Luís’s Reviews > Peregrino e Estrangeiro > Status Update

(...) Esses dois amigos, amparando-se um ao outro, esses dois príncipes frágeis debilitados pela miséria e pelas sevícias, a não ser que tenham sido a miséria e as sevícias que os fizeram príncipes, afundam-se à nossa vista na penumbra de Rembrandt e desaparecem nela como o teriam feito no mar.

(...) tal como diz tão bem uma personagem de Ionesco em Le Roi se Meurt, já não tinha necessidade de respirar. Os minerais que o compunham pertenciam, de novo, a esse solo de que nasceram os belos objectos que ele não cansava de amar. Mas deixara-nos o seu exemplo, o de um homem que, dizia ele, «tentava dirigir-se no sentido das coisas». Tornarei ainda a pensar nele ao esforçar-me por ouvir as pedras.

Não nos queixemos dos nossos males não terem exemplo: do alto das Pirâmides, quarenta séculos rir-se-iam na nossa cara. Tão pouco, digamos, que são insuportáveis: se o fossem, já não estaríamos vivos. E os mortos, esses, calam-se ou não se explicam senão a Deus.

(...) Tal como Les Dormeurs de Walt Whitman, tal como a bênção da noite em As Contemplações de Hugo, essa obra-prima crepuscular que envergonha as nossas enfadonhas definições de clássico e de romântico situa-se à beira do indizível: entre o sono e o sonho, entre a vida e a morte, entre o dia que tomba e a noite que nasce. Em seguida, já resta explorar apenas a noite.

(...) Entretanto, os garotos, fatigados, tornaram a adormecer encostados aos suportes de cartão cor-de-rosa; os gritos e os aplausos diminuíram; e um rapazito, suando em bica, faz circular de mão em mão um objecto verdadeiramente celeste: uma taça de ferro com algumas gotas de água.