Chiquitita, tell me what’s wrong
Estou passando por um dos momentos mais difíceis da minha vida e como evento canônico, cortei o cabelo. Calma, ainda não é o loiro chanel, mas em algum momento ainda começo essa loucura (de novo).
Contemplei os pedaços ressecados das pontas do meu cabelo caindo conforme meu cabeleireiro cortava. Os pequenos tufos, já secos, se acumulavam enquanto ele valsava atrás de mim, tentando achar o ângulo certo. Sentada na cadeira do tempo infinito (5 horas), eu tive muito tempo longe do celular para pensar em cada um daqueles tufos.
Pensei que, para ter espaço para crescer, a gente joga muita coisa fora e escrever não seria diferente. Assim como as pontas secas do cabelo, um escritor corta palavras e as reescreve, criando um lixão invisível de cenas apagadas, sobrenomes irrelevantes apagados, falas estúpidas e sentimentos confusos. Cortar palavras é parte fundamental da profissão da escrita. E não é tão ruim quanto parece. Assim como as pontas duplas, tem coisa que dá alívio de tirar do texto.
Eu poderia estar escrevendo isso para me referir o processo de reedição de Das Fitas Vermelhas o qual, com ajuda da Camila (a melhor revisora de todos os tempos), estou ressignificando. Eu sentia pânico ao reler um livro escrito há quase 4 anos, encarar uma versão do passado é sempre dolorosa, mas foi - ainda está sendo - uma ótima experiência. Estou ficando satisfeita. Eu amo a Amanda de 4 anos atrás que escreveu esse livro.
Mas não é por conta desse processo de revisão de Das Fitas Vermelhas que falo sobre cortar para renascer, falo também da minha vida pessoal. Com o coração partido, enxergo a importância dos cortes, diretos e indiretos, no meu crescimento. E de certa forma, isso deve me acalmar ao longo das próximas semanas.
You will be dancing again and the pain will endEscrever. Amar. Viver. Eu posso acrescentar Chorar a essa tríade, como um D'Artagnan, mas ele está implícito. Chorar com toda força, soluços e lágrimas é parte de Escrever, Amar e Viver (devo mudar o nome da newsletter?). Afinal, a gente dá uma choradinha de depois fica bem. Você já chorou hoje?
Eu já. Eu choro com propaganda e com K-drama, eu faço PIX para toda vaquinha de animais resgatados, constantemente me voluntario para ajudar alguém. Isso não me dá a licença para dizer que estou sofrendo dobrado, mas meio que estou, afinal escrever é saborear a vida duas vezes. Sentar aqui toda quarta à noite para escrever essa news é o meu momento de viver de novo. Ser artista é deixar o coração para fora, como um órgão exposto. Está aqui, todos podem ver, acariciar ou massacrar. Está aqui. Sempre esteve aqui.
Escrevo na internet desde o Orkut e ainda tenho um wordpress repleto de poemas, contos e pequenas histórias. Se pesquisar meu nome no Google você vai encontrar, no mínimo, algum texto meu. Eu aprendi a me expor desde cedo, quando percebi que tinha muito o que dizer e muito o que chorar.
Essa exposição só acontece porque aparo as pontas. Corto as mechas ressecadas do meu texto e o considero pronto, ainda que não estejam, eu me forço sair da cadeira e andar por aí com meu cabelo novo. Deixo de lado as aparas, arestas e restos de mim por aí, como um traço que comprova minha existência e minha vida. Só vivo porque esses restos de mim foram cortados, porque só assim consigo continuar.
A gente carrega e acumula coisa demais. E pra quê? Vamos fazer uma limpa essa semana? Limpe sua mesa de trabalho ou a sua gaveta de calcinhas, ou até mesmo pare de adiar e marque o cabeleleiro para aparar essas pontas secas. Não tenha medo, você vai sair dessa — nós vamos.
Semana que vem volto. Eu prometo.
Recomendação de música da semanaEstou batendo minha cabeça em alguma parede em Amsterdam do mundo metafísico, igual a essa música aqui do Nothing But Thieves que não sai do meu replay. Todos vivemos debaixo do mesmo sol e todos morremos como um. Vale mesmo sofrer tanto por um final que é compartilhado?
Recomendação de livro da semana
Você pode não acreditar, mas estou viciada em um livro com uma capa duvidosa. Aluguei no Kindle Unlimited porque tem adega no nome. Comecei a ler porque não só se passa em uma vínicola, mas umavinícola na França. Por que não? A leitura é muito rápida e divertida (à maneira dos franceses) e é um ótimo escape. Recomendado para quem está buscando uma leitura leve bebendo uma taça de vinho.
Vamos ter razões para brindar essa semana? Hoje ainda é quinta, vamos beber um Merlot ou um Canção. A gente merece. Obrigada por ler até aqui!


