Mariana Ramos C. Nery's Blog

November 14, 2023

o que eu tenho a dizer?

tenho sido bastante artista nos últimos tempos e com isso quero dizer que a arte tem feito cada vez mais parte dos meus dias. não como uma dupla identidade mas como parte de uma identidade completa.

não sei se poucos ou muitos sabem mas eu divido o tecido dos dias entre duas profissões há bastante tempo, sou programadora e artista. parando pra pensar, sou escritora em tempo integral, algumas horas escrevo códigos e penso soluções fazendo uso de linguagens interpretadas por máquinas, em outras horas escrevo versos e elaboro emoções desaguando-as em diferentes expressões, escritas ou sentidas em ritmos.

minha terapeuta me perguntou qual o meu objetivo com a arte, fiquei um tempo tentando elaborar e não soube bem qual o fim mas o meio eu sei que é estar observando e me encantando pela vida ao passo em que crio diálogos e aprendo com que me lê/ouve e me retorna. ela me perguntou também sobre o que eu quero comunicar, pensei que não necessariamente eu tenha algo de muito importante a dizer ou que o objetivo disso é ser amplamente ouvida, na verdade ganho muito quando ouço e quando os meus versos são canalizadores de emoções que eu nunca poderia prever. me encanto ao saber que a minha função enquanto artista é escolher e organizar as palavras e sons uma vez, ao sair das minhas mãos quem lê/ouve pode dar infinitos sentidos.

é escrevendo isso que talvez chego à uma possível resposta ao questionamento da minha psicóloga, o meu objetivo com a arte é colocar as minhas palavras e ritmos em contato esses novos sentidos e ouvir o que esse encontro tem a dizer.

agosto, 2023

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Published on November 14, 2023 06:29

March 31, 2023

março de 2023

março chegou e novamente me propus à 31 dias de comemoração de aniversário. obviamente eu não fiz festa em todos eles mas a graça pra mim foi me inclinar a fazer de tudo uma celebração, os encontros, dos mais planejados aos inesperados, as atividades rotineiras, as festas ou o mais comum dos dias.
me perguntaram se eu sempre fui festeira assim. não soube dizer, mas nos últimos anos tenho testado formas de expressar o quanto eu gosto de estar viva e fazendo dessa passagem uma experiência na qual analiso e realizo com atenção e contentamento.
outro dia assisti um video sobre algumas características de pessoas do signo de áries, uma delas me saltou os olhos e me ajudou a dar nome a como eu me sinto na vida: um espírito de erê. é como gosto de me sentir, como uma criança, fácil de entreter, movida pelas novidades, leve como quem brinca e está sempre descobrindo. não que eu me sinta assim todo o tempo, afinal, a vida adulta não é tão simples mas debaixo da armadura, essa criança está lá. uma criança que sabe mais de si, que se sente muito mais em conformidade, acolhida.
celebro o mês inteiro, em múltiplas ocasiões, reunindo o máximo de amores que puder pra levar a essa minha criança pra brincar.

esse também é o mês que faço muitas reflexões, segue algumas de outras águas de março:

[2022] recife, 26 de março de 2022
[2021] presenças e voltas ao redor do sol
[algum ano antes de 2020] águas de março

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Published on March 31, 2023 07:11

March 9, 2023

retrospectiva

vez ou outra me pego revendo arquivos antigos
videos meus tocando com velhos amigos
registros de quando minha memória me permitia recitar poesias de cor
fotos que me levam a recordar os olhos com os quais eu olhava o mundo
playlists antigas que me conduzem a memórias muito sutis
como o posto de gasolina que eu comprava cerveja quando largava do outro trabalho.
ao percorrer esse caminho não me coloco a pensar “como esse tempo era bom”
embora o primeiro contato com as memórias pendam pra esse lugar
me impulsiono a ir além desse sentimento e refletir que aqueles tempos tinham suas complexidades e belezas, assim como hoje.
penso que o melhor lugar ainda é aqui
assim como antes, que o melhor lugar era lá
o presente, o único tempo em que é possível viver e mover-se
ao invés de pensar no que eu diria para o meu eu de antes, opto por dizer ao meu eu de agora
que esteja viva aqui, com gentileza e conforto em sua pele
porque o que há de vir vai precisar do caminhos do hoje
e que em ambos eu possa ter contentamento no presente.

“Durante o caminho das pedras, viver as pedras é mais importante do que sair delas. Porque no final, depois de atravessar o rio e chegar às margens seguras e lamacentas, a única coisa que pude levar dali foi o desenho imaginário que meu caminho traçou entre as pedras.”
Aline Valek.

dezembro de 2022

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Published on March 09, 2023 07:49

conversa dentro

Cartola, Ismael Silva e Mano Décio da Viola

há dias em que o ofício da caneta não me parece tão trivial
percorro tempos em que não coloco letras no papel embora os castelos nunca me abandonem
minha mente transita entre ideias soltas e parênteses em aberto
necessidade de silencio, de distancia suficiente para se ter desejo de companhia
às vezes um vazio outrora ocupado por um ardente desejo de liberdade.
hoje um amigo me fez uma pergunta que eu gosto muito de responder e de fazer também, ouvindo a resposta com atenção:
“como estão as coisas por aí?”
essa é a indagação que me abre varias janelas,
é a mensagem que eu não respondo rápido porque assim como diz Anelis Assumpção: “Eu tô aqui pra jogar conversa dentro. Cê tá com tempo?”
essa é pra mim uma pergunta poderosa, a depender do interesse do interlocutor, me faz acessar espaços importantes de reflexão.
eu já estive melhor, confesso
e inclusive precisava se interceptada e movida à encontrar tempo
ser conduzida a esses respingos de tinta
o prenúncio de alguma organização aos infindáveis pensamentos
refresco, como cheiro de terra molhada no final de uma tarde de sol.

dezembro de 2022.

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Published on March 09, 2023 07:47

November 14, 2022

o que sei sobre o amor eu encontrei dentro

Foto: Claudio Lima. Rico Dalasam — Circo Voador, RJ

passei muito tempo escrevendo sobre o amor e julgando saber muito pouco a respeito
até que eu entendi que não era sobre o amor propriamente que eu precisava saber, era sobre mim.
reconectar o elo outrora perdido comigo mesma
reaprender a dar ouvidos ao sentir, a tudo que eu não sei nomear mas que eu sinto tão forte que dá até pra tocar.
reconhecer o que o desconforto me diz, colocar e entender limites.
foi ampliando o meu repertório sobre mim mesma, me movimentando pra me acomodar e encontrar conforto na minha própria pele
que me dei conta de que eu reservei partes valiosas de mim para existirem só no amor romântico
hoje elas pulsam fortes em diferentes tipos amor e eu os vivencio com muito mais verdade.
o amor me passou a ser algo familiar e não um terreno desconhecido em que eu não me via apta à protagonizar também
assim como aprendi a não me estranhar, a me expressar e mais do que isso, me comunicar
identificando qual o meu ritmo e as possibilidades confortáveis
construindo e destrinchando infinitos castelos
entendendo a terra fértil que sou
com disponibilidade para partilhar com outras terras férteis
com consciência do que me interessa ou não deixar florescer.

referências da caminhada:

O espírito da intimidade — Sobonfu Somé

bell hooks — Tudo sobre o amor
capítulo 6 — Valores: viver segundo uma ética amorosa

“Estar consciente permite que examinemos nossas ações criticamente para ver o que é necessário para que possamos dar carinho, ser responsáveis, demonstrar respeito e manifestar disposição de aprender.”
“Ao deixar nossa luz brilhar, atraímos e somos atraídos por outras pessoas que também mantêm sua chama acesa. Não estamos sozinhos.”

Renato Noguera — Por que amamos

capítulo 4 — O amor policonjugal

É impossível amar, seja lá como for, sem antes conhecermos a nós mesmos. O autoconhecimento é o primeiro e fundamental degrau para que que sejamos capazes de buscar o que precisamos e para que, inclusive, saibamos identificar o tipo de amor que melhor nos convém.

capítulo 6 — O amor platônico

“O amor é, antes de tudo, um projeto de investigação.”

capítulo 7 — Do amor romântico ao poliamor

“A bússola do amor é o autoconhecimento.”
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Published on November 14, 2022 10:00

October 4, 2022

viva e com repertório pra escrever sobre amor

Obras de Jeff Alan. Exposição "Comigo Ninguém Pode", Casa Estação da Luz. Olinda-PE.

em meio as tentativas de brutalizar o meu corpo e endurecer meu coração
a coisa mais valiosa que tenho é o sopro de vida
é com ele que faço o corre das notas
este que me possibilita estar ascendendo
e me dá meios de viver o presente de forma confortável
meu compromisso diário é me sentir viva e possibilitar que os meus também se sintam
para além do pão de cada dia na mesa
quero também a sobremesa e o drink caro
pedir sem olhar pra o preço no cardápio
ouvir a minha mãe contar que tem conhecido lugares e tido experiências para além da sobrevivência
a batalha não tá ganha porque os boletos estão pagos
estou ascendendo mas preciso conscientemente me autorizar ao descanso
eu quero seguir avançando sem perder a instiga mas com a calma de também fazer pausas, curtir o caminho e o que já está aqui
não quero viver com os músculos tencionados de tanto correr
quero ter os meus amores perto
me demorar em um abraço apertado
beijar a boca da moça longamente
ter paixão, encantamento
eu quero estar viva, me sentir viva e com repertório pra escrever sobre amor.

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Published on October 04, 2022 16:40

April 3, 2022

recife, 26 de março de 2022

aniversários sempre me foram uma data meio estranha, sentia que o dia tinha ser deveras especial, poético, etc. talvez toda essa expectativa me fizesse ficar tensa e as vezes sentir quase nada, ou nada tão intenso quanto eu imaginava. outra coisa me intrigava, o dia depois do aniversário, em um dia várias felicitações e expectativas, no outro a normalidade profunda, quase como uma ressaca. o que tinha de diferente naquelas 24 horas anteriores?

os meus dois últimos aniversários foram marcados por um intenso isolamento social, em ambos os anos, março em geral foi o mês de agravamento de casos covid. comemorei como pude e escrevi para que não me esquecesse. esse ano, depois de três doses de vacina, vivemos março com cada vez menos restrições e eu optei por não ter um só dia pra celebrar, celebrei o mês inteiro. vi meus afetos, reencontrei pessoas queridas, passei tempo de qualidade com elas. dancei, bebi, cozinhei para amigos, recebi gente na minha casa, andei de bike, visitei pessoas. esse ano, o dia 26 quase ameaçou a me pressionar com altas expectativas mas olhar pra o quanto me cerquei de afeto esse mês todo faz com que hoje seja um dia em que intencionalmente recebo lindas mensagens, me emociono, digo vários “eu te amo” mas não o único dia. tenho que confessar que eu sempre penso que ninguém vai vir pra comemoração e sempre me surpreendo com quem vai e brinda esse dia comigo, nesse caso, o mês. esse ano, o dia seguinte também tem comemoração, talvez esse ano inteiro seja de comemoração por não só estar viva mas me sentir viva inclusive nos dias de profunda normalidade.

hoje é meu aniversário, 25 anos e por isso me autorizo a citar Belchior e dizer que são 25 anos de sonho, de sangue e de América do sul — esperei que essa data chegasse pra poder fazer isso.

aqui, meu muito obrigada pra quem esteve e está comigo tecendo os dias.

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Published on April 03, 2022 10:03

January 25, 2022

de frente pro absurdo

semana passada perdi uma amiga, lidar com a morte me faz repensar como tenho conduzido a vida
ainda nessa semana ouvi que precisamos parar pra cheirar as flores
ao rever pessoas que não via há muito tempo e responder perguntas sobre como vai o meu trabalho, onde estou morando e o que eu pretendo fazer a seguir
percebi que meu maior plano é estar viva
quero avançar mas também quero apreciar o caminho
quero tecer novos planos ao passo em que vivo o hoje com todas as minhas forças
o amanhã não existe e a cada dia estamos mais perto de findar
o que sobra?
senão o afeto que demonstro hoje, a mensagem de bom dia que não postergo
o “como você está?” que respondo com verdade
os nós da rede que correspondo ao movimento de não deixá-los folgar
os encontros aos quais me abro e também os que nego por sentir que hoje não quero vivê-los
o sentir de rasgar o peito e também de remendar-se
eu quero me emocionar
eu quero estar viva
eu quero estar presente.

[…] “já não sabemos até quando poderemos amar, então amamos agora, nos escombros e de frente pro absurdo”

Episódio 7 da Curadoria Pisciana (Podcast Mulheres que Escrevem)
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Published on January 25, 2022 11:58

December 27, 2021

escrevo quando sinto mas, sobretudo, vivo! — que é o que me faz querer escrever.

escrevo quando sinto mas, sobretudo, vivo! — que é o que me faz querer escreverRua da Aurora, Monumento Tortura Nunca Mais. Recife-PE

ter uma rotina de escrita é algo que eu demorei um tempo pra entender, além da sua importância, demorei pra entender que de fato eu tenho uma rotina de escrita que se modifica conforme mudam os meus dias e a minha própria rotina. quando iniciei a minha trajetória na escrita, através da poesia, eu tinha uma rotina movida pelo que me consumia. eu vivia um turbilhão de sentimentos e os deixava fluir, em versos. conforme o tempo foi passando, além de versos, me entendi um pouco cronista e outra etapa passou a fazer parte do meu processo criativo de forma mais marcada, o silêncio.

um tempo atrás escrevi uma crônica chamada "palavras certas em doses letais", na qual falo sobre como o silêncio se mostra necessário para que haja cadência no diálogo. para que eu tenha o que falar, para que eu possa responder, eu preciso ouvir e fazer silêncio.

até entender a minha rotina, fiz algumas tentativas como produzir algo todos os dias, um texto novo por semana, um a cada quinze dias. todas funcionaram por um tempo curto, mas não consegui torna-las um hábito, foi quando entendi que eu não conseguia medir quanto tempo duraria o silêncio necessário para me permitir ler, ouvir, ter conversas, me conectar com as minhas referencias, criar novas referências, viver coisas e principalmente senti-las; até que isso me faça parir um texto, um poema, até que isso me mova. escrevo quando sinto que devo escrever, quando queimo mas, sobretudo, quando vivo. escrevo do que me faz estar viva, escrevo nem sempre com a caneta na mão.

“O fogo nunca vem grande, poderoso, de uma vez. Para queimar os pequenos gravetos, até ter força para consumir os maiores, ele precisa de tempo; e de uma noite inteira para transformar os galhos todos em cinzas. Paciência.”
Aline Valek, Cidades afundam em dias normais.

estou em constante processo de escrita, nem sempre atenta, as vezes absorvida pela rotina, as vezes sem espaço na cabeça para além da missão de sobreviver. muitas vezes não consigo acompanhar a velocidade na qual a internet se movimenta, não consigo estar presente nela mas sigo viva, fazendo pausas, tendo conversas, ouvindo, fazendo silêncio e em algum momento colocando o que vejo e sinto no papel.

falo de um lugar no qual a escrita não é o meu trabalho principal, tenho outra atividade remunerada que me dá a liberdade de não ter uma frequência de publicações, um plano de marketing pra seguir vendendo e circulando minhas produções. eu escrevo também sobre a minha profissão como desenvolvedora de software mas sigo a mesma premissa de escrever quando sinto, de dedicar tempo a estudar, experienciar coisas e então escrever algo para compartilhar com o mundo.

sei que tem vida para além das telas e tenho tentado estar principalmente viva por lá.

a quem interessar possa:
- tenho um livro que circula por aí desde 2018 e agora em 2021 passou a circular por aqui, se chama Poesia Sem Nome. caso você já tenha lido, me conta o que achou ❤
- vão sair dois poemas meus na Coletânea Erótica: Versos Lésbicos do Selo Cassias Imperiais, junto com outros poemas de outras mulheres que amam mulheres e deve estar no mundo ano que vem.
- outro livro meu está em processo de finalização, alguma hora vai chegar por aí e por aqui também, volto em breve com mais detalhes.

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Published on December 27, 2021 10:12

July 26, 2021

revoltei, Recife foi a saudade

sou natural de recife, sempre morei aqui mas houve um tempo em que comecei a viver a cidade. observa-la, sentir os lugares, perceber que Recife é um organismo vivo. a cidade visivelmente amanhece, entardece, anoitece e vai dormir, mas nem sempre. recife festeja, muda de cores e sons. a cidade se movimenta, se transforma. dias úteis, férias escolares, sol de rachar, chuvas repentinas. parte dela bebe cerveja, dança brega, recita poesia mas unanimemente todo mundo se encontra. já diz uma grande amiga e escritora, Yasmin Galindo em um de seus textos:

(em Recife) "Todo mundo, de alguma forma, conhece-se e está marcado a cruzar-se mesmo que não se saiba."

tempos atrás encomendei um quadro com um verso de Tacio Russo, um grande artista e particularmente um mestre. conheci Russo alguns anos atrás, no sarau do Controverso Urbano, tempos que marcaram a minha história. também foi a época em que comecei a escrever e além de tentar expressar sentimentos, a minha primeira musa foi a cidade. recife me ensinou muito de quem sou.

"Tudo aqui é meio poético e meio caótico; por isso, profundamente vivo, é um entremeio de vida, sente-se o ar de Recife inebriado, há sempre o que se descobrir no seu território pequeno."
Jardim do Baobá — Recife-PE

nos últimos anos passei a vivenciar outras cidades além de Recife, algumas em passeios pontuais mas também residi por um período em Belo Horizonte. minha estadia em outra cidade me ensinou o sentido plural e transitório do que é lar. me ensinou em tempos em que tudo que é seguro e possível é o que está dentro, lá fora é distante, inseguro e o que entra requer cuidados.

fui à BH sem data pra voltar, sentia que em algum momento voltaria mas fiz de lá meu novo lar, independente do tempo, e descobri a cidade nas pequenas coisas, cada passo autônomo era uma grande conquista. o supermercado mais próximo, a praça no caminho, a caminhada no bairro no domingo de tarde.

graças à minha namorada e companheira de vida que descolou uma bicicleta pra mim, comecei a me aproximar da cidade, tentar entendê-la. que som tem BH? quais cores? que música? andar de bicicleta me fez enxergar o lugar sob a minha própria ótica, trilhei caminhos por onde as minhas pernas aguentavam subir, descobri rotas, vi lugares e construções. uma descoberta solitária, com máscara mas ainda assim, com vento no rosto.

BH me ensinou a leveza dos pedais de fim de semana na Avenida dos Andradas, a decida de bike no viaduto da Francisco Sales, Avenida do Contorno e Santa Tereza. toquei percussão com Seu Henrique na barraca de instrumentos artesanais na feira hippie em um domingo de manhã. tomei sorvete na Savassi, subi pra olhar os bares fechados no Maletta. vi o por-do-sol na Lagoa da Pampulha, os grafites da cidade. senti saudades do Truck do Desejo, do Angola Janga, do samba na Cozinha da Ita, da cachacinha no Mercado Central e do hambúrguer do Las Chicas. aprendi também que é impossível comprar qualquer coisa sem ter uma breve conversa com alguém e as vezes nem tão breve assim.

Ciclofaixa na Avenida dos Andradas — BHFeira Hippie — BH

fui à BH por questões de saudade, por revolta à saudade e retornei à Recife com outras. Russo escreveu que “Se depender da cidade, você nunca vai esquecer de mim”, eu aqui escrevo que se depender das cidades, agora no plural, eu nunca vou me esquecer de mim.

ps. leia o texto “21 de junho de 2021” de Yasmin ou melhor, leia o seu blog todo.

revoltei, Recife foi a saudade was originally published in Poesia Sem Nome on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.

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Published on July 26, 2021 07:50