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O velho faroleiro olhou-o como se não conseguisse compreender as suas palavras. Depois, aquiesceu, mas voltou os olhos para o mar à espera de que o neto emergisse para se vir juntar a ele. Devagar, as águas acalmaram e uma grinalda de estrelas acendeu-se no horizonte. Roland nunca voltou.

Cinco minutos depois, os três amigos estavam profundamente adormecidos na cabana da praia e nada no mundo teria conseguido acordá-los.

«No dia em que Jacob Fleischmann se afogou, soube que o Príncipe da Neblina nunca partira. Permanecera na sombra, esperando, sem pressa, que alguma força o trouxesse de novo ao mundo dos vivos. E nada tem tanta força como uma promessa ...

Enquanto os piores cinco segundos da vida desfilavam à sua frente, à infinita lentidão, Andrea Carver ergueu os olhos para o alto da escada. Do último degrau, o gato de Irina perscrutava-a fixamente. Susteve o olhar cruel e trocista do animal durante uma fração de segundo e depois, sentindo o corpo da filha palpitar nos seus braços, reagiu e correu para o telefone.

Aborrecida, Alicia começou a mastigar uma torrada enquanto Max procurava tirar da cabeça a imagem daquela mão estendida e do olhar desorbitado do palhaço que sorria na neblina do jardim de estátuas.

...) É devido ao numerário gasto com o fantasma que a sociedade clandestina imaginada por Sade tem como refém o mundo das sublimações institucionais. Suprimi o numerário e tereis a comunicação universal entre os seres. Com esta espécie de desafio, Sade prova justamente que a noção de valor e de preço está inscrita no próprio fundo da emoção voluptuosa, e que nada é mais contrário ao gozo do que a gratuitidade.

No segundo caso, o objecto não é mais do que um pretexto da emoção e do acto que a pronuncia, no contacto com o objecto, tão indiferente quanto uma coisa. Para que a emoção do acto destruidor, sempre o mesmo, possa reiterar-se, o uso do acto, provado enquanto fonte de emoção, prevalece sobre o objecto, no qual a emoção não chega a esgotar-se.

(...) Se dermos a nossa mão a ler a uma cigana, pode ser que ela não nos diga muito sobre a nossa sina, mas, se a dermos a ler a um fisiologista, ele pode, com certeza, dizer-nos alguma coisa sobre o nosso medo do futuro.

(...) Actualmente, todas as sociedades mais saudáveis e «adiantadas» mantêm uma dieta de carne e plantas bem equilibrada e, apesar das modificações dramáticas nos métodos de abastecimento nutritivo, o macaco pelado progressivo continua a manter a mesma dieta básica utilizada pelos seus antepassados caçadores. Mais uma vez, a transformação é mais aparente do que real.

(...) Todos os restantes exercem alegremente os seus negócios, integrados no que parece uma enorme e agitada massa de corpos, mas que, na realidade, constitui uma série incrivelmente complexa de grupos tribais que se entrelaçam e se sobrepõem. No fundo, o macaco pelado mudou muitíssimo pouco desde os seus princípios mais remotos.

Todas estas bizarrias de jardim zoológico podem ser observadas na nossa própria espécie (possivelmente porque concebemos os jardins zoológicos segundo os moldes das nossas cidades). Isto deveria servir-nos de lição, lembrando-nos a importância enorme de atingir um bom equilíbrio entre as tendências neofóbicas e neofílicas. Se não o adquirirmos, não poderemos funcionar convenientemente. (...)

Felizmente, fomos desenvolvendo um poderoso antídoto contra esta fraqueza, que é inerente ao processo de aprendizagem por imitação. Aguçámos a nossa curiosidade e possuímos uma enorme necessidade de explorar, que age contra a outra tendência e produz um equilíbrio que torna possível um êxito formidável. (...)

(...) Graças à ciência médica, à cirurgia e à higiene, alcançámos um extraordinário progresso na procriação. Conseguimos reduzir a mortalidade e temos agora de contrabalançar, reduzindo a natalidade. É muito provável que, no decurso dos próximos cem anos, tenhamos de finalmente modificar os nossos hábitos sexuais. Mas, se tal acontecer, não quer dizer que falhámos, e sim que, pelo contrário, nos saímos bem demais.

Nesta altura, vamos deixar o passado para trás e ver como o macaco pelado se comporta hoje. Como resolve ele os eternos problemas de alimentação, luta, reprodução e criação de descendentes? Até que ponto o seu cérebro-computador foi capaz de reorganizar os seus instintos mamíferos? É possível que tenha feito mais concessões do que gostaria de admitir. Vamos a ver.

(...) O macaco da floresta que se tornou macaco terrestre, que se tornou macaco caçador, que se tornou macaco territorial, acabou por se tornar macaco culto (é quase a história do macaco que do rabo fez navalha, da navalha fez sardinha, da sardinha fez rainha, da rainha fez viola ...)

Contudo, a chegada dos arenques não pusera em reboliço apenas aves e animais marinhos; os humanos também tinham sido avisados de que o primeiro grande cardume de arenques chegara ao arquipélago. De pronto prepararam as suas embarcações.

(...) Depois de ver todos esses laguinhos, fica-se de coração cheio ao ver um lago tão grande quanto o Skagern. E agora quero dizer-vos que os filhos são como os sulcos feitos por um arado. Ninguém gosta mais de um do que dos outros. Podemos olhar para o mais novo com a mesma alegria com que olhamos para o mais velho.

Quando o homem de Kiruna que levara Asa, a guardadora de gansos, até ao acampamento dos lapões, regressou, nesse mesmo dia, transportou no barco duas pessoas, que fizeram a travessia sentadas muito perto uma da outra e de mãos dadas, como se nunca mais se quisessem separar. Tratava-se de Jon Assarsson e da sua filha. (...)

(...) Há quem diga que já não guardas no teu coração qualquer amor pela águia que criaste com tanto carinho, porque vive como é suposto que uma águia vive. Mas eu sei que isso não é verdade. E agora quero ver se o Marten está acordado e, se, entretanto, quiseres agradecer a quem me trouxe até aqui, acho que o podes encontrar na falésia, no sítio onde outrora encontraste uma cria de águia indefesa.

A águia bateu as asas novamente e foi até à ilha de Alno, que se encontra diante de Sundsvall. O rapaz ficou muito surpreso ao ver todas as serrações nas margens da ilha. Na ilha de Alno e na margem, em frente às serrações, erguiam-se uma após a outra. Ele contou pelo menos quarenta, mas acreditava que eram muitas mais.

Era por isso que o rapaz permanecia preso à sua promessa. Sabia que Klement se fora embora, mas ele ainda não tinha autorização para partir.

Bataki começou a coçar-se no pescoço com uma pata e pareceu quase contrariado. Não disse nada e tão só levou o rapaz de novo junto dos gansos-bravos.

Ao rapaz, pareceu-lhe que, no seu paço, o rei e a rainha não estariam mais apresentáveis do que aquele casal e os seus convidados.
Como em Floda, encontraram finalmente um campo sem neve, os gansos-bravos não tiveram de viajar para mais longe para alimentar-se.

»Ambos aceitaram a sugestão e pediram à floresta que os batizasse. Esta decidiu que o Grande devia abdicar do seu nome e chamar-se rio Dal Oriental, e que o rio Fulu se devia chamar rio Dal Ocidental. Depois de se unirem, podiam, com toda a justiça, chamar-se rio Dal.

Porém, começou então a reparar que as montanhas tinham, aqui e acolá, um aspecto estranho. E, depois de as observar melhor, concluiu que havia, quase por todo o lado, minérios valiosos. As suas terras tinham sobretudo ferro, mas também prata e cobre. Compreendeu que tinha em sua posse riquezas maiores do que as de qualquer um dos seus irmãos e, aos poucos, percebeu o que a mãe pretendia alcançar com o seu testamento.

Quando ouviu o comentário do rapaz, o velho jardineiro ficou imóvel e em silêncio, e ao rapaz pareceu-lhe que aquela era uma luz que iluminava os dias difíceis. No entanto, não conseguiu ver ao certo o que se passava, pois, nesse mesmo momento, toda a silhueta do homem se desvaneceu, desaparecendo como uma neblina. (...)

O cão velho levantou-se num ápice.
— O meu dono está a chamar-me — disse ele — e não posso atrasar-me muito. Há pouco, vi-o carregar a arma e agora vamos pela última vez à floresta. Obrigado, gansos-bravos. Agora sei tudo o que precisava saber para morrer satisfeito.

Viraram e reviraram o tamanco de madeira a fim de o examinarem com atenção, porque não se encontra um tamanco do Goanisse na estrada todos os dias.

Escorreu o pincel até a ponta ficar bastante fina e, com pequenos pontos, fez as bocas às pessoas que estavam mais perto, para indicar que gritavam, que diziam — que diziam ao homem, naturalmente — que ele era bom e que o amavam muito.

Per Ola passara o melhor dia da sua vida na companhia do Polegarzinho e das aves, mas começara agora a chorar, porque tinha fome e medo do escuro. E ficou contente quando os seus pais e César o foram buscar.