"Vai roubar para a estrada"

Uma família chega a um café de Albufeira na confusão de agosto, o pai olha os preços inflacionados pelo verão e diz: "Vão mas é roubar para a estrada".
O reformado acaba a sopa do jantar e, diante da notícia sobre o aumento dos impostos, ordena ao primeiro-ministro na TV: "E se fosses roubar para a estrada, pá?".
O condutor, mandado parar por excesso de velocidade, entra no carro depois de assinar a multa e, quando o polícia vira costas, diz entredentes: "Vai roubar para a estrada" - o que, de certa maneira, é desnecessário, uma vez que o polícia já está a roubar na estrada,
Sem conseguir encontrar a origem desta expressão portuguesa, pus-me a pensar em qual seria o seu sentido inicial. Foi-me sugerido que a frase se referia aos tempos em que bandidos atacavam diligências. Contrapus que Portugal não era o Texas no século XIX.
É verdade que, tendo em conta as portagens ou os preços nas estações de serviço, se poderia deduzir que seria coisa de concessionárias de autoestradas e postos de gasolina, mas esse género de furto é demasiado recente para ter originado uma expressão tão antiga. O fulgor próspero do asfalto e pastéis de nata com preços trufados são coisa das últimas décadas.
É verdade que certo tipo de prostitutas trabalha na estrada, mas o que fazem é mais um serviço à causa dos camionistas do que um assalto com direito a "final feliz".
E seria esticar a corda se dissesse que o carjacking começou um dia quando, farta de ser roubada entre paredes, uma vítima sugeriu "E se fosses antes roubar para a estrada" - não só o meliante obedeceu, como descobriu uma nova prática de crime com nome estrangeiro.
Mais do que a origem, afinal, importa o golpe que a frase aplica no destinatário. No fundo, quer dizer "Sai-me da frente, põe-te a milhas, na alheta, baza, vai morrer longe, porque aquilo que fazes não tem lugar no sítio onde eu vivo". E verte desprezo, espirra indignação, anuncia o vigoroso desejo de que, roubando na estrada, aquele bandido não só esteja longe de nós como, afortunadamente, seja atropelado por um caminionista que se distraiu com a coxa grossa de uma mulher da vida.
ps - nas próximas edições, a expressão brasileira "E daí?" e a portuguesa "Foi pro maneta."
Published on September 19, 2013 04:48
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