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Mas quanto amor, meus senhores, quanto amor me acontecia padecer nesses meu devaneios, nesses "salvamentos em tudo o que é belo e sublime": embora fosse um amor fantástico, que jamais convidava efetivamente para algo humano, tão abundante era ele que, depois, nem se sentia já, sequer necessidade de aplicá-lo: seria um luxo demasiado.

[...] no tempo do cinema mudo, a montagem evocava o que o realizador queria dizer; em 1938, a decupagem descrevia; hoje, enfim, podemos dizer que o diretor escreve diretamente em cinema.

O testemunho cinematográfico é o que o homem pôde arrancar do acontecimento que, ao mesmo temp, requeria sua participação. Mas esses destroços salvos das tempestades são incomparavelmente mais emocionantes que o relato sem falhas e sem lacunas da reportagem organizada. Pois o filme não é constituído apenas por aquilo que vemos.

"O homem precisa unicamente de uma vontade independente, custe o que custar essa independência e leve aonde levar. Bem, o diabo sabe o que é essa vontade..."

"Sated side by side on a bench of the half-empty boat they found that they had hardly anything to say to each other, or rather that what they had to say communicated itself best in the blessed silence of their release and their isolation"

The things that had filled his days seemed now like a nursery parody of life, or like the wrangles of medieval schoolmen over metaphysical terms that nobody had ever understood.
[...]
"And all the while, I suppose", he thought, "real people were living somewhere, and real things happening to them..."

"We'll read Faust together... by the Italian lakes..." he thought, somewhat hazily confusing the scene of his projected honey-moon with the masterpieces of literature which it would be his manly privilege to reveal to his bride.

só tenho tido tempo de ler no ônibus. hoje rendeu quatro horas e algumas risadas.

"se é temerário entrar desarmado no covil de um leão, atravessar o atlântico num bote a remo ou se equilibrar num pé só no topo da cúpula da catedral de são paulo, mais temerário ainda é ir sozinha para casa com um poeta"

sobre maria madalena:

"She comes from nowhere and she will go nowhere – nowhere, to the desert of Egypt or else to Baums. She is not on a mission; she is simply passing through. She is passing through places where men sometimes pass by, or, sometimes, where only serpents do."

"The painter who paints the scene adds the following: my hands reach out toward the apparition that does not appear, toward the departure that undoes the entire scene, toward the resemblance that does not allow itself to be recognized, toward the darkness that shares with the light its concealment from representation, toward a canvas and a motif that repeats for me: "Do not touch me." "

"anteontem ao som de Bethânia (o último lp) me deu vontade de ter um filho (teu!!!). passou. mas você não. você me marcou irresistivelmente. se eu ainda te amasse, eu ia ter ciuminhos. como foi possível, a gente se encontrar de repente e 'retomar' tudo. ou não? eu não entendo. perdi a tua mágica, estou sozinha. 'eu me lembro' é um gesto do presente?"

2-3 de agosto de 70

"Two bodies, the one of glory and the other of flesh, are distinguished in this departure and in it they belong, partially but mutually, to each other. [...] The possibility of carnal decay is given there, along with the possibility of glory. [...] This division – sin and salvation – comes from nowhere other than from the fading of the divine presences that en sured the homogeneous unity of a world."

"It is a warning: if you do not understand, do not look for the reason in an obscurity of the text but only within yourself, in the obscurity of your heart. [...] there is a message there for those who want to and who know how to receive it, for those who want to and know how to be called. [...] Less or more than sense: nothing at all or the entire truth, suddenly present and singular each time."

"A divindade só permanece divina por meio do que ela condena."

"o animal aceitava a imanência que o submergia sem protesto aparente, enquanto o homem, no sentimento do sagrado, experimenta uma espécie de horror impotente. Esse horror é ambíguo. Sem dúvida alguma, o que é sagrado atrai e possui um valor incomparável, mas no mesmo instante isso parece vertiginosamente perigoso para esse mundo claro e profano onde a humanidade situa seu domínio privilegiado."

"algo de doce, de secreto e de doloroso prolonga nessas trevas animais a intimidade da luz que se mantém acesa em nós. Tudo o que afinal posso sustentar é que tal visão, que me submerge na noite me ofusca, me aproxima do momento em que, disso não duvidarei, a claridade distinta da consciência me afastará ainda mais, finalmente, dessa verdade incognoscível que, de mim para o mundo, aparece-me para se esconder"

"os segredos são indizíveis e só te tendo dia a dia você vai ficar sabendo. Nem por isso eu dizia e desistia com aparente e irônica paciência. Meu amor, você sabe. E enquanto a gente souber as nossas raivas vão, se misturam ao crepúsculo e adormecem."

"Não há homem moderno, seja qual for o grau de sua irreligiosidade, que não seja sensível aos 'encantos' da Natureza. Não de trata unicamente dos valores estéticos, desportivos ou higiênicos concedidos à Natureza, mas também de um sentimento confuso e difícil de definir, no qual ainda se reconhece a recordação de uma experiência religiosa degradada"

"a repetição esvaziada de seu conteúdo conduz necessariamente a uma visão pessimista da existência
[...]
quando é dessacralizado, o Tempo cíclico torna-se terrífico: revela-se como um círculo girando indefinitivamente sobre si mesmo, repetindo-se até o infinito"

leitura do ônibus