AVENTURAS DO ESCREVER INDEPENDENTE - UM FOLHETIM EM 5 PARTES
CAPÍTULO 1: COMEÇOU ASSIM
Inesperado, porque é da sorte dos milagres. Careca e sem pátria, um dia me assisti num apartamento de Brasília com três desconhecidos tão diferentes entre si que, entendi, só podiam ser cidadãos de planetas localizados numa galáxia far, faraway: uma Gabi, um Dani e uma Carol. No fim daquela noite, sem mais porquês, eles me convidaram para publicar um livro pelo selo literário que tinham acabado de criar.
Foi assim que aconteceu.

Primeiro estudo de ilustração para O mundo sem anéis. O desenho nunca foi para a versão final do livro (Genebra, 2014)
Um ano e meio passou, e eu escrevi o livro durante nove meses. Meu avião saiu de Frankfurt para Lisboa, e de Portugal aterrissou em Brasília com uma Mariana que tinha um nome novo de Surina e que não sabia muito bem pra onde voltar e nem por qual razão: voltar era muito e suficiente. Na tarde do dia 7 de dezembro de 2015, recebi da gráfica dezesseis caixas de livros no endereço de uma casa emprestada, na Asa Norte. Na noite seguinte, fizemos uma festa de lançamento com os novos títulos do selo Longe - eu, aquela Gabi, aquela Carol, aquele Dani e um Yury, que eu então acabava de conhecer. Nossa festinha encheu, leitores apareceram, amigos que não via há cinco anos vieram dar beijos e parabéns. Era meia-noite passada quando todo mundo foi embora. Limpamos a bagunça, jogamos copos de plástico e restos de comida no lixo, tiramos fotos de divulgação, tomamos uma cerveja e formos dormir.
Naquele noite, cheguei no quarto da casa emprestada morrendo de sono. Escovei os dentes e deitei no meu colchãozinho de solteiro. Sozinha, não. Na cama, nós três, abraçados no mar enorme do desconhecido, caravelas sem desbravadores morrendo de medo daquilo que se esconde dos lados de lá
: eu, minha nova vida no Brasil e quatorze e meia caixas cheias do meu novo livro - a mais nova bucha que eu tinha acabado de inventar.


