in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 22
VINTE E DOIS
O sótão era um local soberbo, não tinha divisões e era do comprimento da casa. Também ali não se vislumbrava um grão de pó, Maria sentia que tinha de conhecer a senhora que limpava a casa e que parecia ser invisível, para lhe agradecer o excepcional trabalho. As clarabóias davam claridade ao amplo espaço. Debaixo delas estavam posicionados sofás e cadeirões com mesas de apoio. Fotos de Yggdrasil e do Clã cobriam as paredes. No canto mais afastado estava uma larga cama, um armário que ocupava toda a extensão da parede, uma tina e um lavatório com um aspecto rústico e a seu ver despropositado naquele espaço, mas apesar disso convidativo. Caminhou até ao armário abrindo a porta com curiosidade, deparando-se com uma série de kilts de um lindíssimo tartan azul. Lera num livro que encontrara na cave, que originalmente a palavra significava ser feito de lã leve. Cada Clã, possuía o seu próprio padrão, a sua própria cor e o deles era azul. Parecia propositado para combinar com os seus magníficos olhos.Devia ser muito interessante vê-los perfilados envergando os kilts, com a sua indomável aura de guerreiros. Não era difícil imaginá-los a cavalgar através das montanhas, a lutar, a jogarem todo o seu charme, as mulheres a caírem-lhes aos pés. Passou a mão nos tecidos, imaginando como seria fazer amor com Rhenan assim vestido. Tremeu perante a imagem que se formara no seu cérebro.- Tens frio? - a voz quente de Rhenan soou atrás dela aproximando-se.- Não! – voltou-se sorriu-lhe - A ter devaneios sexuais contigo.- Queres partilhar? – sorria diminuindo a distância que os separava apertando-a num forte abraço.- Estava a ver estes kilts e a pensar como deves ficar bonito assim vestido. Depois comecei a imaginar-nos aos dois a rolar na relva e o resto bem, deves conseguir imaginar.- Que isso não seja um impedimento, posso vestir-me. – observava-a divertido. - Com este frio morríamos enregelados.- Mas quem falou em sair de casa? – pegou em Maria pousando-a suavemente na cama deitando-se por cima dela.- Não te ias vestir?- Hoje não tenho tempo para isso.- E se entra alguém?- Pode sair. - já a começara a despir.- De quem é esta cama? - Não te preocupes, que só eu e o Lochan aqui dormimos.- Com mulheres?- Sozinhos. Já te disse que nunca trouxe uma mulher para esta casa, és a primeira e a última mo ghrá! - Sim, mas e o Lochan?- Esse trouxe muitas, - ria-se divertido - mas nunca para esta cama. Isso posso garantir-te. – calou-se, beijando-a até a sentir perdida.As roupas estavam espalhadas pelo chão, enquanto dois corpos nus roçavam um no outro numa dança embriagante, procurando-se. Tocando-se cada vez mais ansiosos, selvagens no seu desejo. Os lábios e as mãos hábeis de Rhenan conhecedoras do seu corpo levavam-na a sítios de onde não queria regressar. Quando se uniram ficou sem ar, o coração batia num ritmo desenfreado num desejo crescente, desesperado. Exigia perder-se com ele, não aguentava esperar mais. Rhenan percebeu a sua ansiedade juntando-se a ela na libertação final que os unia, continuando a beijá-la incessantemente, não a querendo deixar. Quando finalmente saiu de cima dela, puxou-a de encontro ao calor do seu corpo.Maria mantinha os olhos semicerrados observando o tecto com particular atenção. - Dava todo o meu ouro para saber no que estás a pensar.- Tens ouro?- Muito e é todo teu.- Sexy e rico, o meu ideal de homem.Rhenan beliscou-a divertido.- Uma faceta tua até agora desconhecida. Mas sim, tudo o que tenho, pertence-te.Maria virou-se beijando-o apaixonadamente, mordiscando-o ao de leve no queixo, a barba começava a arranhar. O cabelo comprido conferia-lhe um ar irresistivelmente selvagem.- És mesmo gostoso. – encostou-se ao seu corpo brincando com os pêlos do peito.- Quem eu? – Rhenan pareceu agradavelmente surpreso - És a primeira pessoa que o diz.- Sim, acredito que só tenhas ouvido, uh, ah, uh, que bom, blá, blá, blá. Mas acredita quando te digo que és incrivelmente saboroso.Rhenan ria-se com prazer.- Doida! - puxando-a para cima dele - Tu és a única mulher para mim, na dose certa, mesmo de loucura.- Tens os olhos azuis mais claros e quentes que já vi, gosto particularmente como olhas para mim quando fazemos amor. Ficam brilhantes, sinto que consegues ver dentro de mim. Adoro o teu cabelo indomável, tocar no teu peito, sentir as tuas pernas abraçarem-me, o teu toque, o teu sabor. Amo-te e desejo-te, nunca me vou cansar de ti.Rhenan parecia agradavelmente surpreso, nunca nenhuma mulher lhe falara assim. Sentou-se nele possuindo-o como nunca tivera coragem de fazer. Os seus olhos seguiam todos os seus movimentos enquanto sucumbia ao prazer que lhe dava.Liberto de pensamentos Rhenan limitava-se a sentir. Seria digno de ser assim amado? As suas mãos seguravam-lhe as ancas acompanhando o movimento que começara, sentia-se perdido, cada nervo do seu corpo pronto a explodir. A cabeça de Maria pendida para trás, suspirando com o ardor que os consumia, o seu longo cabelo loiro a tapar-lhe os fartos seios. Se alguma vez imaginara o paraíso aquele momento era o mais perto que se atrevia chegar. Agarraram as mãos um do outro, olhos nos olhos. O castanho do seu olhar queimava-o por dentro, conseguia ver a paixão e o desejo que ardiam neles, acompanhou-a quando os seus corpos foram catapultados para o merecido êxtase. Ouvindo-a gemer deitando-se sobre o seu peito com o pescoço encostado ao seu pescoço, beijando-o. Rhenan puxou a manta que se encontrava aos pés da cama para os tapar. O sótão não era frio, era, porém, pouco utilizado. Adormeceram abraçados, perdidos no calor dos amantes, corpos suados de paixão e desejo saciado.Quando finalmente abriu os olhos ainda havia claridade. Olhou para Rhenan, a sua respiração ritmada dizia-lhe que dormia. Não mudara de posição continuando com o braço por cima dela. Cada vez que se mexia apertava-a. Pensou no que tinham acabado de fazer, tanto amor parecia loucura. Com aquele homem perdia todas as inibições.Era magnífico amar e ser amada com aquela intensidade. Desejava conseguir manter a chama entre eles sempre acesa, olhando para ele sabia que não seria difícil.Prestava pela primeira vez uma especial atenção ao tecto de madeira escura, parecia ter sido esculpido para contar uma história. Quem seria o artista? Conseguia vislumbrar Yggdrasil, o Freixo, as duas irmãs à volta de uma fogueira com uma mulher mais velha, possivelmente Morgaine. Via os irmãos e a prima com escudos e armas. Ali estava maravilhosamente gravada a história dos MacCumhaill. Sentou-se na cama deixando escorregar a manta para o lado ao ver-se representada no meio de um círculo com o pentagrama desenhado segurando numa mão a Fivelae na outra o Colar. - O que aconteceu mo ghrá? - Rhenan abria os olhos estremunhado.- Estás a ver aquilo? - Maria não conseguia falar limitando-se a apontar com o dedo para o tecto. - O que queres que veja? - Rhenan olhou para onde apontava e novamente para ela.- Não vês? - Maria segurou-lhe na cara obrigando-o a seguir o seu dedo – Ali! - Não vejo nada. Só o tecto a precisar de mais uma camada de verniz.Custava-lhe acreditar que não visse o mesmo que ela.- A sério?- Mo ghrá! Não vejo nada. - Posso jurar-te que vejo a tua mãe e tia na companhia de Morgaine, tu com os teus irmãos e a Maeve, eu sentada num círculo de protecção com as chaves nas mãos. Como é possível que não vejas?- Não sei! – Rhenan já se levantara – Mas penso que devíamos informar os meus irmãos desta tua nova descoberta.- Sentia-me melhor depois de tomar banho.- Um banho aqui é muito agradável, queres companhia? – sem esperar resposta já abria uma arca retirando duas toalhas.- Preciso de alguém que me lave as costas. - sorria-lhe provocadoramente.- Um desejo seu é uma ordem, minha senhora. Enquanto a banheira enchia caminhavam nus, sem pudores, com Maria a apontar para o tecto dizendo-lhe o que via. Rhenan lembrava-se dos momentos do seu passado, os mesmos que descrevia.Com a tina cheia ficaram imersos na água quente e nos seus pensamentos. Maria esperava que um deles conseguisse ver o mesmo que ela para não pensarem que finalmente enlouquecera.Vestiram-se e fez a cama, apesar de saber que a misteriosa empregada limparia tudo com brio, não queria que se pusesse a pensar no que tinham feito. - Vamos? – Rhenan estendeu-lhe a mão – Estou esfomeado, tens de me prometer que só lhes contamos quando estivermos de barriga cheia.- Mas eu estou de barriga cheia.– Até um guerreiro tem de se alimentar de vez em quando. - dava-lhe uma palmada no rabo obrigando-a a caminhar à sua frente.- Fracote.
Conforme prometera a Rhenan, não tocaria no assunto até terminarem o jantar. A pedido de Lochan cozinhava carbonara. - Diz-me que aprendeste a cozinhar com a tua avó. – Fionn espreitava por cima do seu ombro, desconfiado das suas qualidades como cozinheira.- Aprendi a observá-la. - Mas ver fazer não é a mesma coisa. - Se não gostares tens bom remédio, pão e manteiga.- Não estou a dizer que não vou gostar, só acho estranho ver-te à volta dos tachos.- Pode ser que ainda te surpreenda.- Só se me fizesses aquele doce de ovos.- Então estás sem sorte.- Logo vi! Era bom demais para ser verdade. - És sempre assim tão chato?- É uma das minhas melhores qualidades. Porquê? Não gostas?- Não!- Fazes mal, porque é a minha melhor faceta.- Consigo imaginar qual será a pior.Estavam todos sentados à volta da bancada da cozinha a apreciar divertidos o duelo. Era difícil vencer Fionn, normalmente as conversas acabavam com objectos a voar e com ele a fugir. Desta vez era diferente, era um intenso jogo de palavras que Fionn estava claramente a adorar.- Sabes que no futuro ainda podes precisar de mim para te ajudar e acredita quando te digo que te vou fazer a vida negra.- Estás a ameaçar-me? Estou a tremer! O que foi que viste pequena sidhe? Um tesouro? Uma mulher?- Terás de ficar na dúvida.- Pela tua cara não viste nada. Além do mais, não me parece que vá necessitar da tua ajuda no futuro.- Seria excelente se fosse uma mulher, assim podia contar-lhe o irritante que és. - adorava-o, mas infelizmente parecia apreciar demasiado ser parvo.- Dito nesse tom fico mais descansado. – Fionn abraçou-a, beijando-a no alto da cabeça antes de se sentar sorridente junto dos irmãos.Os outros riam-se divertidos, Fionn sabia como acabar a conversa com a vantagem sempre a pender para o seu lado.- A comida está pronta. – Maria colocou o tabuleiro no meio da mesa - Podem servir-se.Era esquisito para os irmãos e para a prima verem a comida desaparecer como que por magia do prato. - Mano, é bom ver que mesmo invisível contínuas com o mesmo apetite. Vê lá se não comes tudo. - Fionn repetia pela terceira vez. Maria estava sem apetite, ansiosa para lhes mostrar o que descobrira e saber o que viam.- A comida está deliciosa. - Obrigada Maeve. Rhenan estendia-lhe o prato para que lho voltasse a encher piscando-lhe o olho em sinal de aprovação. Quando todos menos Fionn e Lochan pousaram os talheres, Maria não aguentou mais.- Tenho algo para vos contar.Rhenan fez-lhe sinal de aprovação com a cabeça. - Estás grávida? - Fionn lambia os dedos.- Imbecil. - Maeve fulminava-o com o olhar.- Loira burra.- E recomeçaram os elogios, - Eoghan parou-os com a mão - continua Maria.- Passei a tarde no sótão e apercebi-me que o tecto está todo trabalhado, com a vossa história.- Está? - Fionn pousava finalmente os talheres, surpreso.Abanavam todos a cabeça incrédulos.- Tens a certeza? - Maeve escutava atentamente.- Tenho! Lochan sabias?- Nunca vi nada e olha que já pintámos aquele sótão diversas vezes.- O que estavas a fazer para veres o tecto tão detalhadamente? - Fionn cruzava os braços recostando-se na cadeira, sorria divertido.Maria sentia as faces quentes, cruzou o olhar com Rhenan que resolvia entrar na brincadeira. - Sim, mo ghrá! O que fazias lá em cima a olhar para o tecto?Passou do simples calor, a vermelho escarlate, o seu olhar pedia-lhe que se calasse. - Áh! Foi isso! - Fionn recomeçou a comer - Olha mano, não deves ter sido grande coisa para a tua miúda estar a olhar para o tecto. Isso a mim nunca me aconteceu.- Dizes tu imbecil. - Rhenan sorria divertido.- Posso ser imbecil, mas garanto-te que comigo nenhuma mulher ficou aborrecida. - Continua. - Eoghan fez sinal a Maria voltando a encher os copos.- Reparei na vossa história, mas o que me deixou surpresa foi ver-me representada com as chaves. - O que viste mais? - os olhos de Maeve brilhavam de excitação. - Gostava que fossem comigo lá acima para ver se vêem o mesmo que eu. O Rhenan não consegue.- Do que estamos à espera? - Eoghan levantou-se. Subiram a escadaria entrando no sótão com um Fionn muito irritado por ter sido interrompido a meio da refeição.Acenderam as luzes olhando todos para cima caminhando ao longo do sótão com os olhos presos no tecto. Maria conseguia perceber pelas expressões que tal como Rhenan não viam nada.- Então? - perguntou hesitante. Abanaram a cabeça em negação.- Lochan? – Maria esperava que pelo menos ele, sendo sidh, conseguisse ver.Lochan abanou a cabeça negativamente.- Sigam-me até este canto, aqui por cima da primeira fotografia da casa começa a história da vossa família.Explicava-lhes detalhadamente o que via. Rhiannon, Sergiu e uma mulher de cabelos castanhos escuros, não lhe distinguia a cara, mas tinha a estranha sensação de já a conhecer. Seria a Sacerdotisa da qual falava a Profecia? O seu olhar fixou-se pela primeira vez num livro de capa negra com um pentagrama desenhado, pousado aos pés de Rhiannon. - Já tinham visto este livro? - olhava para todos à espera de uma confirmação.- Esqueceste-te que não vimos nada? – Fionn queria voltar para a cozinha e acabar de comer. - Descreve-o. – Lochan ficara subitamente curioso.Fez o que lhe pedia. - Acho fantástico que tenhas descoberto isto. - Eoghan abraçou-a - Sinto-me confiante. Vou telefonar à mãe, contar-lhe o que nos disseste e perguntar-lhe sobre o livro.- Vou contigo, também quero falar com a minha. – Maeve seguia o primo.- Vamos todos! Por hoje chega. – Rhenan agarrou-lhe a mão dando aquele dia por terminado.Não discutiria, ainda queria arrumar a cozinha e ler.Fecharam a porta.Maria não reparou que a imagem de Rhiannon, lhes sorria. Desceram as escadas juntando-se a Eoghan e Maeve na sala.- É como lhe digo, a Maria vê o tecto esculpido com a nossa história. Por acaso sabem a que livro se refere?Eoghan esticou o telemóvel a Maria. - Toma, a mãe quer falar contigo.- Boa noite Freya. É verdade. Tem capa preta. Sabe onde está? Em que parede? Eles não sabem? Ah! O Lochan sabia? Não? Já lhe ligo. - O que foi que a mãe disse? - Eoghan perguntou o que todos ansiavam saber.- Temos de ir à cave, a Freya diz que o livro está lá, foi ela que o guardou.Ninguém falava, limitando-se a segui-la.- Lochan, a tua mãe diz que tu sabes qual é o livro.- Não me recordo de nenhum livro de capa negra. - Chamou-lhe o Livro das Sombras de Morgaine.Continuavam em silêncio, pendentes das palavras de Maria.- Porque não me tinham contado que têm uma parede falsa?- Parede falsa? - Fionn parecia verdadeiramente perplexo - Não temos paredes falsas. Temos? – olhava curioso para os irmãos.- Segundo a Freya, têm uma na cave que abre para uma sala onde está guardado o livro.Entreolhavam-se confusos, Maria percebia que ninguém tinha conhecimento da sua existência. Separaram-se começando a bater nas paredes na esperança de que alguma diferença no som lhes indicasse o local. - Tive uma ideia, mas para que resulte vamos ser necessários todos. – Maria sorria-lhes timidamente. Pararam o que estavam a fazer aproximando-se dela.- Desde a minha última visita forçada a Tara, que tenho seguido os conselhos de Rhiannon e sempre que arranjo um tempinho livre, entre as aulas, os trabalhos, as visitas paternas e os treinos de defesa pessoal com o Lochan, tenho-me dedicado à magia.- Defesa Pessoal? - Rhenan olhava espantado para Maria. - Sim!- Onde treinam?- Aqui! Afastamos os móveis. Já comecei a treinar com armas.- Armas? Lochan ainda me matas a mulher.- Fica a saber, que sei manejar muito bem as espadas mais leves. Brevemente estarei pronta para lutar ao vosso lado. - Não duvido mo ghrá, mas esperemos que não chegue a isso.- Permite-me discordar. Que comece depressa para nos vermos livres desta maldição de uma vez por todas. - Fionn atirou-se para um cadeirão.- Estão todos prontos a tentar magia?- Vamos a isso. - Eoghan aproximou-se - O que temos de fazer?- Somos todos necessários. - olhava para Lochan.- Diz onde me queres.Maria sorria-lhe agradecida.- Afastamos as mesas e cadeiras. Vamos ainda precisar de sal grosso. Podes ir buscar Maeve?- Claro! – voltou-se subindo as escadas a correr regressando pouco depois.- Os homens colocam-se com um joelho no chão em círculo, como na representação do vosso Brasão. Maeve, ficas ao centro de pé virada para mim. - marcou um círculo com sal mantendo-os dentro.- Agora necessito que todos se concentrem naquilo que necessitamos encontrar. - acendeu seis velas brancas representando cada um deles.- Concentremo-nos no bendito livro. - Maeve estava determinada.Maria começou num tom monocórdico a repetir a mesma ladainha: “Deusa fia e não deixes de fiar até o Livro das Sombras encontrar”.Ninguém falava mantendo as posições, concentrados no mesmo objectivo. Pareceu-lhes ouvir ranger, ninguém se mexeu. Os homens continuavam com um joelho no chão e a cabeça a pender para a frente. Uma vez mais o ruído de algo pesado a arrastar soara tão alto que ergueram as cabeças, olhando ao mesmo tempo na direcção de onde vinha o som. Maeve foi a primeira a reparar no que acontecera.- Ali, estão a ver?Ergueram-se saindo do círculo de sal. Maria apagou as velas, satisfeita por ter começado a praticar a antiga arte. Aparecia-lhe naturalmente como se fosse algo que fizera durante toda a vida.Do lado esquerdo da lareira uma porta disfarçada na parede afastara-se para dentro da sala, deixando antever uma fraca luz no seu interior. Os homens avançaram decididos a arrancá-la caso fosse necessário, porém a porta deslizou suavemente permitindo-lhes passagem. A sala era suficientemente grande para lá caberem todos. Observavam fascinados. Ali estavam guardadas armas e uma enorme e pesada arca de madeira encostada a um canto. Maria avançou, havia algo no seu interior que a atraía. Fionn ajudou-a levantando a tampa. No interior estavam guardados kilts, admirava-os quando ouviu a voz sumida de Lochan, apontando para um deles. - Aquele é meu, morri nele. Maria apertou-lhe a mão. - Desculpa, não sabia.- Não podias saber. Porque vieste aqui? Está cheio de roupas velhas, não me parece que encontres o livro aí dentro.- Contínuo com uma estranha sensação. Segurando na mão de Lochan, colocou a outra sobre a roupa dele sentindo uma onda de calor passar através dela, voltou-se para ele. - Sentiste? - Ficou quente ou é impressão minha?- Ó minha Deusa! Lochan és mesmo tu! - Maeve gritava enquanto corria para abraçar o primo - Consigo ver-te, consigo sentir-te. Que maravilhosa magia é esta?Os irmãos avançaram para o abraçar.- O que aconteceu, Maria? - Lochan estava incrédulo. Os irmãos abraçavam-no, beijando-o, temendo que aquele momento acabasse e com ele o estranho regresso de Lochan. Maria não sabia o que acontecera, mas todos o conseguiam ver.- Mano que saudades. - Rhenan apertou o irmão num abraço apertado não o querendo largar, sendo correspondido com a mesma intensidade por Lochan enquanto olhava para Maria, o seu olhar dizia tudo.Maria sentou-se, as pernas fraquejavam.O tempo parara. Sentados no chão, conversavam como haviam feito tantas vezes. Rhenan puxara Maria para o colo, Maeve sentara-se no de Lochan. Ninguém queria dormir. O que acabara de acontecer era mais importante do que encontrar o livro, tinham tempo no dia seguinte ou noutro dia qualquer. Tinham decidido não contar à mãe até terem a certeza que não voltaria a desaparecer. Era difícil explicar como estava ali quando o seu corpo continuava guardado junto delas.
Quem é que no seu juízo perfeito gritava no jardim da frente?Passara uma semana desde que Lochan, se tornara visível e desde esse dia que se tornara praticamente impossível dormir. Pareciam crianças, lutavam nas poças de lama, corriam nus, e gritavam como se estivessem possuídos. Colocou uma almofada na cabeça, mas o barulho era demasiado naquela manhã.Abriu a janela do quarto. - Caso se tenham esquecido, nesta casa também vivem mulheres e além de não gritarmos tanto como vocês, acreditem que com tanta nudez começo a ficar baralhada.- Vê lá se vou aí e te relembro a quem pertences!- Isso é uma ameaça ou uma promessa Rhenan?- Eu dou-te a ameaça, rapazes não contem comigo. Estou fora. – já corria para casa.Sabendo o que a esperava, despediu-se com a mão sorrindo-lhes. - Então adeusinho.- Aproveita e vê se o tecto do teu quarto tem rachas, depois avisa. – riam-se com o comentário de Fionn.- Vai-te catar. – Maria fechou a janela, porém os gritos continuavam. A porta do quarto abriu-se. - Chamaste mo ghrá? Aqui estou! - abriu os braços.- Afasta-te de mim, estás todo sujo.- Eu sei, anda cá. – aproximava-se lentamente sujo de lama sorrindo-lhe - Com que então a admirar os meus irmãos.- Sempre me disseram que se é agradável à vista é para olhar.- Ai sim? Parece-me que vamos ter uma longa conversa. - de um salto agarrou-a.- Estás sujo, larga-me. – Maria ria divertida.- Não me parece. - roçou-lhe a cara com lama no pescoço, arrancando-lhe a t-shirt que tinha vestida. – Agora, estás tão suja como eu.- Doido! – ria-se como uma perdida.- Ainda não viste nada. - estava excitado, porém continuava a provocá-la, abriu a janela com Maria atirada por cima do ombro gritando para os irmãos - Senhores, apresento-vos a minha mulher.Os outros soltavam urros de alegria. - Estou nua Rhenan, fecha a janela.- Permite que te corrija, estás sem t-shirt, mas ao meu ombro eles só te vêm o teu belo rabo e as costas.- Enlouqueceste. - ria-se com prazer. Os irmãos continuavam aos urros recomeçando as lutas na lama. - Agora vou amar-te como o faria se te tivesse conhecido na minha adolescência. - Todo sujo? Que nojo! Agradeço a oferta, mas declino. Prefiro a modernidade com água e sabão.- A quem chamas porco? Eu sou Rhenan MacCumhaill um verdadeiro líder do meu Clã.- Mas olha que és um líder muito sujo. Enquanto falava e sem a largar atirou as peles que tinha em cima do cadeirão para o chão deitando-a sobre elas. - Se não me tivesses deixado enlouquecido tinha-te arrastado até lá fora, para rebolares na lama comigo.- Não me parece.Voltava a ser o delicado e apaixonado Rhenan, que tão bem conhecia e amava. Os seus suspiros eram acompanhados por gritos tribais, vindos do exterior. Aquela familiaridade e falta de pudor excitara-a e nos braços dele deitada em cima de peles, coberta de lama sentia-se amada. Era assim que devia ter sido, o que os unia era forte, era como se o conhecesse de uma outra vida. Se Rhenan era o seu destino aceitava-o de braços abertos.
Published on April 07, 2020 02:00
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