M. Barreto Condado's Blog

July 24, 2020

ARAUTOS DA MORTE, de MBarreto Condado

Os Arautos podem ter as mais diversas formas, podem ser alguém nosso conhecido, podem ser família.Como os reconhecemos?Por norma, são seres amargurados, depressivos, insatisfeitos, mal-amados, agiotas, mentirosos, falsos, rancorosos, de memória curta e selectiva, casos perdidos de solidão interior.Ocupam o seu tempo das mais variadas maneiras, sempre numa tentativa de colmatar os buracos da sua fragilizada alma.Os anos que deviam dar-lhes sabedoria e gratidão, transformam-se em enfado e contrariedade.Tornam-se ásperos na sua ânsia de conseguir o que nunca tiveram, destratam quem sempre os estimou, acarinhou, aceitou como são.E quando a mente amargurada, escurece e preparam o derradeiro golpe, não entendem que o que tanto desejam os perseguirá para além da morte.Quando não tiverem a seu lado, a alma responsável pelas suas existências, nesse momento, entenderão que a Morte pela qual ansiavam, lhes levou a base de toda a sua sustentação e a vida como a queriam, deixa de fazer sentido.E aquele buraco negro do qual julgavam ter saído, vai-se alargando até ao dia em que serão Arautos da própria Morte, entregues aos mesmos cuidados que em tempos proporcionaram, será nesse momento que sentirão na pele, nos seus derradeiros instantes, o vazio, o abandono, a tristeza de estarem sós.
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Published on July 24, 2020 07:29

May 3, 2020

A CASA

“Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência”
No momento, em que a quarentena nos começa a afectar mais do que esperávamos e as palavras se tornam no nosso último refúgio.Quando Vinicius de Moraes escreveu a letra de “A Casa”, não sabia o quanto me ia ajudar neste dia da mãe, finalmente percebo que a quarentena não só me tornou uma pessoa mais atenta ao que me rodeia como me faz pensar na actualidade das suas palavras.A verdade é que vivo rodeada por duas casas. Sim, leram bem, duas casas.E azar dos azares, a única que fica paredes meias comigo é segundo as próprias palavras de Vinicius: “Era uma casa, muito engraçada, não tinha tecto, não tinha nada,…”, porém,  verdade seja dita, tecto tem.“Ninguém podia entrar nela, não. Porque na casa não tinha chão,…” o tipo de chão que tem não sei mas asseguro que tem alcatifa de merda e mijo de cão, que esporadicamente é lavada à mangueirada para a minha porta, qual requintado tapete de tear. Se lá podem lá entrar ou não, a família vejo entrar, ainda que de galochas de cano alto. Quanto ao sentido olfactivo, digamos que há quem goste de Rive Gauche e quem eleja Alheira digerida.“Ninguém podia dormir na rede, porque na casa não tinha parede,…” essas posso quase garantir que tem, porque, verdade seja dita, os manos Neandertal podem não saber utilizar os talheres, mas aprenderam habilmente a usar martelos.“Ninguém podia fazer pipi, porque penico não tinha ali,…” nesta estrofe é que a porca torce o rabo. E utilizo o pobre suíno numa fraca comparação com os verdadeiros porcos. A verdade é que não têm penico, felizmente para mim, caso contrário em vez de me correrem rios de merda à porta, com investidas pelas duas frentes, era certo que esta voaria. “Mas era feita com muito esmero,…” disso ninguém duvide, porque lá martelar eles martelam e em falta de material vai mesmo com os cornos.“Na Rua dos Bobos, número zero.”, não lhes chamaria bobos. Inclino-me mais para ignóbeis, grosseiros, asnos, fúteis, num bom dia talvez sejam somente mal-informados, frutos da educação que evidentemente lhes falta. Neste ponto gostaria de mostrar o meu apreço à instituição do ensino obrigatório para lá da quarta classe. Mas é evidente que os manos também têm as suas “qualidades”. O mais velho por exemplo, consegue a proeza de beber mais cerveja do que um camelo no deserto, mantendo-se permanentemente em estado semicomatoso. A forma que encontrou para conseguir asilo na casa matriarcal, engolir os sapos de pernas abertas, que a querida mãe lhe cozinha numa base diária. Dieta que ouviu num programa matutino e que faz questão de aplicar de duas em duas horas. Verdade seja dita, o imberbe mantém-se hirsuto como um caniço. Quanto ao mais novo, a mãe queria uma filha daí o trauma de viver com o nome de miúda, é, porém, um ás na declamação do alfabeto gasoso e de um só travo. Se nos seus vinte e tal anos de vida tem continuado os estudos, sem a ajuda parcamente monetária do seu progenitor, a declamação com ar de regozijo da tabuada gasosa seria a sua segunda proeza conquistadora.



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Published on May 03, 2020 04:27

April 10, 2020

in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 25


VINTE E CINCO

Maria abriu os olhos reparando num tabuleiro com comida pousado na mesa à frente da cama. Sentou-se espreguiçando-se. Rhenan uma vez mais levantara-se, saindo do quarto sem que se apercebesse. O delicioso odor fê-la levantar-se. Comeu os ovos mexidos com queijo e pão de passas, bebendo o café com leite ainda quente, exactamente como gostava. Podia facilmente habituar-se àquelas mordomias, com a avó tinha sempre aqueles mimos. Naquele dia estava decidida a descobrir onde se escondiam os homens.Um suave bater na porta e Maeve espreitava.- Podemos entrar?- Tu e quem? – Maria olhava divertida.- Nós! - Deirdre entrou seguida da irmã, muito bem vestidas envergando as cores do Clã, maquilhadas e com jóias belíssimas.- Estão lindas. - Maria saltou da cama fascinada com a beleza daquelas mulheres - Esqueci-me de alguma coisa? Alguém faz anos?- Hoje, é realmente um dia muito especial. - Freya soava misteriosa observando-a com os olhos a brilhar. Maria começava a ficar nervosa com elas paradas à sua frente.Maeve abriu os pesados cortinados, brilhava um sol maravilhoso. - Já viste que dia lindo?- Que horas são? - Passa pouco das oito.- Oito? Não é um bocado cedo para estarem todas aperaltadas?- Hoje não! – Deirdre sorria.- Os vossos casacos têm a cor do Clã.- Só os usamos em acontecimentos importantes e felizmente hoje é um desses dias. Maria não aguentava tanta felicidade, podia jurar que ouvira Freya cantarolar, começavam a assustá-la. Levantou-se entrando na casa de banho. Demorou o dobro do tempo, lavou o cabelo com o shampoo com um delicioso odor a maçãs verdes, colocou gel no corpo, aproveitando para usar o máximo dos produtos de beleza que Maeve fizera tanta questão em oferecer-lhe.Maeve espreitou quando colocava óleo no corpo.- Despacha-te! Estás aí há uma hora.- Não me disseste que tínhamos o tempo contado.- E não temos, mas era bom se te despachasses enquanto há sol.Saiu embrulhada numa toalha com o cabelo molhado a pingar-lhe as costas, odiava sentir-se pressionada.- Deixa-me secar-te o cabelo.- Maeve larga-me, - afastou-se dela – ainda me consigo vestir sozinha. Mas afinal onde vamos?- É surpresa. - Para quem?- Para ti.- Para mim? - as mãos suavam, odiava surpresas - A Freya e a tua mãe?- Pedi-lhes para saírem estavam insuportáveis. - Estás a querer dizer-me que estás melhor?- Eu sou a calma personificada. Agora vê lá se aceleras antes que me dê um ataque de coração.- Tens razão, mais calma é impossível.Secou o cabelo enquanto Maeve andava impaciente pelo quarto, olhando através da janela, bufando. Era a primeira vez que a via assim.- Pára de sorrir Maria, estou a ver-te e sei que estás a fazer de propósito. O cabelo está excelente agora veste-te.- Não posso acreditar, também me escolheste a roupa?- Sim! Vais levar este vestido branco com esta lingerie. - Onde é que desencantaste o vestido? - Mas consegues fazer alguma coisa, sem ser preciso explicar?- Caso ainda não tenhas percebido não costumo usar vestidos e muito menos roupa interior como essa. – não se lembrava de ter comprado aquela lingerie, mas desconfiava que Maeve o fizera por ela - Para vestir isso mais vale ir nua.- Então vai, mas veste-te de uma vez.Maeve continuava a caminhar impaciente. Antes que tivesse um ataque de ansiedade Maria fez o que lhe pedia, admirando-se ao espelho sem se reconhecer. Maeve saltava como uma criança com uma boneca nova, abraçando-a. - Estás deslumbrante!Sentia-se como Maeve a via, resplandecente. O vestido era lindíssimo e parecia ter sido feito à sua medida. Branco pérola de corte direito até aos pés, as mangas ajustadas aos braços. Um par de sapatos do mesmo tom estavam pousados em cima da cama.- São para ti, oferta da minha mãe.- São lindíssimos, mas salto alto? Devias ter avisado a tua mãe que não me dou com saltos.- Diz-lhe tu!Maria torceu o nariz, tinha mesmo de agradecer e fazer um esforço para não cair.- Experimenta-os. – tinha finalmente conseguido calá-la.Maria calçou-os e apesar de terem salto davam-lhe um andar fantástico. Maeve ajudou-a a fazer uma maquilhagem muito suave em tons pastel realçando-lhe os olhos castanhos. Fez-lhe uma trança larga prendendo-lhe flores de jasmim a todo o comprimento. - Estás maravilhosa! - as lágrimas brilhavam nos seus olhos azuis. - É como me sinto, mas não me faças chorar ou estrago-te o trabalho.- São lágrimas de felicidade. - Eu sei, mesmo assim. – voltou a cabeça para observar o que Maeve lhe fizera ao cabelo – Adoro o penteado.- As flores são jasmim representam aquilo que és, luz. E vão dar-te amor e prosperidade. Freya e Deirdre observavam-na da porta emocionadas. - Estás linda. – Freya avançou para o interior do quarto - Quando o meu filho te vir… – ria-se divertida.- Fazes lembrar-me alguém. – Deirdre beijou Maria sorrindo para a irmã.- Começam a assustar-me, podem dizer-me onde vamos? Maeve empurrou Maria para fora do quarto seguida da mãe e da tia.Caminhavam em silêncio.  Ao cimo da escadaria Maria olhou para baixo ficando sem ar ao ver Lochan envergando kilt, com o cabelo revolto e os olhos a brilhar, sorrindo-lhe em sinal de aprovação. Desceu ao seu encontro. Lochan não conseguia parar de lhe sorrir estendendo-lhe a mão para a ajudar a descer os últimos degraus.- É hoje que te roubo ao meu irmão. És uma visão do paraíso. – admirava-a. Freya bateu ao de leve no ombro do filho trazendo-o de volta à realidade. Maria sorria, sentindo o rosto aquecer.   – Dás-me a honra de te levar? -  deu o braço a Maria.- Não sei para onde me levas, mas adoraria ir contigo. - estendeu a mão tomando-lhe o braço sem reparar na felicidade das mulheres - Estás fantástico, mas não deixes que a tua mãe nos ouça. - sussurrou-lhe.Lochan sorriu-lhe, pousando a mão livre sobre a que Maria mantinha no seu braço.Contornaram a casa seguidos por Maeve, Freya e Deirdre.- Sabes que tens umas pernas jeitosas?- Infelizmente é um drama para nós homens do Clã, somos lindos e bem feitos. – Lochan tentava manter um ar sério, mas não conseguiu evitar rir. - Esqueceste-te de humildes. – Maria continuava a achar que se iam fazer um picnic no jardim da propriedade, não era necessário irem tão bem vestidos – Onde vamos?- Se tiveres paciência descobres por ti mesma.Estavam perto do lago.- Chegámos! – Lochan sorria ao ver a cara do irmão, o modo como olhava para Maria.Eoghan e Fionn trocaram um ar cúmplice deliciados com a reacção de Rhenan quando Maria aparecera pelo braço do irmão.Parou boquiaberta com a imagem que se deparava à sua frente.Perto da água, tinha sido construída uma pérgula em Freixo entrançado com flores de jasmim a fecharem-na, conferindo-lhe uma sombra perfeita e um odor deslumbrante, naquele estranho e quente dia de Primavera. Maria sentia o calor do olhar de Rhenan, um misto de fascínio e desejo. Envergando kilt como os irmãos que o ladeavam, parecia um Deus. Compreendia finalmente o motivo do desaparecimento dos homens, estavam a preparar tudo para tornar aquele dia perfeito. O dia do seu casamento. - Se quiseres fugir ainda estás a tempo. – Lochan sussurrou-lhe ao ouvido olhando para o irmão com um sorriso matreiro.- Quero que me leves ao teu irmão. - apertou-lhe o braço olhando para ele emocionada - Obrigada por seres tu a entregar-me, não podia ser outra pessoa. – colocou-se em bicos dos pés beijando-o nos lábios.- Obrigado por o fazeres tão feliz. Maria sentia-se a personagem principal de uma história de encantar. Os irmãos juntos eram uma visão deslumbrante, altos, o mesmo cabelo escuro e os olhos de um azul que derretia. Não desviava os olhos de Rhenan, conseguia sentir a sua emoção, o desejo nos seus olhos. Imaginara-o de kilt, mas nem nos seus melhores sonhos o vira tão sedutor e irresistível. Queria atirar-se nos seus braços e jurar-lhe amor eterno, mas ainda tinha de chegar perto dele sem tropeçar. Lochan segurava-a firmemente sorrindo para o irmão, beijando-a antes de a entregar. - É toda tua, mano!Rhenan esticou-lhe o braço num cumprimento de guerreiros, sem tirar os olhos de Maria. - Go raibh maith agat deartháir!- Que assim seja! – Maria ouviu-se dizer aquelas palavras que a família repetia.Rhenan abraçou-a, beijando-a, selando a promessa que lhe fazia.Os irmãos gritavam de felicidade rodeando-os. Obrigando Rhenan a largar Maria entre fortes e sonoros abraços. Beijando-a em sinal de respeito, era oficialmente uma MacCumhaill.- Cunhadinha, - Fionn abraçou-a - ainda pensei raptar-te, estás radiosa. - Não tinhas hipóteses, meu! Se eu que sou uma cópia viva do nosso irmão não consegui, eras logo tu, ranhoso. – Lochan socou o irmão no braço.Rhenan beijava a mãe e a tia sem tirar os olhos de Maria, era finalmente sua mulher.Maeve dançava, era um dia perfeito.A família crescia e com Maria as suas esperanças.- Quero que saibas como estamos felizes, o meu filho não podia ter escolhido melhor. – Freya limpava uma teimosa lágrima de felicidade - Vamos celebrar. Voltaram-se, caminhando de regresso a casa.- Esperamos-vos lá dentro. - Eoghan encaminhou a família à sua frente piscando-lhes o olho.Maria abraçava Rhenan. - Então era para aqui que vinham todos os dias. Adorei a surpresa e tudo o que disseste.- Mo ghrá! Sinto que te amo desde o início dos tempos, que te conheço há muito. Tenho-me aguentado para não gritar que te pertenço e que és minha. Hoje finalmente pude fazê-lo. - És só meu?- Sempre fui. Nunca amei até te conhecer e as promessas que te fiz são para manter enquanto viver.- Então são para sempre. Mas terás de mo provar mais tarde.- Posso provar-to já!- Aqui? E se alguém aparece?- O Eoghan não deixa. – Rhenan ria-se divertido.- És doido!- Sou, por ti! - arrastou-a para debaixo da pérgula para ficarem longe do sol.- Só uma questão.- Maria vais mesmo fazer-me perguntas agora?- Tens alguma coisa vestida debaixo dessa linda saia?- Eu dou-te a saia, anda cá que te mostro o que tenho por baixo. Ria-se deliciada quando Rhenan a puxava para si, sem perceber como a conseguira despir tão depressa. Tinha de dar razão a Maeve e lembrar-se de lhe agradecer por a ter obrigado a vestir a lingerie, ao vê-lo perder a respiração, com o corpo a reagir.- Linda! – sussurrava com a voz rouca. Desfez-lhe a trança passando-lhe os dedos pelo cabelo sentindo o seu odor – Enlouqueces-me mulher.        Desfez o kilt atirando-o para o chão onde a deitou. Rhenan olhava para Maria, era como um quadro que a Deusa tivesse pintado, o seu corpo alvo, os cabelos cor de oiro, os lábios inchados dos seus beijos, os mamilos intumescidos de desejo, o ondular da sua barriga ansiando o seu toque. Deitou-se sobre ela amando-a como se o mundo fosse acabar.No céu apareciam nuvens que em breve tapariam o sol, ambos sabiam que estava na hora de regressar.- Já percebi para que serve o kilt, é assim uma espécie de cama ambulante.- Entre outras coisas.- Quantas deitaste nesta cama?- Só tu!Maria deu-lhe um murro no braço enquanto se sentava. - A partir de hoje estás proibido de falares de outras mulheres, nem sequer podes pensar nelas.Rhenan abraçou-a puxando-a para cima do peito, beijando-a.- Não penses que te safas com beijos. – ria-se feliz.- O que fiz antes de te conhecer é como se nunca tivesse acontecido. Comecei a viver quando te vi. Acredita.- Acredito. – Maria beijou-lhe a ponta do nariz.- Vamos para dentro mo ghrá! Antes que aquelas nuvens tapem o sol ou um dos meus irmãos nos venha chamar.Maria levantou-se de um salto, o pensamento de a poderem ver nua fê-la vestir-se em menos de um segundo.- Tem calma, - Rhenan ria-se divertido, deitado observando-a - mesmo que nos vissem não estávamos a fazer nada reprovável.- Pois não, mas acredita que não me apetecia ser apanhada pela tua mãe ou um dos teus irmãos. Ajuda-me a apertar o vestido.- Anda cá. – levantou-se passando-lhe as mãos ao longo das costas - Fica-te muito bem. Estás radiosa.- Onde o arranjaram tão depressa?- Era da minha mãe. Maria abriu os olhos espantada.- Não o estraguei, pois não? - Está perfeito.- A tua mãe emprestou-me o vestido dela?- Mo ghrá! A minha mãe ofereceu-to.- Mas era dela.- E agora é teu e mais tarde se quiseres será da mulher do nosso filho. Maria abraçou-o encostando a cabeça ao seu peito.Rhenan segurou-lhe na cara, queria guardar na sua memória todos os pormenores do dia mais feliz da sua vida. - Agora vou levar-te para casa como um verdadeiro guerreiro. – acabava de prender o kilt – Segurou Maria, atirando-a por cima do ombro gritando um clamor de vitória como faria depois de uma batalha. Entrou em casa empurrando a porta com o pé. Maria ria-se divertida, Rhenan gritou pousando-a, os irmãos responderam-lhe lançando as mãos ao ar. Antes de ter tempo de agradecer a Freya já os irmãos a puxavam para dançar. Rhenan e Eoghan dançavam frente a frente, parecia uma luta entre os dois apesar de não se tocarem.Quando Maria conseguiu finalmente libertar-se dos braços dos homens sentou-se ao lado de Freya.- Queria agradecer-lhe por sentir que sou digna de usar o seu vestido.Freya segurou-lhe as mãos.- Dei-to com todo o meu amor, assim como te entrego o meu filho. Sei quanto o amas e ele a ti. Sinto-me honrada por o teres vestido naquele que será o primeiro dia do início da tua nova vida. Levantaram-se de mãos dadas, rodando à volta da mesa onde Rhenan e Eoghan continuavam a dançar, agradeciam mantendo a tradição druídica desde o início dos tempos fazendo a roda da vida girar.Maria não conhecia metade dos pratos colocados sobre a mesa. Beberam hidromel, comeram fiskstuvad i öl



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Published on April 10, 2020 02:00

April 9, 2020

in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 24


VINTE E QUATRO

Maeve ficou a saber o que acontecera no dia anterior, ligara repetidamente para Sergiu sem sucesso, ia sempre para as mensagens. Depois do pequeno-almoço e para se distrair ajudou Maria a procurar o livro, só faltava espreitarem a prateleira mais alta do armário. Foi buscar o escadote e depois de puxar todos os livros de capa negra para fora, pronta a desistir, Maria gritou empolgada.- Mostra-me esse do canto. - Este? Maria acenou com a cabeça.- Esse mesmo! – segurava no escadote enquanto descia.Maeve colocou-o em cima da mesa. Mal lhe tocou Maria soube que era o que procuravam. Abriu-o, mas não conseguia ler o que estava escrito.- Em que língua é que isto está escrito?- É alfabeto Theban. - A escrita das Bruxas?- Afinal sabias.- Por acaso li sobre esta escrita, mas ainda não me tinha cruzado com nenhum exemplo. Não o vamos conseguir ler.- Já pensaste pedir ajuda à tua avó? Cresceu na companhia de Rhiannon a sobrinha de Morgaine a dona deste livro.- Tens razão, telefono-lhe mais tarde.- Já o descobrimos, mais um ponto a nosso favor podes riscá-lo da lista. - Sabes que não tenho uma lista. – Maria ria-se divertida.- Então temos de te arranjar uma. – Maeve piscou-lhe o olho – primeiro ponto, Hel, resolvido. Segundo, Livro das Sombras, encontrado. Agora só faltam para aí uns cem pontos.- Não me assustes, pareces o Fionn.- E tu não me ofendas que não te fiz mal nenhum.Riam-se as duas.- Vamos subir Maria?- Sim, mas vou levá-lo comigo. Agora que o encontrámos não o vou perder de vista. Quero ligar à tua tia, pode ser que nos consiga ajudar.- É provável. Desligaram as luzes, fechando a porta.Os homens conversavam na sala, Fionn comprara gelado. Maria não conseguia perceber quem vendia gelados com um tempo daqueles. Sergiu também lá estava, Maeve acelerou o passo na sua direcção sorrindo-lhe. Maria levantou o livro.- Encontrámos! Aceitam-se sugestões sobre o que fazer a seguir. - reparou que os homens lhe faziam sinais tentando avisá-la de que não estavam sozinhos.Maria cruzou o olhar com Sergiu pedindo-lhe autorização para contar o seu segredo, recebendo em resposta, um discreto abanar de cabeça em negação. Maria suspirou alto. - Dói-te a mão? - Rhenan aproximara-se. - A mão está óptima. - retirou a ligadura que Rhenan lhe colocara por cima do unguento, a marca desaparecera. - Felizmente a mão está limpa. - Rhenan sorria-lhe aliviado – O unguento foi preparado pela minha mãe para uma eventualidade como a de ontem, ainda bem que não ficaste marcada.- Ficavas a gostar menos de mim?- Nunca!- Mentiroso. – Maria sorria-lhe deliciada.- Amo-te de qualquer maneira. – Rhenan beijou-lhe a palma da mão.- E começou o mel. Meus! Tentem não derreter o gelado. – Fionn esticava-se em cima do sofá pronto para comer.- Cala-te minha besta. - Maeve sentada perto de Sergiu olhava para o primo irritada.- Trouxeste gelado de morango? - Rhenan olhava divertido para Maria enquanto se dirigia à mesa.- Sim! - Vou levar a embalagem. Amanhã digo-vos se o conseguimos derreter todo.Os homens entreolhavam-se divertidos.- Estás a ver minha lagarta loira que até sou capaz de dar bons conselhos.Os irmãos enchiam a boca evitando rir.- Nesse caso, vou subir com o de chocolate e o Sergiu.- Não! - os primos gritavam em uníssono.- Logo vi que era só para alguns.Sergiu comia calmamente, ignorando propositadamente os olhares irritados dos irmãos. Não iria começar uma guerra aberta com o Clã que jurara proteger. Nessa noite, dormia em Yggdrasil,com guarda pessoal que se ia revezando. A situação era caricata por ser um inverter dos papéis, os senhores protegiam quem os devia defender.     Maria rolou na cama. Rhenan já se levantara. Ultimamente a casa estava muito silenciosa. Bateu à porta de separação, sem obter resposta, abriu espreitando, Lochan também não estava no quarto dele. Onde se esconderiam os homens?Afastou os cortinados, também não se estavam a emporcalhar na lama, aos gritos, como era habitual. Vestiu umas calças saindo do quarto caminhando descalça, desceu a escadaria. O estômago roncou, sorria ao lembrar-se da loucura de Rhenan com o gelado na noite anterior. Aquele homem conseguia surpreendê-la.A cozinha estava deserta, o café ainda quente, não podiam ter saído há muito tempo. Comeu duas torradas com manteiga e geleia, lavou a loiça regressando ao quarto, estava decidida a procurá-los. Colocou os Iron Maiden a tocar no telemóvel, sabia que a música “Alexandre, o grande” demorava cerca de oito minutos e meio, o tempo suficiente para tomar banho e vestir-se. Na noite anterior guardara o Livro das Sombras, no fundo da sua gaveta, debaixo da roupa interior.Já vestida e como a casa continuava calma mudou de ideias, até ao almoço não pensaria em nada, nem em ninguém. Pegou nos livros e no bloco de apontamentos, estudaria na sala, sabia que se fosse para a cave acabaria por se distrair.Ao fundo da escadaria viu Maeve abraçada a Sergiu. Cumprimentou-os pensando que os homens deviam estar por perto, nunca deixariam a prima e Sergiu sozinhos em casa.- Onde estão os teus primos?- Saíram. - Todos?- O Lochan está na cave a admirar a nova sala, parece uma criança agarrada a um doce, até já se deve ter esquecido do Sergiu. – abraçou Sergiu divertida.- Como três são uma multidão, vou falar com o Lochan. Se forem a Dublin dão-me boleia?- Íamos sair agora, mas esperamos por ti. – Maeve puxava Sergiu para a sala.- Então não me demoro.Desceu, chamando por Lochan que espreitou da sala recém-descoberta.- Olá!- Sentes-te bem?- Excelente, graças a ti.- Julgo que nos tempos mais próximos era aconselhável que não saísses dos limites da propriedade.- Pensas que o meu aparecimento possa ser revertido?- A minha intuição diz-me que não devemos correr esse risco.- Não há problema, tenho aqui tudo o que preciso.- Sabes onde foi o Rhenan?- Foram a Dublin.- Os teus irmãos a passearem e tu sem saberes de nada, parece-me demasiado suspeito. Lochan sorria divertido. - Sempre fomos misteriosos, esse é um dos segredos do nosso charme.- Serem convencidos também. - É mesmo mais o nosso charme e o que conseguimos fazer com gelado. – piscou-lhe o olho maliciosamente.Maria começava a sentir a cara aquecer. - Sabes que mais, vou-me embora que já vi onde o Fionn foi buscar as parecenças. Até logo.Ainda o ouvia rir quando saiu da cave.     As últimas semanas do semestre passaram a correr, os exames tinham começado e andava tão cansada que não conseguia arranjar tempo para ligar a Freya ou à avó. O Livro das Sombras, mantinha-se intocado no fundo da gaveta e os homens continuavam a desaparecer diariamente regressando ao pôr-do-sol. Conversavam em surdina, calando-se quando se aproximava. Pareciam planear algo, evitava pensar no que seria.O pai já lhe enviara a passagem de avião. Odiava pensar que ficaria afastada de Rhenan durante dois meses, não sabia se aguentaria.Estafada, deixou cair a mala no chão da entrada, atirando-se para cima do primeiro sofá. Dormitava quando o telemóvel tocou, levou-o ao ouvido escutando a voz da avó que a tirou da inércia em que se encontrava.- Filha, como estás?- Agora estou bem.- Tens uma voz cansada.- Sinto-me cansada, com os exames e a apresentação de trabalhos.- Senti que precisavas de mim, estou correcta? - Descobrimos o Livro das Sombras, mas está escrito em alfabeto Theban e eu não o consigo ler. - adorava a sua calorosa voz, tinha a capacidade de lhe transmitir a energia de que necessitava. - Parece um quebra-cabeças, mas na realidade acaba por ser um jogo de paciência. Tens de substituir as letras latinas por símbolos rúnicos. Ao início parece difícil, mas assim que entrares no ritmo vais conseguir lê-lo de forma corrida sem necessitares de recorrer a cábulas.- E como sei quais os símbolos correctos?- Começa por arranjar um alfabeto rúnico, deves conseguir encontrar um num dos muitos livros que aí têm. Posso dizer-te, que na capa está escrito Livro das Sombras, começa por ver a equivalência desses símbolos ao alfabeto latino e avança a partir daí.- Obrigada vovó. Nem sabes o quanto me ajudaste.- Mas não é só isso que te preocupa, pois não?- Na verdade não me sinto preparada para deixar o Rhenan durante os longos meses do Verão. Acredita que desejo muito estar contigo, com todos, mas não sei se consigo ficar tanto tempo afastada de Yggdrasil e pensar nisso está a deixar-me triste.- Suspeitava que fosse algo desse género. Antes que fiques desalentada sem motivos, deixa-me dizer-te que falei com os teus pais e eles concordaram em deixar-vos sozinhos na casa da Ilha de Faro durante o mês de Agosto, se na última quinzena de Julho ficarem connosco em Vila Nova de Milfontes. Não lhes falei de nenhum namorado e muito menos marido, por isso vão ter de ser muito discretos durante esses quinze dias.Saltitava de felicidade com o telemóvel colado ao ouvido, ainda lhe parecia um sonho o que a avó lhe acabara de dizer.- O que seria de mim sem ti? Adoro-te! - Eu sei. – a avó ria-se satisfeita.- Mas na realidade o Rhenan ainda só é meu namorado.- Andas com o anel de casada que ele te colocou no dedo e têm a minha bênção.- A verdade é que já não conseguia viver sem ele.- O nosso destino está escrito desde o início dos tempos. Transmite-lhes as novidades e diz-lhes que tenho saudades. Se necessitares de mim telefona-me a qualquer hora, deixar passar muito tempo só vos prejudica. Estou muito orgulhosa pela forma corajosa como os protegeste.- Como soubeste?- Tenho um dedinho que adivinha. Adoro-te minha querida, fica bem.- Também te adoro.Sentia-se renovada, queria contar-lhes as novidades, mas primeiro tinha de os encontrar. O corpo pedia-lhe repouso, olhou para o sofá com vontade de se voltar a deitar, mas sabia que tinha de descobrir o alfabeto rúnico. Decidida caminhou na direcção da cave.
Começara a tradução do Livro das Sombras, mas definitivamente não sabia o que estava a fazer. Decidiu que o levaria para Lisboa, a avó seria a pessoa indicada para a ajudar. Fechou o livro.Ainda não conseguira contar a ninguém as novidades. Os homens continuavam demasiado misteriosos e ela nervosa. Os exames acabaram, as Sombrasnão tinham voltado a atentar contra eles apesar de continuarem a rondar e as Fadas andavam desaparecidas, o que lhe permitia pensar calmamente no que fazer a seguir.Naquela manhã voltara a acordar sozinha na enorme cama. Tanto mistério começava a irritá-la, Rhenan mudava de assunto sempre que lhe perguntava o que faziam. Levantou-se decidida a tomar o pequeno-almoço e regressar para a cama com um livro, de onde só pretendia voltar a sair para se alimentar.Ouvia o riso bem-disposto de Maeve. - Maeve? – chamou-a.- Na cozinha. - gritou-lhe em resposta.Maeve conversava com alguém, desceu a escadaria em passo acelerado. - Aí estás tu! - a voz de Freya soou aos seus ouvidos - Tínhamos saudades tuas. – aproximou-se de Maria abraçando-a.Quando chegaram? – Maria sorria-lhes espantada.- Foi uma decisão de última hora. Maria saiu do abraço de Freya para ir beijar Deirdre quando se lembrou de Lochan. Ficou inquieta olhando em volta, rezando para que não aparecesse.- Procuras alguma coisa filha? – Freya notara o seu nervosismo.- Não! - respondera mais depressa do que desejara.- Pareces nervosa e cansada, de certeza que estás bem? O meu filho não te tem dado descanso.Maria enrubesceu, mas Maeve veio em seu auxílio. - Está óptima, íamos agora mesmo vestir-nos, temos de entregar um trabalho e já estamos atrasadas. - pegou Maria por um braço arrastando-a para fora da cozinha, sussurrando - Não fales até estarmos sozinhas.- Então vão. Conversaremos mais tarde. – Freya servia-se de café sentando-se ao lado da irmã.Maria continuava a ser arrastada pela escadaria acima.- Mas o que se passa? Estão todos doidos? A tua mãe e tia estão aqui e o Lochan também, alguém pensou nisso? - Fica descansada. - É esse o motivo pelo qual os homens andam tão misteriosos?- Nunca os achei misteriosos, não sei o que estás a insinuar. - Não te faças de parva Maeve, nas últimas semanas os homens desaparecem. Para onde vão? Fazer o quê? Tenho a certeza de que tu sabes.- Estás a ficar obcecada. Despacha-te, temos de sair daqui.- Logo hoje que me apetecia fazer gazeta.- Tu? Estás a sentir-te bem?- Aparentemente não. Estou pronta daqui a cinco minutos. Mas aviso-te que estou cheia de fome.- Paramos num café em Dublin. - Quero sair daqui o mais depressa possível, antes que a bomba exploda. Onde é que o Lochan se escondeu?- Está no sótão. Agora despacha-te. Em menos de dez minutos Maeve conduzia-as no carro de Rhenan para fora de Yggdrasil. Chegaram passado pouco tempo a casa de Maria, onde estacionaram.- Que me dizes a um dia de mulheres?- Assim é que é falar. - Maria sorria-lhe com cumplicidade.Deixaram os livros e cadernos no porta-bagagem seguindo de camioneta para Dublin como fariam se fossem para as aulas. Naquele dia não pensariam em nada que se relacionasse com aulas, Sombras, Fadas, Profecia, Lochan, deixariam de lado todas as preocupações, teriam tempo para tudo mais tarde. Maria não se lembrava quando tirara umas horas só para se divertir, possivelmente a última vez tinha sido em Lisboa nas férias de Natal. Como Rhenan não a deixava usar o dinheiro que os pais lhe enviavam tinha bastante e naquele dia iria gastá-lo com Maeve, compraria tudo que lhe apetecesse.- Então, o que fazemos primeiro? - Maeve sorria divertida, adorava ser uma rapariga da sua idade naquele século. - O que quiseres!- A sério? Então sugiro muitas compras e um almoço demorado.- Concordo! Por onde começamos?- Primeiro o pequeno-almoço, depois compramos lingerie, roupa sexy, almoçamos, compramos sapatos, lanchamos e para finalizar apanhamos a camioneta. Depois metemo-nos no carro, escondemos tudo o que comprarmos na bagageira e seguimos para casa.Maria ria-se divertida, parecia-lhe que aquele programa era habitual para Maeve.       - Gosto da tua proposta apesar de achar que em vez de roupa sexy e lingerie podíamos optar por roupa funcional.- Precisas de roupa sexy, funcional já tu tens muita.- Não me estou a ver a andar de saltos altos e roupa justa.- Queres estar sempre atraente para o meu primo, certo?- Mesmo que compre a lingeriemais requintada não me parece que a mantenha no corpo durante muito tempo.Riam-se divertidas. - Infelizmente a paciência não é uma virtude nesta família.- Queres que gaste dinheiro em lingerie sexy para testar a paciência do teu primo?- Acho que é um motivo mais do que válido. Segue os meus conselhos, vais ver que tenho razão.- Quem sou eu para te contrariar, indica o caminho que será um prazer seguir-te.- Assim é que é falar!Saíram na paragem de Eden Quay do lado norte do Rio Liffey, tinham decidido começar pela Grafton Street, ao cimo da rua do lado esquerdo existia uma loja de lingerie, esse seria o ponto de partida, depois, logo decidiam para onde seguir. Comprar roupas com Maeve era de enlouquecer, quando finalmente pararam para almoçar já não tinham mãos para transportar tantos embrulhos, mas estavam felizes. Tinha adorado e ainda comprara uma lembrança a Rhenan. Quando chegaram ao carro estavam estafadas de carregar tantos embrulhos, mas riam de felicidade.- Agora como fazemos para levar tudo para dentro de casa sem que nos vejam? – Maeve tentava encaixar os sacos no porta-bagagens.- Fazemos assim, tu entras e distrais os teus primos enquanto eu levo tudo para a cave e quando estiverem todos a dormir fazemos a divisão dos embrulhos no teu quarto.- Combinado. Maria olhou para a casa que supostamente dividia com Rita, as luzes da sala estavam acesas o que significava que tanto ela como Pedro tinham regressado. – suspirou aliviada, os amigos estavam seguros. Agora tinham de se despachar a regressar, ainda com a luz do dia.Maeve ligou o rádio. Fizeram o caminho para Yggdrasil com as janelas abertas a cantar a plenos pulmões. Aquele dia tinha sido uma estranha recompensa por se terem livrado de Hel. Mas chegara o tempo de retemperar forças e limpar armas, afinal a batalha ainda só começara.
Era bom ter a família toda reunida apesar dos homens continuarem misteriosos. Gostava de voltar a ter a capacidade de ler pensamentos, infelizmente só acontecera uma vez com Rhenan e não se voltara a repetir.Lochan continuava no sótão, os irmãos tinham-lhe pedido paciência prometendo que não teria de esperar muito. A verdade é que ninguém parecia saber o que fazer por temer a reacção de Freya.Durante o jantar falou-se sobre como lidar com os Tuatha, ficou decidido nunca entregar o Colar de Brisingamen a Danu. A chave era responsabilidade do Clã e era obrigação deles devolverem-no à segurança de Yggdrasil, de onde nunca devia ter saído. A lança continuava encostada à parede no local onde Maria a deixara. Ninguém se atrevia a tocar-lhe com medo do que lhes podia fazer. Maria descobrira que a lança pertencia a Lug, apesar de não saber como a perdera e acabara na posse deles. Combinaram mantê-la em segredo para o caso de voltarem a necessitar dela ou de virem a usá-la como moeda de troca. Mais do que nunca precisavam de Rhiannon e não sabiam como a tirar de Tara. Danu, sabia quem era e não a libertaria. Estava cansada e não aguentava mais a inércia e o silêncio dos homens em relação ao irmão que continuava aprisionado no sótão. Mas que raio se passava na cabeça de todos? Lochan não merecia ter de passar por mais aquela provação, vivia num esquisito limbo e acabara prisioneiro dentro da própria casa. Ainda não saíra do sótão desde que a mãe e a tia tinham chegado, aquela situação tinha de acabar.- Freya, preciso de lhe contar algo. –Maria pousou o copo de água, sentindo os olhos de todos colados nela. Rhenan apertou-lhe ao de leve a perna por baixo da mesa, sabia o que pretendia fazer e tentava evitar. Freya limpou os lábios pousando as mãos na mesa, algo no tom de Maria alertava-a para a importância do que lhe ia dizer.- Há uns tempos lembra-se que consegui falar com Lochan?- Foi um dos dias mais felizes da minha vida.Maria sorria-lhe segurando-lhe as mãos.  - Depois desse dia, comecei a vê-lo e a tocar-lhe.Os homens sustinham a respiração olhando para a mãe pendentes da sua reacção.- Nunca mais saiu de perto de nós. Começou a dormir no seu quarto e passa os dias na cave.- Lochan? - Freya empalidecera. Fionn levantou-se colocando-se atrás da mãe com as mãos nos seus ombros, o olhar avisando Maria que devia parar.- Algo aconteceu. – Maria olhava indiferente para Fionn - Escusas de me fazer essa cara que não me metes medo.Freya bateu ao de leve na mão do filho. - Quero ouvir o que a Maria tem para me contar.Maria sorria-lhe agradecida.- Temos vivido assim. No início, falava através de mim, mas algo aconteceu quando abrimos a nova sala na cave. – fez uma pequena pausa - Existe algum motivo para ter guardado roupas velhas?- Aquelas roupas são o meu purgatório. Nessa arca estão guardadas as últimas vestes do meu filho e marido, nunca me consegui desfazer delas.- Fez bem! - Fiz?Maria anuiu com a cabeça.           - Não sei como, mas quando entrei naquela sala todos os meus sentidos foram atraídos para ela como se uma força me puxasse.Maria conseguia ouvir a respiração pesada dos homens, Deirdre observava-a ansiosa.- Abri a arca e toquei nas roupas, senti-me aquecer por dentro e nessa mesma altura Lochan sentiu o mesmo.Freya chorava sem saber porque o fazia. - Venha comigo, há algo que lhe quero mostrar. - levantou-se estendendo-lhe a mão.Freya apertou a mão que lhe estendia, saíram da sala subindo a escadaria. Fionn fez menção de as seguir, mas Rhenan já segurava o irmão por um braço impedindo-o. - Deixa-as ir. A Maria sabe o que faz.  Deirdre escutava atentamente os sobrinhos, lágrimas de incredulidade saíam dos seus esperançosos olhos azuis. - Mãe! – Maeve aproximou-se abraçando-a.- São lágrimas de felicidade filha. O silêncio abateu-se sobre todos enquanto aguardavam.
Maria conduzia Freya através das escadas de acesso ao sótão onde estava Lochan. Abriu a porta e não foram necessárias palavras, a mão que as unia apertou-se quando Freya viu o filho deitado na cama.- Meu filho! - a voz mal se escutava, mas Lochan saltou da cama correndo para abraçar a mãe.- Máthair!- Mo chroí!Abraçavam-se, beijando-se repetidamente, os pés de Freya já não pousavam no chão porque Lochan a apertava de encontro ao peito encostando a cara à sua. Maria soluçava. Saiu, fechando a porta atrás de si. Aquele era o momento do tão ansiado reencontro de uma mãe que julgara ter perdido o filho. Sentou-se nos degraus com as lágrimas a sulcarem-lhe o rosto. O que acabara de presenciar ficaria para sempre marcado nas suas memórias. A felicidade e o amor que os unia significava tudo. Necessitava de Rhenan.Sentiu os seus braços envolverem-na, limpando-lhe as lágrimas, reconfortando-a. Agradecida encostou a cara ao seu peito. - Não chores mo ghrá! Fizeste o que nenhum de nós foi capaz.- São lágrimas de felicidade.- Vamos para baixo, até que a minha mãe e irmão se juntem a nós. - desceu a escadaria com Maria ao colo. Com a cabeça encostada ao seu ombro, sentia-se protegida, olhou para ele que lhe devolveu um sorriso apaixonado.- Obrigada Rhenan.Beijou-a na testa. Amava-a, sentia a sua felicidade, a sua dor, o seu corpo respondia instintivamente ao seu e naquele momento o que lhe dizia é que tinha de a manter perto de si para a acalmar. Sentou-se no sofá mantendo-a no colo. Deirdre levantou-se beijando-a. - Desculpa-me, sou um imbecil! - Fionn seguiu o exemplo da tia.- Mas és o nosso imbecil. – Maria devolveu-lhe o beijo. Fionn sorria agradecido.- A mãe? - Eoghan olhava para o cimo da escadaria - Como foi que reagiu?- Contando que o teu irmão a abraçou levantando-a no ar deve ter-se sentido zonza.Fionn, sentara-se à mesa enchendo o copo de vinho, estava nervoso, mas não queria que notassem.O tempo passava, começavam a ficar impacientes, até ouvirem a voz de Freya e o barulho de passos. Quando entraram na sala, os olhos de Lochan procuraram a tia que se atirou nos seus braços a chorar de emoção, enquanto se beijavam falando ao mesmo tempo.Freya aproximou-se de Maria segurando-lhe na cara. - Mais uma vez filha mostraste ser uma verdadeira MacCumhaill. Estava demasiado emocionada com as palavras de Freya. Rhenan estreitou-a nos braços.Era tarde, mas ninguém se queria deitar.Maria achava que devia ficar tudo dito.- Eu e o Lochan estivemos a falar e pensamos que será prudente manter-se dentro da propriedade.O silêncio era confrangedor. Maria tirou o copo das mãos de Rhenan bebendo-o de um trago. - Calma mo ghrá! Não queres ficar com dores de cabeça - sussurrou-lhe ao ouvido tirando-lhe o copo vazio das mãos.- Não tenhas tanta certeza.- Mãe, não é assim tão mau, - Lochan segurava a mão de Freya - não temos a garantia de que aconteça algo, simplesmente não queremos arriscar. Não nos podemos esquecer que esta situação em que me encontro é temporária, mas se existe uma hipótese de a tornar definitiva, não farei nada que prejudique o meu futuro.- Meu filho! Só o facto de te ter aqui é um farol de esperança para todos. Lochan beijou a mãe.- Como conseguiram preservar o corpo? - Maria nunca se atrevera perguntar até aquele instante.- Foi utilizada magia negra, por isso através da luz conseguimos reverter alguns dos efeitos da mesma, algo nos dizia que era o mais acertado. - Rhenan falava calmamente - Durante todo este tempo, mantivemos o local onde está guardado, em absoluto sigilo. Evitamos que as forças do mal acabem o que começaram.- Quem tem conhecimento?- Todos nós.- Freya, já pensou que para conseguirmos juntar o espírito ao corpo temos de os ter no mesmo espaço físico? Quem o vigia?- Os guardas imperiais, os Romae as Bruxas.- Quem?Maeve puxou uma cadeira para perto de Maria.- As únicas pessoas com a capacidade de o defenderem, são a guarda imperial do nosso tio Vlad Tepes e as Bruxasseguidoras da Deusa.- Todos imortais?- Sim! Mas tal como nós se forem mortos por magia desaparecem para sempre.- Não são strigoi



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Published on April 09, 2020 02:00

April 8, 2020

in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 23

VINTE E TRÊS

À tarde e com o conhecimento dos primos, Maeve saíra com Sergiu. Decidira que se a mãe aceitava a relação não seriam os primos a impedi-la. Maria deixara os irmãos na sala regressando sozinha à silenciosa cave. Passara muito tempo desde que a sala secreta fora aberta e Lochan se tornara visível. Com esse desenvolvimento pareciam ter-se esquecido da importância de encontrarem o Livro das Sombras. Naquela tarde estava decidida a fazê-lo.A sala secreta continuava aberta, olhou sentindo relutância em entrar, parecia-lhe mais fria e a luz não era tão forte. Respirou fundo, decidida a seguir os seus instintos. Caminhou até um escaparate onde estavam vários livros de capa grossa, porém nenhum que fosse preto ou tivesse especificamente escrito Livro das Sombras. Abriu as portas de vidro passando a mão nas lombadas. Começara a subir o escadote para ver as prateleiras de cima quando algo brilhante lhe captou a atenção, voltando a descer.Avançava com receio, apercebendo-se que o frio que sentira quando entrara devia-se ao objecto que vira brilhar e que se encontrava discretamente encostado a um canto. Era uma lança de prata, não percebia porque brilhava com aquela intensidade. Admirava-a, pensando se lhe devia tocar quando ouviu um grito que a gelou. Não soara humano, sem hesitar agarrou na lança correndo escada acima.A porta da rua estava aberta, tinha escurecido. Os homens estavam no exterior, parados, a olhar em frente sem se mexerem. Faltava Lochan. Correu na direcção deles com o coração apertado sem largar a lança que lhe queimava a mão. - Lochan! - ouvia-se gritar, chamando-o. Passou por Fionn que parecia petrificado, nenhum deles se mexia. Não hesitou quando viu Lochan caído, uma Sombranegra como a noite aproximava-se. Não podia perder tempo. Fez o que a avó lhe ensinara, começando a visualizar a luz azul à volta dos irmãos, rezando mentalmente a ladainha de protecção que lhe ensinara enquanto se aproximava. Não queria que aquele ser se apercebesse da sua presença até estar suficientemente perto para proteger Lochan. Com os olhos semicerrados perscrutava a escuridão à procura de mais Sombras, felizmente, aquela parecia estar sozinha. Sabia que tinha de se colocar entre Lochan e aquela coisa sem deixar o flanco desprotegido. A Sombra estava tão concentrada nele que ainda não reparara nela. Percebia que lhe falava, mas o seu tom saía tão arrastado que não entendia o que lhe dizia. Conseguira aproximar-se a tempo de a escutar, compreendendo a verdadeira ameaça que representava.- Estás morto! Matei-te! Não podes estar aqui. – sibilava destilando o ódio que sentia – Mas, não tem importância, vais dar-me o prazer de te matar uma vez mais. - ria-se pronta para investir.Sem hesitar, Maria saltou para a frente dele, colocando-se no meio dos dois, protegendo-o com o seu corpo.- Larga-o cabra.A Sombra encolheu-se espantada com o seu súbito aparecimento.- A quem chamas cabra, miserável?- A ti ordinária. Não te bastou destruí-lo uma vez, sua interesseira! - Não serás tu a impedir-me. – sibilava. - Isso é o que vamos ver. Terás de passar por cima de mim, ser nojento.A Sombra rondava-a tentando aproximar-se de Lochan.- É o que farei. - projectou-se para a frente, as garras passando a escassos centímetros da cara de Maria.- Falhaste miserável.- Não voltará a acontecer. - Hel uivava de ódio indecisa sobre quem matar primeiro. - Prometes? – Maria decidira provocá-la para a manter concentrada em si afastando-a de Lochan - Porque o odeias tanto? Que mal te fez?- Devia ter-me tornado a senhora do Clã. Mas em vez disso, escolheu a família.- Ele escolheu-te a ti! Deixou tudo o que conhecia por ti, mas isso não te chegou, querias mais.- Queria aquilo que era meu por direito.- Por direito? E que direito era esse?- Eu não devia ser escrava de ninguém muito menos dos Senhores do Clã.- Algum deles te fez mal?- Nenhum me quis.- O Lochan desejou-te, amava-te, abandonou o conforto, a família, tudo por ti minha desgraçada e como é que o recompensaste?- Achas que queria continuar a viver no acampamento? Queria o que tinham, tanto me fazia que fosse este irmão ou outro.- Tiveste sorte no irmão! Nenhum dos outros olharia duas vezes para ti.- Se soubesse que este tinha uma cópia talvez não o tivesse assassinado.- Sempre foste burra ou estares em Annwan fez-te mal à cabeça? Nenhum deles se deitaria com a mulher do irmão.- Isso pensas tu, aquele com quem te deitas podia ter sido meu.- Aparentemente costumavas deitar-te com todos. Hel uivou fazendo nova tentativa de a atacar, Maria desviou-se como Lochan lhe ensinara.- Julgas que vais ter o que é meu? Enganas-te.- Tu, é que me pareces um pouco baralhada. Perdeste a tua oportunidade de entrar nesta casa quando assassinaste Lochan, se te tivesses dado ao trabalho de perceber o que une esta família acabarias por ser aceite. A verdade é que nada disto foi teu nem nunca será. - Isso é o que veremos.- E se te fosses embora e ficávamos por aqui? – Maria continuava a tentar afastá-la, olhando discretamente à sua volta, temendo que outras Sombras se aproximassem.- Achas que vais ficar com tudo, criança insuportável!- Não preciso de tudo, já tenho o que quero.- Amor! Deixa-me rir. – Hel ria-se com os olhos negros raiados de sangue.- É mais do que amor, mas compreendo que não saibas o significado da palavra. - O que dizes? - Hel sibilava o ódio que lhe ia no corpo enegrecido.  - Que se não gostavam de ti naquela altura é porque viam quem eras na realidade. Infelizmente o Lochan entregou o coração a quem não o merecia, mas está sempre a tempo de encontrar alguém digno dele até porque tu estás demasiado usada. Nem outro traell te quereria. – Maria tinha finalmente toda a atenção de Hel que se afastava de Lochan avançando na sua direcção. Maria cruzara o olhar com ele e vira o pânico que sentia, preocupado com a sua segurança.- Achas que és melhor que eu? – movimentava-se em círculos tentando encontrar uma abertura para voltar a atacar.Hel parecia ter-se esquecido de Lochan concentrada unicamente em Maria. - Melhor do que tu não é difícil. Estou com o homem que quero, por amor. Deito-me com ele por prazer, sinto desejo, sou amada, não estou seca como tu.Hel uivava de raiva investindo uma vez mais, Maria desviava-se com mestria tentando ganhar tempo. Continuava sem perceber o motivo pelo qual nenhum deles se mexia, precisava de ajuda, não sabia como destruir aquela criatura nojenta.- Não estou seca, hei-de recuperar a minha beleza. - A beleza não é tudo e tu és prova disso. Agora que te conheço vejo como deves ter sido sempre, insignificante, um mero brinquedo para os Senhores, se não eras nada em vida agora és menos que isso.- Foi o teu querido que me colocou assim. Mas fica descansada que a seguir a este, - voltava o olhar na direcção de Lochan. - vou atrás de cada um de vocês. - ria-se, os olhos sem vida voltavam a concentrar-se nela - E aí, mostro-te quem era e quem sou.Maria sabia que tinha de tomar uma decisão rápida, Hel preparava-se para atacar Lochan.- Tu não lhes tocas!- Achas que me consegues enfrentar?- Não sei como os conseguiste atrair, mas não os vais levar, isso te garanto. Sou quem ansiavas ser, a senhora deste Clã. Sou desejada pelo seu líder, ele quer-me, não estava tão usada como tu e não me deitei com ele em troca de algo. – Maria provocava-a continuando a visualizar a luz azul que os envolvia – Pelo teu aspecto devias ser nojenta, mesmo para os padrões da tua época. – Maria torceu o nariz dando mais ênfase ao que dizia. “Mas porque não se mexem? Preciso da vossa ajuda rapazes.”Hel voltava a investir e uma vez mais Maria desviava-se com agilidade. Os gritos de raiva que soltava feriam-lhe os ouvidos. Não podia continuar a estranha dança com aquela criatura nojenta, conseguia sentir mais Sombras, aproximavam-se e sozinha nunca conseguiria lutar contra aquela louca e colocá-los aos quatro em segurança dentro de casa. Rezava para que Maeve não chegasse naquele momento e esperava que os treinos com Lochan, a auxiliassem no eminente confronto.- Falhaste, terás de fazer melhor que isso. – Maria sorria-lhe tentando mostrar-se confiante levando a mão ao nariz - Se fosse a ti não me agitava tanto, cheiras a mofo.- Já te feri uma vez, mas agora acabo contigo. - os olhos vazios fixaram-se nela, a boca espumava. - É verdade que me marcaste, mas a pequena cicatriz que me deixaste servirá sempre para me lembrar que nesse dia fui mais esperta e forte do que tu. – entendera finalmente quem as atacara naquela tarde.- Achas que vais ficar com o que me pertence? - Blá, blá, blá, pareces um disco riscado. – Maria sorria-lhe confiante – É verdade, não sabes o que é um disco, infelizmente não vou ter tempo para te explicar antes de te destruir.Estavam a uma distância segura de Lochan, paradas frente a frente. Maria sabia que tinha de resolver aquele assunto de uma vez por todas, o tempo começava a escassear, não tardava muito estava rodeada de mais almas penadas.- Parece-me que não percebeste bem. – Maria continuava a tentar adivinhar os movimentos de Hel nunca descurando a protecção de Lochan, usando o corpo como escudo – Por isso vou explicar-te uma última vez bem devagar, – tinha de a provocar até a descontrolar, nesse momento usaria a lança - tudo o que querias é meu e eu estou viva. – chegara a altura de acabar aquele impasse. - Odeio-te! - Hel lançou-se ferozmente na sua direcção com as garras em riste, o ódio a marcar a sua deformada cara - Vou matar-te.Lochan suava, rezando à Deusa para que protegesse Maria, sem conseguir tirar os olhos dela. Temia pela sua segurança.Eoghan e Fionn olhavam para Maria em pânico continuando a tentar mexer-se sem conseguirem. Rhenan gritava para que o matasse a ele, mas a boca mexia-se e não saía nenhum som. Temiam pela sua segurança, sentiam-se impotentes perante o que enfrentava sem a poderem ajudar.Maria fez o que Lochan lhe ensinara tantas vezes na cave. Agachou-se rolando para o lado, quando Hel lhe passou por cima levantou a lança acima da cabeça, espetando-lha. O grito que soltou foi de espanto e terror, o local onde a lança tocara queimava-a transformando-a em pó. Quando desapareceu, os homens saíram do transe em que se encontravam correndo na sua direcção.- Mo ghrá? – Rhenan abraçou-a, apertando-a contra o seu corpo - Estás ferida?- Estou bem, o Lochan?Lochan atrás do irmão afastou-o, puxando Maria para os seus braços.- Obrigado!- Estás a ver, prestei atenção a tudo que me ensinaste.Lochan sorria-lhe. Eoghan e Fionn observavam a escuridão. Rhenan continuava incrédulo com o que Maria acabara de fazer, salvara-os a todos colocando-se como escudo para proteger o irmão.- Afinal, o que vos aconteceu? - Vamos para dentro. - Fionn soava preocupado. Rhenan ajudou Maria a levantar-se. Fionn esperou que estivessem todos dentro de casa, parecera-lhe ver um vulto e não era uma das Sombras nojentas que tinham silenciado os seus lamentos depois de verem como Maria destruíra Hel. Maria vingara o irmão como Rhenan já o fizera, Fionn não conseguiu deixar de sorrir ao pensar que aquilo era justiça poética.Hel desaparecia tal como tinha vivido, amargurada e sozinha.Tinha a mão queimada, no local onde segurara a lança, encostou-a à parede sentando-se no sofá ao lado de Lochan.-  A mão dói que se farta.- Onde encontraste esta lança? Nunca a tinha visto. - Eoghan olhava, mas não se atrevia tocar-lhe via o que fizera à mão de Maria e a Hel, não arriscaria descobrir o que lhe poderia fazer a ele.- Estava lá em baixo na sala secreta. Se não é de nenhum de vocês não sei a quem pertence, mas pelo menos esta criatura asquerosa deixou de ser uma preocupação. Nem sabem a satisfação que me deu dar cabo dela.Os irmãos sorriam-lhe agradecidos, enquanto Lochan a puxava para os braços beijando-a. - Devo-te a minha vida.- Não me deves nada, somos como os mosqueteiros “um por todos e todos por um”. – Maria sorria-lhe feliz. Rhenan colocava-lhe um unguento que de imediato aliviou o ardor, embrulhando-lhe a mão numa ligadura. - Não sei o que isso é, mas já não sinto dor. – Maria chegou-se para o lado permitindo que Rhenan se sentasse – Agora expliquem-me o que vos aconteceu? Como escureceu tão depressa? O que estavam a fazer lá fora? Porque não se mexiam? - A tarde estava tão agradável que nos sentamos nos degraus a beber uma cerveja, foi quando ouvimos alguém chorar. - Eoghan ainda não parecia totalmente refeito – Vimos um vulto, pareceu-nos uma mulher. Estávamos tão distraídos que nem nos apercebemos que começara a escurecer e estúpidos como aparentemente somos, nem nos lembrámos que ninguém podia entrar com o portão fechado e sem que o alarme tocasse. – fez uma pausa engolindo o Jameson de um trago, voltando a encher o copo - Quando vimos quem nos confrontava tentámos regressar, porém uma estranha força impediu-nos de mexer.- Ouvíamos e víamos tudo. - Fionn continuou - Vimos-te chegar, ouvimos o que disseram, mas não te podíamos ajudar, nem ao Lochan, nem a nós.- Como conseguiste ficar imune? - Rhenan apertou-lhe a mão levando-a aos lábios.- Visualizei a luz azul protectora e avancei. Nem pensei que me podia acontecer o mesmo que a vocês, só queria tirar o Lochan dali e trazer-vos para dentro de casa em segurança.- E conseguiste. - Eoghan olhava-a com admiração. - Permite-me que te diga que tens um péssimo gosto em mulheres. Mereces melhor. - Maria apertava a mão de Lochan. - Obrigado. – levou-lhe a mão aos lábios beijando-lha.- Não consigo compreender como é que o feitiço que nos foi lançado não te afectou. – Fionn aceitou o copo que Eoghan lhe estendia.- Poderá ter algo a ver com o facto de ser sidhe.- Mas eu também sou.- Lochan ainda não sabemos bem como consegues estar aqui. Mas quem terá lançado um feitiço tão poderoso? Certamente não foi aquela desgraçada.- Uma Bruxa!- As Sombras são ajudadas por Bruxas?Ficaram em silêncio, não tinham resposta.- Sinto que tenho de vos pedir perdão. - Perdão? - Fionn tal como os irmãos olhava espantado para Maria - O que te leva a pensar isso?- As coisas que disse para a provocar.- Sobre seres a senhora do Clã? - Lochan observava-a divertido. - Sim! – baixou os olhos envergonhada.- Tu és a senhora do Clã! – Lochan sorria a Rhenan.- Não sou nada!- É verdade que não é como seres a senhora do castelo. Mas a casa também nunca foi um castelo – Fionn estava a adorar o rumo da conversa – Mas ser a senhora do Clã é um direito reservado à mulher do filho mais velho.- Mo ghrá! Eu sou o filho mais velho.Maria olhava admirada para Rhenan e depois para Lochan. - Mas disseste que eras tu! - O que te disse foi que confirmei a Hel o meu direito ao Clã, disse-lhe o que queria ouvir.- Senhora do Clã é um bocado snobe, continuo a preferir Maria e tu Rhenan podes chamar-me o que quiseres. – beijou-o - Lochan como te sentes? - Referes-te ao facto de Hel já não nos poder fazer mal? - Sim! - Sinto-me definitivamente vingado, penso que nos começámos a libertar dos nossos inimigos e ela foi a primeira dos muitos que ainda teremos de enfrentar.- Maria, contigo do nosso lado estou pronto para a batalha. – Eoghan levantou o copo piscando-lhe o olho agradecido.Ouviram o carro de Maeve estacionar, Fionn correu para lhe abrir a porta acendendo as luzes exteriores.- Felizmente chegou. – Rhenan respirava aliviado.- Ainda bem que só chegou agora. – Eoghan fechou as portadas da sala.- Por hoje chega! - Rhenan pegou na mão de Maria levando-a com ele, dando a conversa por terminada.Os irmãos aproximaram-se da lança, não se atrevendo tocar-lhe.Maeve entrou sorridente gritando-lhes boa noite, subiu a escadaria sem parar.Os primos deixaram-na ir, não a incomodariam com os detalhes do que acontecera naquela tarde.Fionn trancou as portas apagando as luzes, tinha a certeza de que naquela noite as Sombras ficariam quietas depois de verem o que acontecera a Hel.
Rhenan fechou a porta do quarto.- Mo ghrá, fiquei pensativo com o que disseste.- Hoje já disse tanta coisa.- Não pareceste muito satisfeita por ser a senhora desta casa.- Rhenan, olha para mim, – Maria aproximou-se, abraçando-o pela cintura - senhoras da casa são a tua mãe e tia. Não podes levar a mal por não me sentir bem com esse título.- Ainda não nos casámos porque me pediste para esperar e eu respeito a tua vontade. Mas és e serás sempre a senhora desta casa.- Isso é realmente importante para ti?- É! - Fazemos assim, até ser oficialmente tua mulher não falamos mais nisso. – percebeu que Rhenan não apreciara a resposta observando-a pensativo. - É a tua última palavra?- Sim! - Tive medo de te perder e acabaste por ser tu a salvar-nos. – Rhenan encostou os lábios aos dela. - Quase morri de medo. Não foi coragem, foi pensar que nunca mais te tocaria, te ouviria rir, te amaria. - Não me perdeste e é somente graças a ti que estamos seguros.- Tens de agradecer ao teu irmão por me ter treinado até à exaustão.- Agradeço mais tarde, agora desejo esgotar-me em ti.   - Homem, és insaciável.- E nem sabes tu o que te vou fazer. - Rhenan soltou uma sonora gargalhada. - Promessas! Promessas! – Maria revirava os olhos provocadora, era bom senti-lo descontraído depois do que acontecera.Rhenan pegou-lhe ao colo caminhando para a porta.- Para onde me levas?- Para o sótão, hoje dormimos lá. – beijou-a no pescoço arrepiando-a.- Não está frio?- Não te preocupes, eu aqueço-te.Maria encostou a cabeça ao seu ombro mordiscando-lhe o lóbulo da orelha, o pescoço, ouvindo-o gemer de prazer enquanto acelerava o passo.
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Published on April 08, 2020 02:00

April 7, 2020

in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 22


VINTE E DOIS

O sótão era um local soberbo, não tinha divisões e era do comprimento da casa. Também ali não se vislumbrava um grão de pó, Maria sentia que tinha de conhecer a senhora que limpava a casa e que parecia ser invisível, para lhe agradecer o excepcional trabalho. As clarabóias davam claridade ao amplo espaço. Debaixo delas estavam posicionados sofás e cadeirões com mesas de apoio. Fotos de Yggdrasil e do Clã cobriam as paredes. No canto mais afastado estava uma larga cama, um armário que ocupava toda a extensão da parede, uma tina e um lavatório com um aspecto rústico e a seu ver despropositado naquele espaço, mas apesar disso convidativo. Caminhou até ao armário abrindo a porta com curiosidade, deparando-se com uma série de kilts de um lindíssimo tartan azul. Lera num livro que encontrara na cave, que originalmente a palavra significava ser feito de lã leve. Cada Clã, possuía o seu próprio padrão, a sua própria cor e o deles era azul. Parecia propositado para combinar com os seus magníficos olhos.Devia ser muito interessante vê-los perfilados envergando os kilts, com a sua indomável aura de guerreiros. Não era difícil imaginá-los a cavalgar através das montanhas, a lutar, a jogarem todo o seu charme, as mulheres a caírem-lhes aos pés. Passou a mão nos tecidos, imaginando como seria fazer amor com Rhenan assim vestido. Tremeu perante a imagem que se formara no seu cérebro.- Tens frio? - a voz quente de Rhenan soou atrás dela aproximando-se.- Não! – voltou-se sorriu-lhe - A ter devaneios sexuais contigo.- Queres partilhar? – sorria diminuindo a distância que os separava apertando-a num forte abraço.- Estava a ver estes kilts e a pensar como deves ficar bonito assim vestido. Depois comecei a imaginar-nos aos dois a rolar na relva e o resto bem, deves conseguir imaginar.- Que isso não seja um impedimento, posso vestir-me. – observava-a divertido. - Com este frio morríamos enregelados.- Mas quem falou em sair de casa? – pegou em Maria pousando-a suavemente na cama deitando-se por cima dela.- Não te ias vestir?- Hoje não tenho tempo para isso.- E se entra alguém?- Pode sair. - já a começara a despir.- De quem é esta cama? - Não te preocupes, que só eu e o Lochan aqui dormimos.- Com mulheres?- Sozinhos. Já te disse que nunca trouxe uma mulher para esta casa, és a primeira e a última mo ghrá! - Sim, mas e o Lochan?- Esse trouxe muitas, - ria-se divertido - mas nunca para esta cama. Isso posso garantir-te. – calou-se, beijando-a até a sentir perdida.As roupas estavam espalhadas pelo chão, enquanto dois corpos nus roçavam um no outro numa dança embriagante, procurando-se. Tocando-se cada vez mais ansiosos, selvagens no seu desejo. Os lábios e as mãos hábeis de Rhenan conhecedoras do seu corpo levavam-na a sítios de onde não queria regressar. Quando se uniram ficou sem ar, o coração batia num ritmo desenfreado num desejo crescente, desesperado. Exigia perder-se com ele, não aguentava esperar mais. Rhenan percebeu a sua ansiedade juntando-se a ela na libertação final que os unia, continuando a beijá-la incessantemente, não a querendo deixar. Quando finalmente saiu de cima dela, puxou-a de encontro ao calor do seu corpo.Maria mantinha os olhos semicerrados observando o tecto com particular atenção. - Dava todo o meu ouro para saber no que estás a pensar.- Tens ouro?- Muito e é todo teu.- Sexy e rico, o meu ideal de homem.Rhenan beliscou-a divertido.- Uma faceta tua até agora desconhecida. Mas sim, tudo o que tenho, pertence-te.Maria virou-se beijando-o apaixonadamente, mordiscando-o ao de leve no queixo, a barba começava a arranhar. O cabelo comprido conferia-lhe um ar irresistivelmente selvagem.- És mesmo gostoso. – encostou-se ao seu corpo brincando com os pêlos do peito.- Quem eu? – Rhenan pareceu agradavelmente surpreso - És a primeira pessoa que o diz.- Sim, acredito que só tenhas ouvido, uh, ah, uh, que bom, blá, blá, blá. Mas acredita quando te digo que és incrivelmente saboroso.Rhenan ria-se com prazer.- Doida! - puxando-a para cima dele - Tu és a única mulher para mim, na dose certa, mesmo de loucura.- Tens os olhos azuis mais claros e quentes que já vi, gosto particularmente como olhas para mim quando fazemos amor. Ficam brilhantes, sinto que consegues ver dentro de mim. Adoro o teu cabelo indomável, tocar no teu peito, sentir as tuas pernas abraçarem-me, o teu toque, o teu sabor. Amo-te e desejo-te, nunca me vou cansar de ti.Rhenan parecia agradavelmente surpreso, nunca nenhuma mulher lhe falara assim.  Sentou-se nele possuindo-o como nunca tivera coragem de fazer. Os seus olhos seguiam todos os seus movimentos enquanto sucumbia ao prazer que lhe dava.Liberto de pensamentos Rhenan limitava-se a sentir. Seria digno de ser assim amado? As suas mãos seguravam-lhe as ancas acompanhando o movimento que começara, sentia-se perdido, cada nervo do seu corpo pronto a explodir. A cabeça de Maria pendida para trás, suspirando com o ardor que os consumia, o seu longo cabelo loiro a tapar-lhe os fartos seios. Se alguma vez imaginara o paraíso aquele momento era o mais perto que se atrevia chegar. Agarraram as mãos um do outro, olhos nos olhos. O castanho do seu olhar queimava-o por dentro, conseguia ver a paixão e o desejo que ardiam neles, acompanhou-a quando os seus corpos foram catapultados para o merecido êxtase. Ouvindo-a gemer deitando-se sobre o seu peito com o pescoço encostado ao seu pescoço, beijando-o. Rhenan puxou a manta que se encontrava aos pés da cama para os tapar. O sótão não era frio, era, porém, pouco utilizado. Adormeceram abraçados, perdidos no calor dos amantes, corpos suados de paixão e desejo saciado.Quando finalmente abriu os olhos ainda havia claridade. Olhou para Rhenan, a sua respiração ritmada dizia-lhe que dormia. Não mudara de posição continuando com o braço por cima dela. Cada vez que se mexia apertava-a. Pensou no que tinham acabado de fazer, tanto amor parecia loucura. Com aquele homem perdia todas as inibições.Era magnífico amar e ser amada com aquela intensidade. Desejava conseguir manter a chama entre eles sempre acesa, olhando para ele sabia que não seria difícil.Prestava pela primeira vez uma especial atenção ao tecto de madeira escura, parecia ter sido esculpido para contar uma história. Quem seria o artista? Conseguia vislumbrar Yggdrasil, o Freixo, as duas irmãs à volta de uma fogueira com uma mulher mais velha, possivelmente Morgaine. Via os irmãos e a prima com escudos e armas. Ali estava maravilhosamente gravada a história dos MacCumhaill. Sentou-se na cama deixando escorregar a manta para o lado ao ver-se representada no meio de um círculo com o pentagrama desenhado segurando numa mão a Fivelae na outra o Colar. - O que aconteceu mo ghrá? - Rhenan abria os olhos estremunhado.- Estás a ver aquilo? - Maria não conseguia falar limitando-se a apontar com o dedo para o tecto. - O que queres que veja? - Rhenan olhou para onde apontava e novamente para ela.- Não vês? - Maria segurou-lhe na cara obrigando-o a seguir o seu dedo – Ali! - Não vejo nada. Só o tecto a precisar de mais uma camada de verniz.Custava-lhe acreditar que não visse o mesmo que ela.- A sério?- Mo ghrá! Não vejo nada.  - Posso jurar-te que vejo a tua mãe e tia na companhia de Morgaine, tu com os teus irmãos e a Maeve, eu sentada num círculo de protecção com as chaves nas mãos. Como é possível que não vejas?- Não sei! – Rhenan já se levantara – Mas penso que devíamos informar os meus irmãos desta tua nova descoberta.- Sentia-me melhor depois de tomar banho.- Um banho aqui é muito agradável, queres companhia? – sem esperar resposta já abria uma arca retirando duas toalhas.- Preciso de alguém que me lave as costas. - sorria-lhe provocadoramente.- Um desejo seu é uma ordem, minha senhora. Enquanto a banheira enchia caminhavam nus, sem pudores, com Maria a apontar para o tecto dizendo-lhe o que via. Rhenan lembrava-se dos momentos do seu passado, os mesmos que descrevia.Com a tina cheia ficaram imersos na água quente e nos seus pensamentos. Maria esperava que um deles conseguisse ver o mesmo que ela para não pensarem que finalmente enlouquecera.Vestiram-se e fez a cama, apesar de saber que a misteriosa empregada limparia tudo com brio, não queria que se pusesse a pensar no que tinham feito.            - Vamos? – Rhenan estendeu-lhe a mão – Estou esfomeado, tens de me prometer que só lhes contamos quando estivermos de barriga cheia.- Mas eu estou de barriga cheia.– Até um guerreiro tem de se alimentar de vez em quando. - dava-lhe uma palmada no rabo obrigando-a a caminhar à sua frente.- Fracote.
Conforme prometera a Rhenan, não tocaria no assunto até terminarem o jantar. A pedido de Lochan cozinhava carbonara. - Diz-me que aprendeste a cozinhar com a tua avó. – Fionn espreitava por cima do seu ombro, desconfiado das suas qualidades como cozinheira.- Aprendi a observá-la. - Mas ver fazer não é a mesma coisa. - Se não gostares tens bom remédio, pão e manteiga.- Não estou a dizer que não vou gostar, só acho estranho ver-te à volta dos tachos.- Pode ser que ainda te surpreenda.- Só se me fizesses aquele doce de ovos.- Então estás sem sorte.- Logo vi! Era bom demais para ser verdade. - És sempre assim tão chato?- É uma das minhas melhores qualidades. Porquê? Não gostas?- Não!- Fazes mal, porque é a minha melhor faceta.- Consigo imaginar qual será a pior.Estavam todos sentados à volta da bancada da cozinha a apreciar divertidos o duelo. Era difícil vencer Fionn, normalmente as conversas acabavam com objectos a voar e com ele a fugir. Desta vez era diferente, era um intenso jogo de palavras que Fionn estava claramente a adorar.- Sabes que no futuro ainda podes precisar de mim para te ajudar e acredita quando te digo que te vou fazer a vida negra.- Estás a ameaçar-me? Estou a tremer! O que foi que viste pequena sidhe? Um tesouro? Uma mulher?- Terás de ficar na dúvida.- Pela tua cara não viste nada. Além do mais, não me parece que vá necessitar da tua ajuda no futuro.- Seria excelente se fosse uma mulher, assim podia contar-lhe o irritante que és. - adorava-o, mas infelizmente parecia apreciar demasiado ser parvo.- Dito nesse tom fico mais descansado. – Fionn abraçou-a, beijando-a no alto da cabeça antes de se sentar sorridente junto dos irmãos.Os outros riam-se divertidos, Fionn sabia como acabar a conversa com a vantagem sempre a pender para o seu lado.- A comida está pronta. – Maria colocou o tabuleiro no meio da mesa - Podem servir-se.Era esquisito para os irmãos e para a prima verem a comida desaparecer como que por magia do prato. - Mano, é bom ver que mesmo invisível contínuas com o mesmo apetite. Vê lá se não comes tudo. - Fionn repetia pela terceira vez. Maria estava sem apetite, ansiosa para lhes mostrar o que descobrira e saber o que viam.- A comida está deliciosa. - Obrigada Maeve. Rhenan estendia-lhe o prato para que lho voltasse a encher piscando-lhe o olho em sinal de aprovação. Quando todos menos Fionn e Lochan pousaram os talheres, Maria não aguentou mais.- Tenho algo para vos contar.Rhenan fez-lhe sinal de aprovação com a cabeça. - Estás grávida? - Fionn lambia os dedos.- Imbecil. - Maeve fulminava-o com o olhar.- Loira burra.- E recomeçaram os elogios, - Eoghan parou-os com a mão - continua Maria.- Passei a tarde no sótão e apercebi-me que o tecto está todo trabalhado, com a vossa história.- Está? - Fionn pousava finalmente os talheres, surpreso.Abanavam todos a cabeça incrédulos.- Tens a certeza? - Maeve escutava atentamente.- Tenho! Lochan sabias?- Nunca vi nada e olha que já pintámos aquele sótão diversas vezes.- O que estavas a fazer para veres o tecto tão detalhadamente? - Fionn cruzava os braços recostando-se na cadeira, sorria divertido.Maria sentia as faces quentes, cruzou o olhar com Rhenan que resolvia entrar na brincadeira. - Sim, mo ghrá! O que fazias lá em cima a olhar para o tecto?Passou do simples calor, a vermelho escarlate, o seu olhar pedia-lhe que se calasse. - Áh! Foi isso! - Fionn recomeçou a comer - Olha mano, não deves ter sido grande coisa para a tua miúda estar a olhar para o tecto. Isso a mim nunca me aconteceu.- Dizes tu imbecil. - Rhenan sorria divertido.- Posso ser imbecil, mas garanto-te que comigo nenhuma mulher ficou aborrecida. - Continua. - Eoghan fez sinal a Maria voltando a encher os copos.- Reparei na vossa história, mas o que me deixou surpresa foi ver-me representada com as chaves. - O que viste mais? - os olhos de Maeve brilhavam de excitação. - Gostava que fossem comigo lá acima para ver se vêem o mesmo que eu. O Rhenan não consegue.- Do que estamos à espera? - Eoghan levantou-se. Subiram a escadaria entrando no sótão com um Fionn muito irritado por ter sido interrompido a meio da refeição.Acenderam as luzes olhando todos para cima caminhando ao longo do sótão com os olhos presos no tecto. Maria conseguia perceber pelas expressões que tal como Rhenan não viam nada.- Então? - perguntou hesitante. Abanaram a cabeça em negação.- Lochan? – Maria esperava que pelo menos ele, sendo sidh, conseguisse ver.Lochan abanou a cabeça negativamente.- Sigam-me até este canto, aqui por cima da primeira fotografia da casa começa a história da vossa família.Explicava-lhes detalhadamente o que via. Rhiannon, Sergiu e uma mulher de cabelos castanhos escuros, não lhe distinguia a cara, mas tinha a estranha sensação de já a conhecer. Seria a Sacerdotisa da qual falava a Profecia? O seu olhar fixou-se pela primeira vez num livro de capa negra com um pentagrama desenhado, pousado aos pés de Rhiannon. - Já tinham visto este livro? - olhava para todos à espera de uma confirmação.- Esqueceste-te que não vimos nada? – Fionn queria voltar para a cozinha e acabar de comer.            - Descreve-o. – Lochan ficara subitamente curioso.Fez o que lhe pedia.          - Acho fantástico que tenhas descoberto isto. - Eoghan abraçou-a - Sinto-me confiante. Vou telefonar à mãe, contar-lhe o que nos disseste e perguntar-lhe sobre o livro.- Vou contigo, também quero falar com a minha. – Maeve seguia o primo.- Vamos todos! Por hoje chega. – Rhenan agarrou-lhe a mão dando aquele dia por terminado.Não discutiria, ainda queria arrumar a cozinha e ler.Fecharam a porta.Maria não reparou que a imagem de Rhiannon, lhes sorria.      Desceram as escadas juntando-se a Eoghan e Maeve na sala.- É como lhe digo, a Maria vê o tecto esculpido com a nossa história. Por acaso sabem a que livro se refere?Eoghan esticou o telemóvel a Maria. - Toma, a mãe quer falar contigo.- Boa noite Freya. É verdade. Tem capa preta. Sabe onde está? Em que parede? Eles não sabem? Ah! O Lochan sabia? Não? Já lhe ligo. - O que foi que a mãe disse? - Eoghan perguntou o que todos ansiavam saber.- Temos de ir à cave, a Freya diz que o livro está lá, foi ela que o guardou.Ninguém falava, limitando-se a segui-la.- Lochan, a tua mãe diz que tu sabes qual é o livro.- Não me recordo de nenhum livro de capa negra. - Chamou-lhe o Livro das Sombras de Morgaine.Continuavam em silêncio, pendentes das palavras de Maria.- Porque não me tinham contado que têm uma parede falsa?- Parede falsa? - Fionn parecia verdadeiramente perplexo - Não temos paredes falsas. Temos? – olhava curioso para os irmãos.- Segundo a Freya, têm uma na cave que abre para uma sala onde está guardado o livro.Entreolhavam-se confusos, Maria percebia que ninguém tinha conhecimento da sua existência. Separaram-se começando a bater nas paredes na esperança de que alguma diferença no som lhes indicasse o local. - Tive uma ideia, mas para que resulte vamos ser necessários todos. – Maria sorria-lhes timidamente. Pararam o que estavam a fazer aproximando-se dela.- Desde a minha última visita forçada a Tara, que tenho seguido os conselhos de Rhiannon e sempre que arranjo um tempinho livre, entre as aulas, os trabalhos, as visitas paternas e os treinos de defesa pessoal com o Lochan, tenho-me dedicado à magia.- Defesa Pessoal? - Rhenan olhava espantado para Maria. - Sim!- Onde treinam?- Aqui! Afastamos os móveis. Já comecei a treinar com armas.- Armas? Lochan ainda me matas a mulher.- Fica a saber, que sei manejar muito bem as espadas mais leves. Brevemente estarei pronta para lutar ao vosso lado. - Não duvido mo ghrá, mas esperemos que não chegue a isso.- Permite-me discordar. Que comece depressa para nos vermos livres desta maldição de uma vez por todas. - Fionn atirou-se para um cadeirão.- Estão todos prontos a tentar magia?- Vamos a isso. - Eoghan aproximou-se - O que temos de fazer?- Somos todos necessários. - olhava para Lochan.- Diz onde me queres.Maria sorria-lhe agradecida.- Afastamos as mesas e cadeiras. Vamos ainda precisar de sal grosso. Podes ir buscar Maeve?- Claro! – voltou-se subindo as escadas a correr regressando pouco depois.- Os homens colocam-se com um joelho no chão em círculo, como na representação do vosso Brasão. Maeve, ficas ao centro de pé virada para mim. - marcou um círculo com sal mantendo-os dentro.- Agora necessito que todos se concentrem naquilo que necessitamos encontrar. - acendeu seis velas brancas representando cada um deles.- Concentremo-nos no bendito livro. - Maeve estava determinada.Maria começou num tom monocórdico a repetir a mesma ladainha: “Deusa fia e não deixes de fiar até o Livro das Sombras encontrar”.Ninguém falava mantendo as posições, concentrados no mesmo objectivo. Pareceu-lhes ouvir ranger, ninguém se mexeu. Os homens continuavam com um joelho no chão e a cabeça a pender para a frente. Uma vez mais o ruído de algo pesado a arrastar soara tão alto que ergueram as cabeças, olhando ao mesmo tempo na direcção de onde vinha o som. Maeve foi a primeira a reparar no que acontecera.- Ali, estão a ver?Ergueram-se saindo do círculo de sal. Maria apagou as velas, satisfeita por ter começado a praticar a antiga arte. Aparecia-lhe naturalmente como se fosse algo que fizera durante toda a vida.Do lado esquerdo da lareira uma porta disfarçada na parede afastara-se para dentro da sala, deixando antever uma fraca luz no seu interior. Os homens avançaram decididos a arrancá-la caso fosse necessário, porém a porta deslizou suavemente permitindo-lhes passagem. A sala era suficientemente grande para lá caberem todos. Observavam fascinados. Ali estavam guardadas armas e uma enorme e pesada arca de madeira encostada a um canto. Maria avançou, havia algo no seu interior que a atraía. Fionn ajudou-a levantando a tampa. No interior estavam guardados kilts, admirava-os quando ouviu a voz sumida de Lochan, apontando para um deles. - Aquele é meu, morri nele. Maria apertou-lhe a mão. - Desculpa, não sabia.- Não podias saber. Porque vieste aqui? Está cheio de roupas velhas, não me parece que encontres o livro aí dentro.- Contínuo com uma estranha sensação. Segurando na mão de Lochan, colocou a outra sobre a roupa dele sentindo uma onda de calor passar através dela, voltou-se para ele. - Sentiste? - Ficou quente ou é impressão minha?- Ó minha Deusa! Lochan és mesmo tu! - Maeve gritava enquanto corria para abraçar o primo - Consigo ver-te, consigo sentir-te. Que maravilhosa magia é esta?Os irmãos avançaram para o abraçar.- O que aconteceu, Maria? - Lochan estava incrédulo. Os irmãos abraçavam-no, beijando-o, temendo que aquele momento acabasse e com ele o estranho regresso de Lochan. Maria não sabia o que acontecera, mas todos o conseguiam ver.- Mano que saudades. - Rhenan apertou o irmão num abraço apertado não o querendo largar, sendo correspondido com a mesma intensidade por Lochan enquanto olhava para Maria, o seu olhar dizia tudo.Maria sentou-se, as pernas fraquejavam.O tempo parara. Sentados no chão, conversavam como haviam feito tantas vezes. Rhenan puxara Maria para o colo, Maeve sentara-se no de Lochan. Ninguém queria dormir. O que acabara de acontecer era mais importante do que encontrar o livro, tinham tempo no dia seguinte ou noutro dia qualquer. Tinham decidido não contar à mãe até terem a certeza que não voltaria a desaparecer. Era difícil explicar como estava ali quando o seu corpo continuava guardado junto delas.
Quem é que no seu juízo perfeito gritava no jardim da frente?Passara uma semana desde que Lochan, se tornara visível e desde esse dia que se tornara praticamente impossível dormir. Pareciam crianças, lutavam nas poças de lama, corriam nus, e gritavam como se estivessem possuídos. Colocou uma almofada na cabeça, mas o barulho era demasiado naquela manhã.Abriu a janela do quarto. - Caso se tenham esquecido, nesta casa também vivem mulheres e além de não gritarmos tanto como vocês, acreditem que com tanta nudez começo a ficar baralhada.- Vê lá se vou aí e te relembro a quem pertences!- Isso é uma ameaça ou uma promessa Rhenan?- Eu dou-te a ameaça, rapazes não contem comigo. Estou fora. – já corria para casa.Sabendo o que a esperava, despediu-se com a mão sorrindo-lhes. - Então adeusinho.- Aproveita e vê se o tecto do teu quarto tem rachas, depois avisa. – riam-se com o comentário de Fionn.- Vai-te catar. – Maria fechou a janela, porém os gritos continuavam. A porta do quarto abriu-se. - Chamaste mo ghrá? Aqui estou! - abriu os braços.- Afasta-te de mim, estás todo sujo.- Eu sei, anda cá. – aproximava-se lentamente sujo de lama sorrindo-lhe - Com que então a admirar os meus irmãos.- Sempre me disseram que se é agradável à vista é para olhar.- Ai sim? Parece-me que vamos ter uma longa conversa. - de um salto agarrou-a.- Estás sujo, larga-me. – Maria ria divertida.- Não me parece. - roçou-lhe a cara com lama no pescoço, arrancando-lhe a t-shirt que tinha vestida. – Agora, estás tão suja como eu.- Doido! – ria-se como uma perdida.- Ainda não viste nada. - estava excitado, porém continuava a provocá-la, abriu a janela com Maria atirada por cima do ombro gritando para os irmãos - Senhores, apresento-vos a minha mulher.Os outros soltavam urros de alegria. - Estou nua Rhenan, fecha a janela.- Permite que te corrija, estás sem t-shirt, mas ao meu ombro eles só te vêm o teu belo rabo e as costas.- Enlouqueceste. - ria-se com prazer. Os irmãos continuavam aos urros recomeçando as lutas na lama. - Agora vou amar-te como o faria se te tivesse conhecido na minha adolescência. - Todo sujo? Que nojo! Agradeço a oferta, mas declino. Prefiro a modernidade com água e sabão.- A quem chamas porco? Eu sou Rhenan MacCumhaill um verdadeiro líder do meu Clã.- Mas olha que és um líder muito sujo. Enquanto falava e sem a largar atirou as peles que tinha em cima do cadeirão para o chão deitando-a sobre elas. - Se não me tivesses deixado enlouquecido tinha-te arrastado até lá fora, para rebolares na lama comigo.- Não me parece.Voltava a ser o delicado e apaixonado Rhenan, que tão bem conhecia e amava. Os seus suspiros eram acompanhados por gritos tribais, vindos do exterior. Aquela familiaridade e falta de pudor excitara-a e nos braços dele deitada em cima de peles, coberta de lama sentia-se amada. Era assim que devia ter sido, o que os unia era forte, era como se o conhecesse de uma outra vida. Se Rhenan era o seu destino aceitava-o de braços abertos.
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Published on April 07, 2020 02:00

April 6, 2020

in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 21

VINTE E UM

Naquela manhã, chegavam os pais. Enquanto aguardavam no aeroporto Maria e Rita acertavam os últimos detalhes sobre o que dizer.Com a ajuda de todos tinham feitos compras, arrumado a casa e escondido o que as pudesse comprometer, como o facto de Pedro lá morar e Maria não.Lochan estava ao seu lado, mantinha a promessa que fizera ao irmão. Antes de a deixar no aeroporto, Rhenan só dizia que seria tudo mais fácil se contassem a verdade sobre a sua relação aos pais. A ideia de Maria ficar afastada dele era uma tortura, obrigara-a a prometer-lhe que se manteria dentro de casa antes do pôr-do-sol sempre com o irmão por perto.Viu a família, avançando para os receber. Abraçou os pais e a avó que não tirava os olhos de Lochan. Este sentia o olhar da avó de Maria, porém custava-lhe acreditar que o conseguisse ver. - Bem-vindos, a Dublin! Vamos colocar as malas em casa, depois quero mostrar-vos esta fantástica cidade. – agarrou a avó pelo braço pegando-lhe na mala caminhando na direcção da paragem de táxis. Lochan seguia-as de perto contrariado por não poder ajudar a levar a bagagem.- Estás com um aspecto saudável, mas outra vez mais magra. Temos de resolver isso enquanto aqui estivermos. – a avó sussurrava para que a mãe não as ouvisse.Ao chegarem a casa subiram para se refrescarem, dormiria com a avó no seu quarto. Maria fechou a porta para poderem conversar à vontade.- Tenho tanto para te contar que nem sei por onde começar.- Podias começar por me dizer quem é aquele bonito rapaz que tem estado sempre atrás de ti e que ficou lá em baixo. - Consegues vê-lo? Mas como?- Consigo e sei que está aqui para te proteger.Maria abraçou-a emocionada, a avó nunca deixava de a surpreender. - Só mesmo tu para compreenderes a loucura em que vivo, sei que entenderás tudo que te quero contar. E vou precisar muito da tua ajuda para nos mantermos todos dentro de casa antes de escurecer.- Assim será. Vamos descer que te trouxe uns miminhos.- Pastéis de nata?- Entre outras coisas.- Já estou a salivar.
Não se demoraram muito, até chamarem outro táxi que os deixou no centro de Dublin.Visitaram o Trinity College. Passearam por Stephen’s Green, fizeram um passeio turístico num anfíbio viquingue que lhes deu uma panorâmica geral da beleza e história da cidade. Havia tanto para ver, que os dias não chegariam. E como a mãe não gostava de caminhar, acabaram por almoçar no Temple Bar seguindo dali para casa.Sabendo que o bar pertencia a gentes do Clã, Maria sentia-se segura. Lochan olhava à volta sequioso por uma Guinness.Nessa noite, a mãe que conseguira embarcar clandestinamente uma mala de comida, preparou um fantástico bacalhau com natas acompanhado de um belo vinho branco de Borba. Os pais estavam estafados e já se tinham retirado para os respectivos quartos. Rita ajudou-a a lavar a loiça e a arrumar a cozinha, deixando-a na sala com a avó e sem o saber com Lochan.- Como te chamas meu filho?Lochan pegara no prato que Maria lhe preparara servindo-se de vinho.- Não te assusta que só tu o consigas ver?A avó sorriu-lhe olhando directamente para Lochan.- Senta-te perto de mim meu filho. Lochan fez-lhe a vontade, estava curioso para ouvir a explicação da avó de Maria.- É um prazer conhecê-la.A avó Lena segurou-lhe na mão, Lochan estremeceu ao seu toque. - Consigo senti-la! - olhava para Maria que encolheu os ombros parecia tão confusa quanto ele.Sorria-lhes candidamente enquanto lhes explicava.- Algumas mulheres da nossa família sempre tiveram um sexto sentido muito apurado e que pelos mais diversos motivos esconderam. - falava sem lhe largar a mão – No meio pequeno onde nasci se fosse de conhecimento geral, toda a família seria acusada de bruxaria e as consequências não eram brandas. Por isso decidimos manter estas capacidades dentro do seio da nossa família e com o passar do tempo esquecemo-nos do que éramos capazes. - largou a mão de Lochan para que pudesse comer.Maria sentou-se ao lado da avó absorta nas suas palavras.- Para entenderem melhor o que vos digo tenho de começar por vos contar uma história. – serviu-se de um copo de água bebericando antes de começar - Numa noite em que o céu estava carregado e soprava um forte vento, apareceu à nossa porta, uma lindíssima mulher, cabelo cor do fogo, pele alva, olhos verdes, vestida de negro e com uma pesada capa de pele de ovelha. Lochan pousara o prato vazio, hipnotizado pelas palavras da avó de Maria.- A minha mãe nem pensou duas vezes, convidando-a a entrar, ofereceu-lhe um caldo quente. Ficou a viver num quarto do andar térreo. Ensinou-me sobre ervas, chás, como aperfeiçoar o meu dom. Foi este conhecimento que me permitiu ajudar quem necessitasse. - Porque nunca me contaste?- Nunca pensei que pudesses ter herdado as nossas capacidades. Peço-te que me perdoes por não o ter feito. Mas a verdade é que quando as minhas filhas e sobrinhas nasceram nenhuma tinha o dom. Apesar disso sempre soube que eras especial.- Especial?- Recordas-te da noite em que o teu avô morreu? Nessa noite dormiste na minha cama.- Lembro-me de acordar com alguém a tocar-me na face e não teres sido tu por estares de costas para mim. Não tive medo, mas nessa noite não voltei a dormir. – Maria recordava-se.- E do que te disse no dia seguinte? – a avó Lena sorria-lhe com amor.- Disseste-me que era o avô a despedir-se.A avó anuiu com a cabeça.- Quando me contaste pensei que pudesses ser vidente. Porém não voltou a acontecer e com o passar do tempo coloquei de lado essa hipótese. Convenci-me que as nossas capacidades acabariam comigo, quando morresse. Agora vejo como és extraordinária.- Não me sinto assim tão especial.- És a fiel depositária da nossa herança familiar, é minha obrigação explicar-te a responsabilidade que acarreta e como a deves usar.- Tenho tantas dúvidas. Aconteceu-me tanto nestes meses que nem sei por onde começar.- Não será necessário, tenho sentido a tua ansiedade. Quem é o Rhenan?- Rhenan? Lochan escutava fascinado. - Ao segurar as vossas mãos percebi que existe algo que vos une. E apareceu-me esse nome.Maria olhava para os dedos nervosa.- Talvez eu possa explicar! Lochan olhava para a avó Lena com um profundo respeito. – É o meu gémeo e está perdidamente apaixonado pela Maria. Olhou para a neta.- É verdade?Maria sorriu em resposta.- Mas sabes que se contar aos meus pais, arrastam-me para casa.- Sei e será o nosso segredo. – a sua voz era doce - Lochan gostava que me falasses sobre a vossa família. Mas se me permitem vou fazer um chá e trazer uns bolinhos, depois fechamos esta porta e conversamos calmamente. – já se levantava, caminhando silenciosamente para a cozinha. Maria seguiu-a ajudando-a, enquanto Lochan colocava mais lenha a arder. Não repararam no avançado da noite até Maria notar que a avó estava estafada. Maria enviou uma mensagem a Rhenan. “Amo-te muito. Estou doida de saudades tuas”.Recebeu de imediato resposta. “Não me provoques. Não sabes que não consigo dormir sem ti?”.Maria dividiu a cama com a avó, sempre se sentira protegida perto dela, continuava a ser a pessoa mais importante da sua vida.
Lochan deitou-se no sofá da sala com uma almofada e manta que Maria lhe trouxera, sentia uma paz interior da qual não se lembrava há muito tempo. Aquela mulher que aparecera no momento mais conturbado das suas vidas era como uma brisa de ar fresco. Sentia-se seguro perto dela, a avó Lena conseguia ver através da escuridão que os rodeava, percebia a razão de Maria ser especial.No exterior reinava a paz, se as Sombrasse moviam não as sentia. Desde que se tornara visível aos olhos de Maria que começara a sentir necessidade de coisas básicas como dormir e comer, e o bacalhau com natas estava divinal. Resistiu para não se levantar e servir-se de mais um prato.
Os pais tinham feito uma lista dos locais que pretendiam visitar. Almoçaram no restaurante panorâmico na fábrica da Guinnesscom vista privilegiada sobre a cidade.A avó queixou-se de cansaço e como os pais ainda queriam continuar a sua descoberta de Dublin, Maria decidiu regressar a casa com a avó.Apanharam um táxi.- Minha filha! Não estejas preocupada, não estou cansada, - a avó Lena segurava na mão de Maria com um sorriso matreiro - foi uma pequena mentirinha que arranjei para poder conhecer finalmente o resto da tua nova família.Lochan ria-se divertido.- Foste matreira. - Maria tirou o telemóvel do bolso. Rhenan atendeu ao primeiro toque - Podem ir ter a minha casa?- E os teus pais? - soava preocupado. - Ficaram em Dublin. Venham depressa, temos muito que conversar. - Estamos a sair. Acabavam de entrar em casa quando ouviram um carro estacionar.Passara pouco tempo desde que falara com Rhenan, talvez o sangue de Dragão lhes tivesse dado asas. Maria ria-se com o pensamento enquanto lhes abria a porta.- Estamos sozinhos? – Rhenan falava baixinho com os irmãos e a prima parados atrás dele.- Se estás a perguntar sem pais? Sim!Puxou-a para os seus braços, beijando-a.- Meus! Deixem-se disso, tanto mel enjoa. - Fionn empurrou-os tentando passar – Queres explicar-nos porque fomos convocados?- Para vos apresentar a minha avó, a pessoa mais importante para mim e para o Lochan.- Lochan? - Maeve entrara exactamente quando Maria acabara de falar - Ela também o consegue ver?- Ver, tocar, o bolo todo.- E achava eu que tínhamos uma família estranha. Miúda tu consegues superar-nos.- Cala-te avestruz, não sabes o que dizes. – Maeve já passava à frente de Fionn empurrando-o.- E tu sabes Barbie?Acabaram os insultos, com as línguas de fora.A porta da cozinha abria-se, a avó Lena sorria-lhes calorosamente. - Venham meus filhos preparei um lanche.Começaram as apresentações, entre beijos e abraços a avó Lena rapidamente conquistou os MacCumhaill. Lochan não saía do seu lado animado sempre pronto a ajudar, era uma pena que nenhum dos irmãos o conseguisse ver.O tempo passava a correr, os pais podiam chegar a qualquer instante, despediram-se. Fionn saía satisfeito levando com ele um tupperware de pastéis de bacalhau e rissóis de camarão. A avó segurou Rhenan por um braço.- Meu filho, basta olhar para ti para ver o amor que sentes pela minha menina. Peço-te que olhes sempre por ela, que a protejas. - beijou-o com afecto. Rhenan abraçou a avó Lena prometendo-lhe estar sempre ao lado de Maria.Emocionada despedia-se de Rhenan com lágrimas nos olhos. - Não chores, mo ghrá! – Rhenan limpou-lhas com o polegar, beijando-a.- São lágrimas de felicidade, compreendes agora porque a amo tanto?- É uma mulher adorável. Se a amava através de ti agora que a conheço amo-a ainda mais.- Obrigada! - Tenho de ir Maria antes que os teus pais cheguem. – sorria-lhe divertido, sentia-se um adolescente a quebrar regras - Não te esqueças que combinaram ir almoçar amanhã lá a casa. - Ainda temos de arranjar uma desculpa plausível.Maria e Rhenan beijaram-se com a promessa de em breve voltarem a estar juntos. A avó despedia-se à porta de casa acenando-lhes com Lochan sempre a seu lado. Quando deixaram de ver o carro entraram fechando a porta.- Vovó! Como se chamava a rapariga que trabalhou em casa da tua mãe?- Rhiannon.Lochan e Maria entreolharam-se. - Esse nome diz-vos alguma coisa?- Nem sabes como! - Agora deixaram-me curiosa.- É o nome da feiticeira que nos ajudará, conhecia-a em Tara.- Estiveste novamente na terra das Fadas? Quando? – Lochan soava ansioso. - Numa destas noites.- Como…- Lochan sentia-se confuso.- Vamos para a cozinha, conversamos enquanto preparo o jantar.- Eu ajudo a minha avó, tu podias ajudar-nos a levar as coisas para a mesa.- Largas uma bomba dessas e esperas que esqueça e fique calmo?- Estou aqui, não estou?A avó Lena sorria divertida.Lochan tinha de se conformar com a resposta, insistiria mais tarde. Sentia-se feliz por se útil.Existia um degrau para o interior da cozinha que ficava num nível inferior, era ampla com uma sala e acesso a um jardim vedado por uma cerca de madeira.Começara a chover e o céu escurecia. Os pais tardavam a regressar. Maria telefonou-lhes, mas ia para as mensagens, começava a ficar inquieta. A avó apercebera-se do seu nervosismo. Entregando-lhe uma infusão de chá acabado de fazer. - É um calmante natural, bebe que te vai fazer bem. Fez o que lhe dizia prestando atenção ao que fazia, parecia rezar enquanto deitava sal grosso e algumas ervas dentro de um tacho. Reconhecia o alecrim, o cravinho e a arruda. A avó estava a efectuar um ritual de protecção.- Posso ajudar-te?A avó ficou satisfeita com o pedido da neta. - Repete comigo esta ladainha até os teus pais chegarem, “raio azul de luz protector, protegei-os a todos do mal e da dor”, tens de visualizar essa luz brilhar à volta de todos aqueles que nos são queridos. Temos de nos concentrar nos teus pais e nos nossos amigos, até entrarem não podemos parar.Maria anuiu com a cabeça imitando a avó. Lochan, na sala, reparara que o dia escurecera rapidamente, a chuva aumentava de intensidade, o vento uivava, mas sabia que não eram só os uivos do vento que ouvia, as Sombras rondavam a casa. Sentia-se impotente por não poder ajudar Maria a trazer os pais em segurança. Deixou-se ficar encostado à janela observando o exterior, reparando nos subtis movimentos nos arbustos, sabia que não o conseguiam ver, mas ele via-os e conseguia sentir a sua ameaçadora alegria. Tinha de evitar que Maria corresse ao encontro dos pais, sabia que estava na cozinha com a avó, conseguia ouvi-las. Só a Deusa os podia proteger. O tempo passava e nenhum se mexia das suas posições. Lochan sentia que a protecção que as mulheres pediam estava a resultar, conseguia ver nitidamente uma luz azul envolver a casa estendendo-se pela estrada continuando a avançar. As Sombras afastavam-se uivando de dor. O poder daquelas duas mulheres era muito forte.Na cozinha Maria e a avó tinham dado as mãos, a força das duas avançava, protegendo tudo e todos à sua passagem, a luz procurava a família. Sentiram quando a encontrou, já só tinham de os manter dentro da sua protecção até chegarem a casa. O esforço que faziam era enorme deixando-as extenuadas, mas sabiam que não podiam parar.Lochan gritou avisando-as quando vislumbrou luzes aproximarem-se. Um táxi acabara de parar à porta. Saiu da janela caminhando para junto delas. - Já podem parar o que estão a fazer, resultou. - correu para as amparar, estavam esgotadas. Antes que a porta da rua se abrisse pegou na avó Lena subindo rapidamente as escadas, empurrou a porta do quarto deitando-a cuidadosamente na cama. A avó Lena agradeceu-lhe passando-lhe a mão pela cara, assegurando-lhe que estava bem. Deixara Maria sentada no largo sofá na sala anexa à cozinha, a recuperar do exigente esforço. Não sairia de ali até ter a certeza de que aquela adorável mulher ficava bem. Puxou uma cadeira sentando-se perto da cama ouvindo-a respirar.
A porta da rua abriu-se. Entravam, falando ao mesmo tempo, impressionados com o que tinham visto. Sentia-se estafada, mas não podia deixar que a mãe pensasse que estava doente senão nunca mais se ia embora. Levantou-se do sofá com esforço, sabia que Lochan ficaria com a avó. Colocou um tacho com água ao lume para cozer esparguete, com sorte conseguia cozinhar carbonara. Ouviu a mãe chamar. A porta da cozinha abriu-se.Maria informou a mãe que a avó estava a descansar e que naquela noite seria ela a fazer o jantar. - Onde compraste esse anel? - a mãe olhava para a mão dela.- Gostas?- É bonito. Tentei encontrar um parecido para a tua prima, mas não consegui. Nem mesmo nas ourivesarias. Se encontrares um parecido compra-o e envia-mo.- Fica descansada.A mãe achava o anel bonito? Era um espanto! Era seu e era único.- Vou levar os sacos para cima e espreitar a tua avó. Já desço para te ajudar.- Não é preciso.- Desço já.Maria sentia que a sobremesa seria uma valente seca. Teria de pousar de modelo para as roupas que a mãe decidira comprar-lhe e que não seriam certamente do seu agrado. Suspirava desanimada. A avó nunca descera para jantar e a mãe achara por bem deixá-la descansar. Lochan informara Maria que a avó Lena dormia calmamente. Naquela noite, depois de todos se deitarem e do serão mais longo de que se lembrava a experimentar roupas, Maria preparou um chá e torradas para a avó comer. A protecção que fizera, resultara, porém, deixara-a esgotada.Acordou-a, obrigando-a a comer.Apesar de não ter fome fez a vontade à neta.
Aproveitando o silêncio Lochan dirigiu-se à cozinha, ia comer o que sobrara da massa. Tinha sido fantástico ver o poder combinado de Maria e da avó Lena afastar as Sombras. Suspeitava que ainda deviam estar a pensar no que lhes acontecera. Só era pena que tivesse de regressar, ia ter saudades daquela fantástica mulher. Pegou num copo servindo-se de vinho. Aquela noite não era para dormir, mas para celebrar novos amigos, pessoas que marcavam a sua vida de forma positiva. - Slainté!- ergueu o copo bebendo de um único trago, pegou na garrafa voltando a encher aproximando-se da janela olhou para o exterior onde ainda se vislumbrava a luz azul forte e brilhante.
As Sombras nunca tinham sentido uma força tão poderosa como naquele dia, perdidas nas suas maledicências há demasiado tempo para se darem ao trabalho de ver com quem lidavam. A energia vinda do interior daquela casa era muito forte, muitas tinham sido reduzidas a cinzas, extinguindo-se para sempre. Gol continuava parado no exterior a observar a casa, sequioso de destruir a mulher que partilhava a cama do líder do Clã seguindo-a para onde fosse e naquela noite presenciara o seu poder. Sentia-se enfraquecido com a destruição das Sombras que sempre o seguiam, dizimadas pela forte luz que irradiara da casa. Uivou alto, sentindo rastejar perto de si, não necessitava de olhar para saber quem era, Hel parecia confusa com o que acabara de presenciar. As forças que protegiam os MacCumhaill eram poderosas.Gol protegia-se da claridade que circundava a casa, a raiva que sentia era imensa, atraindo Hel e as demais Sombras para si, era delas que obtinha a sua força.
De manhã, ao abrir os olhos, viu que a avó já se levantara, saltando da cama desceu as escadas a correr chamando-a.- Vovó onde estás?- Na cozinha filha.- Sentes-te bem?- Como nova.A casa estava estranhamente silenciosa.- Onde estão todos?- Foram numa visita turística às montanhas de Wicklow, iam visitar Glendalough. - Glendalough?- Não te assustes, o Lochan já me explicou que é onde vivem. Só com muito azar é que os encontramos. - O Lochan?- Está lá fora a apanhar sol.- Mas isso é possível?- Não sei, mas deve estar a gostar, já lá está há bastante tempo. - riu-se baixinho - Vais tomar o pequeno-almoço que te vou arranjar. Depois vestes-te e vamos para Yggdrasil. Quero conhecer a tua nova casa.- Vais adorar. – os olhos de Maria brilhavam na expectativa.
Acabava de se vestir quando ouviu a voz de Rhenan, desceu as escadas a correr lançando-se nos seus braços, beijando-o.- Mo ghrá! Isso são tudo saudades? - não a largou.- Sinto muito a tua falta, não gosto de ficar longe de ti.- Vamos meninos. - a avó passou por eles com a carteira pendurada no braço, levava um bolo de bolacha com café, acabado de fazer.Lochan apareceu bem-disposto.- Estás bronzeado? – Maria observava-o surpreendida.- Está? - Rhenan parecia tão espantado quanto ela. - O teu irmão está mesmo bonito, como é que conseguiu bronzear-se não faço ideia. Sabes, - Maria pendurou-se no pescoço de Rhenan - se ficares com a mesma cor do teu irmão, passamos os dias fechados no quarto.- Tenho mesmo de te afastar dele!Maria ria-se divertida mordiscando-lhe o lábio. - Vamos. Senão terá de ser o Lochan a levar o carro. – Rhenan gemia de excitação.Era tentadora a ideia de um carro a mover-se sem condutor.
Maeve mostrava entusiasmada todos os cantos da casa, guardando a sala da cave para o fim. Seria ali que tomariam chá depois do almoço. Passearam pelos jardins sentando-se perto do lago. A avó Lena adorara, dizendo-lhes que aquele lugar era especial. Vira fascinada, fotografias da família tiradas ao longo dos séculos. Observava por cima do ombro da avó, era excitante ver Rhenan envergando kilt com as suas longas e musculadas pernas. Sacudia discretamente a cabeça, tinha de se deixar de devaneios, não lhe faziam bem às suas já fracas, sanidade e decência. Rhenan parecia ter-lhe lido os pensamentos, sorrindo-lhe provocadoramente. Desde que se mudara para Yggdrasil, nunca se apercebera que a casa tinha sótão. Sempre adorara casas antigas e aquela era a melhor de todas. Almoçaram um estufado irlandês muito parecido com o que a avó costumava fazer e foram para a cave.A avó contou-lhes, o que fizera no dia anterior com a ajuda de Maria, explicando-lhes como era relativamente fácil criarem uma aura de protecção. Falaram de Rhiannon. Maria contou a sua experiência na noite em que aparecera em Tara onde a conhecera e esta lhe confirmara ser sobrinha de Morgaine. A avó avisou-a, que se tinha estado em Tara, ainda que em sonhos, os Tuathasabiam. Ninguém entrava ou saía do mundo das Fadas sem o conhecimento da sua rainha.- Não percebo, - Maeve, colocou as mãos na cabeça - então a única pessoa que nos pode ajudar a encontrar o Colar de Brisingamené refém de Danu? E esta só a entrega se lhe entregarmos o Colar? Mas isso é impossível!- Contei à Freya, que me assegurou que tudo se resolveria, só temos de esperar e ter paciência.- Falaste com a minha mãe? - Eoghan parecia espantado - Quando?- Numa altura menos boa. - corou enquanto olhava para Rhenan à procura de apoio. Este apertou-lhe a mão, puxando-a para si.- Minha querida, sei o que te aconteceu. Sonhei contigo, estavas muito triste, mas nem tu nem o Rhenan têm de se preocupar. Maria beijou a avó.- Têm de ter paciência, este assunto com os Tuathatambém se resolverá e brevemente contarão com a preciosa ajuda de Rhiannon. Digam-lhe que tenho muitas saudades dela, das nossas conversas e que lhe estou eternamente grata por todos os seus ensinamentos. - Vovó tenho tantas dúvidas. - Tentarei esclarecer o que conseguir. - a avó olhava para a árvore representada na cave.- Sou a primeira chave, mas ainda tenho de encontrar a Fivela de Aker e o Colar de Brisingamen e nem sei por onde começar. Como e quando vou saber quem são as pessoas que ainda se juntarão a nós? - Eu conhecia a Profecia, Rhiannon falou-me dela, o que não sabia é que seria concretizada com a ajuda de uma das minhas netas. Sabemos que és a sidhee Rhiannon a feiticeira. Não sei quem são o guerreiro e a sacerdotisa, porém confio que se apresentarão quando chegar a hora. – apertou calorosamente a mão da neta - Reparei que têm aqui livros que vos poderão ser úteis. Levantou-se, retirando alguns das prateleiras. Lochan ajudava-a, transportando-os e colocando-os em cima da mesa. Continuava a ser estranho para a família ver os livros levitarem pela sala.Ouviram com muita atenção o que a avó lhes dizia quando até o tempo parecia estar contra eles.Quando se despediram não conseguiram disfarçar a tristeza que sentiam. A avó regressava a casa na manhã do dia seguinte. Abraçou-os, dizendo-lhes algo ao ouvido de modo a que os outros não a escutassem. - Avó, não tem mais daqueles pastéis deliciosos? - Fionn, tentava a todo o custo quebrar aquele momento de nostalgia.- Não meu filho. Mas se pedires com jeitinho, a Maria pode fazer-tos.- A sério? - olhou-a com desconfiança - Tenho a certeza de que serão maravilhosos, mas nunca tão bons como os seus.- Pode ser que te surpreendas.- E os bolos também? - Fionn continuava a olhar para Maria com desconfiança.- Tudo!- Cunhadinha do meu coração vem aos meus braços.- Mas é que nem venhas, - Maria tentava a custo afastá-lo - uma ajudinha Rhenan.- Sabes que essa besta se conquista pelo estômago, enche-lho e ele nunca mais nos chateia.- Também tu? – Maria continuava a tentar afastar Fionn que a abraçava.A avó Lena ria-se divertida, sentia o amor deles pela neta.Acompanharam-nas ao carro com desejos de se voltarem a encontrar muito em breve. A avó convidou-os a visitarem-na sempre que quisessem.            Rhenan estacionou o carro, ajudando a avó Lena, despedindo-se com a recomendação de que lhes telefonasse a confirmar que chegara. Beijou-a com carinho esperando que entrasse em casa antes de se despedir de Maria.- Amanhã voltas a levar tudo para casa.- Sabes que não trouxe muito. Até estou espantada que a minha mãe não tenha reparado na quantidade de roupa que tenho dentro do armário e gavetas. – ria-se divertida.- Mesmo assim, espero que seja a primeira e última vez que temos de fazer este teatro. És minha mulher e não te quero longe de mim.- Amo-te Rhenan.Beijou-a, deixando-a sem fôlego.Entrou no carro sem olhar para trás, conduzindo para Yggdrasil com o coração partido por não a poder levar com ele.
Maria e a avó Lena mudaram de roupa começando a preparar o jantar. A família e os amigos chegariam a qualquer momento, esfomeados e certamente com muitas histórias para contar. Naquela última noite, conversaram de coisas triviais como os exames, o casamento de uma prima no início de Julho e nas férias de Verão. Claro que Maria queria regressar a Lisboa, ainda que por um curto período, ir à praia, estar com a família e os amigos, mas isso implicava estar quase dois meses longe de Rhenan, dos MacCumhaill, da sua nova existência. Ninguém parecia notar a sua ansiedade excepto a avó que lhe sorria. Mais tarde, decidiria o que fazer, qual fosse a sua decisão a avó estaria sempre do seu lado.Rita e Maria levantaram a mesa e limparam a cozinha em silêncio, imersas nos seus pensamentos, ainda tinham tempo até ao final do semestre, mas após a conversa das férias tinham de começar a pensar em novas desculpas e tornava-se cansativo mentir tanto.Era a última noite que passava com a avó, abraçou-a, queria conservar nos seus sentidos, o seu calor, o seu reconfortante odor a Primavera.
Acordou com o sol a bater-lhe na cara, abriu os olhos a custo reparando que a avó já se levantara, a mala encostada à porta do quarto. Sentia um aperto no coração, saltou da cama, tomou um duche rápido, vestindo-se como se sentia, de negro.Desceu as escadas, entrando na sala onde a mesa estava preparada. Lochan sorriu-lhe, aproveitando para comer antes dos outros descerem. Se não fosse uma sombra poderia jurar que estava mais gordo. - Mas tu não páras?- Que queres que te diga, sou fraco! Enquanto a tua avó continuar a cozinhar não consigo. Como se chamam estes deliciosos bolinhos? – colocava dois na boca enquanto estavam quentes.- Bilharacos, são de abóbora e são típicos da cidade onde nasceu.- E este doce dos Deuses?- Ovos-moles. – Maria sorria divertida.- Esta mulher é uma Fada.- Não fales nelas, que dá azar.- Tens razão.- Então meninos, estão a gostar?A avó assomava à porta, sorrindo com prazer ao ver Lochan comer com satisfação um pouco de tudo o que preparara.- O Lochan não se queixa. – Maria abraçou-a beijando-a.- Sabes fazer este doce?- Lamento, mas os ovos moles só os sei comer.- Que pena. Avó não me quer levar consigo?- És sempre bem-vindo, mas vais ser necessário aqui meu filho.A avó pegou na mão de Maria levando-a com ela para a cozinha.- Ontem percebi que escondias algo e quero regressar a casa sabendo que não ficou nada por esclarecer. Por acaso terá alguma coisa a ver com o guerreiro de que fala a Profecia?A avó conseguia ler-lhe os pensamentos, não estava habituada a mentir-lhe e não ia começar naquele momento.- Sei quem é, mas a seu pedido não posso contar a ninguém.- Nem mesmo ao Rhenan?- A ninguém. Aqueles irmãos não conseguem manter segredos entre eles.- Já pensaste que se calhar têm razão?- É verdade! Mas tu sempre me disseste que se me for pedido um segredo devo mantê-lo.- Mas também te deves reservar o direito de o expor se as circunstâncias assim o exigirem.- E como sei se o devo fazer?- Saberás! És muito intuitiva, na altura certa, agirás, mas nunca exijas de ti mais do que te é permitido. - segurou-lhe a mão - É aquele miúdo chamado Sergiu, não é?- Sim! Já sei a identidade de três pessoas das quais fala a Profecia, quem será a quarta? Quem virá para fechar o ciclo? Como traremos o Lochan de volta? Tenho a cabeça a mil.- Respira fundo, o tempo prova ser sempre o melhor conselheiro. Tens de dar tempo ao tempo, que ter fé.- Não podes ficar mais uns dias?- Não filha, isto é algo que terás de ser tu a resolver. - O que lhes disseste ontem ao despedires-te?A avó Lena sorria-lhe, passando-lhe a mão pela face.- O que precisavam de ouvir. A porta da cozinha abriu-se, Lochan entrava a mastigar.- Aproveito para me despedir de si, os outros já começaram a descer.A avó Lena abriu-lhe os braços apertando-o e beijando-o com carinho enquanto lhe afagava o cabelo.- Gosto de ti meu filho, espero ver-te em breve deste lado.- Que a Deusa a ouça.  O barulho dos passos e da bagagem a ser transportada escadas abaixo colocava um ponto final na despedida. A partir daquele momento seria sempre a correr até embarcarem. Já não teria possibilidade de voltar a falar com a avó sem ser na presença dos pais, mas a visita dela tinha-lhe dado a força de que necessitava.Podia contar com a avó para tudo, mesmo para algo tão estranho como a sua nova existência.
Ficou parada a ver a família passar as portas de embarque do aeroporto de Dublin. Sentia-se vazia, tinha vontade de chorar. - Vamos para casa mo ghrá! – Rhenan aproximara-se, abraçando-a,Voltou-se, estavam lá todos, conseguia ver na cara de cada um o mesmo vazio que ameaçava destroçá-la. A avó deixava sempre a sua marca em todos os corações que tocava, era impossível não a amar.Saíram do aeroporto em silêncio, seguindo directamente para Yggdrasil, não falaram até chegar a casa. Rita e Pedro regressavam juntos.
Os carros estacionaram. Maeve, Maria e Rhenan saíram com Lochan atrás deles.Eoghan retirou a bagagem que Lochan tivera o cuidado de arrumar e que tinham ido buscar a caminho do aeroporto. Amava-os, aquela era a sua família, estava-lhes agradecida por se terem despedido da avó e de a terem apoiado quando mais necessitara.
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Published on April 06, 2020 02:00

April 5, 2020

in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 20

VINTE

- Lochan! Porque retiraste as chaves?Maria estava sentada no cadeirão da cave há horas. Tinha lido tudo o que conseguira sobre a Wiccan, religião neopagã, em que se venerava a Deusa, recorrendo ao que a natureza oferecia, ervas, raízes, energia, incenso, velas, orações, magia.- Ouviste-me? – estavam há tanto tempo em silêncio que não tinha a certeza que a tivesse escutado. Levantou os olhos do livro que lia.Lochan estava cabisbaixo.- Sei que te custa, mas faz um esforço e conta-me do que te lembras. Algo que te pareça insignificante pode servir como pista.- Também começas a desesperar?- Ainda não, mas estou quase. – Maria sentia-se apreensiva.Lochan recostou-se no sofá fechando os olhos com as mãos atrás da cabeça.- Sendo o único que podia aceder às chaves, devia ter ficado quieto, mas infelizmente não foi o que fiz.- Não te recordas de nada?Lochan sentia-se infeliz.- Sempre fui irresponsável quando se tratava de mulheres. Mudava mais depressa de companheira do que de camisa, nunca me deitava com a mesma dois dias seguidos. Até que a conheci... – não conseguia acabar a frase. Maria sentia a sua agitação, amara perdidamente e fora traído.- Sabia que era uma traell, que nunca seria aceite pelo Clã, mas amava-a como nunca amei. Pensei que podia contar com o apoio de Rhenan, mas ele foi quem mais se opôs à minha escolha. Inicialmente não entendi porquê, mais tarde percebi que não confiava nela.- Desculpa! - pousou-lhe a mão na perna – Não te pediria para falares disso se não achasse importante.- Preciso de desabafar com alguém, nunca o consegui fazer e fico feliz que seja contigo. - apertou-lhe a mão que continuava pousada na sua perna – Deixei tudo e fui viver com ela na sua tenda. Ao início era perfeito, mas rapidamente me apercebi que andava irritada, que o amor que lhe tinha não chegava. Mesmo sabendo disso não desisti dela, percebi que para a ter tinha de a colocar ao meu nível. - suspirou triste inclinando-se para a frente sem nunca lhe largar a mão – Ela não queria continuar a ser uma serva, mas a senhora da casa. Falei várias vezes com a minha mãe e com os meus irmãos para me deixarem trazê-la para aqui e desposá-la. Levantou-se, a ansiedade não lhe permitia ficar parado.- Continuei a alimentar-lhe a esperança de que um dia viveria nesta casa e durante um tempo voltou a ser a mulher por quem me apaixonara. As semanas passavam, até que se apercebeu que a minha família nunca a aceitaria. – sentia uma excruciante dor. Maria tinha o coração apertado ao ver o seu sofrimento.- Por essa altura apareceram ciganos no acampamento e Hel começou a visitá-los com regularidade. Como tinha dificuldade em dormir preparava-me infusões que aprendia com eles. Uma noite tive a sensação de me ter dado algo para me fazer falar. Ainda hoje continua a ser uma névoa na minha memória, não me lembro de nada a partir do momento em que levei a caneca aos lábios. No dia seguinte acordei sozinho, procurei-a, não estava no acampamento e ninguém a vira. Relembrava os piores dias da sua vida.- Se quiseres parar…- Faz-me bem poder finalmente contar a minha parte da história. – respirou fundo - Mais tarde, soube que tinha vindo aqui e que obedecendo a ordens dos meus irmãos os homens do Clã a tinham escorraçado para fora dos limites das nossas terras. Regressou ao acampamento ao cair da noite, trazia o ódio estampado no rosto. Quando me encarou a sua frieza devia ter-me servido de aviso, porém o meu juízo continuava toldado pelo coração. Nessa noite, preparou uma tina onde nos banhámos e amámos como da primeira vez. – acabou a frase com a voz praticamente inaudível.Maria sentia o seu sofrimento. Com o coração dilacerado voltou a sentar-se segurando-lhe na mão, necessitava do seu calor para prosseguir. - Bebíamos vinho quente quando senti dores no peito. Pedi-lhe ajuda, mas limitou-se a olhar para mim a rir-se, mostrando-me um saquinho com um pó verde. Soube de imediato que tinha sido envenenado, não perdi tempo, vesti-me e cavalguei para aqui enquanto ainda tinha forças. Devo ter desmaiado, não me lembro de nada até cair no chão à frente da porta e ver Rhenan correr na minha direcção. Caí nos seus braços e … deixei de existir.Maria chorava, apertando-lhe a mão. Sentia a angústia dele como sua, não percebia como aquela mulher pudera renegar um amor tão puro. Odiava-a! Abraçou-o, deixando-se ficar nos seus braços até conseguir voltar a falar. - Lochan, a tua falta de memória no percurso entre o acampamento e Yggdrasil, só pode ter sido nesse momento que retiraste as chaves e as escondeste. Vinhas contar-lhes. - Não me lembro onde as escondi, mas sei quem nos poderá ajudar. E desta vez não vos vou falhar.- Tu não falhaste, foste traído. Prometo vingar-te, desfazer o mal que te foi feito e vou estar sempre ao teu lado.- Adoro-te! – os olhos brilhavam de esperança. Tomou-a nos braços, esperançoso. A porta abriu-se. Rhenan entrou seguido de Maeve, que parou atónita com o que presenciava. Sem explicação Maria voava.- O que está a acontecer? – a voz de Maeve saíra num sussurro - Que tipo de magia andas a fazer?Maria e Lochan ainda não se tinham apercebido da companhia.- Mano, vê lá se colocas a minha mulher no chão antes que te obrigue. - o som tentava parecer ameaçador, mas a voz de Rhenan ria perante a alegria de Maria e a estupefacção da prima.Maria olhou para Rhenan corando. - Mano? – Maeve nem se apercebia que gritava - Enlouqueceram?Rhenan abraçou a prima com medo que caísse quando Fionn seguido de Eoghan assomavam à porta da cave.Maeve desceu os degraus a medo até chegar ao sofá deixando-se cair, olhando desconfiada para Maria.- Enlouqueceste? - Fionn mastigava o resto do bolo que colocara à pressa na boca ao ouvir a prima gritar. Maria sabia que a decisão de contar o que acontecera dependia unicamente dela.- Queres continuar a dançar? – piscou o olho a Lochan estendendo-lhe os braços. Este sorriu-lhe feliz fazendo o que lhe pedia recomeçando a rodopiar com ela nos seus braços, através da sala.Fionn engasgou-se cuspindo migalhas. Rhenan esticou-lhe uma água para o ajudar a digerir melhor o que vinha a seguir.- Mas o que se passa? – Fionn conseguia finalmente perguntar, com a voz arranhada.- Lochan! - Eoghan sorria, estava fascinado com o que via.Maeve e Fionn olhavam estupefactos para Eoghan.- É o nosso irmão! – Rhenan sorria divertido - E agora vê lá se tiras as mãos de cima da minha mulher, invisível ou não já te avisei.Lochan pousou-a, encorajando-a a contar, sentando-se no braço do cadeirão ao seu lado.Maeve chorava. Maria podia jurar que Fionn também, mas devia ser consequência de se ter engasgado.- É verdade. Está sentado ao meu lado. – olhou para ele quando Lochan lhe colocou uma mão sobre o ombro.- Como é isso possível? – Maeve acalmara quando Eoghan se sentara abraçando-a.- Tudo aconteceu no dia que toquei na imagem de Yggdrasile fui transportada para Tara. Quando regressei conseguia vê-lo, ouvi-lo, tocar-lhe. Tem dormido no quarto dele e tem-me feito companhia aqui em baixo.- Quem sabia? – Fionn aproximou-se sentando-se ao lado da prima.- Só eu, o Rhenan e mais recente o Eoghan. - Porque não nos disseram? - Fionn levantou-se do cadeirão caminhando às voltas pela sala.- Para vos proteger.- Do quê? - Maeve continuava incrédula.- Primeiro o Lochan, depois a tua tia e a tua mãe.- Minha Deusa! – Maeve limpava as lágrimas que teimavam em sulcar-lhe o rosto.- Não lhes podes dizer. - Prometo que não farei nada que te coloque em perigo. – Maeve ainda não conseguia acreditar. - Já que estamos numa onda de confissões, aproveito para vos informar que tenho treinado todos os dias luta corpo a corpo e até já sei manejar algumas espadas e facas.- Eu achava que estavas a ficar tonificada, mas pensei que fosse da luta debaixo dos lençóis. – Fionn voltava a ser o mesmo.- Que engraçado. Se fosse a ti tinha cuidado, sou mulher para te dar uma coça.- Combinado!- Aposto em ti Maria. - Maeve esfregava as mãos – Dá-lhe uma tareia, que o morcego merece.Maria piscou-lhe o olho divertida.- Mas há mais! Acho que vão gostar de saber o motivo que o levou a retirar as chaves. Lochan suplicava-lhe com o olhar que não o fizesse. Não estava preparado para ouvir a recriminação dos irmãos. Escutaram atentamente o que Maria lhes dizia.- Não se perdoa por tudo o que vos fez sofrer. Acho que chegou a altura de ouvir o que cada um tem para lhe dizer. – Maria apertou-lhe a mão não lha largando.Olhavam para a mão dela, conseguiam sentir a presença de Lochan apesar de não o verem.- Estou pronto! - Fionn sentara-se no chão perto da lareira. Rhenan olhava para Maria incrédulo, finalmente conseguiam colocar lógica nas estranhas atitudes do irmão. Falavam ao mesmo tempo para o local onde Maria indicara estar Lochan, com paciência transmitia-lhes as suas respostas. Maria bocejou, desculpando-se. O dia tinha sido muito intenso e longo, mas aparentemente ninguém o queria dar por terminado. Lochan tomou a decisão por ela pegando-lhe ao colo, levando-a com ele perante o olhar atónito de todos que se levantaram seguindo-os. - Avisa o meu querido irmão que vou levar-te para a cama.- O teu irmão vai levar-me para a cama.- Andas a esticar-te mano.Lochan e Maria riam-se divertidos.- Agradeço-te porque estou estafada. – encostou a cabeça ao seu ombro.Eoghan foi o último a sair desligando a luz e fechando a porta. Um aro de luz azul protector ia-se alastrando pela propriedade afastando as Sombras para a escuridão, onde pertenciam.- Disseste que sabias quem nos pode ajudar a encontrar as chaves, a quem te referias?- Não a conheço, mas sei que é uma feiticeira e se chama Rhiannon.- Eu conheço-a, - abriu muito os olhos voltando a cara para ele - mas vamos ter um enorme problema. Podemos conversar sobre ela amanhã?- Quando quiseres. Já é um bom presságio saber que a conheces. Não sei como, mas é bom sabê-lo.Rhenan foi o único que os ouviu. Despediram-se dele. - Obrigado! Nunca me cansarei de te agradecer, - beijou-a na testa pousando-a na cama - por tudo o que tens feito por mim. Afastou-se. Com a ajuda de Maria voltara a estar com a família. - O Lochan disse-me que agora estava nas tuas mãos. Podes ajudar-me a despir? – sugeria com a voz arrastada. - Será um prazer. Mas, o meu irmão andar sempre contigo ao colo está a tornar-se um hábito e não me agrada.- Com ciúmes?- Alguns.- Anda cá. - puxou-o para si, o cansaço desaparecera, o desejo que sentia por ele não esmorecia. - Mo ghrá!
No escuro algo se agitava incomodado. A cada dia que passava, eram afastados por uma força que os arrastava cada vez para mais longe da casa. Algo muito forte crescia dentro de Yggdrasil e deveria ser destruído porque começava a enfraquecê-los. Goll tentava avançar uma vez mais, mas deparou-se com aquela estranha barreira que o lançou para trás, queimando-o.Uivou de raiva. Queria que o ouvissem. Odiava-os desde o dia em que se apresentara perante Deirdre e ela o negara, casando-se pouco tempo depois com Fionn MacBaische. Odiava-os ainda mais, porque depois de lhe matar o marido e o cunhado, os bastardos que se escondiam naquela casa, tinham dizimado o seu Clã. Nesse dia, jurara vingança e em troca da sua já negra alma fora-lhe dada mais uma oportunidade pela Bruxa que o acompanhava. Sabia que os podia destruir só precisava de se aproximar o suficiente, mas tornava-se mais difícil enquanto aquela estranha protecção continuasse a aumentar.Utilizaria Hel, sabia o ódio que lhes tinha, quase tão grande como o seu. Também ela esperava por uma oportunidade.Lançou novo uivo de satisfação, os dentes brilhavam no escuro. A imagem deles, deitados no próprio sangue, estimulava-o.Tinha tempo, aliás tempo era tudo o que lhe restava.
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Published on April 05, 2020 02:00

April 4, 2020

in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 19

DEZANOVE

Com a nova rotina, aulas, biblioteca, treinos, mal dava pelo passar dos dias. Tinha o corpo coberto de hematomas que escondia de Rhenan. Habituara-se a levar tanta pancada que já nem estranhava as exigências de Lochan. Os dias acabavam com eles sentados no chão a conversar. Nas saudosas palavras de Lochan, o que mantinha a família unida eram um ilimitado amor e respeito. Sozinhos não eram nada, juntos ninguém os parava. O tom da sua voz era forte como a de Rhenan, mas de feitio não era tão sério como o seu gémeo, era mais parecido com Fionn. Maria bocejou.- Desculpa Lochan, estou estafada.- Sei que sim. Admiro a tua perseverança e força. – levantou-se esticando-lhe a mão para a ajudar – Vai descansar.- Até amanhã.- Dorme bem Maria. – beijou-a.Sorriu-lhe agradecida subindo a escada, fechou a porta, deixando-lhe a luz acesa, sabia que continuaria à volta dos documentos até a casa acalmar, só depois regressaria para o seu quarto.Maeve, Fionn e Rhenan já se tinham recolhido, viu que Eoghan continuava sentado à frente da lareira a ler. Entrou na cozinha às escuras, abriu o frigorifico retirando os restos do jantar, encheu um copo de água, tirou um garfo sem se dar ao trabalho de aquecer a comida. Fechou os olhos saboreando o resto da maravilhosa lasanha que Eoghan comprara naquela tarde. Precisava de tomar um banho bem quente e dormir, estava estafada.Eoghan aproximou-se em silêncio, sentando-se ao seu lado. - Se quiseres, amanhã compro outra. - via-a comer com satisfação.- Estava esfomeada! Até parece que não jantei.- Fico feliz que te sintas melhor, na realidade estás com muito bom aspecto, pareces mais forte.Maria ia-se engasgando, também via as alterações no seu corpo. Ainda não contara a ninguém que começara a treinar, quando se sentisse preparada surpreendê-los-ia.- Como está o meu irmão?Maria colocou-lhe uma mão sobre o braço.- Tenho muita pena que não o consigas ver. Dentro daquele estranho mundo onde se encontra, está bem. Tenho aprendido muito com ele, o Lochan é fantástico.- Eu sei. – Eoghan apertou-lhe a mão esperançado – Sabes se alguma vez o conseguirei ver?- Não sei! - Nunca me chegaste a contar como o encontraste.         - Estava destinado. Na noite do meu noivado, desci, reparei num vulto perto da janela da sala e soube logo que era ele, parecia que estava a olhar para o Rhenan. Chamei-o, quando se voltou, notei que estava tão espantado quanto eu. Tocou-me por acaso e foi quando percebemos que também o conseguia sentir. A felicidade foi tanta que rodopiou comigo pela sala. – Maria sorria ao lembrar-se dessa noite – Agora imagina a cara do Rhenan quando entrou na sala e me viu a voar. Riram-se os dois.- Consigo imaginar. – Eoghan levantou-se para a deixar acabar de comer descansada – Obrigado por lhe fazeres companhia.- É com prazer, temos os mesmos gostos. Julgo que encontrei a minha alma gémea.- O Rhenan que não te ouça. – piscou-lhe o olho divertido – Vou ficar na sala mais um pouco, se precisares de mim chama-me.- Vou subir. - colocou a loiça dentro da máquina.- Dorme descansada. Caminhava pelo corredor na direcção do quarto a pensar em Rhenan. Desde o susto da falsa gravidez que nunca mais lhe tocara e a verdade é que sentia a sua falta. Sempre que o procurava sentia-o retesar-se. Abriu a porta do quarto, ouvia a água, sentiu um arrepio, despiu-se decidida a juntar-se a ele.- Maria! Que fazes? - Agora foges de mim?Não respondeu enquanto Maria se insinuava, roçando o peito na sua pele, com as mãos a descerem até lhe tocar e sentir a sua erecção. Rhenan segurou-lhe nas mãos levando-as aos lábios.- Já não me desejas?- Mo ghrá! Desejo-te tanto que dói. - com o olhar perdido segurou-lhe a cara entre as mãos.- Então porque me evitas? Rhenan fechou os olhos encostando a testa à dela.- Tem alguma coisa a ver com a falsa gravidez?- Não te quero colocar em perigo.- Quando é que o fizeste?- A minha mãe tinha razão, não te devia ter trazido para a minha cama tão cedo, o meu dever é proteger-te.- Rhenan! Por favor, olha para mim. Abriu os olhos mantendo distância entre os corpos.- Achas mesmo que me forçaste a fazer algo que não queria? O que sinto por ti é tão forte que fico sem ar quando te vejo. Se não te tenho perto falta-me a minha melhor parte. Sem ti, sinto-me perdida. Amo-te e detesto que me afastes. Tínhamos prometido falar de tudo e não estás a cumprir com a tua parte.Rhenan puxou-a para si beijando-a, os corpos colavam-se colmatando a necessidade que tinham de se sentir. Pegou-lhe ao colo levando-a para a cama. Sem saberem que com a renovação dos seus votos o muro que os protegia ganhava força. Naquela noite Maria adormecia com o seu sabor, o toque da sua pele quente colada à sua.
Lochan começara a estar presente sempre que a família se reunia, gostava de sentir a energia e o calor que irradiavam. Só Eoghan e Rhenan se apercebiam da sua presença quando Maria reagia inadequadamente.- Maeve! Quem cozinha? Limpa a casa? Muda as roupas? Arranja o jardim? A cave não tem um grão de pó. - A nossa caseira, que vive ao fundo da rua. O marido trata do jardim. A sua família tem trabalhado para nós através dos séculos.- Não acham estranho o facto de não envelhecerem?- No início foi complicado, são pessoas muito supersticiosas, julgo que pensavam que éramos vampiros. - soava divertida – Porém a nossa família sempre foi muito discreta e asseguramo-nos que nunca lhes falte nada.- Como é possível que nunca os tenha visto?- Têm chaves, entram cedo e andam sempre nos locais onde sabem que não estamos. E nunca ficam depois do pôr-do-sol. – Maeve sorria divertida.- Vampiros! A única sanguessuga que me vem à cabeça é o Fionn.Sentaram-se as duas no sofá a rir.- Sanguessuga! Eu? Olha o descaramento! Até que gosto de pescoços, mas continuo a preferir um bom par de …- Fionn. - Eoghan avisou-o.Lochan ria-se deliciado com a saudável loucura de Fionn. Seguindo atentamente a conversa dos irmãos, faziam-no sentir-se vivo.             Caminhava descalça por um suave tapete de relva, envergando uma túnica azul da cor do céu, os cabelos presos no topo da cabeça, o sol brilhante aquecia-a. Ouvia o som da água bater ritmicamente nas pedras, os ramos das árvores agitavam-se com a suave brisa, à sua volta os animais corriam em liberdade. Toda a beleza que a rodeava foi quebrada por um choro. Como podia alguém sofrer no paraíso? Caminhou na direcção daquele som até chegar a um riacho. Uma rapariga que não devia ser muito mais velha do que ela, com um lindo cabelo cor de fogo, a pele alva como o dia, admirava o seu reflexo na límpida água.- Porque choras?Sobressaltada ao escutá-la virou-se de repente. Tinha os olhos mais verdes que as esmeraldas mais brilhantes. Era de uma beleza estonteante.- Desculpa se te assustei. Chamo-me Maria. - Eu sou Rhiannon.- Estou a sonhar? - Não!- Onde estamos? - Não sabes?Maria abanou a cabeça em negação, reparando que tinham as mesmas tatuagens.- Em Tara.Olhou à volta em pânico, baixando-se, sabia que não sonhava, não percebia como Danu a conseguira levar uma vez mais contra a sua vontade. Só esperava conseguir sair dali com a mesma rapidez.- És a escolhida! Fui eu que te chamei, mas nunca pensei conseguir fazê-lo. - Rhiannon fez-lhe sinal com a mão para que se sentasse ao seu lado. - Estamos em Tara, o que dizes não faz sentido.- Reparaste que temos as mesmas tatuagens? - Sim!- Não tens curiosidade em saber porque as temos?- Tenho tanto medo de aqui estar que não consigo pensar em mais nada. - Significa que teremos um papel importante a desempenhar e as nossas tatuagens identificam-nos.  - O que quer isso dizer?- Que a Profecia começa contigo. Maria anuiu com a cabeça enquanto aquela estonteante mulher lhe segurava na mão, o seu toque criara um inegável vínculo entre as duas. Sentia que a conhecia.- Há muitos séculos atrás, a minha tia Morgaine avisou-me sobre este dia.- A mesma Morgaine que criou Freya e Deirdre?- Sim! O sorriso quente de Rhiannon fê-la esquecer-se que estava em Tara.- Quando a minha tia falou com Surt a pedido da Deusa, para que desse o seu sangue às irmãs, ele fez um acordo com ela. Eu ficaria à sua guarda, seria ensinada e treinada por ele. E assim foi. - Quem é Surt? - sentia-se confusa.- O Dragão! O seu sangue corre-te nas veias. Maria nem prestava atenção ao que Rhiannon lhe dizia, o seu medo era verdadeiro, temia estar em Tara, não sabia quanto tempo tinham, rezava para que as Fadas não aparecessem.- Quando Surt achou que estava preparada, deu-me a beber o seu sangue tornando-me imortal. Desde então estou ligada à Profecia, a ti. - Como vieste aqui parar?- Dirigia-me para Yggdrasil quando fui perseguida pelos cães dos Sluagh durante uma das suas caçadas nocturnas, fui capturada.- Sluagh?- Fadas que caçam humanos. Trazem-nos para Tara e usam-nos como escravos.- Mas tu és diferente, és imortal.  - Danu pretende manter-me afastada, sabe que faço parte da Profecia que ajudará a libertar o Clã. Sei que me quer usar, só ainda não percebi como. - Quer trocar-te pelo Colar.- O Colar de Brisingamen? – os olhos de Rhiannon brilhavam de incredulidade. - O problema é que não o temos, não sabemos onde está e para piorar, temos de descobrir como te tirar daqui? – Maria sentia-se observada – Como é possível estarmos aqui sem que nos vejam?- Observam-nos! Mas suspeito que estás aqui com a ajuda da Deusa.- Deusa?- A nossa mãe.Havia algo nas suas palavras que fazia sentido.- E as nossas tatuagens! O que significam?- Protecção e adoração. Indicam que estamos protegidas pela Deusa. Maria, quando regressares não te esqueças da nossa conversa. És sidhe e tens mais poder do que julgas.- És a feiticeira pela qual aguardamos?- Sou! Agora irmã regressa.- Não te posso deixar aqui! - Encontrarei maneira de me libertar. Vai! Pensa no que te prende do outro lado e quando acordares lembra-te de tudo o que falámos. – Rhiannon beijou-a despedindo-se - Obrigada por teres vindo. - os olhos brilhavam de esperança. Fechou os olhos pensando em Rhenan, no calor dos seus braços e da última memória que tinha dele. Ao voltar a abri-los estava na sua cama, Rhenan dormia calmamente ao seu lado, apertando o abraço cada vez que a sentia mexer-se. Lembrava-se de tudo. As pessoas de que falava a Profecia começavam a aparecer, preparadas para o que o destino lhes reservara. Deitada com os olhos fixos no tecto fazia mentalmente uma lista de prioridades. Tinha de descobrir onde Lochan escondera o Colar de Brisingamen sem o entregar aos Tuatha;a Fivela de Aker; tinha de fechar as portas; reenviar as Sombras para Annwan; lidar com Fadas neuróticas; salvar Lochan do limbo em que se encontrava; retirar Rhiannon de Tara e acabar o primeiro ano do curso. Mas antes disso tinha de receber os pais mantendo-os em segurança. Era muita coisa e mesmo com a ajuda de todos não sabia por onde começar.
- Minha Rainha, a sidhe acabou de sair.- Correu tudo como previa. Lug despiu-se deitando-se a seu lado.- Em breve teremos o Colar e continuaremos livres para fazer o que sempre fizemos no seu mundo. Danu exigira que os seus caçadores lhe entregassem a feiticeira. Sentira-a mover-se ao encontro do seu destino e agira. A força do Clã aumentava, a proibição que lhe tinha sido imposta impedia-os de aceder a Yggdrasil e saber o que os MacCumhaill faziam. Mas tinha a feiticeira e não hesitaria em usá-la. Regozijava-se com a sua inteligência. Ao permitir-lhe a entrada nos seus domínios ficara a saber que não tinham o Colar. Mas tinha de ter cuidado, a sidhe gozava da protecção da Deusa, de Avalon, não lhe podia tocar, mas podia sempre ludibriá-la.Tempo não lhes faltava. Só queria pensar naquele belo homem deitado a seu lado, queria receber todo o prazer que só ele lhe sabia dar. Sentou-se em cima dele atirando a cabeça para trás. Lug encaixou-se segurando-a pelas ancas, movimentando-se ritmicamente debaixo dela ansiando pela libertação, o que tiravam um do outro ia muito além de qualquer fantasia.
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Published on April 04, 2020 02:00

April 3, 2020

in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 18

DEZOITO

Rhenan estava sentado na relva com o olhar perdido no lago de águas escuras. Lochan fazia-lhe companhia. sentindo-a aproximar-se, levantou-se passando por ela tocou-lhe carinhosamente na face caminhando na direcção da casa.Maria não conseguia perceber o estado de espírito de Rhenan, aproximou-se baixando-se, abraçou-o, beijando-o na nuca.- Estás preocupado?- Fizeste o teste? - puxou-a para o colo sem mudar de posição. - Sim!Rhenan parecia-lhe demasiado ansioso.- Como te sentes? – falava segurando-lhe a face entre as mãos para que a encarasse.- Mais do que tudo quero ter filhos contigo, - hesitou - mas neste momento das nossas vidas, receio por ti e por essa criança, temo não ser capaz de vos defender aos dois e não quero ter de escolher. – respirou fundo, sentia dificuldade em colocar por palavras o que sentia – Mas, se estiveres grávida darei a minha vida de bom grado pelos dois.Beijou-o emocionada. - Também daria a minha vida por ti. - Não te posso perder Maria.- Caminharei sempre a teu lado!- Mo ghrá! – Rhenan beijou-a apaixonado.- Numa coisa o Fionn tem razão parecemos coelhos.Rhenan sorria.- Mas somos coelhos competentes mo ghrá!- Quanto a isso não tenho dúvidas.- Vais dizer-me?- Deu negativo.- Era o que querias? – Rhenan sentia-se triste ao mesmo tempo que um peso lhe saía de cima dos ombros. - Confesso-te que fico menos preocupada e com a cabeça liberta para fazer o que esperam de mim. – continuava com os olhos fixos nele, queria que visse que lhe falava com o coração – Amo-te mais do que alguma vez conseguirei colocar por palavras. Quero ter os teus filhos, criá-los rodeados do amor que existe nesta casa e acima de tudo quero que o Lochan faça parte da nossa felicidade. Os olhos de Rhenan espelhavam o amor que sentia, o coração batia acelerado ao ouvi-la professar-lhe o seu amor.- Nunca ninguém te afastará de mim. - Eu sei! – Maria beijou-o docemente selando a sua promessa - Quando chegar a hora quero vivê-la em pleno sem ter de me esconder de nada, de ninguém, quero mostrar ao mundo o resultado do nosso amor. - Mo ghrá! – enterrou a cara no seu pescoço - Pensei que estivesses irritada comigo.- Porquê? – não percebia o que lhe dizia.- Podes não ter idade para pensar nas consequências dos nossos actos, mas eu sim. Perdoa-me.- Não sejas tolo. – Maria beijou-o nos olhos - Deves ter o rabo enregelado de estar sentado na relva húmida, vamos entrar e comer que estou cheia de fome. - levantou-se do colo dele puxando-o. Rhenan pegou-lhe ao colo, levando-a para casa.
Na penumbra Hel espreitava mal conseguindo conter a sua raiva. Ouvira o suficiente para perceber que a sidhe estava grávida. Seria por pouco tempo, trataria disso. Voltou a arrastar-se para o meio dos arbustos. A sua prioridade alterara-se, ia matá-la primeiro, a ela e à criança impura que carregava. Ria-se com prazer. Para quem a escutasse não passava de um choro lamuriento.Goll também ouvira. Mais um, ou menos um membro do Clã era-lhe indiferente desde que morressem todos.
Fionn fechou a porta de casa.- Senti agora mesmo um calafrio, ouviram? - Devem ser aquelas desgraçadas que nos observam. Estou desejosa de me livrar delas. – Maria ajudava Maeve com o jantar. Rhenan subira para mudar de calças. - Então estás prenha ou quê?Eoghan fuzilou o irmão com o olhar.- Não!Rhenan entrava na sala a tempo de ouvir a pergunta do irmão.- Deves querer morrer. – Maria puxou-o por um braço quando percebeu que Rhenan estava pronto a saltar para cima dele.- Pólvora seca mano. Mau, muito mau. – Fionn não desistia, passou a correr pelo irmão, praticamente derrubando a prima, subia a escadaria fugindo da fúria do irmão que seguia no seu encalço.- O que fizeste agora barata tonta. É completamente doido. – resmungava - Estás bem?Maria ria-se divertida.- Falso alarme. Mas foi um abrir de olhos. Vamos tomar precauções o que aliás já devíamos ter feito.- Agora explica-me porque o Rhenan foi atrás do Fionn.- Porque só diz asneiras nos momentos menos oportunos. – Eoghan sentava-se no seu lugar à mesa – Não vale a pena esperarmos, não tarda nada descem como se nada tivesse acontecido.- Como suspeitava o teu problema era a tua deficiente alimentação, – Maeve colocava um tabuleiro ainda fumegante no centro da mesa – ainda bem que fiz esta pratada de massa com carne. Quero ver-te comer.- Cheira muito bem. Fica descansada que dou conta do serviço, estou esfomeada. – Maria piscou-lhe o olho – Não esperamos que desçam?- Começamos sem eles. Deixa que o Rhenan aperte primeiro com aquele doido desbocado. - Eoghan serviu-as antes de encher o prato.Maria não conseguia deixar de pensar como os irmãos eram todos tão diferentes.- Não digam à Freya, não quero que se preocupe.- Já está esquecido. – Maeve sorria-lhe.Eoghan observava-a, admirando a sua maneira de ser. Sempre preocupada em colocar todos à frente de si própria. O irmão não podia ter tido mais sorte.
Lug no jardim limitara-se a observar. Escutara a conversa e sabia que não tinha sido o único. As Sombras andavam muito agitadas, mais do que nos séculos anteriores, notara essa mudança no seu comportamento com a chegada da sidhee o aparecimento de Lochan. Juntos eram uma força poderosa. Os Tuatha não queriam que as Sombras os apanhassem, necessitavam deles. Danu saberia o que fazer, talvez não fosse má ideia juntarem forças ainda que temporariamente. Percebera o propósito da sua rainha ao puxar a sidhe para Tara, mas a tentativa de intimidação não resultara. Fariam o que fosse necessário, para não serem excluídos daquele mundo. Vira as Sombras afastarem-se quando a sidhe saíra de casa caminhando pela relva, todas menos uma. Protegeria a sidhe, não porque tivesse qualquer empatia com ela, mas porque queria continuar nas graças de Danu. Estaria por perto para se assegurar que as Sombras não a atacariam. Uma névoa envolveu-o abrindo as portas que o levavam de regresso a Tara.
Maria ajudou a levantar a mesa e a arrumar a cozinha avisando que ia para a cave, Rhenan sorriu-lhe enquanto Eoghan a seguia com o olhar.A luz estava acesa, desceu as escadas, Lochan esperava-a sentado no sofá com as pernas estiradas em cima da mesa. - Estás melhor?- Estou! - sorriu-lhe agradecida - Tenho de te dizer tudo o que Sergiu me contou. - Não dizes ao teu marido, mas contas-me a mim? Sinto-me honrado.- Preciso de desabafar e sei que não vais contar a ninguém.- Porque não me conseguem ver ou ouvir. – soava triste, constatava ao que se resumira a sua vida.- É mais porque confio em ti!Sempre que se sentia um inútil Maria conseguia dar-lhe uma nova razão para lutar.- Desculpa, estava a ser um imbecil.- Um bocadinho. Chega-te para o lado que preciso de me sentar perto de ti, não vá aparecer o desmiolado do teu irmão e pensar que estou a falar novamente sozinha.Lochan ria-se divertido.- Aquele meu irmão é um espectáculo.- É qualquer coisa sim, mas tenho uma série de outros adjectivos para o caracterizar.Lochan soltou uma sonora gargalhada puxando-a para ele. Maria encostou a cabeça ao seu ombro, fazendo-o suspirar com o contacto.- Desculpa não ter estado ao teu lado, mas quando te vi entrar na biblioteca pensei que não saías tão cedo e aproveitei para passear.- Não faz mal. O que ouviste da minha conversa com Sergiu? - Pouco. - Ontem o nosso amigo disse-me que se chama Sergiu Mihaiescu. O nome diz-te alguma coisa? Disse que o pai é amigo e general do vosso tio Vlad. - O nome do pai não me é estranho e é importante que alguém daquele lado tenha aparecido. Explicou-te o motivo da sua presença aqui?- Diz que foi enviado para nos ajudar. Disse que é o guerreiro pelo qual esperávamos. Mas que ainda ninguém pode saber.- Começa tudo a alinhar-se. – Lochan soava esperançado – Ficava mais descansado se tivéssemos confirmação da sua verdadeira identidade.- Como me pediu segredo não sei o que fazer.- Fala com a minha mãe.- Tinha de estar sozinha e é praticamente impossível. Também me informou que o pai dele foi oferecer os seus préstimos à tua mãe e tia.- Tens mesmo de falar com elas. Não nos podemos esquecer que esporadicamente, tem dormido em Yggdrasil o que possivelmente já o tornou num alvo.- Não digas isso nem a brincar. Mas se é um guerreiro saberá certamente defender-se.- Depende contra quem luta e o número de inimigos que enfrenta.- Estás a assustar-me.- Nem tu, nem ninguém ligado a nós, pode ignorar os avisos que temos tido.- Referes-te aos uivos que se intensificam assim que escurece?- Significa que aumentam em número e a única coisa que nos separa deles é a protecção na casa. O que nos leva a outro assunto, sabes lutar Maria?- Sei defender-me se for preciso.- Estou a falar de luta com espadas e facas. - Lutas com armas?- Possivelmente. - Ninguém me tinha avisado.- A partir de amanhã, treino-te todos os dias uma hora antes do jantar.- Não sei no que me vou meter, mas conta comigo.- E trata de arranjar maneira de falares com a minha mãe. - A falar sozinha ou com o meu irmão? – Maria saltou surpresa ao ver Eoghan ao seu lado.- Com ele. - Consegue ouvir-me?Lochan levantara-se, colocando-se ao lado do irmão tentando abraçá-lo sem conseguir.- Perfeitamente! Tem saudades tuas, está aí ao teu lado.- Ainda bem que aqui estás mano, mesmo que não te consiga ver. Maria olhava emocionada para os dois.- Não descansarei até te poder abraçar.- Ele sabe. Pede para lhe arranjares aquele malte de que tanto gosta.Eoghan sorriu. - Combinado! - virou-se para as escadas, os guerreiros não mostravam os seus sentimentos à frente das mulheres - Sobes Maria?- Sim! – beijou Lochan - Amanhã cá estarei à hora combinada.Puxou-a para si. - Se o meu irmão não te tratar bem dou-lhe uma coça e roubo-te para mim, não te esqueças de lhe dizer.- Pensava que vocês não tocavam nas mulheres dos outros.- Isso foi até te conhecer. - sorriu-lhe, beijando-a.Eoghan já saíra, não viu quando os pés de Maria deixaram de tocar no chão.
Rhenan abraçou-a receoso de a magoar. Maria notou que não a procurava, mas estava tão cansada que não se importou, poder enroscar-se no seu peito e sentir o seu calor naquela noite bastava. Ao contrário do que acontecia desde que dormia com Rhenan, sonhou com Danu, propunha-lhe um encontro em território neutro. Acordou com a sensação de que tinha combinado um encontro com a Rainha das Fadas, esperava sinceramente que não passasse de um pesadelo. Fingia dormir quando Rhenan a beijou e tapou. Esperou que saísse agarrando no telemóvel.- Freya? - falava baixinho - Podemos falar?- Maria? O que aconteceu?- Estou com um pequeno dilema e não posso falar com ninguém porque me foi pedido segredo. - O que te preocupa? - a voz soava ansiosa.- Conhece algum Mihai? Silêncio no outro lado da linha.- Mãe?Mais uma vez a palavra saíra-lhe naturalmente.  - Esteve cá ontem, foi o meu tio que o enviou.- Ele tem algum filho?- Não lhe perguntei.- É que ontem o nosso colega Sergiu, o namorado da Maeve disse-me que era filho do Mihai e que estava cá para nos ajudar. - O que te diz o teu coração?- Que não mentia.- Então aceita a ajuda que te ofereça. – Freya fez nova pausa antes de perguntar - Mas sinto que há mais alguma coisa que te aflige.- Esta noite sonhei com Danu e podia jurar que combinámos um encontro fora do Paraíso das Fadas.- Cuidado filha, não foi um sonho. Ela tem essa irritante capacidade de brincar com a nossa cabeça.- Acha que devo encontrar-me com ela? Que é seguro?- Uma vez mais terás de te deixar guiar pela tua intuição. Não te esqueças que podemos ter muitos anos e experiência, mas no final dependemos todos de ti e das tuas decisões. Promete-me só que não vais sozinha. Danu é muito astuta, pode levar-te para Tara e manter-te lá. O que Freya lhe dizia deixava-a vacilante.- Tenho de desligar antes que o Rhenan venha à minha procura. Se precisar do seu conselho posso voltar a ligar-lhe?- Sempre que necessitares. – Freya fez uma pequena pausa – Não há mais nada que me queiras dizer?- Não! – parecia que Freya lhe conseguia ler os pensamentos.- Tem cuidado com as Fadas. Que a Deusa te proteja.- Que assim seja!Voltou para o calor da cama.
Aquele dia não podia estar a correr pior. Ao final da manhã a mãe telefonara a confirmar que chegavam com os pais da Rita, para passar a Páscoa. A única boa notícia é que a avó também ia. Ao almoço combinou com Rita o que deviam dizer durante a estadia dos pais, não podiam ser apanhadas nas suas mentiras. Sergiu ofereceu o seu quarto a Pedro, que lhe agradeceu aliviado por ter onde ficar.Maria não conseguia tirar Danu do pensamento, decidiu que falaria com a Fada Mestra para saber o que pretendia e não passaria daquele dia.Caminhava na direcção da cantina quando viu Sergiu, era o momento ideal.- Podemos conversar?- Claro! Sentes-te melhor? - Estou fina. – era evidente que Maeve já lhe contara da sua indisposição. - Necessitas de mim? - Danu dos Tuatha, quer falar comigo e não gostava de estar sozinha com ela.- É para isso que aqui estou. - sorriu-lhe - Não gosto do povo das Fadas, não confio nelas. - torceu o nariz.- Como toda a gente me diz! Mas sentia-me mais segura se me acompanhasses.- Quando? Onde? E a que horas? Maria estava nervosa, mas agradecida.- Não sei como lhe fazer chegar a minha resposta, mas como imagino que tenha ouvidos por todo o lado aqui vai. – falava na esperança de que Lug a escutasse - Daqui a meia hora, no meu banco do campus.  - Como vais fazer para que a Maeve não desconfie? - Pensei numa boa desculpa. E por falar nela, onde está?- Foi com a Rita comprar um perfume. – Sergiu sorria-lhe divertido.- Como conseguiste escapar?- Disse-lhe que combinei com o Pedro irmos buscar algumas coisas dele. - Muito inteligente. – afinal não era a única a guardar segredos da pessoa que amava. - Onde fica esse banco?- Por detrás do edifício das artes.- Lá estarei. – Sergiu voltou-se caminhando na direcção oposta.
Olhava para o relógio, ao contornar a esquina viu Sergiu. Os seus olhos perscrutavam todos os recantos. Resolveu não tecer comentários, apesar de toda aquela movimentação de superespião lhe parecer demasiado. Mas, afinal limitava-se a fazer aquilo para que fora treinado. Viu Maria chegar fazendo-lhe sinal para que se mantivesse na luz, posicionando-se por trás dela protegendo-a com o seu corpo. - E agora como é que faço isto? Danu! Estou aqui!Antes que Sergiu lhe pudesse responder, a Rainha das Fadas apareceu à sua frente. Trazia os cabelos apanhados numa trança caída ao longo das costas, num longo vestido azul celeste com mangas largas. Era impossível estar mais bonita.- Boa tarde, sidhe.- Queria falar comigo?- Escolheste um local muito feio, podíamos ter conversado em Tara.- Acredite quando lhe digo que, Tara nunca seria a minha primeira opção.- Não precisas temer-me.Maria olhava para aquela linda mulher sem conseguir acreditar no que lhe dizia, sentia que se desse as respostas erradas aquele magnífico ser se transformaria em algo maléfico.- Prefiro não arriscar.Danu ria deslumbrante.- E tu jovem guerreiro, conheci o teu pai. Corre-te sangue feroz nas veias - caminhava à volta deles - Sabes como te proteger sidhe.- Não temos muito tempo até que venham à minha procura por isso diga-me o que pretende de mim.- Preciso que transmitas às anciãs do vosso Clã que os Tuatha pretendem ajudar-vos na vossa demanda.Maria começava a ficar zonza, aquela Fada não parava de se movimentar, reparou que a respiração de Sergiu também acelerara apesar de não se ter mexido. - Em troca de…?- Numa troca justa, o Colar de Brisingamen.- Mas, nós não o temos!- Ainda não, mas quando o encontrarem entregam-mo.- Mas não podemos! Devemos colocá-lo na segurança de Yggdrasil.- Sidhe! - o tom da sua voz arrefecera o ar - pensa na minha proposta e discute-a com as anciãs. Eu posso ajudar-vos, proteger-vos dos ataques das Sombras, principalmente agora que ganham força.- Vou transmitir-lhes a sua proposta. Porque deseja tanto o Colar?Danu continuava a movimentar-se, Sergiu alerta mantinha a proximidade de Maria, utilizando o seu corpo como uma barreira entre as duas.- Só tens de saber que em troca dele têm a minha ajuda. - a voz melodiosa de Danu arrepiava-a.- E como lhe transmito a nossa resposta? - Fala para o vento que eu ouço.- E se a resposta não for do seu agrado?Os olhos de Danu faiscavam, como se nem considerasse tal hipótese. Quando voltou a falar foi no mesmo tom calmo, apesar de Maria sentir o seu rancor em cada palavra.- Nesse caso sidhe, as coisas mudam drasticamente.- É uma ameaça?- Chamemos-lhe um aviso. O ar gelara e assim como chegara, Danu desaparecera. Quando sentiu que o perigo se afastara Sergiu saiu detrás dela, encarando-a, sisudo.- Não lho podes entregar.- Eu sei! Obrigada pela tua ajuda. - Não tens de me agradecer Maria, é para isto que aqui estou e acredita que é uma honra proteger-te.Apertou-lhe o braço emocionada com as suas palavras.- Vamos, antes que o teu marido nos veja e julgue que temos um caso. – Sergiu sorriu-lhe divertido caminhando ao seu lado.- Era só o que nos faltava. - reparou que a mantinha sempre na luz controlando as Sombras – Explica-me como consegues manter-te seguro. Por esta altura já sabem quem és. Danu sabia!- O meu quarto está protegido. Só lá entra quem for convidado e eu não convido ninguém.- E o Pedro?- Estes feitiços só se aplicam a seres sobrenaturais.- Então quer dizer que os meus pais também não vão necessitar de permissão?- Não! Mas vais ter de os manter dentro de casa antes do pôr-do-sol. A noite é sempre a pior altura e se as Sombras os apanham...- Matam-nos!Sergiu anuiu com a cabeça.- Não deve ser muito difícil, a minha mãe não gosta de sair à noite.- Quatro dias passam num instante.- Tens razão.Chegaram à entrada principal do campus. Sergiu fez-lhe uma discreta vénia afastando-se, seria estranho se os vissem a conversar com aquela familiaridade. Ia satisfeito por ter conseguido mostrar a Maria que podia confiar nele.
Naquela tarde depois de tomar banho e mudar de roupa, ligou novamente a Freya, colocando-a ao corrente da sua conversa com a Fada mestra. Aproveitando para a informar da visita dos pais. Freya aconselhou-a a parar, respirar fundo e ter calma. Tudo se resolveria, estariam todos protegidos. Maria decidiu para bem da sua sanidade mental, seguir o seu conselho. Naquele dia combinara com Lochan começar os treinos, não falharia. Comeu uma tosta mista e bebeu um copo de leite. Eoghan estava na sala a ler um livro, avisou-o que ia para a cave ter com o irmão. Sorria-lhe agradecido enquanto a via afastar-se. Lochan já a esperava, afastara o sofá e a mesa criando um espaço aberto. Começou por lhe mostrar as mais diversas armas, explicando a forma correcta de as manejar. Não a deixava descansar, exigindo sempre mais. Sabia que o fazia com a melhor das intenções, afinal ocupava o lugar que sempre lhe pertencera. Sentia a responsabilidade e não se negava a fazer nada do que lhe pedisse dando o seu melhor. Quando abandonou a cave sentia dores em todos os músculos, mesmo nos que desconhecia ter. Rezando para não se cruzar com ninguém, principalmente com Fionn. Arrastou-se pela escadaria e corredor, tinha a sensação de ter sido espezinhada por uma multidão em fúria. Tomou um banho quente e deitou-se, tentando retemperar forças, tinha de descer para ajudar a preparar o jantar. Acabou por cair num sono profundo. Quando acordou não sabia que horas eram. Sentia fome, mas foi com esforço que saiu da cama deixando-se rolar, caiu de joelhos no chão arrastando-se até à casa de banho. Ainda bem que estava sozinha.
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Published on April 03, 2020 02:00