos torna loucos aos olhos dos que levam uma vidinha triste e sem sabor. A nossa, sabe a morangos com chocolate, até, quem sabe, sake e wasabi, se e quando deixamos a parte picante entrar na nossa vida."in "Mal Me Quero", 2010
Por muitos anos só escutava em loop Prefap Sprout. A minha banda favorita, se é que consigo seleccionar uma só música favorita teria de ser esta, com que vos deixo. E, como costumo autografar no livro Azul e branco às riscas - porque eu acredito!
We’re building our home upon love and respect And when we’ve built it we’ll call it Andromeda Heights
Folks in the valley will look up and say'You've finally built it, can we come and stay?' And cynics will marvel and say, 'we confess, there were times when we thought it was just an address.' But now that we've seen it, we know it's Andromeda Heights
        Published on September 01, 2025 13:21
    
March 19, 2024
O dia que me foi oferecido
      O Pedro e eu somos família monoparental.Hoje, logo hoje, quero contar-vos sobre um bonito momento nosso:
Habituei-me à narrativa de que, nesse fim de Agosto, no afã de uma gravidez complicada e num parto quase mortal para ambos, o cirurgião chefe (que nos salvou), no afã da confusão que foi aquela complexa cirurgia, se esqueceu de cortar a cordão umbilical, e eu, ao longo destes quase 35 anos, nunca tive em mãos o instrumento nem a vontade.
com três anosSempre proibi ferozmente, desde tenra idade, a quem quer que fosse, de proferir palavras menos elogiosas acerca do progenitor, estando o Pedro presente. Não é correcto, não há necessidade e não acho justo para com uma criança. 
A vida encarregar-se-ia, com o tempo e a maturidade que viesse a adquirir, de formar a sua opinião.
Num dia 19 de Março, teria o Pedro oito ou nove anos, em que depois do trabalho o fui buscar ao ATL. Trazia um presente na mão que insistiu em dar-me. Estavam dois homens, pais, suponho, à espera dos seus rebentos.
com nove anosSenti o olhar - aquele de esguelha que de tanto nos mirarem - nós, mães, nunca nos habituaremos enquanto vivermos. O Pedro insistia em dar-me o presente; eu, estupidamente, senti-me julgada por aqueles dois homens e, acto-contínuo, começo a explicar ao Pedro que era dia do Pai, que o dia da Mâe... Aí o Pedro interrompe-me, com um tom de voz agastado, julgo que com algo de irónico: "Bem sei, primeiro domingo de Maio..." Puxou-me pelas abas do meu casaco, baixando-me ao nível dele e me poder olhar bem nos olhos. Beijou-me na bochecha: "Deste lado és Mãe," Beijou do outro lado: "deste lado és Pai! Eu quero que este presente seja para ti e não fique guardado num gaveta até ao meu aniversário ou Natal." 
  
com 16 anos
Abracei-o, num dos nossos abraços infinitos, sobre o ombro do meu filho ainda vi os olhares emocionados dos outros pais. É. O Pedro ofereceu-me o Dia do Pai.
  
  
  
    
    
    Habituei-me à narrativa de que, nesse fim de Agosto, no afã de uma gravidez complicada e num parto quase mortal para ambos, o cirurgião chefe (que nos salvou), no afã da confusão que foi aquela complexa cirurgia, se esqueceu de cortar a cordão umbilical, e eu, ao longo destes quase 35 anos, nunca tive em mãos o instrumento nem a vontade.
com três anosSempre proibi ferozmente, desde tenra idade, a quem quer que fosse, de proferir palavras menos elogiosas acerca do progenitor, estando o Pedro presente. Não é correcto, não há necessidade e não acho justo para com uma criança. A vida encarregar-se-ia, com o tempo e a maturidade que viesse a adquirir, de formar a sua opinião.
Num dia 19 de Março, teria o Pedro oito ou nove anos, em que depois do trabalho o fui buscar ao ATL. Trazia um presente na mão que insistiu em dar-me. Estavam dois homens, pais, suponho, à espera dos seus rebentos.
com nove anosSenti o olhar - aquele de esguelha que de tanto nos mirarem - nós, mães, nunca nos habituaremos enquanto vivermos. O Pedro insistia em dar-me o presente; eu, estupidamente, senti-me julgada por aqueles dois homens e, acto-contínuo, começo a explicar ao Pedro que era dia do Pai, que o dia da Mâe... Aí o Pedro interrompe-me, com um tom de voz agastado, julgo que com algo de irónico: "Bem sei, primeiro domingo de Maio..." Puxou-me pelas abas do meu casaco, baixando-me ao nível dele e me poder olhar bem nos olhos. Beijou-me na bochecha: "Deste lado és Mãe," Beijou do outro lado: "deste lado és Pai! Eu quero que este presente seja para ti e não fique guardado num gaveta até ao meu aniversário ou Natal." 
  
com 16 anosAbracei-o, num dos nossos abraços infinitos, sobre o ombro do meu filho ainda vi os olhares emocionados dos outros pais. É. O Pedro ofereceu-me o Dia do Pai.
        Published on March 19, 2024 04:37
    
March 10, 2024
As putas que vejo da minha janela e as que casam com homens ricos
      Depois de ver este vídeo, resolvi recuar no tempo: 
@_demochilaascostas_
Como ressalva, antes de falar sobre o vídeo, permitam-me:Sou nascida e criada em Lisboa, alfacinha de gema dos quatro costados, por assim dizer: os meus pais já nasceram, viveram sempre em Lisboa aquando do meu nascimento e de meus irmãos, já os meus quatro avós vieram muito jovens para a capital, onde fizeram a sua vida; tendo nós, os netos, três costelas beirãs (das Rosas de Santa Teresinha e das filhós) e uma costela da zona Oeste (da pêra-rocha e a quase extinta maçã riscadinha). Sim, sou muito lisboeta! Em tempo de escola havia uma certa brincadeira - hoje talvez lhe chamassem bullying, eu não - pelo facto de eu, na Páscoa, não ir passar férias com a família à terra. Sendo lisboeta eu "não tinha terra", como os meus colegas de escola e amigos que iam passar esses dias em casa dos avós em alhures.
  
Os nossos pais, avós (e até bisavós num último período) e os miúdos, vivíamos todos juntos, uma feliz e bonita família alfacinha, ali bem semeados no Bairro de Alvalade. 
Lisboa é composta de muitos bairros e a cada um é-lhe atribuído um estar ou um comportamento diferente. Em Alvalade? Bom, eu fui semeada entre "Betos", contudo vi-me sempre mais como uma atrevida papoila do campo que nasce por entre a calçada portuguesa, ainda que a minha esmerada educação tenha cheiro a rosas de Santa Teresinha e a maçã riscadinha. Nunca me identifiquei como tal e, mais tarde, continua até hoje, a brincadeirinha que nunca considerei bullying, pelo facto de viver em Aveiro, sendo lisboeta. Não o encaro como sobranceria, apesar de assim parecer – já me disseram –, se não, pelas minhas vivências, que foram apenas diferentes.Ninguém é igual a ninguém! Eu não o almejaria jamais - na minha infância e adolescência rebelde que nem papoila - tornar-me em mais uma beta de um premonitório rebanho!
Tantos avós e bisavós que "deram o salto" (digo, na fronteira, a escapar à PIDE, para quem não sabe a razão desta expressão) e foram trabalhar, viver outras vidas. Outras famílias foram viver para a capital, os designados verdadeiros lisboetas dos sete costados (hummm, o que terá acontecido ao oitavo, para cair em desgraça e nem na expressão ser contemplado...?), ao longo de décadas e regimes foi acontecendo esta movimentação de seres por Lisboa; se o pensarmos, ainda hoje, tantos jovens que ao estudarem na capital, por lá se fixam ou vão para outro lado.
O verbo MIGRAR sempre esteve no sangue português!
Quando tinha 20 anos, nos anos ‘80 (depois da morte da minha mãe), saí da bolha em que cresci e fui trabalhar para um outro Bairro diferente do meu. Lá, se tornou o meu escritório, alugado na Rua da Palma, no Intendente, a uns parcos quarteirões de distância do Martim Moniz. Foi a fase em que comecei a concorrer e vim a ser cronista em jornais e revistas. Nessa época fiz também ilustrações para outras publicações que foram publicadas. Estes, desenhava e pintava a lápis de cor e os textos, esses, escrevia-os na minha mais recente aquisição: uma máquina de escrever toda moderna!, que hoje ainda possuo, dizem vintage. Entregava os textos dactilografados, enviados por correio – havia uma estação ali perto. Muitas vezes não tinha o cuidado de guardar uma cópia, apenas o jornal ou revista com o meu trabalho publicado, a quem o bichinho do tempo se encarregou de os rendilhar a ponto de serem nada mais de que lixo; igualmente as mudanças, com suas inúmeras caixas, arrasam as memórias antigas, razão por que perdi muito do meu trabalho inicial.
O Intendente era tão diferente de Alvalade: na Avenida da Igreja (que cruza com a Avenida de Roma), têm vasos ao redor da porta de cada loja, o maravilhoso Jardim do Campo Grande, o maior de Lisboa, à época bem cuidado, onde as crianças brincavam e os idosos apreciavam as mini-saias – dito por um dos meus bisavôs. Foi onde aprendi a remar no enorme lago onde alugavam botes. Ainda hoje, é o único Bairro onde os que por lá passam, percebem que os condutores dos carros param em cada passadeira de peões. Algo que vim a reparar que acontece, também em Aveiro, que é muito do meu agrado.
  
Os Anjos Do Intendente - por A.MagalhãesO Intendente era um bairro mais antigo: Pombalino ainda, uma zona feia e escura com ruas e ruelas estreitas.Através da minha janela de pé direito enorme, tendo os vidros ondulados de tão antigos, com a massa de vidraceiro descascada com a tinta que lhe tinha sido aplicada por cima, podia espreitar, com o meu olhar altaneiro de um primeiro andar, a cada esquina, recanto e entrada de prédios só mulheres, portuguesas; a oferta eram os seus serviços sexuais e os homens que as procuravam e desapareciam escada acima. Sim, eu trabalhei na zona das putas, sem problema algum, sem nunca ser importunada, por me diferenciar ao envergar o sobretudo do meu avô: enorme de ombros descaídos, tão na moda nos anos ’80. [inserir foto minha a entrar no escritório com o casaco do avô Xico, procurar e digitalizar]
E agora, sim, acerca do vídeo inicial.Vi a cada dia a mudança acontecer. Sempre foi uma zona da minha cidade de emoções fortes. Almoçava muitas vezes numa cantina comunitária de uma organização comunista, a comida era caseira e maravilhosa, a um preço quase simbólico: era um serviço prestado à comunidade.
As lojas na Alm Reis (é uma avenida, a Av. Almirante Reis; é como nós, alfacinhas, a chamamos, tal como ao dizermos, cá em Aveiro, "vou à Avenida" sabemos ser a Av. Lourenço Peixinho) eram quase todas de seguida e praticamente iguais; de preferência electrodomésticos, tecidos, atoalhados, loiças de cozinha e mesa, onde as noivas compravam o seu enxoval, tal como eu o vim a fazer, já desacompanhada da minha querida mãe que tinha partido no ano anterior. Observava as outras noivas com as mães e uma vez mais, ainda que bem acompanhada por minhas avós, senti a necessidade de, aquele momento, partilhá-lo só com a minha mãe.
Reparava nas outras mães.Não eram como a minha, uma eterna menina, discreta e bem comportada. Namorou com o meu pai, desde a meninice de ambos, viviam frente a frente, casando muito jovens, sendo eu ao primogénita deste lindo amor. Sim, a minha mãe era diferente das outras mães que faziam "frete": já as conhecia desde o tempo de escola e notava a diferença. Sei que com o seu discreto bom gosto muito me ajudaria, ainda que eu, com o sentido prático do meu pai, tenha escolhido um serviço raso, todo branco, apenas com um rebordo inovador que lhe dava um toque de elegância e irreverência, distinto dos expectáveis dourados que via as outras mães aconselharem as suas filhas, noivas como eu. Eram aquelas mães aprumadamente enfadadas, até naquele momento especial para com as suas meninas. Eram as que escolhiam o serviço mais caro, Vista Alegre, pois claro!, para que servia o cheque em branco que o marido havia passado, entre a torrada matinal e um gole de chá de cidreira? Nenhuma filha delas poderia casar sem um serviço da porcelana mais celebrada! Eu sim. Escolhi um criativo serviço todo branco e bem mais barato para não sobrecarregar as minhas avós.
Eventualmente deixei o escritório no Intendente, levando a minha fiel máquina comigo, porque depois dessa época conturbada – para dizer o mínimo – da morte da minha mãe e do meu súbito matrimónio, resolvi voltar a estudar – já casada – o que não correu como esperava: nem o casamento, nem os estudos.
Tudo mudou, anos mais tarde, quando o António Costa "assentou arraiais" no Intendente, enquanto Presidente da Câmara e toda a remodelação que fez à sua volta, reabilitando tudo até ao Martim Moniz – obra feita: da Almirante Reis, em diante, até à Baixa Pombalina. O final da Alm Reis, acaba com o Largo do Martim Moniz, antes mesmo de entrarmos na Baixa Lisboeta, chegando à Praça da Figueira, já a salivar até à porta traseira da saudosa Pastelaria Suíça, passando pelo Hospital das Bonecas. Não sei para onde foram deslocadas ou acompanhadas, mas acabaram com a presença das senhoras de cama incerta e com as barracas onde muitas pessoas viviam em situações desumanas. Aí, foi construído um Centro Comercial, nas obras do Presidente da Câmara de Lisboa, António Costa.Obra feita muito criticada na época. É este costume tão lusitano de Velho do Restelo, muito burguesia lisboetazinha que tanto me incomodava em jovem, era um resistir até à última, às novidades que vão surgindo. Dizia Fernando Pessoa, muito tempo antes, que primeiro se estranham e só depois se entranham…
Ao longo dos anos os portugueses, principalmente os lisboetas (alguns?) perceberam a mais-valia de ter um Centro Comercial sem Benetton mas com todo o colorido, ingredientes e especiarias da comunidade Asiática e Hindu (inicialmente não havia distinção de que país realmente eram, a não ser que tivéssemos o cuidado e delicadeza de perguntarmos: paquistaneses ou vietnamitas para dar como exemplo, são simpáticos e afáveis com a curiosidade dos portugueses e deixam-nos perguntar sobre a sua cultura, tal como é mostrado no vídeo).
Com a construção do diferente jardim no Martim Moniz penso que foi o momento em que verdadeiramente nós, os lisboetas mais afoitos e curiosos, conhecemos hábitos, alimentação e festividades tão diferentes das nossas ainda acinzentadas. Em contraponto, o charmoso Jardim do Campo Grande estava a entrar num estado de degradação que muito triste me deixava: porém, o Martim Moniz veio trouxe cor e uma outra identidade a Lisboa. Quando ficou na moda, já foi aproveitada e aportuguesada por alguns comerciantes, mas a alma, Ahhh!, essa permanece a da multiculturidade, a do entrosamento entre as gentes. Lisboa cresceu e a zona histórica, incluindo o Martim Moniz (tal como o próprio, logo ali aos pés da porta do nosso Castelo de São Jorge – desculpem-me, recuso-me a explicar!!, ide ler livros, google, o que for! –, perdeu-se dos lisboetas, tornou-se na Lisbon de hoje, com todo o encanto, aprendizagem e engrandecimento que esta multiculturalidade nos trouxe e se foi instalando loja após loja no bairro, indo por uma aculturada Alm Reis acima. 
Nunca mais trabalhei naquela zona, até porque a determinada altura já o fazia no sossego do meu lar, celebrando a celeridade da internet. Gosto do pó com cor. Digo, da explosão colorida da festa Bollywood Holi, celebrada e anualmente organizada com a vontade e alegria da comunidade Hindu que se dá a conhecer neste festival – a sua comida e cultura, no que era o antigo, feio e cinzento Largo do Martim Moniz, feito bonito jardim cobrindo de arco-íris todas as pessoas, indiferenciando roupas e cores de pele. Não é tão bonitos ficarmos todos iguais naquele festival?, tantos anos depois das barracas que abrigavam tanta pobreza e miséria tão lisboeta, tão portuguesa?
N.B. 1 - O verbo MIGRAR é global!N.B. 2 - Discordo do facto de não haver mulheres na rua ou nas lojas. São, muitas vezes, as que estão à frente das lojas, com as irmãs e seus filhos por ali. Na cultura hindu as senhoras com mais idade são ainda recatadas, a tratarem do maridos filhos, noras e netos, já as mais novas, estudam, trabalham, são do mundo!N.B. 3 - O Jardim do Campo Grande foi recuperado! N.B. 4 - A profissão mais antiga do mundo vai continuar, exactamente tal como as outras.
  
  
  
    
    
    @_demochilaascostas_
Como ressalva, antes de falar sobre o vídeo, permitam-me:Sou nascida e criada em Lisboa, alfacinha de gema dos quatro costados, por assim dizer: os meus pais já nasceram, viveram sempre em Lisboa aquando do meu nascimento e de meus irmãos, já os meus quatro avós vieram muito jovens para a capital, onde fizeram a sua vida; tendo nós, os netos, três costelas beirãs (das Rosas de Santa Teresinha e das filhós) e uma costela da zona Oeste (da pêra-rocha e a quase extinta maçã riscadinha). Sim, sou muito lisboeta! Em tempo de escola havia uma certa brincadeira - hoje talvez lhe chamassem bullying, eu não - pelo facto de eu, na Páscoa, não ir passar férias com a família à terra. Sendo lisboeta eu "não tinha terra", como os meus colegas de escola e amigos que iam passar esses dias em casa dos avós em alhures.
Os nossos pais, avós (e até bisavós num último período) e os miúdos, vivíamos todos juntos, uma feliz e bonita família alfacinha, ali bem semeados no Bairro de Alvalade. Lisboa é composta de muitos bairros e a cada um é-lhe atribuído um estar ou um comportamento diferente. Em Alvalade? Bom, eu fui semeada entre "Betos", contudo vi-me sempre mais como uma atrevida papoila do campo que nasce por entre a calçada portuguesa, ainda que a minha esmerada educação tenha cheiro a rosas de Santa Teresinha e a maçã riscadinha. Nunca me identifiquei como tal e, mais tarde, continua até hoje, a brincadeirinha que nunca considerei bullying, pelo facto de viver em Aveiro, sendo lisboeta. Não o encaro como sobranceria, apesar de assim parecer – já me disseram –, se não, pelas minhas vivências, que foram apenas diferentes.Ninguém é igual a ninguém! Eu não o almejaria jamais - na minha infância e adolescência rebelde que nem papoila - tornar-me em mais uma beta de um premonitório rebanho!
Tantos avós e bisavós que "deram o salto" (digo, na fronteira, a escapar à PIDE, para quem não sabe a razão desta expressão) e foram trabalhar, viver outras vidas. Outras famílias foram viver para a capital, os designados verdadeiros lisboetas dos sete costados (hummm, o que terá acontecido ao oitavo, para cair em desgraça e nem na expressão ser contemplado...?), ao longo de décadas e regimes foi acontecendo esta movimentação de seres por Lisboa; se o pensarmos, ainda hoje, tantos jovens que ao estudarem na capital, por lá se fixam ou vão para outro lado.
O verbo MIGRAR sempre esteve no sangue português!
Quando tinha 20 anos, nos anos ‘80 (depois da morte da minha mãe), saí da bolha em que cresci e fui trabalhar para um outro Bairro diferente do meu. Lá, se tornou o meu escritório, alugado na Rua da Palma, no Intendente, a uns parcos quarteirões de distância do Martim Moniz. Foi a fase em que comecei a concorrer e vim a ser cronista em jornais e revistas. Nessa época fiz também ilustrações para outras publicações que foram publicadas. Estes, desenhava e pintava a lápis de cor e os textos, esses, escrevia-os na minha mais recente aquisição: uma máquina de escrever toda moderna!, que hoje ainda possuo, dizem vintage. Entregava os textos dactilografados, enviados por correio – havia uma estação ali perto. Muitas vezes não tinha o cuidado de guardar uma cópia, apenas o jornal ou revista com o meu trabalho publicado, a quem o bichinho do tempo se encarregou de os rendilhar a ponto de serem nada mais de que lixo; igualmente as mudanças, com suas inúmeras caixas, arrasam as memórias antigas, razão por que perdi muito do meu trabalho inicial.
O Intendente era tão diferente de Alvalade: na Avenida da Igreja (que cruza com a Avenida de Roma), têm vasos ao redor da porta de cada loja, o maravilhoso Jardim do Campo Grande, o maior de Lisboa, à época bem cuidado, onde as crianças brincavam e os idosos apreciavam as mini-saias – dito por um dos meus bisavôs. Foi onde aprendi a remar no enorme lago onde alugavam botes. Ainda hoje, é o único Bairro onde os que por lá passam, percebem que os condutores dos carros param em cada passadeira de peões. Algo que vim a reparar que acontece, também em Aveiro, que é muito do meu agrado.
Os Anjos Do Intendente - por A.MagalhãesO Intendente era um bairro mais antigo: Pombalino ainda, uma zona feia e escura com ruas e ruelas estreitas.Através da minha janela de pé direito enorme, tendo os vidros ondulados de tão antigos, com a massa de vidraceiro descascada com a tinta que lhe tinha sido aplicada por cima, podia espreitar, com o meu olhar altaneiro de um primeiro andar, a cada esquina, recanto e entrada de prédios só mulheres, portuguesas; a oferta eram os seus serviços sexuais e os homens que as procuravam e desapareciam escada acima. Sim, eu trabalhei na zona das putas, sem problema algum, sem nunca ser importunada, por me diferenciar ao envergar o sobretudo do meu avô: enorme de ombros descaídos, tão na moda nos anos ’80. [inserir foto minha a entrar no escritório com o casaco do avô Xico, procurar e digitalizar]E agora, sim, acerca do vídeo inicial.Vi a cada dia a mudança acontecer. Sempre foi uma zona da minha cidade de emoções fortes. Almoçava muitas vezes numa cantina comunitária de uma organização comunista, a comida era caseira e maravilhosa, a um preço quase simbólico: era um serviço prestado à comunidade.
As lojas na Alm Reis (é uma avenida, a Av. Almirante Reis; é como nós, alfacinhas, a chamamos, tal como ao dizermos, cá em Aveiro, "vou à Avenida" sabemos ser a Av. Lourenço Peixinho) eram quase todas de seguida e praticamente iguais; de preferência electrodomésticos, tecidos, atoalhados, loiças de cozinha e mesa, onde as noivas compravam o seu enxoval, tal como eu o vim a fazer, já desacompanhada da minha querida mãe que tinha partido no ano anterior. Observava as outras noivas com as mães e uma vez mais, ainda que bem acompanhada por minhas avós, senti a necessidade de, aquele momento, partilhá-lo só com a minha mãe.
Reparava nas outras mães.Não eram como a minha, uma eterna menina, discreta e bem comportada. Namorou com o meu pai, desde a meninice de ambos, viviam frente a frente, casando muito jovens, sendo eu ao primogénita deste lindo amor. Sim, a minha mãe era diferente das outras mães que faziam "frete": já as conhecia desde o tempo de escola e notava a diferença. Sei que com o seu discreto bom gosto muito me ajudaria, ainda que eu, com o sentido prático do meu pai, tenha escolhido um serviço raso, todo branco, apenas com um rebordo inovador que lhe dava um toque de elegância e irreverência, distinto dos expectáveis dourados que via as outras mães aconselharem as suas filhas, noivas como eu. Eram aquelas mães aprumadamente enfadadas, até naquele momento especial para com as suas meninas. Eram as que escolhiam o serviço mais caro, Vista Alegre, pois claro!, para que servia o cheque em branco que o marido havia passado, entre a torrada matinal e um gole de chá de cidreira? Nenhuma filha delas poderia casar sem um serviço da porcelana mais celebrada! Eu sim. Escolhi um criativo serviço todo branco e bem mais barato para não sobrecarregar as minhas avós.
Eventualmente deixei o escritório no Intendente, levando a minha fiel máquina comigo, porque depois dessa época conturbada – para dizer o mínimo – da morte da minha mãe e do meu súbito matrimónio, resolvi voltar a estudar – já casada – o que não correu como esperava: nem o casamento, nem os estudos.
Tudo mudou, anos mais tarde, quando o António Costa "assentou arraiais" no Intendente, enquanto Presidente da Câmara e toda a remodelação que fez à sua volta, reabilitando tudo até ao Martim Moniz – obra feita: da Almirante Reis, em diante, até à Baixa Pombalina. O final da Alm Reis, acaba com o Largo do Martim Moniz, antes mesmo de entrarmos na Baixa Lisboeta, chegando à Praça da Figueira, já a salivar até à porta traseira da saudosa Pastelaria Suíça, passando pelo Hospital das Bonecas. Não sei para onde foram deslocadas ou acompanhadas, mas acabaram com a presença das senhoras de cama incerta e com as barracas onde muitas pessoas viviam em situações desumanas. Aí, foi construído um Centro Comercial, nas obras do Presidente da Câmara de Lisboa, António Costa.Obra feita muito criticada na época. É este costume tão lusitano de Velho do Restelo, muito burguesia lisboetazinha que tanto me incomodava em jovem, era um resistir até à última, às novidades que vão surgindo. Dizia Fernando Pessoa, muito tempo antes, que primeiro se estranham e só depois se entranham…
Ao longo dos anos os portugueses, principalmente os lisboetas (alguns?) perceberam a mais-valia de ter um Centro Comercial sem Benetton mas com todo o colorido, ingredientes e especiarias da comunidade Asiática e Hindu (inicialmente não havia distinção de que país realmente eram, a não ser que tivéssemos o cuidado e delicadeza de perguntarmos: paquistaneses ou vietnamitas para dar como exemplo, são simpáticos e afáveis com a curiosidade dos portugueses e deixam-nos perguntar sobre a sua cultura, tal como é mostrado no vídeo).
Com a construção do diferente jardim no Martim Moniz penso que foi o momento em que verdadeiramente nós, os lisboetas mais afoitos e curiosos, conhecemos hábitos, alimentação e festividades tão diferentes das nossas ainda acinzentadas. Em contraponto, o charmoso Jardim do Campo Grande estava a entrar num estado de degradação que muito triste me deixava: porém, o Martim Moniz veio trouxe cor e uma outra identidade a Lisboa. Quando ficou na moda, já foi aproveitada e aportuguesada por alguns comerciantes, mas a alma, Ahhh!, essa permanece a da multiculturidade, a do entrosamento entre as gentes. Lisboa cresceu e a zona histórica, incluindo o Martim Moniz (tal como o próprio, logo ali aos pés da porta do nosso Castelo de São Jorge – desculpem-me, recuso-me a explicar!!, ide ler livros, google, o que for! –, perdeu-se dos lisboetas, tornou-se na Lisbon de hoje, com todo o encanto, aprendizagem e engrandecimento que esta multiculturalidade nos trouxe e se foi instalando loja após loja no bairro, indo por uma aculturada Alm Reis acima. Nunca mais trabalhei naquela zona, até porque a determinada altura já o fazia no sossego do meu lar, celebrando a celeridade da internet. Gosto do pó com cor. Digo, da explosão colorida da festa Bollywood Holi, celebrada e anualmente organizada com a vontade e alegria da comunidade Hindu que se dá a conhecer neste festival – a sua comida e cultura, no que era o antigo, feio e cinzento Largo do Martim Moniz, feito bonito jardim cobrindo de arco-íris todas as pessoas, indiferenciando roupas e cores de pele. Não é tão bonitos ficarmos todos iguais naquele festival?, tantos anos depois das barracas que abrigavam tanta pobreza e miséria tão lisboeta, tão portuguesa?
N.B. 1 - O verbo MIGRAR é global!N.B. 2 - Discordo do facto de não haver mulheres na rua ou nas lojas. São, muitas vezes, as que estão à frente das lojas, com as irmãs e seus filhos por ali. Na cultura hindu as senhoras com mais idade são ainda recatadas, a tratarem do maridos filhos, noras e netos, já as mais novas, estudam, trabalham, são do mundo!N.B. 3 - O Jardim do Campo Grande foi recuperado! N.B. 4 - A profissão mais antiga do mundo vai continuar, exactamente tal como as outras.
        Published on March 10, 2024 12:30
    
June 1, 2023
Silly Season
Quando disseram: "Ela mudou", estava apenas a evoluir.
Quando disseram: "Está a isolar-se", estava somente a curar-se.
Quando disseram: "Ela não tem importância", foi por essa altura que Ela encontrou a Paz em si.
  
        Published on June 01, 2023 04:21
    
April 24, 2023
Onde estavas no 25 de Abril de '74?
      Neste dia de Liberdade, publico um excerto  do meu livro "Azul e branco às riscas", cujo título do Prólogo é:
  
Da candura e estranheza, a deixar-se mergulhar na nova época que esse dia anunciou, foi uma mudança demasiado rápida e fácil. Ninguém a preparou para a abrupta passagem da rigidez na educação paterna e das austeras regras escolares, para uma quase vulgaridade nas normas, valores e costumes em que foi embarcando, dançando e cantando de braço no ar, revolucionando o que nem compreendia.Alice, mais afoita que a comedida irmã, queria experimentar, tomar o pulso a tudo, receosa que a liberdade tivesse chegado com breve prazo de validade e tivesse de voltar ao recato do seu estudo.
  
  
  
    
    
    
A Malta do Liceu
Lisboa, quinta-feira - 25 de Abril de 1974 - 07:00h
Alice Vaz Guedes tinha quase 19 anos quando se deu o 25 de Abril de 1974 e lembrava-se perfeitamente do local onde se encontrava, o que estava a fazer. Naquela madrugada o telefone ressoou pela casa adormecida. Alice prontamente saltou da cama, correu para a sala rumo ao aparelho e atendeu a chamada telefónica, estranhando em primeiro lugar a hora matutina e depois o tom sombrio, quase enigmático, com que o pai, uma vez chamado, respondia ao amigo do outro lado do fio. Nem as meninas foram à escola - a mãe recomendou-lhes que estudassem - nem o pai saiu para o emprego. Ficaram recolhidos naquela manhã a ouvir baixinho na telefonia o que só mais tarde Alice entenderia como o fim de uma era. Os quatro em silêncio, apenas quebrado quando a sua irmã afiou o lápis ou com o continuado calcar dos dentes paternos na ebonite da boquilha do seu cachimbo mordiscado. Recordava-se de outra curta ligação telefónica: do pai num breve movimento a fazer-lhe sinal para que se levantasse e fosse ligar de imediato o aparelho de televisão. De aguardarem. Lembrava-se do tempo que esperaram e como contaram, segundo a segundo, no relógio Omega que o ecrã do televisor mostrava, até aparecer a imagem do Fernando Balsinha. Estava muito compenetrado no seu papel de anunciar aos telespectadores que, naquela tarde e a partir daquele momento, a rede emissora da Rádio Televisão Portuguesa estava totalmente controlada pelo Movimento das Forças Armadas. Outra chamada telefónica, agora de um tio a perguntar como estavam com a situação em Lisboa (se estavam todos a salvo) que soube quando os filhos foram ter com ele ao trabalho e o alertaram. Os rapazes seguiam normalmente a telescola e mandaram-nos para casa, visto que a emissão fôra tomada pelo M.F.A. Alice não se recorda muito bem do que o Fialho Gouveia leu na emissão especial do telejornal; não entendeu porque proclamavam à nação o propósito de salvação do país e ainda menos entendeu a necessidade de o libertar de um regime que há longos anos o oprimia. Oprimia?… Regime?…A estranheza fez Alice distrair-se do estudo. Fixou-se no diálogo que se admirou ouvir dos seus pais: a mãe a ordenar que as meninas se recolhessem de imediato ao quarto - ainda no relógio Omega passavam os segundos na imagem do televisor - e o pai a sobrepor a sua opinião, afirmando que deveriam fica r na sala. Alice não entendeu a mudança repentina: iriam permitir-se ter conversas de adultos frente às duas gémeas? Nunca o haviam feito! Ficaram, entreolharam-se desabituadas de tanta circunstância de que foram a vida inteira protegidas, não compreendendo o que eram os acontecimentos revolucionários que os dois locutores liam uma e outra vez. Alice lembrava-se de reparar que estariam algo nervosos: enquanto Fernando Balsinha lia as notícias e Fialho Gouveia fumava ininterruptamente. No final, Alice recordava-se, para além do tom solene da Sinfonia nº 3 de Beethoven, que reteve daquelas horas iniciais um nervosismo desconhecido, tanto em casa observando os pais, como percepcionando-o nos locutores, de que esse estado de espírito foi dando lugar a uma felicidade que não teve capacidade de assimilar qual a sua origem, mas que com facilidade se deixou contagiar. Recordava a estranheza que sentiu quando o pai, contrariando o aviso que os locutores repetiam, saiu para a rua. Admirou-se que a mãe cantarolasse “E depois do Adeus” do Paulo de Carvalho, cantor pelo qual em casa não nutriam particular simpatia.Reparou no crescendo com que o Fialho Gouveia foi largando o cigarro a cada actualização que lhe entregavam, como as lia com maior ênfase e satisfação, até ao empolgamento final, com que agradeceu a fineza de trato que os militares do M.F.A. cuidaram ter para com todos, desde o primeiro momento que ocuparam a estação televisiva. Recordava-se exactamente do livro que estava a estudar naquele dia 25 de Abril, mais pela peculiaridade do dia do que pelo seu significado, já que a sua ingenuidade não a deixava entender.Da candura e estranheza, a deixar-se mergulhar na nova época que esse dia anunciou, foi uma mudança demasiado rápida e fácil. Ninguém a preparou para a abrupta passagem da rigidez na educação paterna e das austeras regras escolares, para uma quase vulgaridade nas normas, valores e costumes em que foi embarcando, dançando e cantando de braço no ar, revolucionando o que nem compreendia.Alice, mais afoita que a comedida irmã, queria experimentar, tomar o pulso a tudo, receosa que a liberdade tivesse chegado com breve prazo de validade e tivesse de voltar ao recato do seu estudo.
        Published on April 24, 2023 23:00
    
March 13, 2023
Ana, porquê este livro novamente?
    E alguma vez saiu das nossas vidas? É uma resposta interessante, uma vez que, muito depois de estar esgotado, continuou a ser veementemente pedido – quase exigido!, – pelos leitores: foram os que emprestaram e não lhes foi devolvido, foram os que o queriam oferecer (à sogra, à madrinha, à professora, à terapeuta), de forma a “poder explicar o seu filho”, e, foram os que também queriam ler o livro pela primeira vez. Deu-se um fenómeno aquando do lançamento em 2006 e ainda continua a ser um romance tão actual – Autista, quem…? Eu? – continua a ser verdadeiramente “um manual de boas-vindas ao autismo”. Na releitura e revisão deste livro tomei a decisão de não mudar nada! O livro que ainda continua tão presente foi publicado em 2006, tal como as nomenclaturas que se usavam na época - Kanner, Asperger, def, criança 319 - que agora estão (estarão?) desactualizadas e/ou não são bem aceites socialmente.
    Na leitura deste livro, ficamos a saber de uma forma muito concreta a opinião que esta família tem acerca do chamado politicamente correcto… Nem sequer mudei detalhes que são tão despropositados agora, mas absolutamente adequados em 2006, como não ter rede de telemóvel no Metro ou a noção de que jamais se deveria comparecer a um jantar calçando sapatos de ténis.     Decidi igualmente utilizar o mesmo prefácio porque nenhum outro faria sentido! A Arq. Isabel Cottinelli Telmo é, para todos nós, uma voz que jamais será esquecida!, embaixadora do autismo pelo mundo afora, defendeu acerrimamente os direitos desta população como ninguém até então.    A personagem/narrador Xavier, que nada sabe de Perturbação do Espectro do Autismo (PEA), vai tomar o leitor pela mão e, à justa medida que vai questionando e entendendo o Xico, vai acompanhar o leitor através do seu natural raciocínio na sua descoberta do autismo.     Mais do que tudo, com este livro, pretendi que o leitor compreendesse e aceitasse esta população desconcertante, quiçá validasse também o meu filho… Jamais poderia imaginar o público que atingiu e o impacto que teve em mim, autora, ter a real percepção de como toquei a vida de tantas pessoas – e, aparentemente, continuo a tocar.     Nasceu uma nova geração de crianças com autismo e, aos novos pais, este livro tem passado de mão em mão; foi-lhes emprestado e cobrada a devolução. Sei porque me contam. Esse ripple effect continua a chegar até mim que o percebo continuadamente através das redes sociais, por email ou mensagem. As histórias continuam a ser-me confiadas, desabafadas num impulso ou explanadas ao detalhe. A todos ouço e respondo. Eu? Já comecei esta minha difícil travessia da “porta da dor” há 33 anos.     Eu sei. Não há quem nos entenda, a não ser as famílias onde o autismo pousou.    Sim, temos médicos e técnicos que nos são próximos e nos ajudam pela vida afora!, mas às 18h tiram a bata e por muito próximos que sejam… não sabem. E ainda bem que técnicos de saúde e os outros pais de meninos ditos normais não o sabem!     Não podem saber! A porta da dor está, felizmente, numa outra dimensão que só quem a passa, sabe até onde dói. Diria até à unha do dedo grande do pé, e isto sou eu, que tenho muita resistência ao embate da dor. Quem pode aferir a dor alheia…?     Porém, após a tempestade, dizem que sempre vem a bonança. E é de momentos felizes que também este livro é feito.     A forma absolutamente desconcertante como um filho com autismo vê e percepciona este planeta onde vivemos, tira-nos o fôlego – porque convenhamos – podemos amar um filho até à Lua e voltar, mas não o podemos pôr numa redoma à espera que um Universo perfeito apareça como por milagre, venha, e encaixe nas particularidades de cada um dos nossos filhos! Este é o Mundo que temos para lhes oferecer, podemos, isso sim, mudar a nossa própria percepção, do que nos rodeia e ter uma visão diferenciada da que sempre nos acostumámos.     Uma geração inteira nasceu entre a estreia deste livro e esta edição nova que vos apresento. Atravessemos esta dura porta da dor juntos. Porque 33 anos de mãe ensinaram-me muita coisa e a primeira que me ocorre, caro leitor, é que estamos nisto juntos – não está só. 
        Published on March 13, 2023 02:21
    
December 23, 2022
Um pequeno conto de Natal
      Tinha chegado o momento de abrirem os presentes e a mãe foi sentar-se no sofá, bem junto do filho. 
  
O pai acompanhou-a no gesto, sentando-se do outro lado, reacomodou-se até que os joelhos tocassem os do filho e, acto-contínuo, pousou no colo dele uma caixa leve, rectângular, indicativa de mais um par de sapatos de ténis. Enquanto desembrulhava, a mãe olhou para o pai e pousou a mão no joelho do filho, e o pai, repetiu o gesto. O jovem ficou pasmo, ao abrir a caixa e desvendar pela translucidez da tua folha de papel de seda, com que dentro da caixa, envolviam um inesperado par de sapatos. Retirou-os da caixa, sem palavras. A mãe acariciou a pele macia dos sapatos e encaminhou a sua mão pelo corpo do filho até chegar junto ao coração. O pai, sem quebrar o silêncio que gritava na sala, levantou o braço, passou-o pelos ombros do rapaz e, sentiu-o, tremular. A mãe também compreendeu o medo ou embaraço que o jovem poderia estar a sentir, quiçá acuado, a ponderar que era agora ou nunca e teria de falar ou calar-se, numa eterna negação. Então a mãe, esfregando o peito do filho, enroscando o outro braço no do marido, criando um elo de tranquilidade e amor, disse ao seu trémulo filho: - Meu amor, tu sabes que, a nós, podes contar tudo! O jovem ainda atemorizado, olhou para a mãe e, no encontro desse olhar, só viu paz, amor e anuência. O pai apertou o afago do abraço, enleando ainda mais o jovem filho e disse-lhe garantido: - Sim, connosco e com todo o mundo. Esta é a tua vida, meu filho, vive-a intensamente, voa, brilha, sê feliz! A mãe rematou: - Esconde dentro de ti o que, desde sempre, não foi invisível aos nossos olhos. O filho respirou fundo, demorou a responder enquanto pousava os sapatos no colo e se embrulhava no abraço quentinho com os seus pais, deixou-se por fim aninhar. Respondeu em forma interrogativa: - Sempre souberam…?
  
  
  
    
    
    
O pai acompanhou-a no gesto, sentando-se do outro lado, reacomodou-se até que os joelhos tocassem os do filho e, acto-contínuo, pousou no colo dele uma caixa leve, rectângular, indicativa de mais um par de sapatos de ténis. Enquanto desembrulhava, a mãe olhou para o pai e pousou a mão no joelho do filho, e o pai, repetiu o gesto. O jovem ficou pasmo, ao abrir a caixa e desvendar pela translucidez da tua folha de papel de seda, com que dentro da caixa, envolviam um inesperado par de sapatos. Retirou-os da caixa, sem palavras. A mãe acariciou a pele macia dos sapatos e encaminhou a sua mão pelo corpo do filho até chegar junto ao coração. O pai, sem quebrar o silêncio que gritava na sala, levantou o braço, passou-o pelos ombros do rapaz e, sentiu-o, tremular. A mãe também compreendeu o medo ou embaraço que o jovem poderia estar a sentir, quiçá acuado, a ponderar que era agora ou nunca e teria de falar ou calar-se, numa eterna negação. Então a mãe, esfregando o peito do filho, enroscando o outro braço no do marido, criando um elo de tranquilidade e amor, disse ao seu trémulo filho: - Meu amor, tu sabes que, a nós, podes contar tudo! O jovem ainda atemorizado, olhou para a mãe e, no encontro desse olhar, só viu paz, amor e anuência. O pai apertou o afago do abraço, enleando ainda mais o jovem filho e disse-lhe garantido: - Sim, connosco e com todo o mundo. Esta é a tua vida, meu filho, vive-a intensamente, voa, brilha, sê feliz! A mãe rematou: - Esconde dentro de ti o que, desde sempre, não foi invisível aos nossos olhos. O filho respirou fundo, demorou a responder enquanto pousava os sapatos no colo e se embrulhava no abraço quentinho com os seus pais, deixou-se por fim aninhar. Respondeu em forma interrogativa: - Sempre souberam…?
        Published on December 23, 2022 16:00
    
December 5, 2021
Cartas em Castelo
Queridos leitores, Poderia ter dado a este livro o previsível título "Azul e branco aos quadradinhos", caso fosse a continuação do anterior. Para fugir dessa monotonia, arrisco num outro voo pelo tempo que não é medido no pulsar de um relógio. Cartas em Castelo é o segundo livro de uma trilogia que começou com o "Azul e branco às riscas", e que concluirei com um terceiro a que não darei o título de "Azul e branco às bolinhas". Os três romances serão de leitura independente com uma fina linha de pozinhos de perlimpimpim que os enlaça em tons de azul. Cartas em Castelo é o meu sétimo livro. Ao longo dos anos fui-me dando conta de que após a leitura, de qualquer um dos meus romances, os leitores procuram outro e muitas são as vezes que me surpreendem agradavelmente ao perceber que leram todos. Poderá ter muitas interpretações, cinjo-me ao facto que essa escolha do leitor me deixa imensamente feliz. No meu sétimo livro, sendo um número que envolve ciclos completos, como os dias da semana, as notas musicais ou as cores do arco-íris, resolvi nesta minha sétima volta a esta pescadinha de rabo na boca, fazer um miminho especial para com os leitores que já leram os outros meus livros. Como?
Deixo-vos um abraço bom,
  
        Published on December 05, 2021 07:30
    
November 7, 2021
Sinopse do livro Cartas em Castelo
Queridos leitores,
Hoje revelo-vos a sinopse do livro Cartas em Castelo:
SINOPSEAquela rapariga... Teresinha reflectia amiudadas vezes, como a vida, nas voltas que dava, era tão ironicamente engraçada:
Madalena com quase 20 anos, a vida toda pela frente, nunca tem tempo para nada, vive a correr! Já Teresinha, com os seus 78 anos, tem todo o tempo do mundo e mais um dia, pensa e actua como se se movesse num tempo diferente. Num suspiro, o mundo pára e tudo muda. Isoladas durante a quarentena de 2020, a bisavó em Castelo Novo e a bisneta, em Castelo Branco encontram tempo para uma cumplicidade que começa por uma carta. Deixo-vos um abraço bom,
        Published on November 07, 2021 00:00
    
November 6, 2021
Como reservo o livro Cartas em Castelo?
Queridos Leitores, Começa agora e vai até ao lançamento do livro Cartas em Castelo: pode reservar!
Ao reservar já o seu exemplar terá a oferta de um presente, que revelo serem conteúdos absolutamente originais, exclusivos e grátis; um dos miminhos que preparei apenas para os primeiríssimos leitores.
Cartas em Castelo é o meu sétimo livro.
Ao longo dos anos fui-me dando conta de que após a leitura, de qualquer um dos meus romances, os leitores procuram outro e muitas são as vezes que me surpreendem agradavelmente ao perceber que leram todos. Poderá ter muitas interpretações, cinjo-me ao facto que essa escolha do leitor me deixa imensamente feliz. Por isso, decidi mimar os leitores mais fiéis das mais variadas maneiras, até com surpresas ao longo da leitura do livro...
Para garantir os conteúdos exclusivos, valide a reserva do seu livro!
E eu estou feliz! O livro Cartas em Castelo em breve nasce e chega às nossas mãos; ainda está no útero, mas já com contracções... sim, sinto cada um dos meus livros como um filho, de tantas fases passo, sinto-as como uma gravidez!
Deixo-vos um abraço bom,
  
        Published on November 06, 2021 09:20
    

  
