Status Updates From Nietzsche, Marx, Freud

uma fulguração que terá o nome de Deleuze: um novo pensamento é possível, o pensamento de novo é possível.

Para libertar a diferença precisamos de um pensamento sem contradição, sem dialética, sem negação: um pensamento que diga sim a divergência; um pensamento
afirmativo cujo instrumento seja a disjunção; um pensamento do múltiplo — da multiplicidade dispersa e nômada
que não limita nem reagrupa nenhuma das coações do mesmo;

Se em vez de procurar o comum na diferença, pensasse diferencialmente a diferença?... e quanto a repetição, já não seria um triste emaranhado do idêntico, mas diferença descoberta

Que é pensar?... leiamos Freud que nos diz como pode o pensamento pensar

A filosofia da representação, do original da primeira vez, da semelhança, da imitação, da fidelidade, dissipa-se. A flecha do simulacro, epicureo dirigindo-se até nós, faz nascer, renascer, uma “fantasmofísica”

O Deus morto e a sodomia como focos da nova eclipse metafísica. Se a teologia natural implicava a ilusão metafísica... a metafísica do fantasma gira em torno do ateísmo e da transgressão;

a psicanálise, que tem relação com fantasmas, deverá um dia ser entendida como prática metafísica

Hoje em dia é necessário pensar toda esta abundância do impalpável... enunciar uma filosofia de fantasma, que não esteja mediante a percepção da imagem... mas que permita ter em conta as superfícies com as quais se relaciona, no retorno que faz passar todo o interior para fora e todo o exterior para dentro...

quimeras revoluteantes

Diz-se que Platão opunha essência e aparência, mundo de cima e mundo de baixo, sol verdadeiro e sombras da caverna (e é a nós quem compete conduzir às essências à terra, glorificar o nosso mundo e colocar no homem o verdadeiro sol)... Inverter, com Deleuze, o platonismo e debruçar-se insidiosamente nele, baixar um degrau, chegar até esse pequeno gesto... que exclui o simulacro;

Surgindo Ulisses, eterno marido, os pretendentes dissipam-se. Exeunt os simulacros

Como distinguir entre todos os falsos o verdadeiro?... Não é descobrindo uma lei do verdadeiro e do falso... A verdade não de opõe aqui ao erro mas á falsa aparência mas antes por cima de todos eles o modelo. Modelo tão puro que a pureza do puro de lhe assemelha, se lhe aproxima, e pode comparar-se com ele; existindo com tal força que vanidade simuladora do falso se encontrará, num golpe, desgarrado como no ser

teria como definir filosofia como qualquer empreitada que fosse antiplatônica; o discurso que tivesse a presença de algo não visto no pensamento platônico e a ausência do que há no Platão;

Deleuze = história geral da filosofia como fantástica platônica; seu platonismo invertido faz surgir nela a divisão. “Quem é? e não que é?” (não foi o mesmo dito sobre Nietzsche, ambos por Deleuze e Foucault?)

nenhum centro mas sempre descentralizações, séries com, de uma a outra, a claudicação de uma presença e uma ausência

talvez um dia o século será deleuziano

Tudo é trauma, lovebomb, gaslighting, etc.

A psicologia pop como hermenêutica moderna na qual o processo de interpretação não é mais para fenômenos exteriores mais para interiores, ou exteriores que nos afetam interiormente — viramos solipsistas e narcisistas, e essa atual interpretação da realidade é aceita por causa da legitimização da psicologia por causa de seu deslocamento das ciências humanas para as ciências médicas

Como efeito, penso que o sentido da interpretação no século XIX, se aproxima certamente do que você entende por terapêutica. No século XVI, a interpretação achava melhor o seu sentido ao lado da revelação e d salvação. Citar-lhe-ei, simplesmente, uma frase de um historiador chamado Garcia: “Nos nossos dias — disse em 1960 — a saúde substituiu a salvação”

A propósito de Nietzsche, você disse que a experiência da loucura era o momento mais aproximado do conhecimento absoluto

Há em Nietzsche, Freud e Marx o veneno depreciativo? A exposição dos bons sentimentos e boa consciência pelo que realmente são, um projeto negativo, a interpretação que nega. Ou esses bons sentimentos e boa consciência são, também, interpretações que negam, e sua exposição é a interpretação da grande razão.

Jung opõe o símbolo ao signo, sendo o signo o que deve ser traduzido no seu conteúdo latente, enquanto que o símbolo fala por si mesmo

Nietzsche, na sua interpretação, trata de analisar os bons sentimentos e manifestar o que na realidade escondem... Freud com a psicanálise vai desvendar o que é o conteúdo latente... Marx atacará a boa consciência da burguesia para mostrar o que há no fundo dela... Jung, que denunciava na forma de interpretação freudiana o veneno depreciativo

na história dos símbolos... a descoberta das línguas indoeuropeias, a desaparição da gramática geral, a substituição do conceito de organismo pelo de caráter, não são menos importantes que a filosofia hegeliana. Não se deve confundir história da filosofia e arqueologia do pensamento.

Inclusive interpretar o mundo e mudá-lo não são para Nietzsche duas coisas distintas

A vida da interpretação, pelo contrário, é o crer que não há mais do que interpretações... a hermenêutica e a semiologia são dois ferozes inimigos... uma hermenêutica que se desenvolve por si... nessa região intermediária entre a loucura e a pura linguagem

o único perigo que realmente corre a interpretação, embora seja um perigo supremo, é o que, paradoxalmente fazem correr os símbolos. A morte da interpretação é o crer que há símbolos que existem primariamente, originalmente, realmente, como marcas coerentes, pertinentes e sistemáticas.

o último caráter da hermenêutica: a interpretação encontra-se diante da obrigação de interpretar-se a si mesma até o infinito; de voltar a encontrar-de consigo mesma... a interpretação será sempre, sucessivamente, a interpretação de “quem?”... um tempo da interpretação que é circular

a interpretação que toda a verdade tem como função recobrir... Os símbolos são interpretações que tratam de justificar-se, não o inverso... Essa era a função que de aferia à moeda... os símbolos eram máscaras. O símbolo, ao adquirir está nova função de encobrimento da interpretação perdeu a sua simplicidade do significante

Não há para Nietzsche um significado original. As mesmas palavras não são senão interpretações, ao longo da sua história, antes de converterem em símbolos, interpretam, e têm significado, finalmente, porque são interpretações essenciais... É também nesse sentido no qual Nietzsche diz que as palavras foram sempre inventadas pelas classes superiores; não indicam um significado, impõem uma interpretação.

É pelo que Freud interpreta, a linguagem dos seus doentes, o que eles lhes oferecem como sintomas: a sua interpretação é uma interpretação de uma interpretação, nos termos em que esta interpretação for dada...