fardo

a casa escura, os pais dormiam, ela gostava deles assim


dormindo, lhe davam paz e ao mesmo tempo não estavam mortos.


acordada sua mãe falava alto, seu pai


fazia perguntas, você foi na lotérica? pagou a conta de luz?


e a cabeça dela querendo


apenas ser


casulo, o pescoço querendo o silêncio de uma floresta


já que o silêncio completo não existe, nunca atingimos o nível máximo de nada, nem do amor, nem da permanência, mas o som de uma floresta parece calmo o bastante, o som do vento encostando


nas folhas, nos pelos. ela deslizou


pelo escuro da sala


de all star e ainda morando


com a dona Neusa e com o seu


Adelino sempre tão conhecidos na feira de sábado não acredito


que sou filha dos meus pais.


daqui a pouco


eles estariam tão velhos que


ela não poderia mais


ir embora, teria que ficar


de enfermeira, sempre alguma coisa, algum trabalho que ela precisava fazer. também não tinha namorado


ou roupa preferida, encostou a porta do quarto, tinha livros, no entanto se houvesse um incêndio ela não choraria por nenhum.


 


não ter nada


 


era pra deixar seu corpo mais leve na cama, pois acontecia justamente o contrário, ela colocou a mão no rosto


com angústia, com vontade de


trocar de vida, deve ter alguma porta, deve ter


tanto mundo que nós humanos não enxergamos e que uma pomba por exemplo


enxerga, de repente ela percebe


o rosto da mãe na penumbra, toma um Susto


a dona Neusa pede desculpas, queria saber se você tinha chegado bem ao mesmo tempo que se ofende olha aqui, Marina, eu não sou nenhum fantasma.

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Published on December 12, 2018 10:24
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Aline Bei's Blog

Aline Bei
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