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Ter acesso à literatura, ao mundo da literatura, era escapar da prisão da vacuidade nacional, da vulgaridade, do provincianismo compulsório, da escola inane, dos destinos imperfeitos e da má sorte. A literatura era o passaporte para entrar numa vida mais vasta; ou seja, a zona da liberdade.

Para além destas lutas, dignas da nossa fervorosa adesão, é importante lembrar que nos programas de resistência política a relação de causa e efeito é intrincada e frequentemente indirecta. Todo o combate, toda a resistência é - deve ser - concreta. E todo o combate tem uma ressonância mundial.

Um escritor é antes de mais um leitor. É da leitura que retiro os critérios com que meço o meu próprio trabalho e segundo os quais deixo muito a desejar. Foi pela leitura, ainda antes de escrever, que me tornei parte de uma comunidade (...) que inclui mais escritores mortos do que vivos. Ler e ter critérios são pois relações com o passado e com o que é diferente. (...)

Estou grata por me ter sido concedido o prémio Jerusalém. Aceito-o como uma honra concedida a todos os que estão empenhados na aventura da literatura. Aceito-o em homenagem a todos os escritores de Israel e da Palestina que lutam pela criação de literatura feita de vozes singulares e da multiplicidade de verdades. Aceito o prémio em nome da paz e da reconciliação de comunidades feridas e temerosas. Paz necessária.

Ao fim e ao cabo, estamos em guerra. Guerra sem fim. E a guerra é o inferno, ao que parece mais do que nenhum daqueles que nos envolveram nesta guerra suja estava à espera. Na nossa sala de espelhos digital, as imagens não vão desaparecer. Sim, parece que uma imagem vale mais do que mil palavras. E mesmo se os nossos dirigentes decidirem não olhar para elas, haverá milhares de novas fotografias e vídeos. É imparável.

A América tem todo o direito de dar caça aos perpetradores destes crimes e aos seus cúmplices. Mas esta determinação não é necessariamente uma guerra. Intervenções militares limitadas, com alvos precisos, no exterior, não se traduzem em «tempo de guerra», no interior. (...)

Under the Glacier é um maravilhoso romance acerca das questões mais ambiciosas, mas, uma vez que é um romance, é também uma viagem que deve terminar, deixando o leitor deslumbrado, estimulado, e, se o romance de Laxness cumpriu a sua missão, talvez um tanto menos ansioso do que Embi por voltar a encontrar a estrada principal.

(...) Mas a lua não pode extinguir-se. Tal como o desinteresse salvador, a salvadora visão mais larga, que é a do romancista e a do poeta - o que não impede a compreensão política, mas que nos diz que há mais do que a política, mais até do que a história. Coragem ... e desinteresse ... e sensualidade ... e o mundo vivo dos seres vivos ... e a piedade, piedade por todos, é algo que se mantém inextinto.

Anna Banti não queria perder o seu manuscrito na batalha de Florença em princípios de agosto de 1944. Nenhum escritor se alegraria com tal destino. Mas não há dúvida nenhuma que o que faz de Artemisia um grande livro - (...) - é este duplo destino, de um livro perdido e recriado. Um livro que ao ser póstumo, reescrito, ressuscitado, ganhou um incalculável alcance emocional e autoridade moral. (...)

Emergimos da leitura de Verão em Baden-Baden purificados, abalados, fortificados, respirando um pouco mais profundamente, gratos à literatura pelo que pude defender e mostrar. Leonid Tsipkin não escreveu um livro longo. Mas fez uma grande viagem.