Bárbara Aroucha's Blog

January 16, 2019

The OtherworldThe world seemed but a blur. She felt just ...

The Otherworld

The world seemed but a blur. She felt just like that, like people could not see her, not truly, not with the eye within. It was too much. People were deep into this cold and apathetic state, browsing for happiness where could not exist happiness. She knew she was on the same path, glued to a screen and aloof of any sign of vibrant life. That is why she chose to walk away. It was not easy and certainly not over night. It took her sometime to get the courage to leave - oh she was never of the bravest kind! It was a grey morning, after a sleepless night of anguish, fear and certainty. She got up and the house was quiet, as always, too quiet, as if no one lived there. She dressed slowly, peacefully. Standing in the kitchen, her eyes trying to memorize her favorite place, she reflected on how she would not eat like a normal person again - for a while, at least. No toasted bread or colorful smoohties, no steamed veggies or chocolate cake. She would definitely missed that. She didn’t eat that morning. Walking silently and empty handed, she immersed into the woods, where the sound of life rushed through her ears. Animals, water, cracks and a distant cheerful laugh. The children of the otherworld were happy to see her, to greet her. No one saw her again. She had chosen to walk into the otherworld, where time was slow and tricky, the food came from the dirt and the trees, and your only job was to dance, to laugh and to dream.
Written by @reading4cats (me) and photography by @miguel.oliveira82
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Published on January 16, 2019 13:46

Resenha - A Presuasão Feminina


(nota: o artigo tem links de afiliados)
"A Persuasão Feminina", de Meg Wolitzer -       Um retrato perfeito do idealismo de juventude e do que a vida faz para o destruir., GUARDIAN



Este é o segundo romance que leio de Meg Wolitzer e adianto já que, se gostei de “Os Interessantes”, adorei este. Seguimos a vida da brilhante Greer Kadetsky, uma jovem inteligente que vê o seu futuro cortado devido à incompetência e aparente desinteresse dos pais. Numa faculdade longe da dos seus sonhos e de ser conceituada, afastada do namorado e amargurada com o caminho que a sua vida tomou, conhece e estremece com os conceitos do feminismo. Aqui, aprende que o que mais deseja é uma vida com impacto, nomeadamente na área dos direitos das mulheres. Conhece personagens influentes e entra num mundo de fervor e paixão por ideais que ainda precisam de uma voz.
Meg tem uma escrita envolvente e importante, facilmente nos transportando para a perspectiva das mulheres num mundo (ainda) de homens. Através de uma figura jovem e de uma mais velha, mostra-nos a evolução do feminismo, dos primeiros passos à vida moderna, dos actos de ontem com os actos de hoje. Não pouco frequente oiço alguém, homem ou mulher, afirmar que o feminismo já não é relevante – reviro os olhos e perdoo, pois o conceito e os valores do feminismo estão pouco claros para a juventude (e não só!!). Este é um daqueles livros que me apaixonou pela sua história e pela veracidade das personagens – não são mulheres perfeitas, e até as feministas são, por vezes, pouco feministas. Na verdade, a sociedade ainda precisa de limar muitas arestas para este equilíbrio de igualdade e honra.
5/5 para quem gostar de personagens tão reais e imperfeitas quanto nós.
Deixo aqui o link para comprarem o livro "A Persuasão Feminina" e, se interessados, "Os Interessantes" (do qual posso falar num outro artigo, se o desejarem).
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Published on January 16, 2019 09:39

January 2, 2019

Conexão




Ela agachou-se para apanhar as pedras transparentes e coloridas, raios de luz natural pareciam reflectir ali, muito embora estava uma noite escura, sem lua. Talvez a luz viesse das pedras. Os cabelos compridos, tão escuros quanto a noite, emaranhados e com pequenas flores brancas aprisionadas ao acaso, caíam que nem uma cascata negra sobre os ombros, quase roçando o chão fofo de erva selvagem. Limpou a terra dos cristais, soprou, cheirou e lambeu timidamente. Estavam frios e húmidos. Cheiravam a terra e a algo doce. Levantou-se e os joelhos nus estalaram. Estava mais frio, mas ela continuava a sair na noite cerrada, enfrentando o frio com o mesmo vestido de sempre, herança de uma mãe há muito perdida e, infelizmente, esquecida. Esquecida por ela, que tinha apenas 4 anos quando a grande velha a levara para outro mundo. A avó dissera-lhe nos anos seguintes, que a mãe, ou a sua alma na verdade, tinha sido colhida para cumprir um novo e maior objectivo : ser a nova rainha Lua. A menina perguntava-se a si mesma se também teria essa honra um dia, mais tarde, mas, entretanto, deixava-se perder numa admiração hipnotizante, ou até obcessiva, pelo planeta luminar e os seus ciclos.
Colocou as pedras na pequena bolsa, a qual roubara ao pai, presa à cintura esguia - demasiado esguia, resmungava a avó. Afastou os cabelos finos da cara e correu campo adentro, no meio das árvores. Fazia aquilo desde sempre, conhecia cada pedra no caminho e cada tronco atravessado. Sabia quando saltar ou quando se agachar. Reconhecia e cumprimentava em silêncio cada toca de coelho ou raposa. E paráva no mesmo local, sempre no mesmo local. Uma clareira circular com uma árvore de folhas brancas no centro, uma árvore antiga e desconhecida, pulsando uma magia só escutada por alguns. Esperou que a respiração ofegante abrandasse para voltar a um ritmo brando, centrado. O pai ensinara-lhe que o controlo da respiração estava ligado ao controlo das emoções e da própria vida e, assim, ela prestava a maior das atenções à forma como o ar entrava e saia de si antes de tomar alguma decisão ou de fazer algo importante. E isto era importante. Era ali que se reunia com a mãe. Sentindo uma grande linhagem de mulheres a a abraçarem nas noites de lua nova, e a dançarem nas de lua cheia. A mãe entre elas, com a sua coroa de lua.
Colocou as pedras perto de si e sentou-se no chão. O sangue deixava-o ali, na árvore, a cada ciclo, as oferendas variavam e o que levava era o pulsar da própria mãe Terra nos seus pés, nas suas mãos e no seu peito.
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Published on January 02, 2019 12:13

January 1, 2019

Novas Oportunidades - Parte 1



            Suspirou e apanhou o cabelo comprido e fino num rabo de cavalo despreocupado. Estava desalinhado e desarrumado, devido à ventania da rua, todavia, não era algo que a preocupava muito naquele momento, nem nos últimos tempos. Havia uma pilha de roupa a lavar e outra para passar, almoços para a semana precisavam de ser adiantados, gatos a miarem com fome e um frigorífico cheio de fome. Desde que fora contratada numa empresa, para um trabalho ao qual não estava minimamente preparada, que a sua vida tinha ficado virada do avesso. Passaram três meses e ela ainda não apanhara o ritmo nem o tacto. Era caso para se dizer que tinha tido mais sorte do que conhecimento, contudo, dedicava-se da melhor forma que conseguia e o resultado era cansaço, má nutrição e uma casa de pantanas. Três meses dentro e já a empresa fora comprada, e os colegas e chefes não falavam de outra coisa há coisa de um mês, receando as mudanças que aí vinham. Sofia não se preocupava precisamente com as mudanças, pois todos os dias eram vividos com ansiedade e caos interior – o caos externo só ela, e os gatos, viam. A verdade é que até romantizava um pouco a coisa... Talvez o trabalho e tornasse mais fácil ou a nova equipa fosse mais prestável e a ajudasse mais. Ou, talvez, reflectiu, de testa franzida e enquanto colocava roupa na máquina, fossem mais inteligentes e notassem que ela não fazia ideia do que estava ali a fazer. Isso seria terrível. Precisava do dinheiro.            Alimentou os três gatos, herança do ex-namorado, e levou uma sandes e um pacote de batatas fritas para o sofá. Ligou a televisão, bebeu água e comeu com os pensamentos ainda no trabalho. Comeu mais uma sandes e empurrou tudo com água, sentindo um peso desconfortável no estômago. Provavelmente não deveria ter comido aquilo tudo tão tarde. Odiava aqueles dias em que ficava presa no trabalho, numa luta silenciosa com o programa de computador. Felizmente, a bem ou a mal, por vezes recorrendo aos colegas mais simpáticos, lá conseguia ter tudo preparado e entregue a horas. Mesmo que isso significasse chegar à meia noite a casa.             Um dos gatos, amarelo e o mais gordo dos três, o qual passara a ser só Garfield quando o namorado os deixara (ele teimava em chamar-lhe Ninja, embora a elegância jovial do gato tivesse desaparecido há muito), saltou para cima do seu colo numa de compensar as horas de solidão. Sofia relaxou automaticamente com aquele peso e ronronar e pediu, aos três, desculpa por andar tanto tempo fora de casa. Gostaria de poder ter um ritmo mais brando, talvez trabalhar a partir de casa, mas a realidade exigia, por ora, todo este caos e cansaço. Num diálogo entre humana e felinos, contou-lhes que na próxima semana teria um novo chefe e que iria arranjar coragem para lhe pedir para trabalhar em casa. Nem que fosse um dia ou dois.            A semana tanto esperada, chegou. No departamento onde trabalhava, viu as secretárias serem mudadas de sítio e os computadores ultrapassados trocados por novos, inclusive o seu. A sua secretaria, antes virada para uma estante de dossiers, tinha, agora, vista para quadros coloridos e elegantes, assim como uma iluminação mais suave e clara. Transmitia harmonia. Sofia estava precisamente a apreciar essa harmonia quando, da entrada, ouviu gargalhadas e conversas animadas. Um homem charmoso, elegante, de barba rente e sorriso perfeito falava alegremente com os que o acompanhavam, até que o grupo parou mais ou menos a meio da sala. Houve um momento de silêncio expectante e confiante, como se o homem confirmasse que todos estavam em silêncio e que ele tinha direito a esse silêncio. Acto continuo, sorriu. Sofia sentiu um nó no estômago e um peso no peito, ao mesmo tempo encantada e amedrontada. Acabou de engolir o queque de laranja, fizera uma dúzia a noite passada, e arrependeu-se de imediato, pois o homem vira o gesto pelo canto do olho e mirou-a, no mesmo segundo que começava a falar. Mastigou, com uma lentidão exagerada e de bochecha cheia, sentindo-se uma mera figurante, desinteressante e de aspecto um tanto ou nada ridículo. O homem era, como suspeitara, o novo dono da empresa, ou seja, o chefe, e de certa forma o dono, de todos eles.            A empresa, que trabalhava como apoio de edição e logística a outras empresas de comunicação, iria passar por uma transformação, explicava o novo director:            - De mero apoio vamos ser A – e frisara este “a” - empresa de comunicação. Vamos criar uma rede que vai unir vários pontos urgentes e crescentes na sociedade  e que se interligam. Meio ambiente, direitos humanos e dos animais, educação alternativa, saúde alternativa, projectos e ideias inovadoras... Para isso preciso de escritores, web designers, pensadores, filósofos, investigadores, programadores e visionários.            A velha equipa trocou olhares desesperados. Estavam habituados a trabalhar como ratos de biblioteca, sem ver muito a luz do dia, sem darem a cara, sem puxarem pela sua cabeça ou guardando as opiniões para si mesmos. Não tinham, sequer, estudado muito para trabalharem ali e ele queria que fossem tudo aquilo?            Como se lesse a pergunta nas suas mentes, continuou, sorrindo, numa voz calma e quase como se sossegasse um filho:            - Não precisam de ser génios ou de um curso. Apenas preciso que mostrem as vossas capacidades, incluindo a capacidade de desenrasque, e as vossas paixões. Para isso, vão ter um mês inteiro onde me vão provar que querem este trabalho. É muito simples. Durante esta semana, escolhem um tema, e podem pensar nisso em casa, podem pensar aqui, podem pedir opinião e ajuda à minha equipa... E, no Sábado, vou tirar o dia para estar 100% disponível para vos ouvir. Um a um, vão ter ao meu escritório para apresentar o vosso tema, - e aqui ergueu as mãos, como se varresse as preocupações que se formavam nas cabeças amedrontadas. – não precisa de ser uma apresentação elaborada, apenas quero escutar a ideia, e vejo se se adequa ou não.            Com isto, terminou com o obrigada e pediu à sua equipa para ficar e, termo usado por ele, “mingle around”. Deu meia volta para sair, mas parou, esquecendo-se de um pormenor:-       Ah, e este mês vai ser pago e todos vão receber o mesmo; e adianto já que é mais do que receberam antes.E saiu, sorrindo para Sofia ao passar por ela.
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Published on January 01, 2019 12:19

August 6, 2018

A8 - 1


Sem perceber muito bem porquê, A8 larga o jarro da experiência no meio do chão, que se estilhaça por todo o lado. Parece ter tudo ocorrido em longos minutos, muito embora se parta seja o que for numa questão de segundos. Pensava que esta noção e câmara lenta era apenas vivida nos filmes. No entanto, aqui estava ela, de olhos fixos no da instrutora, nem uma nem outra reagindo ao sucedido, sentindo o jarro no ar até chegar ao chão, a inspiração repentina da classe suspende-se. Consegue sentir a troca de olhares dos colegas, nota a quase imperceptível rigidez no maxilar da mulher à sua frente, sente o seu coração acelerar e um nó no estômago. Só depois pensa, “O que é que eu fui fazer?”., as mãos ainda no ar, como se segurassem o jarro agora perdido.

A mulher inspira, ajeita os óculos finos, passa as mãos pelos lábios pintados de vermelho e vira-se para a secretária atrás de si. A8, assim como todos os colegas, sabem o que vai fazer. Esta é Cobra, a sub-directora da escola, a que dá a cara, a que pune, a rancorosa, a ditadora. Só responde perante a directora, mais ninguém. Agarra a peça negra e oval e acaricia-a entre as mãos antes de voltar de novo para A8. Suspira. Ajeita os óculos estreitos uma vez mais, aquele tique já andava a enervar A8 há alguns meses.

- Esse, como tu bem sabes, é sangue de um Dragão Aquático. Mas, será que sabes, - a sua voz tornava-se mais ríspida e alta à medida que ia formulando a questão. - a dificuldade extrema de o arranjar?! Será que sabes as propriedades mágicas desse sangue?! Será que sabes que o único homem capaz de extrair sangue de dragões morreu há décadas e que estamos em escassez?!

Cobra aproximara-se da jovem e olhava-a do alto dos seus sapatos. A8 saiba perfeitamente que aquele corpo seco era da sua altura e só os sapatos e um feitiço de ilusão a tornavam tão grande e ameaçadora. As mãos agarravam o vestido cinzento e largo na tentativa de controlar os nervos e de os esconder da instrutora. A8 largara o jarro com o sangue de propósito, não queria fazer parte daquele “experiência”, como Cobra lhe chamava, mesquinha e surreal. Era suposto a aluna prisioneira beber o sangue e deixar que os restantes alunos treinassem os seus poderes mágicos nela, sem se privarem da sua força total, pois, ao beber o sangue, A8 seria imortal durante 7 horas.
Apenas uma pequena percentagem de toda a escola conseguia beber sangue de dragão sem morrer em agonia. Um aluno por cada grupo. Um aluno que sofria a nível físico, psicológico e emocional uma vez por semana. Claro que aquela aula só podia ser dada pela sub-directora, quem mais teria o prazer de ver um jovem em agonia durante horas?

A8 tinha vontade de lhe cuspir na cara, de lhe responder cruelmente, de lhe gritar. O medo, contudo, apertava-lhe a garganta e pesava no estômago. Inspira lentamente antes de falar, a voz a tremer:

- Peço desculpa, Cobra. Escorregou. Mas, temos um grupo muito bom a treinar para serem caçadores de dragões. Tenho a certeza que em breve vão poder encher as reservas novamente. - E torturar e extinguir mais uma raça, disse para sim, com pesar e ódio.

Cobra accionou o dispositivo na sua mão com um A e um 8 e a rapariga ajoelhou-se com um grito de dor. A marca no seu pescoço, A8, queimava-lhe a pele de forma intensa e um fogo interno apoderava-se de todo o seu corpo. Deixou-a sofrer durante 10 minutos, vendo-a agachada e a soluçar no meio do chão. Os colegas não estavam autorizados a desviar o olhar, já sabiam que, se o fizessem, mais tempo a sub-directora iria ficar ali, punindo-a. Quando, por fim, terminou a tortura, A8 foi recompondo-se aos poucos, limpando as lágrimas, a baba, acalmando os tremores e levantando-se lentamente. Era imperativo que se mantivesse de pé, direita, o mais rápido possível. A punição e a recuperação da mesma era apenas mais um treino aos olhos de Cobra. A sua respiração ofegante era o único som na sala ampla de treinos. Os lábios de Cobra curvavam-se num sorriso leve e demoníaco. O que disse a seguir espantou todos na aula:

- Acho que te vou transferir parar a classe dos caçadores de dragões, então.




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Published on August 06, 2018 04:48

December 28, 2015

3 Dias Numa cCarrinha - um apanhado do diário de bordo

     Começámos no dia 24 a abastecer com comida e água de Monchique. Era a azáfama das últimas prendas e nós, centrados no que faltava para a pequena-grande viagem. No dia 25, despedimo-nos da família e partimos, depois da hora combinada, mas a tempo de apreciar o caminho calmamente. Para quê a pressa, quando já nos encontramos em casa? Viver numa carrinha não é conceito novo, embora seja uma experiência algo assustadora e entusiasmante para quem nunca experimentou colocar conforto e o conhecido de parte. Eramos apenas três: eu, o Miguel, e a pequena Tohru, uma, talvez, Podengo, com uns cinco meses, mais coisa menos coisa. Pequenina e já com instinto de guarda, deixem-me que vos diga. Ah! Três, e a Veggie, a nossa "van" barulhenta e caótica, a qual se portou lindamente.
     O primeiro dia foi como se se tratasse de um comum passeio. Parámos para esticar as pernas, verificar o óleo, petiscar... aqueles afazeres típicos. Corria tudo calmamente. Até que, de repente, ficámos sem GPS! Na verdade, depois de um primeiro e leve choque – está bem, acho que o Miguel aqui viu-se um pouco perturbado – peguei no livro de percursos, o qual passou a viagem no meu colo. Ter palavras, descrições e um espírito leve a servirem-nos de guia tornou a viagem mais interessante e estimulante. Descobrimos passagens assustadoras, locais magníficos, caminhos confusos, História, e uma alma de aventura. Os percursos do livro não foram seguidos à risca, mas sim do avesso, pulando o que não nos interessava e explorando de forma desorganizada (o que nos agrada imenso!). Isto tornou tudo muito mais emocionante, principalmente porque me fez descortinar os percursos descritos no texto – maravilhoso para uma leitora ávida!
     Voltando ao dia 25. Com uma vontade enorme de almoçar num local bonito, lá tentei indicar o caminho para uma barragem. Já a fome apertava, passámos por São Brissos, descobrimos a pequena e bonita Anta-Capela de Nossa Senhora do Livramento e fomos até à barragem, o mais perto que as redes nos permitiam. A paisagem é, de facto, deslumbrante, com gado a pastar nas proximidades. Enfim, foi o momento de me deslumbrar e... dar meia volta e ir almoçar à beira da estrada. O que aconteceu é entre mim e o meu companheiro de viagem. Confesso, amuei um pouco com a situação. No entanto, o local onde acabámos por comer divertiu o meu lado de exploradora. Árvores e uma casa abandonada? Delicia-me. Acabou por compensar. E tanto vi a barragem – já vos disse que é deslumbrante?, como uma casa velha no meio do mato. É preciso confiar nos percalços da vida.
    Por fim, ao anoitecer, pelas 17h, talvez, chegámos à Barragem do Maranhão, onde passámos a primeira noite. O local é maravilhoso, tanto ao anoitecer, quanto ao amanhecer. Tirámos fotografias, namorámos, explorámos, fizemos o jantar e deixámos que a noite e a realização de que iríamos dormir em breve assentasse. Dormi que nem um anjinho, assim que pus os receios de lado e me aconcheguei debaixo das mantas. Não é possível descrever-vos a sensação de dormir numa carrinha, sem ninguém por perto, apenas com o eco dos patos e outros animais. Foi como se nos conectássemos à natureza, sem distracções como a internet ou a televisão. Aliás, durante os três dias mantemo-nos o mais possível afastados das redes. A confiança e serenidade do Miguel permitiram-me afastar os meus próprios medos. É engraçado como a nossa mente nos limita e controla, influenciada pelas histórias assustadoras que a media nos alimenta, através de notícias, filmes e outros meios, constantes no dia-a-dia. Ainda bem que fui capaz de relaxar e focar-me na experiência, para lá do medo. Uma sensação de liberdade nómada apoderou-se.
     Amanhecer na barragem foi das melhores experiências. Sozinhos, vimos o sol nascer, os animais a acordar e a confiança própria da Natureza. Segue o seu ritmo e simplesmente é. Nós imitámos e fomos até à nossa essência, estando simplesmente. O frio não nos impediu de explorar um pouco do longo percurso pedestre, levando oxigénio puro e perfumado até aos pulmões. As manhãs são o meu momento preferido, ainda mais quando acordo com naturalidade e agraciada com a banda sonora natural do ambiente. Chegamos, então, ao segundo dia. Depois de Maranhão, visitámos Avis, uma vila histórica muito agradável, e Fronteira. De seguida, voltámos para baixo, perto de São Brissos mais uma vez. Andámos enfiados entre árvores e vasta vegetação, em busca do Cromeleque dos Almendres. Por mais placas que tenhamos seguido, deixámos de encontrar caminho certo e desistimos da busca. Em vez disso, encontrámos medronhos, para delícia do meu namorado. Satisfeitos e com o sol a descer rapidamente, voltámos para a Veggiee pegámos no livro. Havia outro caminho até aos menires. E foi desta! Com facilidade, através de Guadalupe, encontrámos o cromeleque. A Tohru seguiu-nos, atenta a cada transeunte, enquanto explorávamos cada monólito ao fim do dia. O seu mistério foi perturbado por um senhor, já com uma certa idade, que queria veemente vender o ser livro aos turistas. Lá perseguia este e aquele, de bengala numa mão e livro noutra. Já escuro, enfiámo-nos na nossa casa ambulante e seguimos para Alvito, esperando dar com um local seguro para pernoitar.
     Bem que eu queria um sítio tão bonito quanto a primeira noite, e lá o Miguel, com aquela paciência e dedicação que só ele tem para me aturar, andou às voltas com a carrinha. Ao todo, acho que entrámos em Alvito umas quatro vezes, se não estou em erro. Andámos por estradas escuras e demos com lugares tenebrosos, mas nada de barragens deslumbrantes ou árvores encantadoras. Lá estacionámos, e dormimos, num parque com pouco movimento. Conhecemos a vila de carro, tanta volta demos. Acolhedora, de estilo manuelino. Só foi pena os caçadores, que encontrámos a caminho e ouvimos pela manhã. Esses foram os momentos tristes da viagem, sem dúvida. Caça e animais mortos, tanto na estrada como pela mão do homem.
     Era o terceiro e último dia e, por isso, assim que amanheceu, partimos. Procurámos as barragens que não encontrámos durante a noite – demos com uma, não faço ideia se era a que procurávamos. Passámos sobre uma interessante e valiosa ponte romana com modificações visigóticas e muçulmanas, onde também conhecemos um simpático cão pastor. Sim, fiquei com vontade de o trazer para casa. Passámos por Vila Alva, Vila Ruiva e visitámos as ruínas da villa de São Cucufate. Se não fosse o livro no meu colo, companheiro assíduo, não daríamos com esta construção romana de dois pisos, cujas ruínas estão, ainda, bem identificáveis. Adorámos. E, como cereja no topo do bolo, uma linda gata permitiu que a mimássemos na chegada e na partida.      Entre acenos a agricultores, percalços em estradas, curtas paragens, gargalhadas e cansaço, voltámos ao Algarve. O resto da viagem foi com fome e ânsia para esticar o corpo. Agora, estamos de regresso à rotina. Há trabalho para pôr em dia, pois as férias servem mesmo para o atrasar, certo? Há desafios a vencer e problemas a solucionar. Mas quem dorme numa van com sonhos e confiança no coração, abre-se aos milagres e é capaz de tudo. E daqui a uns dias há mais.
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Published on December 28, 2015 15:17

March 11, 2015

Pausa


 

É exaustivo tentar ser sempre melhor. O que, afinal, se espera de todo nós: melhorarmos a cada dia que passa. Seja na carreira, passatempos a que nos dedicamos, no estudo, na nossa personalidade e, até, na aparência exterior. Por vezes, tenho a sensação de ir atrás daquilo que não sou, nem desejo ser, contudo, forço e sigo o caminho com o rótulo digno de admiração externa. Talvez até possa resultar, durante algum tempo. Já aprendi que nada dura. Nada. Efémero é sinónimo de vida, pelo menos neste lado tangível que conhecemos de imediato, neste plano físico e irrefutável. Quando o que temos desaparece, ora repentinamente ora levando o seu tempo, lá vamos nós, na busca do mesmo ou algo melhor, que o substitua. Sei, todavia, que quando tinha aquilo, seja um objecto, uma pessoa – se é que se possa possuir alguém -, ou até uma ideia ou característica, permanecia numa busca inquieta, procurava algo ainda melhor. Provavelmente, nem sabia o que procurava, mas sabia que alguma coisa me faltava. Que canseira. Chega uma altura em que o corpo desliga. Só resta energia suficiente para respirar e sobreviver mais um dia. Reflicto no meu caminho, nos meus passos incertos e nas minhas escolhas mais ou menos espontâneas. Sou obrigada a parar, por fim, pois estou tão cansada e perdida. Nestas alturas vou até à profundidade do meu ser e só volto à superfície quando entro numa aceitação absoluta. Aceito-me, aceito a minha jornada até então, aceito o presente. Aliás, aproximo-me do momento presente como há muito não o fazia: sem expectativas futuras, nem queixumes passados. Acabam-se os desejos irreais. Aqueles que valorizam o outro e esquecem o próprio, sabem? Desejar a expressão dela, a pela suave da outra, e o corpo daquela; a força dele e a paixão do outro; a elegância de uma actriz de outros tempos, a popularidade deles; a relação que eles parecem ter…Esqueço completamente quem sou – se é que alguma vez o soube – e transformo-me numa massa disforme que aglomera um vasto leque de características alheias. Esqueço que sou o suficiente. Assim como cada um de vocês, mais do que suficiente, é merecedor de Ser e Viver. Não precisam de tudo aquilo que desejam ou vos mostram ser necessário para serem e estarem no mundo. É difícil explicar esta noção de ser suficiente, completo, quando passamos a vida a tentar ser mais, alcançar mais, subir nos patamares dispostos perante nós assim que nascemos. Não admira que estejamos tão cansados. Exaustos!Experimentem. Fechem os olhos e distanciem-se de tudo o que é estimulo externo. Inspira até às profundezas do teu ser e vê o que surge, a calma por detrás do ruído constante. Incrível… o mundo não acabou por pararmos, pois não? Acho que está na altura de relaxar e exigir menos de nós, sabendo que lidamos com a vida – essa coisa que nos acontece, cheia de altos e baixos, repleta das mais diversas experiências – o melhor que conseguimos, nesse preciso momento em que nos acontece. Cada um através da sua história, que nos marca e molda, aprendendo e desaprendendo. 

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Published on March 11, 2015 07:35

March 1, 2015

Words.


No one should claim your body.No one should have the power to make you a slave. There’s a lot of bad around the world. People being abused, violated. Don’t let violence perpetuate, don’t let the invisible wounds drown your flame. Words.Careless, vile words.They’re like weapons that cut you open and leave an invisible bleeding wound. Fat, skinny, dumb, stupid, ugly, whore, weak… Not only fired by others, but by our own disturbing and confused mind."I am fat.""I am not enough."Messages craved in our subconscious; messages that will pass through generations.False messages. Absorbed by everyone who’s listen.Specially by the little ones. – They listen!And if those they love most are not good enough –Who am I to be?Words. Don’t you understand? They do have power.Words have a power that resonate through energy waves, discretely sinking in.Be aware of what you say.For others, who might struggle with severe low self-esteem –You’re not enough; therefore I’m not enough.For you, the only one that can change the message craved inside –I am enough. I am beautiful. I am strong. I deserve happiness. For the little ones – They listen!
image credit mortgraphics
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Published on March 01, 2015 08:58

February 12, 2015

A Escola do Bem e do Mal by Soman ChainaniMy rating: 4 of...

A Escola do Bem e do Mal (The School for Good and Evil, #1) A Escola do Bem e do Mal by Soman Chainani

My rating: 4 of 5 stars


É óbvio que eu vou gostar de um conto de fadas que não precisa de príncipes.



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Published on February 12, 2015 10:03

February 11, 2015

O Positivismo Maçador



Há alturas em que, por uma razão ou outra, nos sentimos derrotados, tristes, desapontados, magoados, revoltados… Devemos dar a volta por cima, claro, aprender com a situação, nem que não seja a perceber que a vida tem os seus altos e baixos, e isso não significa o fim do mundo. Contudo, nestas alturas de maior impacto, quando a coisa está ainda fresca, por assim dizer, não há positivismo que o valha. Pelo menos, para alguns de nós. O que ajuda a curar, a dar a volta para cima, não é alguém que traga à baila assunto relacionado com o tomar uma atitude positiva e pôr um sorriso na cara, pois tudo vai ficar bem. Por mais bem-intencionados que sejam, e eu já fui uma delas, a última coisa que desejo ouvir é os meus próprios conselhos, pois já os sei. Só me apetece resmungar “Eu sei que vai ficar tudo bem! Mas, eu estou triste, AGORA, não depois!”. Enfim, esqueçam a seca da boa energia e, por favor, ajudem-me a nadar para fora do mar revolto, atravessando-o devagar e com cautela, não através da onda forte que passa por cima de mim e atira-me, com certa violência, para fora. Dêem-me a mão e sejam companheiros sensíveis, presenças desprovidas de tácticas teóricas e/ou filosóficas, mas que irradiam, brilhantes, o outro aspecto da vida. Eu vou lá ter, a esse outro lado, prometo. No entanto, e no entretanto, ajudem-me apenas a perceber que não há problema em permanecer debaixo de água, só alguns instantes, e que a travessia é sempre possível.   

image source: IconRiot 
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Published on February 11, 2015 07:45