Luis Filipe Alves's Blog

October 14, 2014

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Published on October 14, 2014 04:28

September 7, 2014

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Published on September 07, 2014 05:44

June 6, 2014

Moon Knight: #4 vs #3

A propósito de um comic que saiu esta semana, eu e um amigo tivémos um ligeiro debate no Facebook (debate que já não está visível, porque entretanto apaguei o update original, o que por alguma razão não impediu o FB de continuar a permitir comentários nele).


O causador do debate foi o número 4 da série MOON KNIGHT.



Para contextualizar: o argumentista desta série é o Warren Ellis, o meu escritor favorito (o que me impede de ser imparcial, admito). Cada número tem vinte páginas de história, e é auto-contido (por oposição ao que acontece na maioria dos comics, em que as histórias continuam de um número para o seguinte). A arte é sempre brilhante, e a série tem sido bastante aclamada pela crítica desde o início.


O número anterior (#3) ao desta semana envolvia um gang de fantasmas, que inicialmente davam um enxerto de porrada ao protagonista, mas no final, após a descoberta da verdadeira natureza dos fantasmas, aquele aprende a, basicamente, esmurrá-los. O clímax da história é, portanto, o herói a dar murros em fantasmas.


Já no número em questão, temos o herói a tentar resolver um mistério (que, como o meu amigo bem salientou, não é grande mistério porque só há um suspeito) que envolve experiências com sono e cogumelos psicadélicos em que os voluntários para as experiências têm todos o mesmo sonho, e estão a enlouquecer aos poucos por causa disso. Consequentemente, o herói tem que mergulhar ele próprio nesse sonho para descobrir o que realmente está a acontecer.


Adorei este número. É verdade que, como já disse, não sou imparcial em relação ao escritor, e que tenho lido pouca BD nos últimos meses, mas achei-o das melhores coisas que li no último ano, e de longe o melhor da série.


Disse-o no Facebook, e o meu amigo discordou. Para ele, apesar da arte brilhante deste número, o #3 é melhor. Primeiro, porque tem um enredo e mistérios mais desenvolvidos, que incluem adversidade adicional para o protagonista ultrapassar (sendo que para ele, o enredo do #4 é demasiado linear). E depois, porque ESMURRAR FANTASMAS!


ESMURRAR FANTASMAS é um ponto a favor. Não posso negar isso. E sem dúvida que o #3 em si mesmo está mais de acordo com os gostos do meu amigo. Mas mantenho a minha posição.


Sim, o enredo do #4 é bem mais simples, mas a meu ver, uma história é a soma do enredo (que em si mesmo é a soma das personagens e dos eventos que as rodeiam) com o meio em que é contada. Quando se escreve um conto ou um romance, o meio são as próprias palavras, pelo que é moldando-as que o escritor partilha o enredo. Em banda desenhada (e não descurando as palavras), o meio são as imagens, e é através delas que a história deve, sempre que possível, ser contada.


O enredo no Moon Knight desta semana é simples porque está desenhado para maximizar o efeito da forma como é contado. Para mim, há poucas coisas mais difíceis para um escritor do que aprender quando deve sair do caminho da sua própria história, e acho que foi o que o Ellis fez neste caso: deixou o meio contar a história por si mesmo, sem complicações desnecessárias.


O meu amigo não está errado, porque dizer que um número é melhor que outro, no fundo, tem muito a ver com gostos pessoais, e o #3 agradou-lhe mais. Nada de mal nisso. No entanto, para mim, o #4 está bem melhor conseguido na fusão entre o que conta e a forma como é contado, e não vejo que passos ou complicações adicionais poderiam ser acrescentados para, em apenas 20 páginas, tornar a história mais rica. Para certas histórias, não há nada de errado em simplificar.


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Published on June 06, 2014 04:50

May 8, 2014

Protected: A lista de podcasts que oiço (actualmente).

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Published on May 08, 2014 07:21

January 31, 2014

Novidades da semana.

Não vai haver post de novidades esta semana.


A minha ideia original era reactivar o blog com um post semanal sobre o que ando a fazer em termos de escrita. A intenção era manter o blog activo em vez de ser uma parte negligenciada de um site relativamente estático, e ao mesmo tempo usar o conteúdo para ir actualizando o meu Facebook de autor.


Entretanto, aconteceu algo de novo: fiz uma actualização ao Farrapos, o meu primeiro ebook. Actualizei-o porque a formatação era péssima, a capa idem, e as chamadas de atenção ao leitor no final do livro não estavam optimizadas, no sentido em que não canalizavam devidamente os leitores para lado nenhum.


Isto pareceu-me necessário porque os downloads do Farrapos chegam aos milhares (mais de 7000, para ser exacto), e no entanto as vendas do Farrapos 2 não chegam à dezena. É verdade que nem todos os que sacaram leram, e nem todos os que leram terão gostado, mas não facilitando a passagem de um livro para o seguinte só estou a prejudicar-me a mim e aos leitores.


(Já agora, um aparte: a versão actualizada já se propagou por quase todo o lado; a Kobo ainda não a tem, mas a Smashwords, o iTunes e a Amazon já têm; se alguém que esteja a ler isto me puder dizer se os respectivos aparelhos avisam automaticamente da actualização ou não, eu agradecia.)


Também preciso de uma forma de capturar a atenção dos leitores para os meus futuros lançamentos. É mais fácil promover coisas a leitores já existentes do que criar leitores novos, e presumindo que quem lê o Farrapos é um leitor existente, então faz sentido enviá-los, não só para mais livros, mas também para um veículo de informação de actualizações.


O que poderia implicar chamá-los para estes posts semanais, mas não implica. Porque vir a um blog é um acto recorrente e anónimo. Eu não sei quem cá vem nem porquê, e precisaria que viessem todas as semanas. Esses hábitos, sei por experiência, perdem-se depressa.


(Isto é parcialmente resolvido com a feed RSS, eu sei, mas não completamente, e nem todos os meus leitores em potencial usarão isso.)


Portanto, a solução é enviá-los para uma newsletter. Receber um email é um acto passivo, que envolve menos disciplina do que ir a um blog, não é preciso o leitor lembrar-se da regularidade, e o autor sabe sempre quem lê ou não. Há também uma intimidade maior (gerada pela adesão voluntária e o acesso através de um espaço informático privado como a caixa de correio electrónico) que leva a uma maior fidelização.


Eu já tenho uma newsletter, o Obviamente. O problema é que o Obviamente não é, nem pode ser, usado para marketing. É um espaço privado, onde discuto assuntos íntimos e o que quer que me vá na cabeça, todos os dias. Nos últimos tempos é não só um diário para mim como uma maneira de muitos dos meus amigos terem notícias minhas (ando demasiado fechado em mim mesmo, admito). Não seria certo forçar os leitores dos meus livros a sujeitarem-se a isso, nem a mim e aos leitores da newsletter a ter um Obviamente transformado em algo comercial.


Portanto, precisei de criar outra newsletter. Uma mais comercial, só para fins de divulgação, onde darei semanalmente as minhas novidades sobre a escrita, e posso fazer outras coisas como uma actualização mensal da lista de todos os meus projectos activos, e ainda dar livros/contos exclusivos aos leitores (para incentivar a fidelização) e cópias de crítica pré-lançamento dos meus livros futuros.


O que, como me parece óbvio, torna estes posts semanais redundantes, e como tal decidi acabar com eles.


Isto volta a atirar o blog para o abandono, e prometo que nos próximos meses vou estudar uma maneira de contornar isso sem criar conteúdo redundante. Mas para já, tem que ser.


Quanto à newsletter propriamente dita, chama-se No Prelo, e podem subscrevê-la aqui. Vai sair às sextas, tal como os posts semanais, e começa de hoje a uma semana. Ainda não tenho exclusivos para oferecer lá, mas estou a trabalhar nisso. Agradeço que subscrevam se fizerem questão de acompanhar o que ando a fazer.


Espero que compreendam a mudança. As minhas desculpas, e obrigado pela vossa atenção. Voltamos a ver-nos em breve, na vossa caixa de email.


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Published on January 31, 2014 06:09

January 24, 2014

Admin.

Esta semana foquei-me essencialmente em tarefas administrativas.


Para esclarecer: eu tenho uma folha de Excel com todas as tarefas que tenho por fazer, seja qual for a sua natureza. Trabalho, criativas, manutenção de sites, etc.. Só que a tabela está TÃO grande, que as tarefas que mais me interessam, nomeadamente as de escrita, estão a ficar para trás porque o percurso de saída, por assim dizer, está entupido.


Portanto, esta semana concentrei-me mais nas tarefas de “admin”, de forma a desentupir o caminho. O que fiz foram coisas como:



Calcular as royalties que a Amazon me vai pagar, agora que já não é preciso esperar por ter um montante mínimo a receber (vou receber pouco mais de 3 euros);
Considerei a possibilidade de participar num concurso de escrita da revista Granta, e decidi que não vou participar porque não gosto de trabalhar de graça;
Ponderei a aplicabilidade de criar apps próprias como meio de divulgação minha enquanto autor (e entretanto descobri que o Author Marketing Club está a trabalhar num motor para que os seus membros possam criar apps desse género com facilidade, o que aumenta ainda mais a potencial utilidade de estar lá inscrito);
Escolhi (em princípio) o nome do Farrapos em inglês, porque a tradução literal não me agrada;
Continuei a construção do meu site internacional, estando agora quase pronto a lançar (faltam só duas ou três páginas e o post inicial);
Lancei o Me Here Now, a minha nova newsletter para os meus leitores internacionais.

(Aproveito para dizer que tudo isto foi discutido ao longo da semana no meu diário online/newsletter diária Obviamente, cujo arquivo está, na sua maioria, aqui. O primeiro até está em livro e tudo…)


Tal como nas semanas anteriores, o que me ocupou mais foram mesmo o site e o Me Right Now, mas ao contrário das outras semanas, até correu bem, deu foi trabalho.


As tarefas de “admin” ainda não terminaram, porque ainda quero afinar o site e terminar o primeiro post, e mais algumas coisas. Se tudo correr bem, isto vai ser despachado durante este fim de semana.


O que significa que, se tudo correr bem, na semana que vem vou poder voltar a ser criativo…


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Published on January 24, 2014 08:45

January 17, 2014

Portanto, que é que eu tenho andado a fazer?

Muita coisa, minha gente, muita coisa. Infelizmente, nem tudo a tempo e horas.


A minha escrita, por exemplo (que é o que interessa aqui), está bastante mais atrasada do que eu desejaria, e consequentemente os lançamentos que eu tenho planeados também estão.


O que se passou foi que a revisão do Mil Gares estava a dar tanto trabalho e a ser tão complicada que me bloqueou para tudo, essencialmente. Às vezes isto acontece-me. As coisas correm-me tão mal que não consigo passar para outro projecto enquanto não desbloquear o que está mal, mas como esse está mal não consigo desbloqueá-lo.


De forma que estou a tentar contrariar as minhas tendências naturais, e coloquei a revisão de lado para me concentrar noutras coisas. Sim, ficou tudo atrasado, mas senti que era o que precisava de ser feito.


Em relação àquilo em que me estou a concentrar no momento, só uma é escrita propriamente dita. É um conto com o título provisório de Entrelaçados, que se tudo correr bem será o mais próximo que consigo chegar a um romance sci-fi. Não faço ideia onde o vou lançar, porque ainda não sei sequer com que tamanho ficará, mas atempadamente anunciarei. Há que acabá-lo primeiro.


Também me tenho dedicado bastante à internacionalização do que escrevo. O mercado de autopublicação nacional é reduzido, como tal tenho que publicar as minhas coisas em inglês para tentar ganhar uns trocos. Só que para isso, tenho que ter alguma infraestrutura por detrás, de forma a poder gerir melhor os eventuais leitores que encontrar e potenciar a descoberta de novos.


É por isso, aliás, que a página da entrada deste site agora deixa escolher se o queremos em inglês ou português, para além de mencionar duas newsletters (uma é o Obviamente, uma newsletter diária que já tem quase dois anos e que no momento funciona mais como o meu diário do que como uma ferramenta promocional; a outra chama-se Me Right Now, é semanal e em inglês, e vai servir para manter os meus leitores não-portugueses a par do que ando a fazer, e como não pretendo falar aqui muito dessa vertente do meu trabalho, se quiserem saber o que se passa desse lado podem assiná-la também).


E claro, estou também a tratar das traduções propriamente ditas, algumas das quais já estão bastante adiantadas.


Mas as revisões em português têm que ser feitas, e o Mil Gares continua em primeiro lugar na lista. O método de revisão que tenho usado claramente não está a funcionar, pelo que vou experimentar outro que espero que resulte melhor. Se tudo correr bem, as coisas voltarão a andar mais depressa.


Para finalizar, digo só que estou empenhado em dar notícias mais regularmente, de preferência uma vez por semana. Portanto fiquem de olho.


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Published on January 17, 2014 08:23

October 29, 2013

Alcubierre, Farrapos 2, Mil Gares, e outros – Lançamentos recentes e a curto prazo.

Nos últimos tempos tenho publicado várias coisas novas, e planeio publicar ainda mais brevemente. Não tenho feito aqui os anúncios correspondentes por pura preguiça, mas isso vai ter que mudar, a começar agora mesmo.


A partir de hoje, está disponível o Farrapos 2, que tal como o livro anterior com o mesmo nome, é uma pequena compilação de micro-contos, sendo que este ebook corresponde aos contos recentes que aqui tenho partilhado. Tal como o primeiro, não tem ainda edição física, mas pretendo compilar os dois e um eventual terceiro numa edição em paperback algures na primeira metade do ano que vem.


capa farrapos 2 copy


Desde o final de Setembro, tenho também à venda o Alcubierre, um conto sobre um pai e um filho unidos e afastados pela astrofísica. Não é um micro-conto, mas também não é muito grande, daí ser barato.


alcubierre10_final


Em Novembro sairá o Mil Gares, outro conto, desta vez bem maior (mais ou menos do tamanho do Ouve-me). Tecnicamente, seria uma novella, mas infelizmente cá em Portugal parece que não temos termo para isso, portanto é um conto e pronto.


Ainda é cedo para falar sobre esta história.


mil-gares-final


A partir daí, conto fazer um lançamento mensal, pelo menos até Agosto. Alguns serão compilações noutros formatos, como o paperback dos Farrapos que mencionei acima, outros serão traduções para inglês de material já existente, mas pelo menos metade será material original e inédito, a grande maioria do qual está apenas à espera que eu acabe a respectiva revisão. O meu objectivo é chegar ao final de 2014 com pelo menos 20 livros, de diversos tamanhos, já publicados.


Atempadamente irei anunciando mais aqui. Garanto que a partir de agora, pelo menos uma vez por mês, darei notícias. Os meus livros não se vendem sozinhos, afinal de contas.


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Published on October 29, 2013 10:00

October 13, 2013

Quietude

Sempre odiei aqueles gajos que fingem que são estátuas. Odeio mais os mimos, sim, mas esses ao menos aparecem pouco. Os gajos-estátua hoje em dia estão por todo o lado. Até a caminho da minha casa costumo passar por um.

Há tempos tive uma discussão com a minha ex-mulher por causa das despesas do puto. O costume, pronto. É assim, ela não é má pessoa, e é boa mãe, mas por mais que eu lhe diga as coisas, por mais que eu insista, ela não me ouve e quer sempre fazer tudo à maneira dela. E depois ainda diz que eu tenho mau feitio, quando o dela é que, enfim.

Mas pronto. Tinha discutido outra vez com ela, e estava um bocado irritado, é verdade. Acho que foi por isso que dessa vez ver o homem-estátua me complicou tanto com os nervos.

Porque a questão é esta, eu mato-me a trabalhar para ganhar o pão, e todos os dias vejo o dinheiro a sair da conta, e aperto o cinto, e trabalho mais… E aquele gajo fica só ali. Parado, sem fazer nada de útil. Só a olhar para o vazio, sem ver nada, sem dizer nada. E só por isso, as pessoas atiram-lhe dinheiro aos pés, como se estar parado merecesse recompensa.

E pior que tudo, ele nem sequer é bom no que faz! Já por diversas vezes tinha ficado a vê-lo com atenção, e ele abana-se todo! Visto ao longe não parece, mas ele está sempre a mexer-se. São movimentos pequenos, mas são.

Ok, na maioria das vezes que estive a vê-lo estava a chuviscar, mas isso não desculpa nada.

Seja como for. Lá estava ele, sem fazer nada, e um homem para aí com uns trinta anos estava com um puto de uns cinco ao lado, e não só estavam todos contentes a ver o gajo parado, como lhe atiraram uma nota de cinco para o chapéu que estava no chão aos pés dele. Uma nota!

Pá, eu perdi a cabeça. Cheguei-me ao pé do gajo parado, e virei-me para o puto.

- Queres ver uma coisa gira? – Disse eu, e pisquei o olho.

Tanto o puto como o pai ficaram a olhar para mim. Eu cheguei-me ao gajo-estátua e comecei a soprar-lhe devagarinho para o ouvido. A minha ex costumava fazer isso para me irritar.

Mas o gajo-estátua não reagiu.

O puto riu-se, mas o pai ficou a olhar para mim com ar de quem tinha chupado um limão.

- Pai, o homem não mexeu na mesma! É uma estátua a sério! – Disse o puto.

O pai não respondeu, por isso respondi eu.

- Ai mexe mexe. Vais ver como mexe.

Afastei-me deles, e agachei-me à procura de pedrinhas, ou pedaços de terra, qualquer coisa. Consegui apanhar meia dúzia delas, e atirei o primeiro ao gajo-estátua, devagar porque não o queria aleijar.

- Olhe lá, não acha que está a abusar? – Disse o pai do puto.

- Porquê, é proibido? – Disse eu, e continuei a atirar as pedrinhas, tanto para ver o que o gajo ia fazer como para tentar fazer o outro mexer-se.

O outro não se mexeu, e o pai do puto deu a mão ao filho e foi-se embora, com aquele ar de quem sabe tudo e os outros não. Ainda estive para lhe dizer mais alguma coisa, mas não fui por aí. Continuei a atirar as pedras à estátua, cada uma com ligeiramente mais força, mas ele insistia em ficar quieto.

O gajo estava mesmo a começar a irritar-me.

Havia uma papelaria ali ao lado. Eu sabia que tinha um elástico no bolso, por isso fui lá e comprei uma caixa de agrafes pequenos. Meti o elástico à volta dos dedos para fazer como se fosse uma fisga, e comecei a atirar-lhe agrafes.

Ele continuou a não se mexer.

Por esta altura eu já estava um bocado a ferver. Aquele gajo não era mais teimoso do que eu, caraças, e ainda por cima, eu sabia, eu SABIA que ele não era assim tão bom que se aguentasse sempre. Estava decidido a não parar enquanto não o fizesse mexer-se.

Nesta altura houve pessoal a passar que viu o que eu estava a fazer. Ninguém teve coragem para se chegar muito a mim, mas mandavam bocas, do tipo “não tem vergonha”, “mas você não tem nada melhor para fazer”, “deixe o homem em paz”, “ele não lhe está a fazer mal nenhum”, e coisas dessas.

Eu caguei de alto para eles todos. Aquilo era entre mim e o homem-estátua.

- Que é que foi? – Disse eu sem ser para ninguém em particular, mas sempre de olho no gajo-estátua. – Que é que tem? Se ele não se aguentasse não vinha para aqui, não é? Ele aguenta. Ele é melhor que a gente, ele aguenta tudo e mais alguma coisa. Não é, ó preguiçoso?

Acho que foi por essa altura que guardei os agrafes e o elástico e me dirigi ao gajo.

- Não é? Tu aguentas. – Continuei eu, cada vez mais irritado. – Tu aguentas tudo. Tu és melhor que os outros! Tu és todo intelectual, e vens para aqui provar que és mais esperto que os outros porque consegues ficar parado! Ó meu Deus, que coisa tão boa! Que contribuição tão valiosa para a Humanidade! Um gajo que não se mexe! E é recompensado por isso, por não fazer esforço nenhum! Porque os caladinhos e quietinhos é que ganham as coisas boas da vida, em vez dos mauzões que gritam e barafustam! Não é, palhaço? Não é???

E finalmente, finalmente, o cabrão mexeu-se. Quando eu estava mesmo juntinho a ele, mesmo a gritar-lhe na cara, ele virou a cabeça muito devagarinho na minha direcção, levou um dedo à boca, e fez “shhhh”.

Eu passei-me. Agarrei-lhe o casaco e ia dar-lhe um murro nos cornos, mas pessoal que estava à volta agarrou-me e puxou-me para longe.

Não sei o que eles estavam a dizer, nem sei o que lhes disse eu. Sei que enquanto eles me empurraram para longe, eu via o gajo-estátua a mexer-se como se fosse um robot, e a voltar à posição em que estava.

- As estátuas não se mexem assim, cabrão! As estátuas não se mexem! Ganhei, ouviste? Ganhei!

Na altura estava contente, e acabei por ceder aos empurrões e fui-me embora.

Quer dizer, não era bem contente. Era uma mistura estranha, do tipo raiva e alegria misturados. Uma coisa desse género.

Depois a raiva foi passando aos poucos. A alegria também. Comecei a achar que se calhar tinha ido longe demais. Que é que eu tinha ganho com aquilo? Eu podia não concordar com o que o homem faz para ganhar a vida, mas que é que eu tenho a ver com isso? Que é que eu tirei de o tentar prejudicar, de o tratar aos berros?

De que é que me serviu perder a cabeça?

No dia a seguir, estava convencido que tinha que lhe pedir desculpas, e quando passei por lá cheguei perto dele. Ele lá estava, na mesma posição do costume. Sem se mexer, sem dar sinais de se aperceber de nada do que o rodeava, incluindo de eu estar ali. E eu ia pedir desculpas, juro que ia. Mas era esquisito. Ele não ia reagir às desculpas. Se reagisse teria que deixar de ser estátua, e eu ia sentir-me mal outra vez. As desculpas só me iam fazer sentir pior.

Acabei por não dizer nada. Larguei um suspiro, atirei uma moeda de dois euros para o chapéu, e virei-me para me ir embora.

Só que ele deve ter ouvido o meu suspiro, ou qualquer coisa. Porque quando me estava mesmo a ir embora, pelo canto do olho vi-o a mexer-se. E a mexer-se mesmo, como pessoa, não com aqueles movimentos de robot da véspera. E estava a mexer-se na minha direcção.

Eu não sabia como reagir, por isso quando ele meteu os braços à minha volta, eu não fiz nada. Ele puxou-me para ele, e deu-me um abraço. Apertado. Eu dei por mim a devolver-lho, sem saber bem porquê. Apertei-o também.

- Shhhh. – Disse ele outra vez, ao meu ouvido.

E em vez de me afastar, deixei-me ficar, sem dizer nada. Fechei os olhos e deixei-me estar no meio da rua abraçado ao homem-estátua.

Perdi um bocado a noção do tempo, mas acho que o abraço ainda deve ter demorado, porque lembro-me de ouvir moedas a cair no chapéu. Não tenho a certeza, mas acho que ouvi um “ohhhhh…” vindo não sei de onde.

Ele não quebrou o abraço. Eu também não. Ficámos os dois ali, tipo estátuas. Não sei para quê, e não sei porquê.

Sei que não me lembro da última vez que alguém me abraçou assim.


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Published on October 13, 2013 13:00

October 4, 2013

Medo do escuro

A Humanidade deixou de ter medo do escuro porque habituou-se a viver com fantasmas.

O evoluir da tecnologia tem os seus lados positivos e negativos, e longe de mim rejeitar os positivos. O problema é que, de tão satisfeitos que estão com os efeitos positivos, as pessoas tendem a ignorar os negativos, porque implicariam abandonar facilidades a que se acomodaram.

No princípio, os fantasmas desapareceram. E estou a usar o termo não no sentido tradicional, que implica espectros e almas e visitas de pessoas mortas, mas no sentido que eventualmente ganhou, abarcando o antigo mas expandido a todo o tipo de criaturas e visões, sejam de origem presumivelmente tecnológica ou sobrenatural.

Falou-se muito de como as pessoas deixaram ver OVNI, ou almas do outro mundo, ou monstros na água ou na floresta, porque toda a gente passou a andar com câmaras de alta definição no bolso, passando a registar para análise posterior tudo o que achava estranho. A passagem dos fenómenos extra-naturais da mente para a tecnologia fez com que aos poucos fossem desaparecendo.

Mas eventualmente, começaram a ressurgir. Mais e mais pessoas diziam ver e ouvir coisas que não podiam ser registadas pelas câmaras ou microfones pessoais, e que no entanto, todos os seus sentidos diziam que estavam lá. No espaço de meia dúzia de anos o fenómeno neo-sobrenatural espalhou-se como uma epidemia, e lembro-me de ouvir notícias dizendo que 90% da população mundial já tivera pelo menos dois episódios do género.

Passada uma década, só uma em cada dez mil pessoas não convivia diariamente com algo que poderia ser classificado de sobrenatural. Algumas pessoas viam monstros, outras parentes falecidos. A grande maioria escolhia não partilhar o que via ou ouvia ou simplesmente sentia com mais ninguém, mas admitiam que lhes acontecia algo do género.

À medida que mais e mais pessoas iam convivendo com fantasmas, começou a acontecer algo inesperado: iam perdendo o medo. Inicialmente toda a gente entrava em pânico, é verdade, mas à medida que os presumíveis entes sobrenaturais se iam tornando uma presença permanente, sem fazerem nada que prejudicasse as pessoas que os viam, estas iam aceitando a sua presença de forma cada vez mais natural. Algumas pessoas com problemas de nervos continuavam a não conseguir lidar com o assunto, mas existiam também aqueles que, vendo todos os dias entes queridos que já tinham falecido, encontravam algum conforto nas presenças espectrais.

Eventualmente, como o faz sempre que lhe dão tempo para isso, a ciência encontrou uma explicação. Os fantasmas vinham da tecnologia.

Já há muito tempo que se sabia que campos electromagnéticos intensos, quando aplicados directamente no cérebro, causam alterações sensoriais muitas vezes percebidas como paranormais. Lembro-me, por exemplo, de ouvir falar de um estudo em que voluntários cujos cérebros eram bombardeados em certas zonas com ondas magnéticas passaram a acreditar em Deus literalmente de um momento para o outro.

E a evolução da tecnologia obrigava à propagação do electromagnetismo. Fosse por questões de transmissão de energia ou informação, o facto é que toda a Humanidade estava banhada numa enorme sopa electromagnética, e ninguém se deu ao trabalho de considerar a sério o que a exposição diária estava a fazer aos nossos cérebros.

A consequência da descoberta não foi diminuir a emissão electromagnética. Para quê? Estávamos todos habituados ao nosso modo de vida, e entretanto tinhamo-nos habituado também aos nossos fantasmas. Tornaram-se parte do dia a dia, para quê livrarmo-nos deles? A única coisa que aconteceu foi que, como se presumiu que a explicação se aplicasse também à maioria das crenças populares ao longo dos séculos, a Religião caiu em desuso. As pessoas preferiam lidar com os seus medos e fantasmas directamente em casa, porque os tinham mesmo à sua frente, e sabendo de onde eles vinham, o medo foi desaparecendo, e a necessidade de mais explicações também.

Da mesma forma como a tecnologia conquistou o escuro literal ao iluminar a noite, também o fez com o escuro da alma, por assim dizer.

Mas nada dura para sempre. Nem o poder da tecnologia. E um dia, as coisas simplesmente apagaram-se. A electricidade foi-se, e toda a energia e comunicações também. Durante semanas, instalou-se o caos enquanto a civilização como a conhecíamos simplesmente se desmoronou. Nem quero pensar em quantas pessoas terão morrido.

Nem sequer sabemos como aconteceu. Sem maneira de comunicar a longa distância, só temos rumores e teorias.

Com o tempo, pequenas comunidades começaram a surgir. Não é a civilização que tínhamos, é mais parecida com a génese da civilização propriamente dita, mas é o que temos. Estamos a reaprender a sobreviver, e isso já é alguma coisa.

Mas olho à minha volta, e vejo que a maioria das pessoas voltou a ter medo do escuro. Quando pergunto negam-no, mas ele está lá. Seria de presumir que, agora que os fantasmas tecnológicos desapareceram da nossa vida, voltámos a ter medo de os encontrar. Mas eu não acho que seja isso. Acho que continuamos a saber bem de onde vinham todas as coisas de que tínhamos medo. Acho que ninguém se esqueceu que os nossos fantasmas vinham de dentro, logo não acredito que o medo do escuro venha daí.

O que eu acho, sinceramente, é que voltámos a ter medo do escuro porque quando entramos no escuro, estamos sozinhos de uma forma a que já não estávamos habituados.

Acho que temos medo do escuro porque nos mostra quão sós, no fundo, sempre estivémos.


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Published on October 04, 2013 08:00