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«Não te metas na vida alheia
se não queres lá ficar.»

«Todos quantos intervêm na vida dos outros (...) são afinal de uma cobardia que escapa à observação dos melhor atentos. Cobardes por duas razões: primeira, por serem incapazes de se reconhecerem e darem a conhecer o seu próprio caso pessoal para a aceitação geral; segunda, porque ao intervirem na vida dos outros, quer seja em seu favor ou contra, são incapazes também de abnegar da sua própria pessoa.»

«A ciência, que não tem outro conhecimento que o das suas experiências, necessita de um espaço de tempo de que cada um de nós não dispõe. Se sujeitássemos a nossa vida ao conhecimento da ciência, acontecer-nos-ia o que às lâmpadas elétricas que tiveram o mesmo processo de fabricação: nem todas acendem. E as que não acendem deitam-se fora. Não há tempo a perder com mistérios em ciência.»

«De facto, não estamos feitos a poder receber os choques das mil e uma caras da realidade exterior e, sentindo-nos incompletos, cremos que é esse conhecimento que nos falta. Talvez. Mas o que nos falta com certeza é confiarmos mais em nós mesmos. Temos o instinto quando nos falte o conhecimento. O instinto dá-nos imaginação bastante para abreviarmos todo o conhecimento de que necessitamos para o nosso uso.»

«Até hoje nunca houve outro modo de cada um passar de uma idade para outra da sua vida a não ser pela sinceridade. Os modos de ludibriar essa passagem são sem conta. Mas a única maneira que existe no mundo para revelar cada um, a si e aos outros, está dentro de cada um mesmo, é a sua sinceridade.»

«A comunicação entre humanos faz-se pela admiração. Não são as ideias o que a humanidade admira senão o próprio dos sentimentos.»

«Quando duas pessoas separam as suas coisas que estiveram juntas, o que é de cada um é tão pouco que ainda é menos do que antes de conhecer aquele de quem se separa.»

«A Judite não é gente, é uma pedra-de-toque, é um degrau, é uma entrada, é a minha entrada na realidade. Passada a entrada, chega-se à vida, e a entrada deixa de ter importância.»

Ah, nunca a misoginia foi tão eloquente!

«(...) numa mesma vida mal cabe um quanto mais dois.»

«De todas as mil vezes que ela renunciara à vida desbaratada que levava, de todas as mil vezes caíra na amargura de reconhecer que não havia afinal outra vida para ela senão aquela a que renunciava. O tédio esmagava-a na solidão. E ela fugia horrorizada dos lugares pacíficos que lhe negavam a paz e ia misturar-se na multidão para não se ver, para não se sentir.»