Leonor’s Reviews > Quando as Aves Voam para Sul > Status Update

Contemplo outra vez as montanhas e o lago. Passei por aqui ao longo de nove décadas e ainda me emociono com a sua beleza. E jamais quero deixar de me emocionar.
No entanto, ao passar pelo cume, dou por mim a desejar que esta seja a última vez que vejo esta paisagem.

— É curioso, isto do tempo — digo pouco depois.
A pastora olha para mim sem dizer nada.
— Às vezes passa muito devagar, e, de um dia para o outro… — Faço um rápido gesto com a mão para mostrar como vinte anos da minha vida passaram assim, num ápice.
— Não pensávamos nisso quando éramos crianças — comenta ela. — Simplesmente vivíamos
, não era?

Olho o meu reflexo no espelho com ar de desafio e tento não me preocupar em demasia. Antes nunca me acontecia isto, nunca pensava nem me preocupava com as coisas. Agora, a minha vida é toda ela frágil. De repente, sinto uma certa ternura pelo homem no espelho. Não é fácil ser humano.

Como fomos nós criar um filho que me magoa tanto? Que complica tudo?

Puxo o braço com força e uso a única arma que me resta: o meu silêncio.

A Ellinor estendeu os braços e deu um grande abraço ao Hans, e eu senti, ao mesmo tempo, vergonha e orgulho.
Não sei porquê, mas incomoda-me pensar nisso. Incomoda-me esse hábito constante de se abraçarem.À Ellinor basta-lhe estar fora um dia para abraçar os pais.E estão sempre a dizer q se amam muito. Amo-te para aqui, amo-te para acolá…O meu pai nunca me teria dito algo do género. E acho q mal toquei na mão do Hans

Isto agora correu muito mal!!!

—Estou? Ture? Estás aí?(.)
—Estou na merda-diz pouco depois, e a sua franqueza surpreende-me.
(.)
—Eu também—digo, porque não sei como mais o descrever.(.)
—Não achas engraçado como tentam prender-nos à vida?
—Sim, sim.
Já falámos muitas vezes sobre isto. Não querermos que nos mantenham vivos quando já não tivermos nada por que viver.

Não sei ao certo quando foi que aconteceu, mas os papéis inverteram-se. Apesar de o seu corpo nunca ter sido, nem de longe, tão forte ou grande quanto o meu, neste momento é ele quem detém a autoridade. É ele que decide sobre a minha vida. Ele não existiria sem mim, mas sou eu quem tem de ceder, quem depende da sua decisão. É a ele que ouvem, não a mim. Não fazem caso de mim, como faziam do meu pai.

O que haverá de difícil em dizer as coisas como elas são?