Prisão Quotes

Quotes tagged as "prisão" Showing 1-19 of 19
Carla Madeira
“Algumas vezes as mudanças acontecem na marra. Uma guilhotina afiada corta as nossas mãos, e todas as rédeas escapam. É o que pensamos ter acontecido, até que a gente se dá conta de que nunca houve rédeas. Ninguém monta na vida. Brincamos de escolher, brincamos de poder conduzir o destino. Precisamos dessa ilusão para viver os dias de antes, dias em que podemos tudo só porque pensamos poder, e então a vontade do que está fora da gente joga sua sombra densa e pegajosa. Ficamos prisioneiros do que não queremos muito antes da morte.”
Carla Madeira, Tudo é Rio

Fernando Pessoa
“Credo, ideal, mulher ou profissão - tudo isso é a cela e as algemas.”
Fernando Pessoa, The Book of Disquiet

Afonso Cruz
“Muitos acabam presos, mas não é assim que acaba toda a arte? Numa prisão? Se a deixassem viver, não estaríamos a falar de arte, mas sim de entretenimento. A melhor exposição da arte é a prisão. Lá dentro está no seu lugar, no seu verdadeiro lugar que é de assassina dos lugares-comuns e de todas as ideias feitas.”
Afonso Cruz, Jesus Cristo Bebia Cerveja

Albert Camus
“Compreendi, então, que um homem que houvesse vivido um único dia poderia sem custo passar cem anos numa prisão. Teria recordações suficientes para não se maçar. De certo modo, isto era uma vantagem. (pág. 66)”
Albert Camus, The Stranger

António Pedro Moreira
“Há algo em estar sentado com quase duas dezenas de homens semi-nus oriundos da outra ponta da Ásia numa cela bafienta e quente ao som de uma bateria de escovas de dentes que torna aquele momento numa experiência especial.”
António Pedro Moreira, Daqui Ali - De Portugal a Singapura Por Terra

“O barulho constante, seco e frio, de portas de ferro batendo na prisão, escutados com meus ouvidos e sentidos com minha pele naquela sexta-feira e que já ouvi muito pelas prisões do Brasil, reverberam em meu corpo. Talvez esses sons sejam para mim o que melhor retrata a brutalidade do sistema, a sua opressão constante, sua impiedade.”
João Marcos Buch, Crônicas de um juiz que solta

“Não é o castigo que torna o homem melhor, mas sim a ética, o respeito, a humanidade. Quando vejo que no exercício da minha profissão posso contribuir de forma positiva para a vida das pessoas, concluo que devo continuar essa caminhada.”
João Marcos Buch, Crônicas de um juiz que solta

Albert Camus
“No início da minha detenção, no entanto, o mais difícil é que tinha pensamentos de homem livre. Por exemplo, desejo de estar numa praia e de descer para o mar. Imaginando o barulho das primeiras ondas sob as solas dos pés, a entrada do corpo na água e a libertação que encontrava nisso: sentia, de repente, até que ponto as paredes da prisão me cercavam. Isto durou alguns meses. Depois, só tinha pensamentos de prisioneiro. Aguardava o passeio diário ou a visita do advogado. Nessa época, pensei muitas vezes que se me obrigassem a viver dentro de um tronco seco de árvore, sem outra ocupação além de olhar a flor do céu acima da minha cabeça, eu teria me habituado aos poucos. […] Ora, a verdade é que eu não estava em uma árvore seca. Havia pessoas mais infelizes do que eu. Era, aliás, uma ideia de mamãe, e ela repetia com frequência que acabávamos nos acostumando a tudo.”
Albert Camus, The Stranger

Olga Tokarczuk
“A prisão não está no exterior e, sim, no interior de cada um de nós. É possível que não saibamos viver sem ela.”
Olga Tokarczuk, Drive Your Plow Over the Bones of the Dead

César Aira
“O pátio [da prisão] era cercado de entradas e saídas. Não dava a impressão de hermetismo, como se deveria esperar. É inevitável que se tenha uma ideia romântica de uma prisão, embora, como era o meu caso, não soubesse o que era o romantismo. Nem uma prisão, para ser sincera. Esta passava uma sensação de realismo exacerbada e destruidora; as ideias prévias, embora não as tivesse, ruíam.”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento

Mohamedou Ould Slahi
“Você será enviado a uma instalação dos Estados Unidos, onde vai ficar durante o resto de sua vida”, ele ameaçou. “Você nunca mais verá sua família. Sua família vai ser fodida por outro homem. Nas prisões americanas, terroristas como você são estuprados por muitos homens ao mesmo tempo. Os guardas em meu país fazem seu serviço muito bem, mas ser estuprado é uma coisa inevitável. Mas se você me disser a verdade, você será libertado imediatamente.”
Eu tinha idade suficiente para saber que ele era um sórdido mentiroso e um homem sem honra, mas ele estava no comando, e assim eu tinha de ficar ouvindo suas besteiras continuamente. Eu só queria que as agências começassem a empregar pessoas mais espertas. Será que ele achava de verdade que alguém acreditaria em suas bobagens? Teria de ser muito estúpido: será que ele era estúpido ou pensava que eu era estúpido? Eu o teria respeitado mais se me dissesse: “Olhe, se você não disser o que eu quero ouvir, eu vou torturar você”
Mohamedou Ould Slahi, Guantánamo Diary: Restored Edition

Mohamedou Ould Slahi
“Posso dizer também que os detentos tinham chegado ao limite da dor. Eu só ouvia gemidos. Perto de mim tinha um afegão que estava chorando muito alto e pedindo ajuda ■■■■■■■■■■ ■■■■■■■■■■■■■■■■■■ . Estava falando em árabe: “Senhor, como pôde fazer isso comigo? Por favor, aliviem minha dor, cavalheiros!”. Mas ninguém se deu sequer ao trabalho de examiná-lo. O sujeito estava mal já em Bagram. Eu o tinha visto na cela ao lado da nossa; ele vomitava o tempo todo. Senti tanta pena dele. Ao mesmo tempo, eu ria. Dá para acreditar nisso, eu ria estupidamente! Não dele; eu ria da situação. Primeiro, ele se dirigiu a eles em árabe, que nenhum guarda entendia. Depois, ele os chamou de cavalheiros, o que eles certamente não eram.”
Mohamedou Ould Slahi, Guantánamo Diary: Restored Edition

Mohamedou Ould Slahi
“Passei a ter alucinações e a ouvir vozes claras como cristal. Ouvi minha família numa conversa informal da qual eu não conseguia participar. Ouvi a leitura do Corão numa voz celestial. Ouvi música de meu país. Mais tarde, os carcereiros usaram essas alucinações e começaram a falar com vozes de chacota através do encanamento, incentivando-me a agredir os carcereiros e armar um plano de fuga. Mas não me enganaram, mesmo quando eu fazia o jogo deles. “Ouvimos alguém — talvez um gênio!”, diziam eles.
“Sim, mas eu não estou ouvindo”, eu respondia. Só sabia que estava à beira de perder o juízo. Comecei a falar sozinho. Por mais que tentasse me convencer de que não estava na Mauritânia, de
que não estava próximo de minha família e portanto não poderia ouvi-la conversando, eu continuava ouvindo vozes permanentemente, dia e noite. Assistência psicológica estava fora de questão, como também assistência médica de verdade, além do imbecil que eu não queria nem ver.”
Mohamedou Ould Slahi

Mohamedou Ould Slahi
“Mas, acreditem se quiser, vi carcereiros chorando porque tinham de sair de seu posto em GTMO.
“Sou seu amigo, não me importa o que digam”, disse-me um dos carcereiros antes de ir embora.
“Disseram-me coisas ruins de você, mas minha opinião não é bem essa. Gosto muito de você e gosto de falar com você. Você é uma grande pessoa”, disse outro.
“Espero que você seja solto”, disse ■■■■■■■■ com sinceridade.
“Vocês são meus irmãos, todos vocês”, sussurrou um outro.
“Eu te amo!”, disse uma vez um ■■■■■■■■ militar a meu vizinho, um garoto engraçado com quem eu mesmo gostava de conversar. Ele ficou impressionado.
“O que… Aqui não amor… Sou muçulmano!” Ri um bocado por causa daquele amor “proibido”.
Mas eu mesmo não consegui segurar o choro um dia, quando vi um carcereiro ■■■■■■■■ descendente de alemães chorando porque ■■■■■■■■ tinha sido um pouco machucado. O engraçado é que eu escondi meus sentimentos porque não queria que fossem mal interpretados por meus irmãos, ou vistos como fraqueza ou traição. Por um momento me odiei e fiquei profundamente confuso. Comecei a me fazer perguntas sobre as emoções humanitárias que eu vinha experimentando em relação a meus inimigos. Como é possível chorar por alguém que lhe causou tanta dor e destruiu sua vida? Como é possível gostar de alguém que por ignorância odeia a sua religião? Como se pode conviver com essa gente má que continua maltratando seus irmãos? Como se pode gostar de alguém que trabalha dia e noite para incriminar você? Eu estava numa situação pior que a de um escravo: pelo menos um escravo não está sempre posto a ferros, tem uma relativa liberdade e não precisa ouvir as bobagens de um interrogador todos os dias.
Eu sempre me comparava a um escravo. Os escravos eram levados da África à força, como eu fui. Os escravos eram vendidos várias vezes antes de chegar ao destino final, como eu fui. Os escravos eram destinados de uma hora para outra a alguém que eles não tinham escolhido, como eu fui. E quando eu examinava a história dos escravos, notava que eles acabavam sendo uma parte essencial da casa de seu senhor.”
Mohamedou Ould Slahi, Guantánamo Diary: Restored Edition

Mohamedou Ould Slahi
“Mas a realidade sempre caía sobre mim assim que eu acordava em minha cela fria e escura, mantendo os olhos abertos só por um momento na tentativa de voltar a dormir e viver aquilo de novo. Levei várias semanas para aceitar que estava preso e que não iria para casa tão cedo. Por mais duro que fosse, esse passo foi necessário para me fazer entender minha situação e agir com objetividade para evitar o pior, em vez de perder tempo com as peças que minha mente me pregava. Muita gente não supera essa fase: perde o juízo. Vi muitos detentos que acabaram ficando loucos.
A fase dois chega quando você entende de verdade que está na prisão e que não possui nada além de todo o tempo do mundo para pensar na vida — embora em GTMO os detentos tenham também de se preocupar com os interrogatórios diários. Você entende que não tem controle sobre nada, que não decide quando vai comer, quando vai dormir, quando vai tomar banho, quando vai acordar, quando vai ao médico, quando vai estar com o interrogador. Não tem privacidade alguma; nem para expelir uma gota de urina sem ser vigiado. No começo, é horrível perder todos os privilégios num piscar de olhos, mas ainda que pareça mentira, as pessoas se acostumam. Eu mesmo me acostumei.
A fase três consiste em descobrir sua nova casa e sua nova família. Sua família é integrada por carcereiros e interrogadores. Certo, você não escolheu essa família, nem foi criado nela, mas seja como for é uma família, goste você ou não, com todas as vantagens e desvantagens. Eu pessoalmente amo minha família e não a trocaria por nada no mundo, mas criei uma família na cadeia com a qual também me preocupo. Cada vez que um membro de minha família atual vai embora, é como se um pedaço do meu coração estivesse sendo arrancado. Mas fico feliz quando um parente ruim tem de ir embora.
Fase quatro: acostumar-se à prisão e ter medo do mundo lá fora.”
Mohamedou Ould Slahi, Guantánamo Diary: Restored Edition

Mohamedou Ould Slahi
“Por que você me proíbe de rezar sabendo que isso é ilegal?”, perguntei a ele quando ficamos amigos.
“Poderia não ter feito isso, mas teriam me dado algum trabalho sujo.” Ele me contou também que ■■■■■■■■■■■■■■■ ■■■■■■■ tinha dado a ordem de me impedir de praticar qualquer atividade religiosa. ■■■■■■■■■■■■■■■■■■ disse ainda: “Vou para o inferno por ter proibido você de rezar”.
■■■■■■■■■■■ ficou felicíssimo quando recebeu ordens para me tratar bem. “Na verdade, gosto mais de estar aqui com você do que estar em casa”, disse ele com franqueza. Era um cara muito generoso; trazia-me bolinhos, filmes e jogos de Play Station 2. Antes de ir embora, deixou que eu escolhesse entre dois jogos, Madden 2004 e Nascar 2004. Escolhi Nascar 2004, que ainda tenho.
Acima de tudo, ■■■■■■■■■■■■ proporcionava um bom entretenimento. Ele costumava exagerar e me contava todo tipo de coisa. Às vezes me dava informação demais, coisas que eu não queria nem devia saber.
■■■■■■■■■■■ era um viciado em jogos. Jogava videogames o tempo todo. Sou péssimo em videogames; não dou para isso. Sempre dizia aos carcereiros: “Os americanos não passam de bebês crescidos. Em meu país, não é adequado que uma pessoa da minha idade se sente diante de um console e perca tempo jogando videogames”. Com efeito, um dos castigos da civilização dos americanos é que eles são viciados em videogames.”
Mohamedou Ould Slahi, Guantánamo Diary: Restored Edition

Mohamedou Ould Slahi
“No começo do verão ■■■■■■■■ eles instalaram ■■■■■ ■■■■■■■■ perto de minha barraca e fomos autorizados a nos ver durante o recreio. ■■■■■■■■■ está mais para velho, tem cerca de ■■■■■■■■■■■■■■ de idade. ■■■■■■■■■■■■■ parecia não ter passado incólume pelo choque da detenção. Sofria de paranoia, amnésia, depressão e outros problemas mentais. Alguns interrogadores diziam que ele estava se fazendo de louco, mas na minha opinião ele estava completamente desvairado. Na verdade, eu não sabia o que pensar, mas não me importava muito. Eu estava louco por companhia, e ele era uma companhia.
No entanto, há um obstáculo para a aproximação dos detentos, sobretudo entre os que se conheceram no próprio campo: eles tendem a ser céticos em relação aos outros. Mas eu estava bastante descontraído a esse respeito porque na verdade não tinha nada a esconder.
“Eles te pediram para tirar informações de mim?”, ele me perguntou certa vez. Não fiquei impressionado porque supunha a mesma coisa em relação a ele. “■■■■■■■■■■ , relaxe e admita que estou aqui só para espionar você. Fique de boca fechada e não fale de nada que te faça ficar inseguro”, eu disse a ele.
“Você não tem segredos?”, ele perguntou.
“Não, não tenho, e lhe permito que revele qualquer coisa que possa ficar sabendo a meu respeito”, disse eu.”
Mohamedou Ould Slahi, Guantánamo Diary: Restored Edition

Camilo Castelo Branco
“Direi, todavia, que o descaridoso gravame que flagela o preso, se uma justiça misericordiosa o não aliviar, a cadeia continuará a ser como fogo a que se aquilata a extrema maldade do criminoso. Assim, é matar-lhe a alma, se os legisladores crêem na alma. É roubar a Deus o que é de Deus, na hipótese de que o Criador há-de chamar a si o que deu de sua imagem ao homem, quer este se chame santo, quer demónio.”
Camilo Castelo Branco, Memórias do Cárcere

João Tordo
“O que mais existe numa prisão são ilegalidades. Os guardas assobiam para o lado enquanto os reclusos estabelecem um complexo e eficaz sistema de recompensas e compensações, de ameaças e violência, de medo e intimidação.”
João Tordo, Cem Anos de Perdão