Extinto (a um amigo influente)

Hálito de cobra
Dentro do vidro
A neve cai
E cobre o teu corpo
Afável gigante

Jóia de prata verde
Detrito
Casualidade partida
Na testa mutilada do mundo
À beira de um novo ataque

Para não incomodar a coreografia
A esta hora já regressam os corvos
Ao teu jardim
Sei que paraste de respirar nas folhas
De manusear as lamas
E que te deitaste ao lado
Da vida que corre no espelho do lago
Olhos fechados com a terra das margens

Vejo-te correr para bem longe daqui
Até ao mais denso do verde
Vejo-te ajoelhar silenciosamente
Para te observares
Ainda vivendo
Falando com os teus
E com os outros
Mostrando-lhes as tuas mãos vazias
Ensinando-lhes a tua vertigem cor de plantas
Sentido proibido, imagem
Parábola, carambola
Treze no buraco

Denunciado pelas paredes do vidro
Sais finalmente em liberdade
Diriges-te ao bosque
Para confrontares o teu corpo morto
Exigir explicações
Desafiá-lo para um duelo
Ao pôr-do-sol

Quando morreste
Mataste algo de mim
Coisa pouca que seja
Mas que faça de mim
Um homem melhor
Um sítio melhor
Para a tua memória viver


Descansa em paz Peter.
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Published on April 16, 2010 08:50
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Fernando Ribeiro
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