Calor

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O sono é um lugar privilegiado para novas experiências.


O sono compreende o que ao dia era apenas ruído, coceira, ardor.


O sono, pêndulo entre o ar e o abismo, é um impulso para o voo, quando não há sombra que puxe pelos cabelos, efeito da gravidade e do pesar.


Voo na horizontalidade vertiginosa, imobilidade desatada, pequena iluminação, apenas os pulmões inflando.


O ar em mim, o que me impede de submergir.


 


Em casa eu precisava sair e trabalhar o dia todo. Aqui, como tudo já é exterior, preciso deste quarto, e me permito ficar.


 


Precisa querer muito. O que te impede: confunde ou revela?


 


Vontade de dormir.


 


A cidade me desgoverna. O vapor da cidade me empurra de volta para o quarto, onde há um ar frio, potente, uma cama firme e o silêncio dos pássaros no parapeito. Posso me deitar no chão e abrir um livro sobre o budismo sem precisar ler. Posso tomar goles largos de água, trabalhar umas quantas horas, viver descalço.


 


A paixão precisa descansar. Não vale a pena. Já estamos de partida. Tudo já outra coisa. Não fico. Nunca me sinto só. Vou desfazer compromissos. Tudo o que quero é traduzir signos e voltar a cifrá-los. Retirar e devolver ao lugar, tomar umas cervejas, uma conversa.


 


Hoje é isso, e amanhã talvez de novo o vulcão desperte.


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Published on February 05, 2014 21:00
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