Luís’s Reviews > O Livro das Imagens > Status Update

Há algo suspenso à minha volta?
Entrou o vento nocturno?
Não tremi.
Sou forte e estou só. -
Que consegui hoje?
... Arranquei folhas de hera à noite
e dobrei-as e entreteci-as até me obedecerem.
Ainda brilham com negro resplendor.
E a minha força
circula pela coroa.

Nas árvores folheia o vento;
e eu sei que palavras ali estão,
e repito-as por vezes em voz baixa.
E a morte, que arranca os olhos como flores,
não vai encontrar os meus olhos ...

A noite, agitada por crescentes tempestades,
como se torna subitamente imensa -,
como se habitualmente estivesse recolhida
nas ínfimas dobras do tempo.
Não acaba onde as estrelas tentam deté-la
nem começa no meio da floresta,
nem no meu semblante
nem na tua forma.
Os candeeiros balbuciam e não sabem:
mentimos luz?
É a noite a única realidade
desde há milhares de anos ...

Talvez sejamos o alvo
de estranhas maldições que nunca nos alcançam,
vizinhos de um deus que imaginam
a nossa altura quando choram a sós,
em que acreditam e que perdem,
e cuja imagem, como um reflexo das suas
lâmpadas buscadoras, efémera, e depois desaparecida,
passa pelos nossos rostos distraídos ...

Sou cego, para vós, aí, isto é uma maldição,
uma contrariedade, uma contradição,
um peso quotidiano.
Apoio a minha mão no braço da mulher,
a minha mão cinzenta sobre o cinzento do seu cinzento,
e leva-me através do ruidoso vazio.

Vós moveis-vos e mudais de direcção e gostais de pensar
que não soais como pedra contra pedra,
mas estais enganados: só eu
vivo e sofro e faço ruído.
(...)

(...)

Outrora o altar
com a imagem em que Maria deu à luz
estava na solitária nave lateral.
Uma trepadeira de flores
vos comovia;
o pensamento
de que só a fonte
lá fora no jardim enluarado
lançava a sua água para o alto,
era como um mundo.

(...)

(...)

Medita e medita ainda o pálido Gossudar.
E o seu rosto, que debaixo do enfermo cabelo
e no seu grande hábito de ouro
há muito está afundado e como ausente,
desapareceu, como o da oval dourada.

(Para encontrar o semblante dela.)

Duas túnicas de ouro brilharam na sala
e a luz das lâmpadas deu-lhes um claro resplendor.

(...)

E cavalgaram, cavalgaram ... talvez mil anos.
Quem conta o tempo quando simplesmente se deseja.
(Esteve talvez também sentado mil anos.)
O real é como o fantástico:
mede o mundo com medidas arbitrárias;
são demasiado jovens para ele os milénios.

E longe irão com passos largos os que longas horas se sentaram
no profundo crepúsculo do seu ser.

(...)
Eu só quero, porque estou escondido
e como tu cansado, mais cansado talvez ainda,
e porque a minha angústia perante o grande juízo
é semelhante à tua,
quero unir-me a ti,
face contra a face
ao teu lado;
unindo as nossas forças
enfrentaremos a grande roda
sobre a qual se lançam as águas poderosas
que murmuram e ressoam -
pois, ai de mim, vão ressuscitar.
Assim é a sua fé: grande e sem piedade.

Quando há muito na orla dos desertos
se abriu a mão do Senhor,
como uma fruta que no Verão
anuncia a sua semente,
deu-se um milagre: de longe
reconheceram-se e saudaram-se
três reis e uma estrela.

Três reis de-A-Caminho
e a estrela Em-todo-o-lado
que juntos se apressaram (pensa nisso!)
um rei para a direita, um rei para a esquerda,
até um silencioso estábulo.

(...)