Adriana Scarpin’s Reviews > O acontecimento da literatura > Status Update

A palavra “doutrinário” se aplica apenas às crenças de outras pessoas. O “engajamento” diz respeito à esquerda, não aos liberais nem aos conservadores. A afirmação de que o engajamento doutrinário é sempre a ruína da arte não passa de piedade liberal desprovida de conteúdo.

Catherine Wilson argumenta que a literatura não é uma questão de saber como nem de saber que, mas de saber qual é o sentimento de algo.

Bertolt Brecht gostava que o público assistisse às suas peças com certa distração moderada ou uma indiferença ensaiada, razão pela qual encorajava a plateia a fumar. Dessa forma, poderiam resistir a serem atraídos para uma empatia hipnótica diante dos acontecimentos no palco, o que poderia embotar sua avaliação crítica desses fatos.

Para Fish, devemos prestar atenção ao conteúdo moral da obra, que uma sensibilidade à linguagem do texto persuadir-nos-á a colocar em foco nítido de modo não usual. Numa dicotomia de forma e conteúdo digna de Sir Arthur Quiller-Couch, a linguagem da obra é simplesmente instrumental para a exploração do seu conteúdo. É apenas uma pista para o fato de estarmos na presença de algumas questões morais de peso.

Para um arquinominalista como Michel Foucault, toda classificação pareceria uma forma insidiosa de violência. Para almas mais sensatas, como socialistas e feministas, agrupar indivíduos segundo certos aspectos para determinados fins pode contribuir para a sua emancipação. Não se deve entender aqui que, por implicação, eles também sejam semelhantes em todos os outros aspectos.

Margaret Thatcher, uma ockhamista involuntária, observou: isso que se chama de sociedade não existe.

Tomás de Aquino, à maneira de Abelardo e Karl Marx, é mais insistente no fato de que todo pensamento pressupõe universais. O doutor angélico é antiempirista pelo menos nesse sentido, mas talvez em mais um ou dois sentidos. Nos Grundrisse, Marx fala sobre a necessidade de empregar conceitos abstratos ou gerais para “se elevar” ao concreto.

Analisar vampiros ou Family Guy provavelmente não é tão gratificante do ponto de vista intelectual quanto estudar Freud e Foucault.