Com amor, para nós, esquisitas
Como nenhuma experiência é individual, provavelmente você já foi emo, otaku, gótica trevosa ou ainda é. Essa news é para nós, adolescentes que tínhamos gostos estranhos como My Chemical Romance, Naruto ou solos de violoncelo. Para nós, meio fake do orkut, meio RPG de mesa, que tudo o que queríamos eram amigos para compartilhar nossas esquisitices em um mundo de Luan Santana e moda de cintura baixa.
Você subiria uma montanha e trocaria de lugar com Deus? A Kate Bush simPor muita sorte, tive amigas e amigos incríveis que abraçaram as coisas que eu gostavam e ainda me mostravam outras ainda mais esquisitas. De Dinosaur Jr a Kingdom Hearts, meus amigos nunca me decepcionaram. Mas depois que me tornei adulta, ficou mais difícil encontrar pessoas que ainda eram tão estranhas quanto na adolescência. Sabe, a camisa do Korn foi substituída pela camisa social e o All Star virou um sapato fechado. Nós leiloamos nossa estranheza por um emprego e uma aprovação social e não recebemos nada além de um burnout em troca.
Um esgotamento, por esconder tanto.
Um esgotamento, por fingir tanto.
Só que uma raiva silenciosa sempre me queimou, sempre incendiou o crachá pendurado no meu peito que trazia meu nome, minha foto e meu cargo. Sempre existiu em mim uma chama muito forte de personalidade que eu tentava esconder - e olha que nem estou falando de ser escritora.
E é só agora, aos quase 30 anos, que tenho coragem de anunciar todos os lados da minha personalidade, quem eu sou de verdade. O que eu gosto, o que eu sou, o que eu sempre fui - e que delícia.
Saindo do armárioOntem, na data nada desproposital do Dia Dos Namorados, minha editora lançou o edital do Amor Monstro e what a ride. O negócio nem começou e eu já estou louca com tanta coisa que tive que aprender pra colocar isso para rodar, além da Editora Madame Houdini. Ainda bem que tenho uma amiga e sócia incrível, porque sozinha eu não ia conseguir.
Ser nós mesmas, sozinhas, é impossível. É só quando a gente tem companhia e estamos em uma comunidade, que conseguimos ser quem a gente é. Precisamos desse acolhimento e de alguém falando “ei, que massa isso aí” em vez de “ugh, o que é Sukuna?”. E como é bom quando a gente encontra amigos que nos permitem ser quem somos, sem medo e sem julgamentos. Posso estar com minha camisa social, mas não preciso esconder meu wallpaper do Kim Namjoon no celular.
E desde ontem, abrindo as portas da Editora para receber autoras para escrever monster romance, me fez sentir parte de uma comunidade literária, feminina e estranha. Agora ninguém segura a gente.
Pode ser gostar de ler livros com monstros ou saber a diferença entre seinen e shounen, qualquer sensação que nos faça pertencer ainda mais aos nossos lados estranhos, merece ser vivida.
E eu posso dizer, como uma das donas de uma editora que publica histórias de fantasia, terror e ficção científica, como uma pessoa que está esperando sair o próximo episódio de Demon Slayer e como uma leitora assídua de webtoons, que nunca fui tão feliz em toda minha vida.
Desde que voltei para mim, eu sorrio todos os dias.
E vamos ser a gente mesma, tá? Não deixa o capitalismo te normalizar.
Recomendação de música da semanaComo estamos falando de estranhezas, preciso trazer Kim Namjoon, lead do BTS cuja subjetividade eu ainda tento entender, mas dessa vez sem escrever artigos. No seu último lançamento, ele explora os sentimentos confusos e deliciosos de ter 30 anos e eu ainda estou ouvindo esse áudio on repeat. I'm goddamn lost, I never been to club before, I hit the club, I never felt so free before, you're goddamn ghost.
Recomendação de livro da semanaPreciso trazer a palavra da Fernanda Castro aqui. Já recomendei Lágrimas de Carne, agora é a vez de Mariposa Vermelha. Comprei minha cópia na Rodoviária do Tietê no começo do ano, em um misto de desespero com medo de faltar livros na minha viagem de volta (meu kindle mal tem espaço) e como tenho o hábito de sempre marcar meus livros com data e local, agora tenho um livro que viajou comigo. Esse livro valeu cada centavo, mas devo avisar que, infelizmente, não contém o feitiço que invoca um demônio bonito (mas vou mandar um e-mail para autora solicitando). Recomendado para nós, estranhas, que talvez queiramos mais um namorado demônio do que um humano.
Obrigada por ler até aqui e se o mundo não acabar nos vemos semana que vem.
Não se esqueça das regras básicas de sobrevivência:
Se você estiver começando a correr, alongue bem os quadris (rebolar ajuda).
Você deve estar trabalhando muito, que tal fazer uma pausa e dar uma alongada?
Termine com esse cara que está te enrolando ou você vai acabar sendo mãe do filho dele.


