Moon Knight: #4 vs #3

A propósito de um comic que saiu esta semana, eu e um amigo tivémos um ligeiro debate no Facebook (debate que já não está visível, porque entretanto apaguei o update original, o que por alguma razão não impediu o FB de continuar a permitir comentários nele).


O causador do debate foi o número 4 da série MOON KNIGHT.



Para contextualizar: o argumentista desta série é o Warren Ellis, o meu escritor favorito (o que me impede de ser imparcial, admito). Cada número tem vinte páginas de história, e é auto-contido (por oposição ao que acontece na maioria dos comics, em que as histórias continuam de um número para o seguinte). A arte é sempre brilhante, e a série tem sido bastante aclamada pela crítica desde o início.


O número anterior (#3) ao desta semana envolvia um gang de fantasmas, que inicialmente davam um enxerto de porrada ao protagonista, mas no final, após a descoberta da verdadeira natureza dos fantasmas, aquele aprende a, basicamente, esmurrá-los. O clímax da história é, portanto, o herói a dar murros em fantasmas.


Já no número em questão, temos o herói a tentar resolver um mistério (que, como o meu amigo bem salientou, não é grande mistério porque só há um suspeito) que envolve experiências com sono e cogumelos psicadélicos em que os voluntários para as experiências têm todos o mesmo sonho, e estão a enlouquecer aos poucos por causa disso. Consequentemente, o herói tem que mergulhar ele próprio nesse sonho para descobrir o que realmente está a acontecer.


Adorei este número. É verdade que, como já disse, não sou imparcial em relação ao escritor, e que tenho lido pouca BD nos últimos meses, mas achei-o das melhores coisas que li no último ano, e de longe o melhor da série.


Disse-o no Facebook, e o meu amigo discordou. Para ele, apesar da arte brilhante deste número, o #3 é melhor. Primeiro, porque tem um enredo e mistérios mais desenvolvidos, que incluem adversidade adicional para o protagonista ultrapassar (sendo que para ele, o enredo do #4 é demasiado linear). E depois, porque ESMURRAR FANTASMAS!


ESMURRAR FANTASMAS é um ponto a favor. Não posso negar isso. E sem dúvida que o #3 em si mesmo está mais de acordo com os gostos do meu amigo. Mas mantenho a minha posição.


Sim, o enredo do #4 é bem mais simples, mas a meu ver, uma história é a soma do enredo (que em si mesmo é a soma das personagens e dos eventos que as rodeiam) com o meio em que é contada. Quando se escreve um conto ou um romance, o meio são as próprias palavras, pelo que é moldando-as que o escritor partilha o enredo. Em banda desenhada (e não descurando as palavras), o meio são as imagens, e é através delas que a história deve, sempre que possível, ser contada.


O enredo no Moon Knight desta semana é simples porque está desenhado para maximizar o efeito da forma como é contado. Para mim, há poucas coisas mais difíceis para um escritor do que aprender quando deve sair do caminho da sua própria história, e acho que foi o que o Ellis fez neste caso: deixou o meio contar a história por si mesmo, sem complicações desnecessárias.


O meu amigo não está errado, porque dizer que um número é melhor que outro, no fundo, tem muito a ver com gostos pessoais, e o #3 agradou-lhe mais. Nada de mal nisso. No entanto, para mim, o #4 está bem melhor conseguido na fusão entre o que conta e a forma como é contado, e não vejo que passos ou complicações adicionais poderiam ser acrescentados para, em apenas 20 páginas, tornar a história mais rica. Para certas histórias, não há nada de errado em simplificar.


 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on June 06, 2014 04:50
No comments have been added yet.