Luís’s Reviews > Ontem Não Te Vi Em Babilónia > Status Update

avance um passinho trémulo até mim, aperceba-se do meu ventre aberto e pese-me na garupa o seu casaco no fio e a sua gravata puída à medida que os cisnes selvagens
- Cuá cuá
vão passando sobre nós a caminho da Tunísia e a minha cara dá ares do meu tio cansado no selim, pobre dele, a subir a ladeira.

- Tralalá tralalá
a escutar
- Passa bem
e mais simples do que se pensa dona Laura, mais fácil, não custa nada descobrir o lugar entre as vértebras e bater, uma onda final em Peniche antes do silêncio e eu de pé, encostado à parede do forte, a calar-me com ela.

- Não me pegas ao colo?
e claro que te pego ao colo, chega cá, não te inquietes, eu tapo o poço repara, não te acontece mal, a água que não te vai engolir encerrada lá dentro, o galinheiro e as couves a tranquilizarem-nos
- Não os deixamos sosseguem
um restinho de sol
(coisa mais querida)
entre os troncos das árvores e um de nós
(acho que eu desta feita, não a minha mãe)
a cantar.

(eu sem me mover aceitando)
lembro-me das rãs a ensurdecerem a gente
(nunca pensei que as rãs)
vultos de afogados sem afogado algum, caules à deriva e um ganso de bico aberto na margem a afiançar
- Não digo
olhando os cálices no armário de que a mãe dela gostava.

- É a vida
e julgo que pertence a quem me tira os tubos da boca e das partes e a minha língua livre de modo que posso dirigir-me a quem me apetecer, sair desta poltrona e instalar-me no alpendre vendo as lâmpadas acenderem-se no celeiro, nenhuma pluma entre nós, o ar limpo, as rolas lado a lado na empena e na margem do charco a alegria das rãs.

- Não te sentes bem tu?
e sinto-me bem, sinto-me bem, claro que me sinto bem apesar do ramo da macieira para baixo e para cima com uma boneca pendurada no fio do estendal.