in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 23

VINTE E TRÊS

À tarde e com o conhecimento dos primos, Maeve saíra com Sergiu. Decidira que se a mãe aceitava a relação não seriam os primos a impedi-la. Maria deixara os irmãos na sala regressando sozinha à silenciosa cave. Passara muito tempo desde que a sala secreta fora aberta e Lochan se tornara visível. Com esse desenvolvimento pareciam ter-se esquecido da importância de encontrarem o Livro das Sombras. Naquela tarde estava decidida a fazê-lo.A sala secreta continuava aberta, olhou sentindo relutância em entrar, parecia-lhe mais fria e a luz não era tão forte. Respirou fundo, decidida a seguir os seus instintos. Caminhou até um escaparate onde estavam vários livros de capa grossa, porém nenhum que fosse preto ou tivesse especificamente escrito Livro das Sombras. Abriu as portas de vidro passando a mão nas lombadas. Começara a subir o escadote para ver as prateleiras de cima quando algo brilhante lhe captou a atenção, voltando a descer.Avançava com receio, apercebendo-se que o frio que sentira quando entrara devia-se ao objecto que vira brilhar e que se encontrava discretamente encostado a um canto. Era uma lança de prata, não percebia porque brilhava com aquela intensidade. Admirava-a, pensando se lhe devia tocar quando ouviu um grito que a gelou. Não soara humano, sem hesitar agarrou na lança correndo escada acima.A porta da rua estava aberta, tinha escurecido. Os homens estavam no exterior, parados, a olhar em frente sem se mexerem. Faltava Lochan. Correu na direcção deles com o coração apertado sem largar a lança que lhe queimava a mão. - Lochan! - ouvia-se gritar, chamando-o. Passou por Fionn que parecia petrificado, nenhum deles se mexia. Não hesitou quando viu Lochan caído, uma Sombranegra como a noite aproximava-se. Não podia perder tempo. Fez o que a avó lhe ensinara, começando a visualizar a luz azul à volta dos irmãos, rezando mentalmente a ladainha de protecção que lhe ensinara enquanto se aproximava. Não queria que aquele ser se apercebesse da sua presença até estar suficientemente perto para proteger Lochan. Com os olhos semicerrados perscrutava a escuridão à procura de mais Sombras, felizmente, aquela parecia estar sozinha. Sabia que tinha de se colocar entre Lochan e aquela coisa sem deixar o flanco desprotegido. A Sombra estava tão concentrada nele que ainda não reparara nela. Percebia que lhe falava, mas o seu tom saía tão arrastado que não entendia o que lhe dizia. Conseguira aproximar-se a tempo de a escutar, compreendendo a verdadeira ameaça que representava.- Estás morto! Matei-te! Não podes estar aqui. – sibilava destilando o ódio que sentia – Mas, não tem importância, vais dar-me o prazer de te matar uma vez mais. - ria-se pronta para investir.Sem hesitar, Maria saltou para a frente dele, colocando-se no meio dos dois, protegendo-o com o seu corpo.- Larga-o cabra.A Sombra encolheu-se espantada com o seu súbito aparecimento.- A quem chamas cabra, miserável?- A ti ordinária. Não te bastou destruí-lo uma vez, sua interesseira! - Não serás tu a impedir-me. – sibilava. - Isso é o que vamos ver. Terás de passar por cima de mim, ser nojento.A Sombra rondava-a tentando aproximar-se de Lochan.- É o que farei. - projectou-se para a frente, as garras passando a escassos centímetros da cara de Maria.- Falhaste miserável.- Não voltará a acontecer. - Hel uivava de ódio indecisa sobre quem matar primeiro. - Prometes? – Maria decidira provocá-la para a manter concentrada em si afastando-a de Lochan - Porque o odeias tanto? Que mal te fez?- Devia ter-me tornado a senhora do Clã. Mas em vez disso, escolheu a família.- Ele escolheu-te a ti! Deixou tudo o que conhecia por ti, mas isso não te chegou, querias mais.- Queria aquilo que era meu por direito.- Por direito? E que direito era esse?- Eu não devia ser escrava de ninguém muito menos dos Senhores do Clã.- Algum deles te fez mal?- Nenhum me quis.- O Lochan desejou-te, amava-te, abandonou o conforto, a família, tudo por ti minha desgraçada e como é que o recompensaste?- Achas que queria continuar a viver no acampamento? Queria o que tinham, tanto me fazia que fosse este irmão ou outro.- Tiveste sorte no irmão! Nenhum dos outros olharia duas vezes para ti.- Se soubesse que este tinha uma cópia talvez não o tivesse assassinado.- Sempre foste burra ou estares em Annwan fez-te mal à cabeça? Nenhum deles se deitaria com a mulher do irmão.- Isso pensas tu, aquele com quem te deitas podia ter sido meu.- Aparentemente costumavas deitar-te com todos. Hel uivou fazendo nova tentativa de a atacar, Maria desviou-se como Lochan lhe ensinara.- Julgas que vais ter o que é meu? Enganas-te.- Tu, é que me pareces um pouco baralhada. Perdeste a tua oportunidade de entrar nesta casa quando assassinaste Lochan, se te tivesses dado ao trabalho de perceber o que une esta família acabarias por ser aceite. A verdade é que nada disto foi teu nem nunca será. - Isso é o que veremos.- E se te fosses embora e ficávamos por aqui? – Maria continuava a tentar afastá-la, olhando discretamente à sua volta, temendo que outras Sombras se aproximassem.- Achas que vais ficar com tudo, criança insuportável!- Não preciso de tudo, já tenho o que quero.- Amor! Deixa-me rir. – Hel ria-se com os olhos negros raiados de sangue.- É mais do que amor, mas compreendo que não saibas o significado da palavra. - O que dizes? - Hel sibilava o ódio que lhe ia no corpo enegrecido.  - Que se não gostavam de ti naquela altura é porque viam quem eras na realidade. Infelizmente o Lochan entregou o coração a quem não o merecia, mas está sempre a tempo de encontrar alguém digno dele até porque tu estás demasiado usada. Nem outro traell te quereria. – Maria tinha finalmente toda a atenção de Hel que se afastava de Lochan avançando na sua direcção. Maria cruzara o olhar com ele e vira o pânico que sentia, preocupado com a sua segurança.- Achas que és melhor que eu? – movimentava-se em círculos tentando encontrar uma abertura para voltar a atacar.Hel parecia ter-se esquecido de Lochan concentrada unicamente em Maria. - Melhor do que tu não é difícil. Estou com o homem que quero, por amor. Deito-me com ele por prazer, sinto desejo, sou amada, não estou seca como tu.Hel uivava de raiva investindo uma vez mais, Maria desviava-se com mestria tentando ganhar tempo. Continuava sem perceber o motivo pelo qual nenhum deles se mexia, precisava de ajuda, não sabia como destruir aquela criatura nojenta.- Não estou seca, hei-de recuperar a minha beleza. - A beleza não é tudo e tu és prova disso. Agora que te conheço vejo como deves ter sido sempre, insignificante, um mero brinquedo para os Senhores, se não eras nada em vida agora és menos que isso.- Foi o teu querido que me colocou assim. Mas fica descansada que a seguir a este, - voltava o olhar na direcção de Lochan. - vou atrás de cada um de vocês. - ria-se, os olhos sem vida voltavam a concentrar-se nela - E aí, mostro-te quem era e quem sou.Maria sabia que tinha de tomar uma decisão rápida, Hel preparava-se para atacar Lochan.- Tu não lhes tocas!- Achas que me consegues enfrentar?- Não sei como os conseguiste atrair, mas não os vais levar, isso te garanto. Sou quem ansiavas ser, a senhora deste Clã. Sou desejada pelo seu líder, ele quer-me, não estava tão usada como tu e não me deitei com ele em troca de algo. – Maria provocava-a continuando a visualizar a luz azul que os envolvia – Pelo teu aspecto devias ser nojenta, mesmo para os padrões da tua época. – Maria torceu o nariz dando mais ênfase ao que dizia. “Mas porque não se mexem? Preciso da vossa ajuda rapazes.”Hel voltava a investir e uma vez mais Maria desviava-se com agilidade. Os gritos de raiva que soltava feriam-lhe os ouvidos. Não podia continuar a estranha dança com aquela criatura nojenta, conseguia sentir mais Sombras, aproximavam-se e sozinha nunca conseguiria lutar contra aquela louca e colocá-los aos quatro em segurança dentro de casa. Rezava para que Maeve não chegasse naquele momento e esperava que os treinos com Lochan, a auxiliassem no eminente confronto.- Falhaste, terás de fazer melhor que isso. – Maria sorria-lhe tentando mostrar-se confiante levando a mão ao nariz - Se fosse a ti não me agitava tanto, cheiras a mofo.- Já te feri uma vez, mas agora acabo contigo. - os olhos vazios fixaram-se nela, a boca espumava. - É verdade que me marcaste, mas a pequena cicatriz que me deixaste servirá sempre para me lembrar que nesse dia fui mais esperta e forte do que tu. – entendera finalmente quem as atacara naquela tarde.- Achas que vais ficar com o que me pertence? - Blá, blá, blá, pareces um disco riscado. – Maria sorria-lhe confiante – É verdade, não sabes o que é um disco, infelizmente não vou ter tempo para te explicar antes de te destruir.Estavam a uma distância segura de Lochan, paradas frente a frente. Maria sabia que tinha de resolver aquele assunto de uma vez por todas, o tempo começava a escassear, não tardava muito estava rodeada de mais almas penadas.- Parece-me que não percebeste bem. – Maria continuava a tentar adivinhar os movimentos de Hel nunca descurando a protecção de Lochan, usando o corpo como escudo – Por isso vou explicar-te uma última vez bem devagar, – tinha de a provocar até a descontrolar, nesse momento usaria a lança - tudo o que querias é meu e eu estou viva. – chegara a altura de acabar aquele impasse. - Odeio-te! - Hel lançou-se ferozmente na sua direcção com as garras em riste, o ódio a marcar a sua deformada cara - Vou matar-te.Lochan suava, rezando à Deusa para que protegesse Maria, sem conseguir tirar os olhos dela. Temia pela sua segurança.Eoghan e Fionn olhavam para Maria em pânico continuando a tentar mexer-se sem conseguirem. Rhenan gritava para que o matasse a ele, mas a boca mexia-se e não saía nenhum som. Temiam pela sua segurança, sentiam-se impotentes perante o que enfrentava sem a poderem ajudar.Maria fez o que Lochan lhe ensinara tantas vezes na cave. Agachou-se rolando para o lado, quando Hel lhe passou por cima levantou a lança acima da cabeça, espetando-lha. O grito que soltou foi de espanto e terror, o local onde a lança tocara queimava-a transformando-a em pó. Quando desapareceu, os homens saíram do transe em que se encontravam correndo na sua direcção.- Mo ghrá? – Rhenan abraçou-a, apertando-a contra o seu corpo - Estás ferida?- Estou bem, o Lochan?Lochan atrás do irmão afastou-o, puxando Maria para os seus braços.- Obrigado!- Estás a ver, prestei atenção a tudo que me ensinaste.Lochan sorria-lhe. Eoghan e Fionn observavam a escuridão. Rhenan continuava incrédulo com o que Maria acabara de fazer, salvara-os a todos colocando-se como escudo para proteger o irmão.- Afinal, o que vos aconteceu? - Vamos para dentro. - Fionn soava preocupado. Rhenan ajudou Maria a levantar-se. Fionn esperou que estivessem todos dentro de casa, parecera-lhe ver um vulto e não era uma das Sombras nojentas que tinham silenciado os seus lamentos depois de verem como Maria destruíra Hel. Maria vingara o irmão como Rhenan já o fizera, Fionn não conseguiu deixar de sorrir ao pensar que aquilo era justiça poética.Hel desaparecia tal como tinha vivido, amargurada e sozinha.Tinha a mão queimada, no local onde segurara a lança, encostou-a à parede sentando-se no sofá ao lado de Lochan.-  A mão dói que se farta.- Onde encontraste esta lança? Nunca a tinha visto. - Eoghan olhava, mas não se atrevia tocar-lhe via o que fizera à mão de Maria e a Hel, não arriscaria descobrir o que lhe poderia fazer a ele.- Estava lá em baixo na sala secreta. Se não é de nenhum de vocês não sei a quem pertence, mas pelo menos esta criatura asquerosa deixou de ser uma preocupação. Nem sabem a satisfação que me deu dar cabo dela.Os irmãos sorriam-lhe agradecidos, enquanto Lochan a puxava para os braços beijando-a. - Devo-te a minha vida.- Não me deves nada, somos como os mosqueteiros “um por todos e todos por um”. – Maria sorria-lhe feliz. Rhenan colocava-lhe um unguento que de imediato aliviou o ardor, embrulhando-lhe a mão numa ligadura. - Não sei o que isso é, mas já não sinto dor. – Maria chegou-se para o lado permitindo que Rhenan se sentasse – Agora expliquem-me o que vos aconteceu? Como escureceu tão depressa? O que estavam a fazer lá fora? Porque não se mexiam? - A tarde estava tão agradável que nos sentamos nos degraus a beber uma cerveja, foi quando ouvimos alguém chorar. - Eoghan ainda não parecia totalmente refeito – Vimos um vulto, pareceu-nos uma mulher. Estávamos tão distraídos que nem nos apercebemos que começara a escurecer e estúpidos como aparentemente somos, nem nos lembrámos que ninguém podia entrar com o portão fechado e sem que o alarme tocasse. – fez uma pausa engolindo o Jameson de um trago, voltando a encher o copo - Quando vimos quem nos confrontava tentámos regressar, porém uma estranha força impediu-nos de mexer.- Ouvíamos e víamos tudo. - Fionn continuou - Vimos-te chegar, ouvimos o que disseram, mas não te podíamos ajudar, nem ao Lochan, nem a nós.- Como conseguiste ficar imune? - Rhenan apertou-lhe a mão levando-a aos lábios.- Visualizei a luz azul protectora e avancei. Nem pensei que me podia acontecer o mesmo que a vocês, só queria tirar o Lochan dali e trazer-vos para dentro de casa em segurança.- E conseguiste. - Eoghan olhava-a com admiração. - Permite-me que te diga que tens um péssimo gosto em mulheres. Mereces melhor. - Maria apertava a mão de Lochan. - Obrigado. – levou-lhe a mão aos lábios beijando-lha.- Não consigo compreender como é que o feitiço que nos foi lançado não te afectou. – Fionn aceitou o copo que Eoghan lhe estendia.- Poderá ter algo a ver com o facto de ser sidhe.- Mas eu também sou.- Lochan ainda não sabemos bem como consegues estar aqui. Mas quem terá lançado um feitiço tão poderoso? Certamente não foi aquela desgraçada.- Uma Bruxa!- As Sombras são ajudadas por Bruxas?Ficaram em silêncio, não tinham resposta.- Sinto que tenho de vos pedir perdão. - Perdão? - Fionn tal como os irmãos olhava espantado para Maria - O que te leva a pensar isso?- As coisas que disse para a provocar.- Sobre seres a senhora do Clã? - Lochan observava-a divertido. - Sim! – baixou os olhos envergonhada.- Tu és a senhora do Clã! – Lochan sorria a Rhenan.- Não sou nada!- É verdade que não é como seres a senhora do castelo. Mas a casa também nunca foi um castelo – Fionn estava a adorar o rumo da conversa – Mas ser a senhora do Clã é um direito reservado à mulher do filho mais velho.- Mo ghrá! Eu sou o filho mais velho.Maria olhava admirada para Rhenan e depois para Lochan. - Mas disseste que eras tu! - O que te disse foi que confirmei a Hel o meu direito ao Clã, disse-lhe o que queria ouvir.- Senhora do Clã é um bocado snobe, continuo a preferir Maria e tu Rhenan podes chamar-me o que quiseres. – beijou-o - Lochan como te sentes? - Referes-te ao facto de Hel já não nos poder fazer mal? - Sim! - Sinto-me definitivamente vingado, penso que nos começámos a libertar dos nossos inimigos e ela foi a primeira dos muitos que ainda teremos de enfrentar.- Maria, contigo do nosso lado estou pronto para a batalha. – Eoghan levantou o copo piscando-lhe o olho agradecido.Ouviram o carro de Maeve estacionar, Fionn correu para lhe abrir a porta acendendo as luzes exteriores.- Felizmente chegou. – Rhenan respirava aliviado.- Ainda bem que só chegou agora. – Eoghan fechou as portadas da sala.- Por hoje chega! - Rhenan pegou na mão de Maria levando-a com ele, dando a conversa por terminada.Os irmãos aproximaram-se da lança, não se atrevendo tocar-lhe.Maeve entrou sorridente gritando-lhes boa noite, subiu a escadaria sem parar.Os primos deixaram-na ir, não a incomodariam com os detalhes do que acontecera naquela tarde.Fionn trancou as portas apagando as luzes, tinha a certeza de que naquela noite as Sombras ficariam quietas depois de verem o que acontecera a Hel.
Rhenan fechou a porta do quarto.- Mo ghrá, fiquei pensativo com o que disseste.- Hoje já disse tanta coisa.- Não pareceste muito satisfeita por ser a senhora desta casa.- Rhenan, olha para mim, – Maria aproximou-se, abraçando-o pela cintura - senhoras da casa são a tua mãe e tia. Não podes levar a mal por não me sentir bem com esse título.- Ainda não nos casámos porque me pediste para esperar e eu respeito a tua vontade. Mas és e serás sempre a senhora desta casa.- Isso é realmente importante para ti?- É! - Fazemos assim, até ser oficialmente tua mulher não falamos mais nisso. – percebeu que Rhenan não apreciara a resposta observando-a pensativo. - É a tua última palavra?- Sim! - Tive medo de te perder e acabaste por ser tu a salvar-nos. – Rhenan encostou os lábios aos dela. - Quase morri de medo. Não foi coragem, foi pensar que nunca mais te tocaria, te ouviria rir, te amaria. - Não me perdeste e é somente graças a ti que estamos seguros.- Tens de agradecer ao teu irmão por me ter treinado até à exaustão.- Agradeço mais tarde, agora desejo esgotar-me em ti.   - Homem, és insaciável.- E nem sabes tu o que te vou fazer. - Rhenan soltou uma sonora gargalhada. - Promessas! Promessas! – Maria revirava os olhos provocadora, era bom senti-lo descontraído depois do que acontecera.Rhenan pegou-lhe ao colo caminhando para a porta.- Para onde me levas?- Para o sótão, hoje dormimos lá. – beijou-a no pescoço arrepiando-a.- Não está frio?- Não te preocupes, eu aqueço-te.Maria encostou a cabeça ao seu ombro mordiscando-lhe o lóbulo da orelha, o pescoço, ouvindo-o gemer de prazer enquanto acelerava o passo.
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Published on April 08, 2020 02:00
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