Sururus e piratarias

Já tinha publicado esta nota no Facebook, mas convém deixá-la ligeiramente mais imortalizada aqui. Sim, participei no documentário da Mandala sobre pirataria. Não, não sou um histérico anti-filesharing. Aliás, eu participei naquilo que me foi dito ser um documentário sobre pirataria. Pensaria duas vezes se, em vez do sobre, a palavra anti lá estivesse, porque acho que este tema está carregado de posições histéricas e eu não gosto de histerias. Mas enquanto gajo que até aprecia falar sobre o tema, tudo o que digo aqui disse à equipa da Mandala que foi gravar o meu depoimento à Rádio Comercial. Ainda não vi o filme e por isso ainda não percebi até que ponto foi tudo o que disse ou só uma parte. Seja como for, e como há muita gente a atirar-me pedras não tendo visto sequer o filme (e baseando-se apenas numa notícia sobre ele), é conveniente repetir aqui as linhas que deixei há dias no Facebook:


 


Antes que se gere sururu em torno da minha participação no documentário da Mandala sobre Pirataria (que ainda não vi), devo deixar bem claro o seguinte: já saquei - e saco - coisas da net. Nomeadamente episódios de séries que tenho incontrolável pica para ver e que ainda não estrearam em Portugal. Discos que estou curioso para ouvir e que me apetece descobrir o mais cedo possível. Devo também dizer que sou incapaz de não comprar as coisas de que gosto.

Como autor, não gosto de ver, por exemplo, os livros da Caderneta de Cromos disponíveis em ebook improvisado nas partilhas de ficheiros. A minha vida é isto: sou autor. Ganho do que crio, escrevo, interpreto. A Patrícia Furtado desenhou 100 ilustrações em cada um dos livros, fez as capas, todo o grafismo - a vida dela é isso. Merece que se compre o livro, não que se surripie a obra com a facilidade e a descontracção que ela não teve ao fazê-la.

Adoro criar coisas partilháveis de graça na net - webisódios, textos, as próprias edições da Caderneta de Cromos estão todas disponíveis de graça. Mas gosto que, pelas coisas pelas quais é suposto pagar-se, quem delas deseje tirar partido o pague. Não se chama a isto ganância; chama-se receber por trabalho. Creio que toda a gente gosta disso. Nem é tanto uma questão de gostar; é o que é normal.

No entanto, acho interessante as afirmações que o Fatboy Slim fez há uns anos: dizia ele que, embora achando mal que as obras musicais estejam acessíveis gratuitamente, reduzindo drasticamente as vendas de discos, via os sistemas de filesharing como a maior estação de rádio do mundo, uma forma incrível de divulgação de trabalho.

Discordo veementemente de medidas histéricas e repressivas de combate à pirataria. Acho que se podem encontrar outras soluções para uma questão tão complexa e cheia de nuances. Infelizmente, cada vez vejo menos debate e troca de ideias, e cada vez mais histeria, e de ambos os lados desta "guerra".

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Published on May 09, 2012 08:58
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Nuno Markl
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