Katya’s Reviews > Meninas e instituições / Desejo cinzas à minha casa > Status Update

Ultimamente,penso muito nos suicídios por motivos políticos.Alguns dos soldados agora mobilizados suicidam-se,confrontados com o facto de q é o Estado quem decide por eles onde, como e porquê devem morrer.Uma vaga de suicídios atravessou os quartéis e unidades militares.Alguns puseram fim aos seus dias em casa,após receberem a convocatória.Para muitos, o suicídio torna-se o primeiro e último acto de vontade política.

Na guerra, da guerra, não há guerra, não à guerra. Declinando a palavra «guerra», sinto-a perder o sentido, transformando-se numa sequência de sons ininteligíveis: gue-rrra, grrr-a. Repetir a palavra até que ela se transforme numa papa nojenta de carne. Para que ninguém e nunca mais a repita.

A tua casa é onde estás viva - digo.

Sou patriota - digo.

Tenho medo - digo.

Porque é que os políticos têm medo de admitir que têm medo?

Porque é que um texto como este é considerado vergonhoso e derrotista?

Porque é que o sentimento de perda não é visto como emancipador?

Um dia vou acordar e não me vou lembrar de como se diz isto em russo. E não haverá nada de assustador nisso.

(.)tinham instalado uma pequena câmara no escritório.Todos os meses aparecia um indivíduo silencioso, sem traços que pudessem ser memorizados, mexia em alguma coisa na câmara e saía sem responder a qualquer pergunta.A câmara tornou-se mais uma das nossas meninas: tratávamo-la como se fosse um ser vivo, mas era uma colega pouco agradável, na presença da qual era melhor não tocar em alguns assuntos.

Não me sentira bem durante todo o dia e, à terceira canção da banda Poiúshchie serdtsá, apercebi-me de que me veio o período. Comecei a abrir caminho entre as filas. À saída da sala de concertos, dois seguranças bloquearam-me a passagem: tinham ordens para não deixar sair ninguém sob nenhum pretexto, já que os artistas actuavam sob encomenda do Estado. Os trabalhadores não podiam sair, tinham de desfrutar do momento.