meu gato no saco
Você vai na lojinha e encontra objetos embrulhados. Tamanho, preço e peso diferentes, mas todos com o mesmo tipo de embalagem. Não dá pra abrir. Não dá pra descobrir o que vem dentro. Não dá pra apalpar.
Em português, uma tradução possível é algo como "gato no saco". O original é Katze im Sack, que é o jeito como os alemães chamam essa coisa esquisita que eles inventaram: comprar algo sem saber o que é.
Aproveite que está perto do natal e escolha o pacote mais caro de todos. Aquele do cantinho: o que custa uma fortuna, mesmo sendo menor. Compre desse jeito, sem saber pra quê, exatamente, ele serve. Leve sem pensar se vai ser útil pra alguém, se você ou um parente seu algum dia precisou, se é bonito, se vai agradar. Caminhe de volta pra casa com seu presente de dois milhões de dólares que vem dentro de uma sacolinha de papel marrom-escuro, inescrutável. Talvez ele seja lindo, talvez seja um pesadelo. Pode ser um ramalhete de flores de plástico. A única clareza que se tem é a de que não se tem nenhuma garantia. Sem risco não existe Katze im Sack. Às vezes é preciso deixar de lado. Há momentos assim, em que não dá pra levar x sem renunciar aos confortos de z. Aqui, na lojinha dos mil sacos, não existe espaço pra arrependimento e nem pra hesitação: o que estão te pedindo é a confiança de abandonar-se à própria sorte. Existe uma chance de a surpresa ser melhor que o planejado. Uma mão cheia de dedos tem mais espaço quando faltam anéis. Já pensou? E se? Pode ser, também, que o pacote pequenininho guarde o seu sonho, e mais além - aquilo que você jamais teria podido escolher, porque de tão inconcebivelmente maravilhoso você nunca tinha conseguido imaginar.
Por respeito e deferência, que as honras todas sejam feitas neste post inaugural. Meu novo blog, que você está conhecendo agora, vai batizado com o nome da minha recém-adotada metafísica do imprevisível. Pensei antes de tudo no aportuguesamento "gato no saco", mas acabei não resistindo ao original adorável, em alemão. O nome deste blog é Katze im Sack.


