Status Updates From Furriel não é nome de pai -...

‘Na Guiné há quem chame aos mestiços «gente vermelha». Ou «pessoas de cor», explica-me Fernando. Estranho a designação, por ser o contrário de Portugal, onde se diz que «é pessoa de cor» quem é negro. Mas a lógica é a mesma: a maioria, negra ou branca, vê-se como incolor e quem é diferente é como se fosse pintado.’

Quando Adulai Seidi fez uma semana de vida, a família do pai não matou um galo. Não havia razões para festejar como era tradicional entre a etnia fula. A sua avó paterna, Mariato, teve a certeza mal pousou os olhos no bebé, e disse-o directamente ao filho: «Esse não é teu filho, esse é filho de branco. A mãe acabada de o ser começou a chorar.

Sua Exa.Chefe do Estado-Maior do Exército português: chamo-me Óscar Albuquerque, filho de um português, furriel miliciano, que prestou serviço militar no estado da Guiné Portuguesa,concretamente na vila de Ingoré. Sua Excelência, eu não conheço o meu pai, nem sequer tenho uma fotografia dele.A única coisa que sei é que a minha mãe sempre me disse que sou muito parecido com o meu pai.
Sua excelência nunca respondeu.

As viagens de Fernando agora também servem para registar o que ficou do "Tempo dos Tugas" -[..] expressão que parece remeter para uma época mais antiga e para antepassados mais remotos, como em Portugal se falaria do Tempo dos Visigodos.

[..] continua a ser, pelos sítios por onde passa, apenas «o tuga». «Há pessoas que nem sabem qual é o meu nome.» E é uma alcunha que, ao mínimo pretexto, se transforma em insulto, como acontece com um estrangeiro. [...] É dele a culpa de na sociedade guineense o fazerem sentir que não pertence, como um «sem raça». Quando a mãe morreu com o que julgava ser o nome do pai, morreu também «o segredo».