Paula Abreu Silva’s Reviews > Este Tempo / Seta Despedida / A Flor que Havia na Água Parada / Havemos de Rir! > Status Update

"Ela, porém, silenciosa. Ensimesmada na sua tristeza solitária. As mãos estavam-lhe esquecidas sobre os joelhos. Mãos escuras, trabalhadas, gravadas pelo tempo, com altas cordilheiras endurecidas e rios bem fundos, e riachos. Mãos humildes que nunca se haviam erguido assim, como as outras, e já não iam, está bem de ver-se, erguer-se. Invento aquela velha."

Página 175

"Escreveu em tempos João de Araújo Correia no seu livro Enfermaria do Idioma: «A maior parte dos portugueses, principalmente os portugueses que escrevem, não amam a simplicidade. Todos os dias inventam palavrões, redundâncias de frase, verbos especiais para definir complicadamente coisas que são a própria singeleza.» Faço minhas as suas palavras ..."

Página 84

ESTE TEMPO (A CIDADE E A ÁGUA): ★★★★★
ESTE TEMPO (OUVIR E FALAR): ★★★

" ... fico triste quando encontro uma casinha antiga, a ser demolida. Era feia? Talvez fosse feia, mas ficava bem a Lisboa e devia ser muito agradável viver dentro dela, no tempo em que o sol não era só dos gigantes e as árvores e os canteiros não eram um luxo inacessível."
Diário de Lisboa, 13-1-73

Página 75

ESTE TEMPO (OS NOVOS DEUSES): ★★★★

"Nunca fiz uma viagem organizada e essa é uma das minhas frustrações. Estar num país sem entrar nele, aflorá-lo ao de leve, esvoaçá-lo, ver só o que foi combinado com antecedência por outros, apagar implacavelmente tudo o resto, apagar os seres humanos e todo o sofrimento dos seres humanos. Contentar-se com essa alegria em grupo que é igual em todo o mundo ..."
O Jornal, 4-8-78