Fernando Neves's Blog: Bandeirola Literária
October 14, 2025
Falando do livro: o colofão
Um nome estranho em função que mudou com o tempo.
Não é uma ideia exclusiva da Bandeirola, outras editoras (que eu saiba, as independentes) também usam o colofão para registrar um momento, uma ideia. A Bandeirola registra o tempo presente.
A Úrsula Antunes fez cards gracinhas para a rede social da Bandeirola em uma série que mostra a “última página” de alguns dos nossos livros.
Sandra Abrano
Colofão: você sabe o que é?O colofão, ou colofon, é um pequeno texto na última página de um livro. Às vezes centralizado, às vezes no fim da página, o colofão pode trazer informações sobre a impressão do livro (material, local, gráfica etc.), imagens, símbolos, logos, ou até mesmo mensagens relacionadas ao momento da produção do livro.
O termo vem do grego, por via latina, e quer dizer “final”.
Ao final de um impresso, podem ser usados “finis” ou “fim” como colofão, algo bastante comum de ser visto principalmente nos livros menos contemporâneos.
O primeiro colofão da Bandeirola aparece no livro Vestígios – mortes nem um pouco naturais.
Veja a página:

Esse primeiro colofão definiu a característica principal das últimas páginas dos livros da Bandeirola: registrar os acontecimentos político/sociais do ano em que o livro foi lançado. Acompanhe:

Em Quimeras do Agora, o texto do colofão nos convida à reflexão e à ação diante da urgência climática.
O colofão de Crimes Impossíveis marca o período de isolamento da pandemia da covid-19.

O colofão de O Êxtase Derradeiro da Vampira de Osasco, fruto do primeiro chamado para a coleção Curta Bandeirola:

Para Pavor Dentro da Noite, o colofão foi lembrando a crise climática alarmante tornada cada vez mais evidente. Em 2024, João do Rio foi o autor homenageado da FLIP – Paraty.

E o último lançamento de 2025 também terá seu colofão especial, iniciando uma nova fase:
2025, ano de lançamento de A MULHER e o ESTRANHO, que traz contos traduzidos em 2021, pensados alguns meses antes, com prefácio e apresentações finalizadas em 2022. Em 2024, iniciaram-se os trabalhos de edição, preparação, diagramação e capa.
O tempo editorial é particular. Uma editora pensa os lançamentos que irão ocorrer no futuro e publica o que foi elaborado no passado. O futuro e o passado, em uma editora, compõem o presente com a naturalidade de um virar de páginas.
Indica-se que esse livro, fruto maduro e coletivo, seja desfrutado sem moderação ou contraindicação.
Livros comentados nesse artigo, todos disponíveis na Livraria online da Bandeirola [só clicar sobre o título]:
Vestígios — Mortes nem um pouco naturais, de Sandra Abrano
Quimeras do Agora — Literatura, Ecologia e Imaginação Política no Antropoceno, de Ana Rüsche
Crimes Impossíveis, diversos autores, antologia organizada, traduzida e prefaciada por Braulio Tavares
O Êxtase Derradeiro da Vampira de Osasco, de Daniela Funez
Pavor Dentro da Noite, de João do Rio
October 14, 2020
PROJETO EDITORIAL x PROJETO GRÁFICO
por Sandra Abrano
Um projeto editorial define as linhas trabalhadas por uma editora.
Na Bandeirola temos uma linha com clássicos populares do final do século XIX aos anos 1950 (Clássicos Vintage), temos literatura contemporânea (Vestígios – Mortes Nem um Pouco Naturais e As Louras da Minha Vida), a série de Livros de Anotações para Viagens Reais e Imaginárias (Eu e Cervantes, Eu e Mário de Andrade, Eu e Fernando Pessoa).
Em 2020, em meio ao isolamento pandêmico, iniciamos nosso projeto mais ambicioso e de longo prazo: os livros de Ficção Científica (A Espinha Dorsal da Memória e Mundo Fantasmo) e Antologias (em breve mais notícias), as duas linhas encabeçadas por Braulio Tavares.
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As especificidades
A definição de projeto editorial parte do geral e caminha para os detalhes de cada obra. Nas fotos a seguir, algumas particularidades de A ESPINHA DORSAL DA MEMÓRIA e MUNDO FANTASMO.
Livros lançados originalmente na década de 1990, essa nova edição deveria vir com aura de clássico (que de fato é), de livro premiado e reconhecido pela crítica (outro fato), roupagem contemporânea com modernidades visuais, que levasse em conta o conforto da leitura e, para além disso, que definisse um tratamento visual que inaugurasse a série de livros de Braulio Tavares na Bandeirola.
Daí a página dupla de abertura, com o título ocupando corajosamente as duas páginas, faixa preta oblíqua, cortando o espaço-tempo-fragmentado de imagens soltas (mecanismos, humanóides?).
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Daí a assinatura do autor, porque não há obra tão autoral e de voz própria (apesar de repleto de referências ou será por isso mesmo?) quanto essas de Braulio Tavares, e na página ao lado, dividindo a a atenção do leitor, um ícone que se lança em movimento estudado e controlado e, apesar disso, pra onde?
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Daí o título do conto em tipo de letra especial, entrecortada e pouco usual, porém discreta, ocupando parcialmente o branco que lhe cabe na página (como o autor, esse cara que tem sempre tanto a dizer, mas que se mantém discreto, deixando no leitor ou no ouvinte a sensação de quero mais, diga mais).
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E o detalhe da CAIXA ALTA no primeiro parágrafo do conto, meia frase escandalosa para chamar a atenção de quem lê, tom mais alto para logo depois seguir em normalidade, leitor capturado, continua a leitura sem percalços.
O tipo de letra do corpo do texto é simples, com serifa (um tipo que funciona como régua, tracinhos na base de cada letra a guiar os olhos e o entendimento do que ali está), com o espaçamento entre uma linha e outra nem pequeno nem grande, no limite do conforto do olhar.
Entre um parágrafo e outro, um espacinho pequeno, pra cabeça do leitor logo entender o que se passa, respirar e dar novo mergulho.
Isso são detalhes.
São poucos? São fundamentais.
Um projeto editorial se casa com o projeto gráfico para representar o que se narra, quem narra e atender às necessidades de quem lê.
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3Armindo Pinto, Cibele Abramo e 1 outra pessoa4 comentáriosCurtirComentarCompartilhar
June 3, 2020
RELAMPEIO FESTIVAL LITERÁRIO INTERNACIONAL Fantasia, ficção científica e horror
por Sandra Abrano
O que é o Relampeio?
De 12 a 14 de junho de 2020 você terá oportunidade de encontrar escritores de Ficção Científica, Fantasia e Horror em debates ao vivo e transmitidos pelo Youtube. Os palestrantes confirmados são:
Elizabeth Ginway (EUA)
Francesco Verso (Itália)
Kiini Ibura Salaam (EUA)
Libia Brenda (México)
Neil Clarke (EUA)
Teresa P. Mira de Echeverría (Argentina)
Thomas Olde Veuvelt (Países Baixos)
Xia Jia (China)
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Todas as atividades do Relampeio serão gratuítas, trilingues e abertas ao público.
Segundo os organizadores do Festival, “a ficção fantástica relampeia como força unificadora para os três conceitos necessários à sobrevivência: arte, imaginação e ciência”.
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Época estranha essa, em que o imponderável rege o futuro e nos deixa com mãos inseguras para delinear como o mundo irá se comportar amanhã, ao final da pandemia ou na próxima década. Então, nada melhor do que ouvir os Relampeios desse Festival Internacional que chega ao Brasil, segundo seus organizadores, “tanto como experimento quanto celebração. Uma faísca de esperança e alívio. Aqui, profissionais do mercado literário doam seu tempo e trabalho na forma de planejamento, organização, divulgação e tradução para compartilhar experiências.”
O inimigo comum, para além da pandemia e dos efeitos do isolamento social, são a ignorância e a gestão que ignora as orientações científicas internacionais de combate ao coronavirus, mantém uma política de desmonte dos programas de pesquisa e desarmam as universidades como centros de transmissão do saber.
Nós da Bandeirola estaremos no apoio durante o Festival, e convidamos a todos a participarem das lives e discussões. O Relampeio veio para ser um evento de divulgação para a literatura de gênero e, claro, estamos bem felizes por estarmos juntos.
Fora toda essa graça e força, Relampeio tem o objetivo de “arrecadar doações para iniciativas civis de combate à pandemia, responsáveis pela compra de equipamentos de proteção individual (EPIs), medicamentos e outros itens necessários para profissionais de saúde e população em geral, indicando projetos que estejam recebendo doações entre as entrevistas e incentivando o público a contribuir.”
E deixamos aqui o recado final dos organizadores:
Em tempos atípicos, coloque suas histórias para fora. Grite, chore, lute e resista junto a outras vozes até que toda essa energia se transforme em algo mais forte. Algo que precise ser ouvido. Relampeie!
PARA ACOMPANHAR O FESTIVAL:
Twitter: @relampeio https://twitter.com/relampeio?s=09
Instagram: @relampeiofestival https://instagram.com/relampeiofestival
#eventosliterarios #ficcaocientifica #eventosonline #relampeiofestival #ficcaocientifica #editorabandeirola #livros #livrosdehorror #livrosdefc
RELAMPEIO FESTIVAL INTERNACIONAL fantasia, ficção científica e horror
por Sandra Abrano
O que é o Relampeio?
De 12 a 14 de junho de 2020 você terá oportunidade de encontrar escritores de Ficção Científica, Fantasia e Horror em debates ao vivo e transmitidos pelo Youtube. Os palestrantes confirmados são:
Elizabeth Ginway (EUA)
Francesco Verso (Itália)
Kiini Ibura Salaam (EUA)
Libia Brenda (México)
Neil Clarke (EUA)
Teresa P. Mira de Echeverría (Argentina)
Thomas Olde Veuvelt (Países Baixos)
Xia Jia (China)
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Todas as atividades do Relampeio serão gratuítas, trilingues e abertas ao público.
Segundo os organizadores do Festival, “a ficção fantástica relampeia como força unificadora para os três conceitos necessários à sobrevivência: arte, imaginação e ciência”.
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Época estranha essa, em que o imponderável rege o futuro e nos deixa com mãos inseguras para delinear como o mundo irá se comportar amanhã, ao final da pandemia ou na próxima década. Então, nada melhor do que ouvir os Relampeios desse Festival Internacional que chega ao Brasil, segundo seus organizadores, “tanto como experimento quanto celebração. Uma faísca de esperança e alívio. Aqui, profissionais do mercado literário doam seu tempo e trabalho na forma de planejamento, organização, divulgação e tradução para compartilhar experiências.”
O inimigo comum, para além da pandemia e dos efeitos do isolamento social, são a ignorância e a gestão que ignora as orientações científicas internacionais de combate ao coronavirus, mantém uma política de desmonte dos programas de pesquisa e desarmam as universidades como centros de transmissão do saber.
Nós da Bandeirola estaremos no apoio durante o Festival, e convidamos a todos a participarem das lives e discussões. O Relampeio veio para ser um evento de divulgação para a literatura de gênero e, claro, estamos bem felizes por estarmos juntos.
Fora toda essa graça e força, Relampeio tem o objetivo de “arrecadar doações para iniciativas civis de combate à pandemia, responsáveis pela compra de equipamentos de proteção individual (EPIs), medicamentos e outros itens necessários para profissionais de saúde e população em geral, indicando projetos que estejam recebendo doações entre as entrevistas e incentivando o público a contribuir.”
E deixamos aqui o recado final dos organizadores:
Em tempos atípicos, coloque suas histórias para fora. Grite, chore, lute e resista junto a outras vozes até que toda essa energia se transforme em algo mais forte. Algo que precise ser ouvido. Relampeie!
PARA ACOMPANHAR O FESTIVAL:
Twitter: @relampeio https://twitter.com/relampeio?s=09
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March 17, 2020
Leitura em tempos de coronavírus
Com a pandemia do coronavírus se espanhando, causando mortes e forçando o isolamento de várias cidades pelo mundo, o livro A Peste, do ganhador do Nobel franco-argelino Albert Camus, de 1947, passou a figurar em listas de mais vendidos em vários países da Europa. Por aqui o fenômeno ainda não chegou, mas o livro voltou a ser comentado e sua leitura sugerida e retomada por muitos leitores.
Nesses tempos de maior isolamento social, ficar em casa com um bom livro, pode aliviar um pouco o desespero que a realidade nos impõe. Muitas vezes a ficção até nos ajuda a entender melhor o mundo real que nos cerca. Para não fugir do tema a Bandeirola Literária preparou uma lista de dez grandes livros que falam sobre vírus, pandemias e afins. Boa leitura!
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1 – A Peste – Albert Camus (1947)
Certa manhã, ao sair de seu consultório, o doutor Bernard Rieux tropeça em um rato morto. É o sinal de uma terrível epidemia que assombra a população de uma pequena cidade na costa da Argélia, na década de 1940. De quarentena, a cidade rapidamente se torna um ambiente inóspito com os moradores sendo levados à loucura. Mas em meio às sombras também descobrem o valor da compaixão e da solidariedade.
2 – Ensaio Sobre a Cegueira – José Saramago (1995)
Um motorista ao parar em um semáforo percebe que ficou subitamente cego. É o primeiro caso de uma epidemia que se espalha rapidamente e obriga o governo a colocar as pessoas infectadas em uma quarentena que logo se mostra desastrosa. Cegos, trancados e com recursos limitados à disposição, todos são levados à uma luta desesperada pela sobrevivência mostrando o pior do ser humano.
3 – O mez da grippe – Valêncio Xavier (1981)
A capital paranaense em 1918 acompanha o fim da Primeira Guerra Mundial ao mesmo tempo que enfrenta a epidemia de gripe espanhola que causa milhares de mortes na cidade. Em uma grande colagem de vários tipos de narrativa, o autor mostra eventos históricos, figuras locais, medo, preconceito em um clima cada vez mais tenso e violento, mas descrito muitas vezes com uma linguagem estranhamente poética.
4 – Decameron – Giovanni Boccaccio (1353)
Dez jovens, sete moças e três rapazes, fogem das cidades tomadas pela peste negra que dizima a Europa e se recolherem em uma casa de campo onde ficam por 10 dias, a fim de se proteger das doenças e celebrar a vida. Todos os dias, cada um dos integrantes do grupo conta uma história em torno das paixões, sexo, infidelidades e tudo o que havia de proibido e pecaminoso na sociedade medieval.
5 – O Amor nos Tempos do Cólera – Gabriel Garcia Marques (1986)
A história narra a paixão do telegrafista, violinista e poeta Florentino Ariza por Fermina Daza. Ainda muito jovens os dois se apaixonam, mas o romance enfrenta a oposição do pai da moça, que tenta impedir o casamento afastando o casal ao enviar a filha para uma outra cidade. Os fatos se desenvolvem enquanto uma epidemia de cólera devasta a Colômbia. O livro foi baseado na história real dos pai do autor.
6 – A Máscara da Morte Vermelha – Edgar Allan Poe (1842)
Um perigosa praga abate-se sobre o reino causando morte e sofrimento. O príncipe Próspero reúne os nobres da corte e, abastecendo-se de mantimentos, fecha-se no castelo à espera que a doença e a morte passem. Para entreter os seus convidados, resolve dar um baile de máscaras, mas na noite do baile alguém se disfarça de vítima da morte vermelha espalhando horror e perplexidade entre os convidados.
7 – Um diário do ano da peste – Daniel Dafoe (1722)
O autor de Robinson Crusoé faz um relato que mistura realidade e ficção sobre o surto de peste bubônica que atingiu Londres em 1665. Escrito em forma de reportagem, mistura boletins semanais de óbitos e outros dados precisos sobre a calamidade a uma escrita direta e envolvente em um cenário de horror.
8 – Mad Maria – Márcio Souza (1980)
O livro conta sobre a construção da ferrovia Madeira-Mamoré que planejava ligar uma região rica em látex na Bolívia com a Amazônia brasileira. As obras nunca foram finalizadas e deixaram um saldo de 3,6 mil mortos e outros 30 mil hospitalizados, além de uma fortuna enterrada em meio à selva. Baseado em registros históricos, o autor romanceia três meses de pesadelo da obra que enfrentou toda sorte de infortúnios como uma epidemia de malária.
9 – A Dança da Morte – Stephen King (1978)
Nos anos 80, num cenário pós-apocalíptico, a humanidade foi devastada por uma grande doença desencadeada por um erro do governo, que libera um vírus mortal. Os sobreviventes em pânico tem apenas dois lados a escolher: os bons se apoiam nos ombros frágeis de Mãe Abigail, com seus 180 anos de idade, enquanto todo o mal é incorporado por um indivíduo poderoso chamado de O Homem Escuro.
10 – Incidente em Antares – Érico Veríssimo (1972)
Uma das obras-primas de Érico Veríssimo, conta a história que gira em torno de uma pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul que tem a sua rotina virada de cabeça para baixo após uma greve geral. Diante da impossibilidade de serem enterrados, sete cadáveres que faleceram durante o período da greve, levantam de seus caixões e passam a perambular pela cidade.
November 14, 2019
CLÁSSICOS VINTAGE . Mistério
A Bandeirola escolheu Monteiro Lobato, tradutor, para inaugurar sua nova série
Monteiro Lobato autor de livros infantis? Não apenas. Tem Monteiro Lobato contista, editor, tradutor, pintor, fotógrafo, polemista e atuante nas questões políticas de sua época.
[image error]Monteiro Lobato foi um editor ousado e um tradutor incansável
E hoje tanto se fala de Lobato, para o bem e para o mal. Nada mais “lobatiano” do que estar no centro do debate, porque ele mesmo adorava uma polêmica.
Por que editar CLÁSSICOS VINTAGE . Mistério?
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Simples:
1. são livros clássicos, atravessaram mais de um século e continuam a instigar a imaginação dos leitores
2. estão há tempos fora do catálogo nacional de edições.
3. serão edições de
colecionador. 
O que isso quer dizer? Tudo, nesse projeto, foi pensado para apoiar o leitor, inclusive as páginas de guarda (aquelas que estão coladinhas na capa dura) servem como porta de entrada ao ambiente dos contos, com fotos da época em que foram escritos.
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Outro diferencial. Os livros terão um formato comum no final do século XIX e início do século XX, isto é, 13 x 18 cm. Esse formato é incrivelmente adequado para o modo de vida de um leitor contemporâneo que lê em deslocamentos diários ou esporádicos e não quer carregar peso ou livros em grandes formatos.
[image error] Pequeno, cabe na bolsa ou mochila, companheiro de viagem, com narrativas que atravessaram os anos e continuam a entreter e instigar o leitor tanto por seus temas quanto pelos mistérios.
[image error]Apresentação do livro de Conan Doyle ficou por conta da jornalista Ana Paula Laux, do Literatura Policial.
E mais. Com uma pegada clássica, lembrando as edições do início do século XX, porém, com tratamento contemporâneo. Prefácios ou posfácios escritos por quem tem expertise na área / tema / título ou autor.
[image error]O projeto gráfico arrojado foi criação da artista gráfica Thaís de Bruyn Ferraz, da Casa Paulistana.
Já que é pra ousar, ousemos. A primeira edição de um número limitado de exemplares será em capa dura. Essa edição especial está em financiamento coletivo no Catarse. Para conhecer as condições especialíssimas e as recompensas exclusivas, acesse http://www.catarse.me/ConanDoyleSemSherlock
As edições seguintes serão oferecidas em encadernação
brochura, com orelha, na mesma dimensão de 13 x 18 cm.
Títulos com tradução de Monteiro Lobato
Os dois primeiros títulos dos CLÁSSICOS VINTAGE – MISTÉRIOS serão com tradução de Monteiro Lobato, lançadas por sua editora nos anos iniciais do século XX.
O DOUTOR NEGRO de Conan Doyle. 13 contos de Conan Doyle, sem Sherlock Holmes. Os temas são de mistério e terror (leve), originalmente publicado em 1934 e há anos esgotado. Alguns poucos contos desta edição original foram publicados em coletâneas, de forma esparsa, e com outras traduções.
Contos que integram esta edição, são:
O gato brasileiro
O funil de couro
O caçador de besouros
O caviar
O peitoral judaico
O unicórnio
O trem perdido
O pé de meu tio
  O professor da Lea
House School
A mão morena
O demônio da tanoaria
E o próximo título da coleção Clássicos Vintage . Mistério?
Você ficará sabendo em breve, muito breve…
August 20, 2019
Mário e Tarsila
Por Fernando Neves
Foi uma festa, uma verdadeira maravilha ver a exposição Tarsila Popular, encerrada no final de julho no MASP, bater recorde e se tornar a mais visitada da história do Museu com mais de 400 mil pessoas. E entre as cerca de 120 obras expostas, em meio ao Abapuru, O Batizado de Macunaíma, A negra, Operários e tantas outras pérolas, estava lá o Retrato de Mário de Andrade, pintado pela artista em 1922.
[image error]Retrato de Mário de Andrade, 1922
Parei diante do quadro, bem menos concorrido que outros mais conhecidos da artista, devo admitir, e fiquei por uns instantes viajando na beleza das cores, na composição da obra, dando olhadas de soslaio ao amigo Oswald ao lado. E não pude deixar de me levar um pouco fora da mostra e pensar mais detidamente em Mário de Andrade e na amizade que desenvolveu com Tarsila por longos anos. Ao contrário do que muitos pensam, Tarsila não participou da Semana de 22, conheceu Mário poucos meses depois por uma amiga em comum, Anita Malfatti.
Os dois trocaram cartas que foram organizadas pela historiadora Aracy Amaral e lançadas em um livro pela EDUSP, Correspondência – Mário de Andrade & Tarsila do Amaral. Ótima fonte para acompanhar, por que não “bisbilhotar”, as conversas entre os dois que giram por assuntos diversos, desde o interesse pelas tendências artísticas da época, a preocupação com a cultura brasileira, os processos de criação de ambos e até as desavenças com Oswald de Andrade, que foi marido de Tarsila.
Mário, além da extensa obra, também foi um escritor compulsivo de cartas, muitas delas com a marca do lirismo do autor. Ele mesmo dizia que descansava escrevendo aos amigos escritores, artistas, políticos, músicos. Depois de sua morte foram compiladas mas de oito mil cartas de sua autoria, sem contar as muitas que se perderam. Para Tarsila foram dezessete.
[image error]O Batismo de Macunaíma, 1956
Fui tirado de minha digressão por uma senhora que esbarrou em mim ao tirar uma selfie junto ao quadro do Mário. Sim, o quadro ainda estava lá, bem na minha frente. Hoje, com computadores, celulares e redes sociais parece estranho a troca de cartas mas, aos mais novos, era assim que a pessoas se comunicavam. A escrita com tinta e papel, parece que vai se perdendo. Mas na minha mochila eu tinha comigo o meu exemplar de EU e MÁRIO DE ANDRADE, livro de anotações editado pela Bandeirola, com trechos de poemas e imagens de São Paulo. Anotei ali essas impressões para que não se perdessem. Entre os poemas de Mário, no livro estava este: “São Paulo! Comoção da minha vida …/ Os meus amores são flores feitas de original! … / Arlequinal! … Trajes de losangos … Cinza e ouro …”.
Arlequinal. Mário usou a imagem do arlequim em diversos de seus poemas e até criou essa expressão “arlequinal”, para designar algo ambíguo, carnavalizado. Em uma das cartas enviadas a Mário por Tarsila, ela avisa que comprou para ele um quadro de Picasso, Arlequim. Justamenete.
O escritor e crítico literário, Antônio Cândido disse certa vez que a obra de Mário só pode ser inteiramente compreendida através da leitura de suas cartas. Afasto-me do retrato do Mário. Vou rever O Batismo de Macunaíma, pra mim o quadro mais belo dessa mostra, entre tantas belezas. Mais uma mostra da amizade entre esses dois artistas.
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July 9, 2019
EM UMA VIAGEM HÁ VÁRIAS "VIAGENS"
por Sandra Abrano
Me preparo para a viagem a Paraty, participar da FLIP 2019. Pesquiso os encontros e discussões que mais me interessam, entro em contato com amigos que lá estarão, arrumo a mochila, exemplares de Vestígios e uma garrafa de vinho completam a bagagem.
Em uma viagem há várias “viagens” e esse foi o mote para a lembrança da última que fiz, ocorrida em abril, rumo à Porto Alegre para participar do Porto Alegre Noir 2a edição.
A ida ao PORTO ALEGRE Noir II proporcionou um encontro entre escritores, leitores e cinéfilos. Resultado? Muitos bate-papos e várias sessões de cinema, noir, é claro.
Porto Alegre Noir II aconteceu de 9 a 14 de abril. Cheguei à cidade no dia anterior ao bate-papo que eu iria participar com os escritores Rafael Guimaraens e Luiz Gonzaga Lopes. O tema não poderia ser mais noir: À sangue frio – o crime verdadeiro e a literatura.
A minha preparação consistiu na leitura do ótimo Fim da Linha – O crime do bonde, de Rafael Guimaraens, publicado pela Libretos em 2018. Um crime verdadeiro ambientado no início do século 20, entre Rio de Janeiro e Porto Alegre, nos bastidores das disputas políticas da República Velha. Pelo Fim da Linha encontramos o senador gaúcho Pinheiro Machado e Ruy Barbosa em suas disputas eleitorais pela Presidência da República. O papel das mulheres nesse livro é o que lhes cabia nesse período e ambiente: secundário, oferecendo conforto e saídas honrosas aos homens em sua lida diária e rude de disputas.
Por meu lado, preparando a minha apresentação, revi a bibliografia que antecedeu ou acompanhou a escrita de Vestígios – Mortes Nem Um Pouco Naturais. As primeiras pesquisas foram para conhecer e caracterizar os agentes secretos brasileiros. Revi documentário e entrevistas de Cláudio Guerra, retomei as anotações da leitura de Memórias de uma Guerra Suja, com depoimentos do agente aos jornalistas Marcelo Neto e Rogério Medeiros. Segundo esses jornalistas,
“Cláudio Guerra foi um agente secreto que nunca esteve em listas de entidades de defesa dos direitos humanos e de torturadores, até porque não torturava. Matava.”
No documentário recentemente em cartaz nos cinemas intitulado Pastor Cláudio, dirigido por Beth Formaggini, o ex-agente secreto é entrevistado por Eduardo Passos, psicólogo e ativista dos direitos humanos. Nele, Guerra fornece detalhes de como desaparecia com os corpos de militantes mortos, colocando-os no forno da usina de beneficiamento de açúcar, em Campos de Goytacazes, RJ. Mas esse tipo de relato Cláudio Guerra já faz há muitos anos, com a frieza profissional que lhe é característica.
Cláudio Guerra foi um dos primeiros agentes que atuaram no período da ditadura militar, a dar detalhes de seu ofício, como as conversas diversionistas logo após o assassinato de um militante, em que um ou dois agentes se misturavam às testemunhas descrevendo tipo físico e veículo diferentes dos usados, provocando depoimentos incoerentes para dificultar qualquer investigação. Cláudio Guerra também se atinha a detalhes, como os encontros no Angu do Gomes (RJ) em que agentes e apoiadores do regime militar se encontravam para se divertir e confraternizar. Se era para planejar alguma ação, preferiam a saúna na esquina da rua onde ficava o restaurante, Massage for Man.
Outro agente secreto atuante no período foi Carioca, que teve sua história contada por Taís de Morais, no livro Revelações de um Agente Secreto da Ditadura Militar Brasileira. Carioca foi morto a golpes de machado em um período em que já estava afastado de suas funções como agente. Deixou a cargo de sua mulher a entrega de documentos ao editor Luis Fernando Emediato, da Geração Editorial, que passou para Taís de Morais a função de checagem de todas as informações e organização do livro que dá conta da morte e esquartejamento de dirigente político, assassinatos e violências outras não menos horripilantes e amedrontadoras.
Para entender o que homens sem postos de comando, homens a quem cabiam as tarefas menos nobres e mais violentas, os que estavam na linha de ação e perpetram violências extremas diretamente, busquei informações no trabalho coordenado pela socióloga Martha Huggins, que publicou os depoimentos de vários agentes no livro Operários da violência: policiais torturadores e assassinos reconstroem as atrocidades brasileiras.
Para conhecer o sistema de informações brasileiro e sua história, busquei diversas fontes, entre elas vale citar Ministério do Silêncio – A história do serviço secreto brasileiro de Washington Luis a Lula (1927 – 2005), organizada pelo jornalista investigativo Lucas Figueiredo. Nessa publicação e em jornais e editoriais de época encontrei os meandros pouco conhecidos dos órgãos do Sistema de Informações, um prato cheio de disputas, informantes, agentes duplos.
Suspense, violência, realidade? Está tudo aí, no nosso cotidiano. Em Vestígios privilegiei o recorte de 1976 aos primeiros anos de 2000, isto é, do governo militar em suas primeiras negociações de abertura política ao início dos governos eleitos.
O tema que participei no Porto Alegre Noir, À sangue frio – o crime verdadeiro e a literatura remete a Truman Capote, obviamente, autor para sempre lembrado pela contundência do seu “romance não-ficcional”, considerado a primeira obra do New Journalism.
Em uma viagem há várias “viagens”
por Sandra Abrano
Me preparo para a viagem a Paraty, participar da FLIP 2019. Pesquiso os encontros e discussões que mais me interessam, entro em contato com amigos que lá estarão, arrumo a mochila, exemplares de VESTÍGIOS e uma garrafa de vinho completam a bagagem.
Em uma viagem há várias “viagens” e esse foi o mote para a lembrança da última que fiz, ocorrida em abril, rumo à Porto Alegre para participar do Porto Alegre Noir 2a edição.
A ida ao PORTO ALEGRE Noir II proporcionou um encontro entre escritores, leitores e cinéfilos. Resultado? Muitos bate-papos e várias sessões de cinema, noir, é claro.
Porto Alegre Noir II aconteceu de 9 a 14 de abril. Cheguei à cidade no dia anterior ao bate-papo que eu iria participar com os escritores Rafael Guimaraens e Luiz Gonzaga Lopes. O tema não poderia ser mais noir: À sangue frio – o crime verdadeiro e a literatura.
A minha preparação consistiu na leitura do ótimo Fim da Linha – O crime do bonde, de Rafael Guimaraens, publicado pela Libretos em 2018. Um crime verdadeiro ambientado no início do século 20, entre Rio de Janeiro e Porto Alegre, nos bastidores das disputas políticas da República Velha. Pelo Fim da Linha encontramos o senador gaúcho Pinheiro Machado e Ruy Barbosa em suas disputas eleitorais pela Presidência da República. O papel das mulheres nesse livro é o que lhes cabia nesse período e ambiente: secundário, oferecendo conforto e saídas honrosas aos homens em sua lida diária e rude de disputas.
Por meu lado, preparando a minha apresentação, revi a bibliografia que antecedeu ou acompanhou a escrita de Vestígios – Mortes Nem Um Pouco Naturais. As primeiras pesquisas foram para conhecer e caracterizar os agentes secretos brasileiros. Revi documentário e entrevistas de Cláudio Guerra, retomei as anotações da leitura de Memórias de uma Guerra Suja, com depoimentos do agente aos jornalistas Marcelo Neto e Rogério Medeiros. Segundo esses jornalistas,
“Cláudio Guerra foi um agente secreto que nunca esteve em listas de entidades de defesa dos direitos humanos e de torturadores, até porque não torturava. Matava.”
No documentário recentemente em cartaz nos cinemas intitulado Pastor Cláudio, dirigido por Beth Formaggini, o ex-agente secreto é entrevistado por Eduardo Passos, psicólogo e ativista dos direitos humanos. Nele, Guerra fornece detalhes de como desaparecia com os corpos de militantes mortos, colocando-os no forno da usina de beneficiamento de açúcar, em Campos de Goytacazes, RJ. Mas esse tipo de relato Cláudio Guerra já faz há muitos anos, com a frieza profissional que lhe é característica.
Cláudio Guerra foi um dos primeiros agentes que atuaram no período da ditadura militar, a dar detalhes de seu ofício, como as conversas diversionistas logo após o assassinato de um militante, em que um ou dois agentes se misturavam às testemunhas descrevendo tipo físico e veículo diferentes dos usados, provocando depoimentos incoerentes para dificultar qualquer investigação. Cláudio Guerra também se atinha a detalhes, como os encontros no Angu do Gomes (RJ) em que agentes e apoiadores do regime militar se encontravam para se divertir e confraternizar. Se era para planejar alguma ação, preferiam a saúna na esquina da rua onde ficava o restaurante, Massage for Man.
Outro agente secreto atuante no período foi Carioca, que teve sua história contada por Taís de Morais, no livro Revelações de um Agente Secreto da Ditadura Militar Brasileira. Carioca foi morto a golpes de machado em um período em que já estava afastado de suas funções como agente. Deixou a cargo de sua mulher a entrega de documentos ao editor Luis Fernando Emediato, da Geração Editorial, que passou para Taís de Morais a função de checagem de todas as informações e organização do livro que dá conta da morte e esquartejamento de dirigente político, assassinatos e violências outras não menos horripilantes e amedrontadoras.
Para entender o que homens sem postos de comando, homens a quem cabiam as tarefas menos nobres e mais violentas, os que estavam na linha de ação e perpetram violências extremas diretamente, busquei informações no trabalho coordenado pela socióloga Martha Huggins, que publicou os depoimentos de vários agentes no livro Operários da violência: policiais torturadores e assassinos reconstroem as atrocidades brasileiras.
Para conhecer o sistema de informações brasileiro e sua história, busquei diversas fontes, entre elas vale citar Ministério do Silêncio – A história do serviço secreto brasileiro de Washington Luis a Lula (1927 – 2005), organizada pelo jornalista investigativo Lucas Figueiredo. Nessa publicação e em jornais e editoriais de época encontrei os meandros pouco conhecidos dos órgãos do Sistema de Informações, um prato cheio de disputas, informantes, agentes duplos.
Suspense, violência, realidade? Está tudo aí, no nosso cotidiano. Em Vestígios privilegiei o recorte de 1976 aos primeiros anos de 2000, isto é, do governo militar em suas primeiras negociações de abertura política ao início dos governos eleitos.
O tema que participei no Porto Alegre Noir, À sangue frio – o crime verdadeiro e a literatura remete a Truman Capote, obviamente, autor para sempre lembrado pela contundência do seu “romance não-ficcional”, considerado a primeira obra do New Journalism.
April 28, 2019
UM BOM ROMANCE POLICIAL: MAIS SEGREDOS QUE UM CRIME?
por Sandra Abrano
Dizem que um dos motivos para o sucesso de público dos romances policiais, é que o personagem-detetive recompõe os cacos do caos que um crime provoca e, assim, restabelece a ordem.
A britânica P. D. James, célebre escritora de romances policiais, analisa a popularidade do gênero. “O romance policial é especialmente popular em momentos de inquietação, ansiedade e incerteza, quando a sociedade se depara com problemas que nem o dinheiro, nem as teorias políticas, nem as boas intenções parecem capazes de resolver e aliviar”, explica a escritora.
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Em seu livro Os Segredos do Romance Policial, P. D. James percorre mais de cem anos da história dos livros de detetives e aponta Edgar Allan Poe (1809 – 1849) como o iniciador do gênero consolidado por Arthur Conan Doyle (1859 – 1930), o criador de um dos personagens mais famosos das letras impressas, Sherlock Holmes.
No livro, P. D. James nos apresenta os personagens principais do que ela indica como a Era Douradas das histórias de detetives. Um dos primeiros a serem apresentados é Padre Brown, o detetive amador criado por G. K. Chesterton, agora com série acompanhada por aficionados na TV Cultura de São Paulo. Padre Brown trabalha sozinho, sem nenhum Watson para quem possa fazer perguntas que indiquem o caminho da solução do crime aos leitores mais distraídos. Anestesiados que estamos por séries violentas e de sangue explícito, repletas de análises detalhadas das evidências, exploradas em séries televisivas de fácil acesso em todo o mundo, padre Brown nos é oferecido em uma roupagem singela, delicada, interiorana.
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Doces tempos os de padre Brown, nada parecido com o choque de realidade com que Roger Franchine, advogado, ex-investigador da Polícia Civil de São Paulo e atual promotor público, nos joga em suas páginas de Ponto Quarenta: a polícia para leigos, Matar Alguém e outros. Policiais violentos, corruptos que não encontram saída a não ser como anti-heróis porque o crime vem lá de cima: governador, chefe de polícia, delegado, promotor e o que mais tiver na estrutura. Não sobra ninguém para dar uma nota divertida ou doce em seus livros de realidade ficcional bruta.
O Brasil [e o mundo não?] passou do limite e não inspira a criação de detetives que restabeleçam a “ordem” ao investigarem os acontecimentos. Um personagem-detetive já não dá conta do caos. Estamos na fase de sucesso dos livros de terror, sangue e escatologia enchem a realidade colocada em nossas casas pelos telejornais [e nos últimos tempos pelos twitters do presidente da república que tem como marca registrada indicar uma arminha com os dedos]. Por aqui, Lovecraft e seus discípulos fazem mais sucesso que Conan Doyle. Análises científicas de comportamento de serial killers substituem os diálogos rápidos de Raymond Chandler. Que o diga a editora Dark Side, um “case” de sucesso em tempos de crise no mercado editorial. O terror é a consolidação da impotência, da falta de saída, em que o medo é o sentimento que nos une e, contraditoriamente, nos mantém isolados, porém, conectados, em permanente acesso virtual à vida.
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Voltando aos Segredos do Romance Policial, de P. D. James, ela realmente aponta alguns dos segredos, como a importância da ambientação e cenário nas narrativas de romances policiais. Em suas palavras, “Ler qualquer obra de ficção é um ato simbiótico. Nós, leitores, contribuímos com nossa imaginação para a imaginação do escritor ao entrarmos voluntariamente no seu mundo, participando da vida das pessoas que ali habitam e formando, a partir das palavras e imagens do autor, nosso próprio quadro mental de pessoas e lugares. O cenário em qualquer romance, é, portanto, um elemento importante de todo o livro.” A escritora também analisa em detalhes a composição do enredo de um romance policial: “Sinto que os suspeitos devem ser em número suficiente para alimentar o enigma, e com mais de cinco deles fica difícil se cada um for um ser humano crível — vivo e respirando –, com motivos para o crime que o leitor considere convincentes.”
Mas, ao fim, acredito no que aponta o poeta E. M. Forster, em seu Aspectos do Romance: “Somos todos como o marido de Sherazade, na medida em que queremos saber o que acontece em seguida.”


