Em nome de uma fome maior

Há uns meses a esta parte, deixei simplesmente de publicar aqui, porque o último poema que aqui publiquei, foi como um espelho partido da dor causado pela morte de um amigo próximo, jovem, um irmão.
Hoje aqui volto, espero ainda encontrar-vos. A vida prossegue, sem nós sabermos, em nome de uma fome maior:

Em nome de uma fome maior

Há que começar finalmente a beber

a água das chuvas

para que possamos deixar de ser

aqueles que apenas

antecipam a sede

há que começar a viver

para deixarmos de ser

aqueles que apenas observam e apontam em cadernos tristes

tudo e todos quantos chegaram ao fim

há que fazer de cada palavra uma jóia

há que fazer de cada palavra uma fortaleza

de cada detalhe um mundo de minúcia brilhante

de cada som toda uma linguagem

de labirintos transparentes onde possamos encontrar

os nossos e confundir os outros


aproveitemos o facto de respirarmos ainda

para responder às ofensas

de quem nos quer mal

nunca perdoando

deixemos o perdão, este perdão para as ficções

dos inuteis

patrulhemos com a verdade dos nossos exércitos e armas brancas

as terras que nos dão chão e ar

que nos matam a fome, a sede e a expectativa

que nos fazem ser alguém mais do que aquele ninguém


tudo o que fazemos

o estranho, o discutível, o polemico, o invisivel

é feito em nome de uma fome maior

tudo o que somos

devorado por esse apetite da alma

quem entende será acolhido à nossa mesa

quem nos despreza receberá a chicotada

de ter de viver com o nosso sorriso

nunca sabendo quando é ele

verdadeiro

ou

falso.

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Published on February 04, 2011 12:08
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Fernando Ribeiro
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