Luís’s Reviews > Diário de uma criada de quarto > Status Update

(...) Joseph está a caminho, algures no meio da noite… Vejo-o através do espaço… Sim, vejo-o realmente, grave, pensativo, enorme, num compartimento de uma carruagem de caminho de ferro… Sorri-me, aproxima-se, vem ao meu encontro… Traz-me enfim a paz, a liberdade e a felicidade… A felicidade?
Vê-lo-ei amanhã…

E o ventre, por muito tempo comprimido, distendeu-se, inchou, adquiriu a rotundidade característica, a tara da maternidade e do crime.
Continuaram o seu caminho e, depois de dar mais alguns passos na estrada, entraram numa estalagem e pediram um litro de vinho.

E ficámos diante um do outro, ele com os olhos brilhantes e a respiração entrecortada, e eu com os braços pendentes, a cabeça cheia de zumbidos e o corpo em fogo...

O senhor, por seu turno, descera ao mais baixo grau da inconsciência e da abjeção, a que chamava «política de salão» e «diplomacia mundana».
Vou escrever para Paris e pedir que me mandem o novo livro do meu antigo patrão ... que no fundo deve ser uma grande porcaria.

Volto para casa um bocadinho triste, um bocadinho desanimada e um bocadinho irritada, deixando a abominável Rose gozar o seu triunfo, cumprimentada por todos, respeitada por todos, gorda e feliz, odiosamente feliz. Estou certa de que não faltará muito para o cura a pôr num nicho da igreja, entre duas velas e nimbada de ouro, como uma santa…

(...) Muito nova, sem eira nem beira numa grande cidade e, ainda por cima, com um filho no ventre, conhecera a miséria, pois o amante não tinha dinheiro e decerto teria morrido de fome se o estudante não acabasse por lhe arranjar emprego na Escola Médica.

A senhora ficou muda e queda ... Muito hirta, muito direita e austera no seu vestido de seda preta, com a testa franzida e o olhar duro, não tem feito outra coisa senão pensar ... Em quê? ...
Talvez seja por minha causa que a senhora esteja amuada com o senhor…

Um cão ladra ao longe, no campo ... São quase duas horas e a luz da minha vela está prestes a apagar-se ... Vou ter de deitar-me também, mas pressinto que não conseguirei dormir ...
Oh, tenho a impressão de que me vou fazer velha neste casebre! … Era o que me faltava!