Paula Mota’s Reviews > Sobre as Mulheres > Status Update

"Para uma mulher, aperaltar-se nunca pode ser apenas um prazer. Também é um dever. (..) É fácil começar por definir as mulheres como cuidadoras das suas superfícies e, a seguir, denegri-las (ou achá-las adoráveis) por se revelarem "superficiais". É uma ratoeira tosca que ainda assim já funciona há demasiado tempo."

"Uma maneira habitual de reforçar a passividade política feminina tem sido a de afirmar que elas serão mais eficazes e influentes se se comportarem com "dignidade"(.), se se mantiverem encantadoras.As mulheres devem demonstrar desprezo por essa forma de intimidação disfarçada de conselhos amigáveis. Revelar-se-ão mais eficazes em termos políticos se forem grosseiras, incómodas e - segundo padrões sexistas - "feias".

"Pense-se no que as mulheres fizeram (o que lhes foi "permitido" fazer) na Comuna de Paris, na revolução russa, na resistência francesa e italiana durante a 2a. Guerra Mundial, na luta pela criação do Estado de Israel, na revolução cubana, nos 30 anos de luta pela libertação do Vietname, no movimento guerrilheiro palestiniano, nos movimentos de guerrilha urbana na América Latina".

"Asseveraria que o fascismo,longe de ser uma aberração política cuja maior plausibilidade se viu confinada à Europa e ao intervalo entre as duas Grandes Guerras,é a condição normal do Estado contemporâneo:a condição para a qual os governos de todos os países industrialmente avançados tendem.(.)V. Woolf tinha toda a razão quando declarou(..)que a luta pela emancipação das mulheres é uma luta contra o fascismo.

[1973]

"Não cabe às mulheres assumir a tarefa de emancipar os homens quando precisam primeiro de se emancipar a elas - o que implica desbravar os terrenos da inimizade (..). As mulheres devem mudar-se a si próprias, devem mudar-se umas às outras, sem lhes preocupar como isso afetará os homens. A consciência das mulheres só mudará quando começarem a pensar nelas próprias e se esquecerem do que é bom para os seus homens."

"Todos os países comunistas têm-se contentado em oferecer às mulheres melhorias de situação meramente liberais - como um maior acesso à educação, emprego e divórcio - ao mesmo tempo que preservam incólume o monopólio subjugador do poder político pelos homens e mantém inalteradas as estruturas de repressão que caracterizam as relações privadas entre os dois sexos.

"Com efeito, as velhas célebres que me consigo lembrar de terem ousado uniões desse estilo, ainda que somente no final da vida - George Eliot, Colette, Édith Piaf - pertenceram todas a essa categoria de pessoas de índole criativa(.) com autorização especial da sociedade para agir escandalosamente. É considerado um escândalo uma mulher ignorar que é velha e, por consequência, demasiado feia para um homem."

"Uma mulher ver-se obrigada a dizer a idade após "uma certa idade", constitui sempre uma pequena tortura. Se a pergunta provier de uma mulher, ela sentir-se-á menos ameaçada do que se for um homem a fazê-la. Afinal de contas, as outras mulheres são companheiras no sentido em que partilham do mesmo potencial para a humilhação. Mostrar-se-á menos furtiva, menos reservada. "