Margens Quotes

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“era noites de em vigílias, assim fomos deambulando pelos musseques da cidade, Marçal, Sambila, Kazenga, Golfe, Katambor e nos musseques, era levar a revolução a todos os cantos que faziam no fundo o mesmo espaço, quer dizer, me explico, para nós os musseques eram um todo, o espaço único, por isso lutar no Sambila ou no Rangel era a mesma coisa, era lutar a mesma causa, os musseques eram afinal o musseque, a nossa terra sofrida, o nosso chão, a nossa vida partilhada, assim, quando um negro era assassinado no Kazenga eu lhe sentia no fundo de mim, eu me sentia morrer, tu sabes, Saiundo, o que é sentir a morte de um quem querido morrer em nós?, se morrer-se?, é difícil explicar o sentimento que se sente nessas ocasiões, o sentimento só existe se sentindo, explicar o sentimento não é o mesmo que senti-lo, só o sentir pode ser explicar tudo, assim, apesar de morar no Rangel, eu queria ser como Che, um combatente internacionalista dentro do espaço do musseque repartido em vários espaços onde que era preciso defender as populações da sanha assassina, lhes levar um pouco de conforto, compreendo a pergunta que queres fazer, como internacionalista, né?, o termo internacionalista talvez não seja o mais adequado porque a minha luta apesar de ser feitas em várias frentes era dentro do território nacional, da cidade de Luanda, mas o que eu queria dizer é que eu gostaria de ser um combatente vagueante como o Che, não vadio, vágil também não, mas vagueante, com rumo e objectivos bem definidos, quer dizer , um homem de as muitas terras, rios e margens, de muitas bandeiras e de uma só bandeira – a bandeira da humanidade –, um caminhante de muitos caminhos, um homem pronto a lutar por uma causa em qualquer chão, percebes?, meu amigo, das populações negras, o que eu recebi por esse esforço?, meu amigo tudo ou nada, quer dizer a recompensa moral, a fama e a glória de ser chamado de o comandante Quinito, eu mesmo, o mais maus de todos, o justiceiro, o defensor dos desprotegidos, quem que ajustava as contas com o ruim, o mais que mau, o qual trouxe respeito e consideração nos musseques”
Boaventura Cardoso

Anna Akhmatova
“Eu, como um rio, Fui desviada por estes duros tempos. Deram-me uma vida interina. E ela pôs-se a fluir num curso diferente, passando pela minha outra vida, e eu já não reconhecia minhas próprias margens.”
Anna Akhmatova

Brigitte Vasallo
“Romper a monogamia não é [...] pra gente normal, nem pra gente descolada. É a ruptura das fracassadas, dos perdedores, das que habitam a margem de qualquer margem, para aquelas que nunca vão encontrar um par com quem fazer um ninho porque não há ninho que nos contenha nem que nos queira conter. [...] Nós temos outras ferramentas, porque somos feitas de outra massa. [...] Só temos que acabar de romper com a fantasia, dar o último passo, soltar a última amarra, fugir da influência dos centros do desejo, sair inclusive da margem para ocupar uma mais pra lá, encontrar as nossas iguais, olhar em suas caras, nomeá-las. E nos pormos de verdade a construir outra coisa.”
Brigitte Vasallo, Pensamiento monógamo, terror poliamoroso