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Para onde está indo a nossa capacidade de preservar o tempo. Que fazer quando o antigo ritual em volta na mesa, as memórias contadas sob o calor da lareira e a comida ritualisticamente cozinhada, dão lugar ao presente imediato das coisas mercadorias? Quando falar do próximo carro se tornou mais importante que lembrar da morte ou nascimento de pessoas ou ideias? Lembrar é narrar!

Ernaux faz o exercício da memória, poesia encontra não ficção ao tentar traçar uma linha temporal reta a algo que é essencialmente oblíquo. Opaco a si. Se depara, logo, com ambiguidades e bifurcações. Ou seja, com a própria ficção. Não seria esse o esforço mesmo de apreender os sentidos da vida? Ela é uma escritora que detém a arte de não desperdiçar palavras e escreve tudo na sua justa medida.