in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 9
NOVEMaria acordara com pouco mais de cinco horas de sono, preparada para enfrentar o dia como se fosse para uma batalha. Quando a acordara Maeve avisara-a que os primos tinham decidido que naquela quarta-feira no final das aulas seguiam para Yggdrasil. Não confessava, mas preferia estar onde sentia a presença de Rhenan, a sua casa passara a ser somente um ponto de passagem. - Muito cedo para pensares nele. – sacudia a cabeça falando para o ar - Hum que cheirinho bom de café. Mas esta malta não dorme? – sorria animada enquanto descia as escadas.A porta da cozinha estava aberta, Fionn fritava bacon.- Bom dia, - Maria estendeu-lhe a mão para o cumprimentar - parece-me que ainda não fomos apresentados, é o novo cozinheiro?Observava-a atónito. - Cozinheiro? Estás a falar comigo?Tirou-lhe o prato das mãos sentando-se no banco corrido perto da janela, começando a comer. - Mulher! Não sou cozinheiro de ninguém e esse bacon é meu.- Era! Se me passasses uma caneca com café e leite ficava-te muito agradecida.Fionn estava divertido por ver que a disposição de Maria melhorara, resolvendo entrar no jogo. - A senhora deseja mais alguma coisa? - Duas fatias de pão barradas com manteiga.- Mais alguma coisa?- Para já não. Fionn entregou-lhe a caneca e o pão sem reclamar, puxando uma cadeira para perto dela. - Sabes, o meu irmão não está cá e a vingança é tramada. – enquanto falava tentava roubar-lhe bacon, sem sucesso.- Pois, pois. - já não lhe chegava ter de andar com os olhos bem abertos com as Fadas e as Sombras, ainda tinha aquele ancião desbocado com que se preocupar.Fionn recostara-se para trás bebericando o café sem tirar os olhos de Maria que o olhava desconfiada.- Bom dia Maria! Bom dia sapo! – Maeve entrava na cozinha a apanhar o cabelo.- Não é decididamente o meu dia. – Fionn levantou-se para fritar mais bacon e ovos.- Pronta para as aulas?- Não me posso esquecer de passar na biblioteca para fazer uma consulta, penso lá ficar no máximo duas horas, onde nos encontramos?- Na estátua do Lecky às quatro horas.- Onde vais almoçar?- Vou com o Sergiu, ainda não sabemos onde. - piscou-lhe o olho. Fionn escutava com muita atenção o que diziam - Mas lá estarei, à hora combinada.Continuaram a fazer conversa fiada sobre os professores. Estavam de acordo no que respeitava a terem enlouquecido enviando trabalhos com pesquisa para quase todas as cadeiras. O que implicava muito trabalho e pouco tempo. Maria levantou-se colocando a loiça suja na máquina. Preparou uma sandes para levar, tinha tempo para a comer no percurso entre a sala de aulas e a biblioteca. Andava a comer pouco e mal. Perdera peso desde a partida de Rhenan, já notava na roupa, tinha de os recuperar antes de regressar. Se aparecesse em Lisboa tão magra, a mãe interrogá-la-ia e desconfiada como era ainda regressava com ela. E isso é que não podia acontecer.Pensava se Rhenan, voltaria a tempo de se despedir. - Vamos? – Eoghan espreitou para o interior da cozinha sorrindo-lhes.Fionn engoliu o que acabara de colocar no prato empurrando com café.- Tens razão, não pareces um sapo, pareces mais um hamster, limpa a boca que estás cheio de ovo. – Maeve não poupava o primo.Maria sentia-se culpada por lhe ter roubado o prato obrigando-o a engolir o segundo pequeno-almoço que preparara. Fionn ameaçava-a com o dedo lembrando-a que a culpa era dela. - Não tenho medo de ti Fionn. – esticava-lhe um guardanapo de papel. Saíram de casa com Fionn a accionar o alarme e a trancar a porta. Maria foi a primeira a sair da sala, despedindo-se de Sergiu que já esperava Maeve. Gostava dele apesar de saber muito pouco a seu respeito. Não podia perder tempo, fizera uma lista do que necessitava acelerando o passo enquanto mordiscava a sandes. O pior seria tirar cópias, demorava sempre uma eternidade. Não se podia atrasar ou Maeve entrava em pânico e não a podia censurar.Não conseguia deixar de pensar na importância dos dragões na vida dos MacCumhaill, mas não queria perguntar-lhes sem ter nenhum motivo concreto para o fazer, para além da sua curiosidade. Na biblioteca necessitaria da ajuda de alguém que estivesse habituado a lidar com aqueles livros e lhe indicasse o local onde encontrar a informação que procurava.Ali encontrava-se a mais antiga harpa da Irlanda, que diziam ter o poder de acalmar monstros. Talvez fosse um bom começo se a pudesse levar emprestada, depois só tinha de aprender a tocar e em vez de manejar armas como a Buffy tornava o Clã numa renovada versão da família Von Trapp.Felizmente, a bibliotecária não estranhara o pedido. Aparentemente não era a única louca a fazer requisições estranhas. Aliás, num país tão místico, qualquer pedido como o dela devia ser muito bem acatado.A mulher encaminhou-a para uma secção de onde retirou alguns livros empoeirados, pelo aspecto não deviam ser manuseados há bastantes anos, possivelmente desde que os autores os tinham escrito. Dragões não deviam ser um dos temas mais requisitados.Não tinha tempo para os ler todos e não convinha distrair-se com as horas, ou ainda matava os MacCumhaill do coração. Infelizmente não podia levar aqueles exemplares com ela. Tirou apontamentos de algumas passagens que considerou poderem vir a ser uteis, apesar de não saber concretamente o que procurava. Felizmente não se esquecera de levar o computador, mais tarde faria uma pesquisa mais vasta na internet. Ficara a saber que os Dragões eram guardiões de tesouros enterrados, depositários do conhecimento esotérico, governados por uma mulher, ressuscitavam os mortos desde que os seus ossos estivessem intactos e quem bebesse do seu sangue criava um laço com o Dragão tornando-se imortal. Olhou para o relógio, já não tinha muito tempo, felizmente a fila para as fotocópias não estava demorada pelo que decidiu esperar. Antes de sair entregou os livros à bibliotecária que de tão imóvel, parecia um dos inúmeros bustos dispersos ao longo do corredor. Saiu a correr. Levava material suficiente para os trabalhos de casa. Chegara antes de Maeve, tirou o resto da sandes comendo-a enquanto esperava.- Vais para casa? - Rita aproximara-se e vinha sozinha. Maria decidira nunca falar sobre o que acontecera com a amiga em Yggdrasil, agia como se não soubesse de nada. Havia coisas sobre as quais não necessitavam conversar e aquela era uma delas. Rita procedia da mesma maneira, nunca lhe perguntando porque passava mais tempo em Yggdrasil do que em casa. Apesar dos pais optarem por ligar-lhes para os telemóveis, na eventualidade de telefonarem para o número fixo, encobrir-se-iam. - Vou para Yggdrasil.- Ficas lá o resto da semana?- E no fim-de-semana. Precisas de alguma coisa?- Não! Mas estava a pensar levar o Pedro e um casal nosso amigo lá para casa. Vês algum inconveniente? - Nenhum, desde que não durmam no meu quarto ou no da Maeve. - Podes ficar descansada.- Antes que me esqueça, deixei-te dinheiro debaixo do telefone. Esta semana é a tua vez de ires às compras. Se te lembrares, compra-me mais gel de banho e queijo. Podes telefonar-me a qualquer hora, o meu telemóvel fica sempre ligado.- Não te preocupes. E em relação à comida ainda temos muita.- O Eoghan e o Fionn dormiram lá a noite passada e acabámos a lasanha. Deixei tudo arrumado, só não lavei a loiça, ficou dentro da máquina.- Então não te importas?- Claro que não! - Estamos à espera da Maeve? - Rita sorriu-lhe agradecida. - Sim. - Estou a vê-la. - Onde? – Maria tinha a certeza que não se enganara, tinham combinado encontrar-se naquele local.- Está a acenar-nos da porta principal. Vamos.Aceleraram o passo não queriam perder a camioneta senão teriam de esperar quinze minutos até passar outra. Saíram duas paragens antes para comprar bolos para o lanche.Quando entraram em casa Eoghan e Fionn ainda não tinham chegado, sentaram-se no sofá colocando os pés em cima da mesa enquanto comiam. Já tinham deixado as malas à porta, Maria decidira levar mais roupas. Pedro tocou à campainha ao mesmo tempo que Fionn parava à porta buzinando. Observando atentamente o homem que entrava, sabia que era um colega, possivelmente o novo companheiro de Rita. Sorria divertido ao recordar a pouca sorte do irmão.Maeve e Maria saíram de casa carregando as pesadas malas.- Podias dar uma ajudinha ou estás cansado de não fazer nada? – Maeve fulminava-o com o olhar.Fionn sorriu-lhe continuando sentado, limitando-se a pressionar o botão que abria o porta-bagagens. Maria observava-o divertida, sabia que Fionn fazia de propósito para irritar a prima.– Lesma! – Maeve atirou com força a mala para dentro do carro.- Com jeitinho princesa, se o Eoghan sabe como tratas o carro dele é capaz de não gostar.- Importas-te que vá à frente com o Fionn? - Maria tentou acalmar os ânimos.- Até te agradeço, antes que mate esta besta.Fionn divertido piscou o olho a Maria enquanto Maeve se sentava no banco de trás, olhando através da janela. Maria mal conseguia conter a felicidade que sentia por regressar a Yggdrasil. Se lhe dissessem que no dia que Rita a arrastara contra a sua vontade para aquela casa a sua vida mudaria, não acreditaria. A verdade é que o seu coração já morava naquele lugar.Na rádio tocava “Demons” dos Imagine Dragons, parecia que lhe tinham lido o pensamento.As férias de Natal aproximavam-se a passos largos. O pai até já lhe enviara o bilhete electrónico para o email. Continuava com a esperança de ver Rhenan antes de partir.Ficaria duas longas semanas em Lisboa, o tempo suficiente para matar saudades dos amigos, da família e da comida da sua avó Lena.Sentia saudades de coisas básicas como pastéis de bacalhau, croquetes, pastéis de nata, bolas de Berlim, pataniscas, o bacalhau com natas da mãe, entre tantas outras iguarias tradicionais do Natal em sua casa. Lembrar-se, abria-lhe o apetite, mas mesmo que começasse a comer mais já não tinha tempo para recuperar o peso que perdera. A mãe repararia mal colocasse os olhos nela e não deixaria passar.Tinha mesmo de comprar roupas novas, as calças já nem com o cinto bem apertado se aguentavam. Fionn trauteava as músicas que iam passando na rádio, com Maeve a resmungar entredentes no banco de trás. Maria encostou a cabeça admirando a paisagem que a continuava a fascinar como se aquele lugar tivesse sempre feito parte da sua vida.
Published on March 25, 2020 03:00
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